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Carlos Cascaldi

  • Foto do escritor: ACR 113
    ACR 113
  • 9 de dez. de 2021
  • 8 min de leitura

Atualizado: 27 de dez. de 2021

Carlos Cascaldi (1918-2010) foi um renomado arquiteto paulistano, com obras carregadas pelos preceitos do brutalismo de São Paulo. Foi aluno de Vilanova Artigas na Escola Politécnica de São Paulo e, posteriormente, foi sócio de seu escritório durante toda a década de 1950. Em parceria com Artigas e seu irmão Rubens Cascaldi, que era um engenheiro formado pela Universidade Mackenzie, Cascaldi desenvolveu diversos projetos em que, muitas vezes, não foi reconhecido pela historiografia arquitetônica brasileira, um dos motivos se dá porque Cascaldi quase sempre foi segundo autor nas obras capitaneadas por Artigas.

As formas totalizantes e o desenho geometrizado marcaram as principais obras de Cascaldi em parceria com Artigas, consagrando-os como importantes nomes na história do design e da arquitetura nacional. Também baseava-se em uma forma arquitetônica com certa organicidade, capaz de projetar espaços que valorizassem os elementos naturais e otimizassem a circulação de ar e a iluminação natural dos ambientes.

Além das edificações residenciais projetadas para a cidade de São Paulo, Cascaldi colaborou no Projeto de Artigas para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, que foi concluída em 1969

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. A obra utiliza majoritariamente de concreto e vidro, e prioriza a integração entre os ambientes e a disponibilização de espaços de convivência.

Outro edifício icônico que também é fruto da colaboração entre os sócios é o Edifício Louveira, formado por dois blocos de apartamentos unidos por um jardim central. O projeto é facilmente identificado por sua fachada que mistura tons das venezianas amarelas com o das placas fixas avermelhadas.


Figura 1: Carlos e Rubens Cascaldi.


LISTA DE PRINCIPAIS PROJETOS

  • Edifício Louveira - 1945 (em colaboração com Vilanova Artigas);

  • Rodoviária de Londrina 1948 (em colaboração com Vilanova Artigas);

  • Aeroporto de Londrina - 1949 (em colaboração com Vilanova Artigas);

  • Sede da Fazenda Santo Antonio;

  • Casa de Rubens Cascaldi;

  • Casa de Praia Miguel Latorre;

  • Estádio do Morumbi 1953 (em colaboração com Vilanova Artigas);

  • Concurso para o Plano Piloto da Nova Capital Federal - 1956 (em colaboração com Vilanova Artigas, Mário Wagner Vieira da Cunha, Paulo de Camargo e Almeida);

  • Casa Olga Baeta - 1956-1957

  • Residência Rubens de Mendonça - 1958 (em colaboração com Vilanova Artigas);

  • Ginásio de Itanhaém - 1959 (em colaboração com Vilanova Artigas);

  • Residência José Mário Taques Bittencourt II - 1959;

  • Ginásio Estadual de Guarulhos - 1960 (em colaboração com Vilanova Artigas);

  • Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - Universidade de São Paulo - 1961 (em colaboração com Vilanova Artigas);

  • Garagem de Barcos Santa Paula Iate Clube - 1961 (em colaboração com Vilanova Artigas);

  • Residência Ivo Viterito - 1962;

  • Residência Manoel Antônio Mendes André - 1966;

  • Prefeitura de Jaú - 1969 - 1973;

  • Rodoviária de Jaú 1973 (em colaboração com Vilanova Artigas).


EDIFÍCIO LOUVEIRA

Arquitetos: Carlos Cascaldi e João Batista Vilanova Artigas

Área: 5400 m²

Ano: 1945


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Figura 2: Fachada Edifício Louveira.


Localizado em um terreno ligeiramente plano e de esquina do bairro Higienópolis, na época recém ocupado por famílias de alto padrão socioeconômico, o Edifício Louveira foi um marco dos avanços da Arquitetura Moderna no estado de São Paulo devido a diversos fatores, entre eles a ousadia em intervir no espaço urbano utilizando de dois grandes blocos, mas com a preocupação em integrar o público e o privado.

O Edifício do arquiteto Vilanova Artigas em parceria com com Carlos Cascaldi representa muito bem o que foi a influência da Arquitetura Moderna Brasileira. Apesar de estar localizado no bairro Higienópolis, bairro nobre da capital Paulista, o edifício residencial multifamiliar ainda apresenta influência da chamada "Escola Carioca'' (essa linha seria abandonada por Cascaldi e Artigas posteriormente com a adoção do ideário brutalista), mascada pelo uso de edificações sobre pilotis e forte influência dos preceitos do arquiteto franco-suíço Le Corbusier. O Edifício, tombado desde 1992, representa o início do processo de verticalização dos bairros residenciais de São Paulo, sendo além de um marco da arquitetura moderna, também um influente edifício na formação da paisagem. (TURCHI, 2015)

O projeto é composto, basicamente, por dois grandes blocos paralelos separados por vinte metros, com suas fachadas principais voltadas para o nordeste (Rua Piauí). Esse amplo espaçamento interno de vinte metros, fez com que a iluminação e a ventilação não ficassem prejudicadas, além de abrigar um belo jardim que se integra com a Praça Vilaboim. O jardim conecta-se também com o nível dos pilotis, localizados no térreo, e formam um grande pátio aberto semi-público. Ao contrário dos pátios convencionais da época, o Jardim, além de servir como espaço de convívio dos moradores, serve como um elemento de integração com o espaço público.


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Figura 3: Primeiro pavimento do Edifício Louveira.


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Figura 4: Jardim central e rampas de acesso.


Esse tipo de implantação enaltece o jardim central e o transforma, além de um espaço de permanência, em uma área de acesso e circulação para as pessoas, juntamente com uma suave rampa que liga as portarias aos dois blocos. Ademais, as torres foram construídas sobre pilotis e estão implantadas em diferentes cotas do terreno e, por esse motivo, para que as duas possuam a mesma altura final, um dos blocos iria possui um pavimento a mais, sendo assim, o bloco localizado na cota mais baixa possui oito andares, enquanto o bloco localizado na cota mais alta possui sete.



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Figura 5: Corte do Edifício.


No primeiro pavimento, além dos pilotis, rampa e escada de acesso, cada bloco possui um apartamento tipo, e no bloco da esquerda existe um apartamento menor com dois dormitórios. Os andares superiores apresentam dois apartamentos-tipo por andar, cada um com três quartos e um pequeno destinado a empregados, sala para dois ambientes, um banheiro, cozinha, área de serviços e um pequeno terraço. Os três dormitórios e a sala de estar possuem aberturas na face nordeste, recebendo insolação na parte da manhã. Do outro lado, as áreas de serviços (cozinha, área de serviço e dependência de empregados) são protegidas por um longo corredor aberto, tendo uma boa incidência solar após 12h.


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Figura 6: Plantas do Edifício.


A composição e os elementos das fachadas tiveram diferentes tratamentos, tendo em vista questões térmicas, iluminação e ventilação. Portanto, as fachadas voltadas para o norte têm um design em que as faixas horizontais criadas pelos frisos aparentes das lajes e os panos dos caixilhos se alternam. Tais faces são divididas em três setores: um central, coberto por um pano de vidro que corresponde aos terraços e às salas dos apartamentos, e dois laterais, composto por duas faixas de janelas venezianas (correspondente aos dormitórios) que se abrem na vertical através de contrapesos.



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Figura 7: Fachada norte Edifício Louveira.


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Figura 8: Módulo das janelas.


Já as fachadas orientadas para o sul são completamente diferentes das demais. Essas faces abrigam a cozinha e as circulações de serviço, formando um jogo na fachada que é intensificado por um desnível entre os acessos às áreas de serviço e social.


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Figura 9: Fachada sul Edifício Louveira.


As cores utilizadas na fachada chamam a atenção por abordar uma intencionalidade, até então rara na cidade de São Paulo. São utilizadas as cores: Azul, terra de Siena e amarelo, que funcionam harmonicamente no conjunto. Outra grande sacada plástica e intencional do projeto é a rampa de acesso, que cumpre seu papel de acesso e também consegue camuflar o muro da garagem - o separando do pátio interno, garantindo assim a privacidade dos moradores. Além do mais, ela se integra perfeitamente com o paisagismo do Jardim, dando leveza. (TURCHI,2015)

Mesmo estando rodeado por volumes mais elevados, o projeto possui tantos pontos positivos que continua marcando presença e contribuído para qualificar o espaço urbano. Com o passar do tempo, as transformações do entorno, em vez de comprometer a inserção do projeto, mostra como sua atemporalidade e conexão com o entorno estão em constante mudança e adaptação.


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Figura 10: Modelo 3D do Edifício Louveira.


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Figura 11: Anúncio de venda do Edifício Louveira.



GINÁSIO DE ITANHAÉM

Arquitetos: Carlos Cascaldi e João Batista Vilanova Artigas

Área: ~ 1960m²

Ano: 1959


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Figura 12: Fachada do Ginásio de Itanhaém.


A construção da Escola Estadual de Itanhaém traz a intenção de Carlos Cascaldi e Vilanova Artigas em demonstrarem a expressividade ao dar atenção para formas construtivas. Os arquitetos buscaram superar os modelos escolares, comuns até a época, de se criar um "galpão" coberto como edificação possível por se tratar de um terreno plano no litoral de São Paulo. A sensibilidade na composição da forma da Escola foi a maneira encontrada por Cascaldi e Artigas de sobressaírem da estética tradicional no uso do concreto (ARTIGAS; CASCALDI, 1961).

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Figura 13: Corte do Ginásio



A distribuição funcional da edificação se dá pela divisão de três grandes blocos, como é possível verificar na planta abaixo, em que o primeiro é constituído por salas de aula, o segundo pela parte administrativa e o último, o módulo de sanitários. Além disso, um grande pátio à direita da planta foi destinado a esportes e recreação em geral.



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Figura 14: Planta do Ginásio.


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Figura 15: Planta do Ginásio Alternativa.


A planta constituída de linhas e formas simples expõe a maneira concreta de distribuição das atividades presentes numa escola de maneira prática e fluida. As salas de aula são colocadas estrategicamente alinhadas em módulos lineares com medidas iguais e com acesso comum aos outros ambientes o que permite maior fluidez na circulação interna da edificação. O bloco de sanitários está centralizado na edificação, de modo a permitir a otimização das distâncias, tanto das salas de aula, quanto da administração e da área de esportes. Além disso, para as paredes hidráulicas ficarem todas concentradas, a cantina, outro ambiente com necessidade de uso hidráulico, divide a parede com os sanitários. Essas estratégias permitem maior fluidez entre espaços ocupados pelos usuários.


"O princípio da fluidez do espaço interno começa a se esclarecer, junto com a tentativa de entregar francamente a Escola à comunidade, não criando obstáculos de grandes fechos, etc., que a eximam da responsabilidade de conservar, respeitar, defender mesmo, a sua presença no ambiente urbano." (CASCALDI, 1970 p. 19)

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Figura 16: Desenho perspectivado do Ginásio.


No que diz respeito às fachadas, a colocação dos pilares de sustentação se dá através de uma série de módulos estruturais triangulares definidos por três pontos: um na fundação, e dois na laje do teto. A inclinação desses pilares se dá pelo prolongamento da estrutura para além da viga com seu arremate em concreto, de modo a tencionar a laje evitando que ela possa fletir. A sequência dessas estruturas formam uma série de pórticos ao longo da edificação.


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Figura 17: Arremate do encontro viga e pilar.


Em se tratando do conforto térmico, as empenas formadas pelo arremate dos pilares com as vigas tendem a, naturalmente, sombrear os ambientes internos, similares a grandes brises que avançam em relação à fachada. Além disso, por se tratar de um projeto aberto, ocorre naturalmente a ventilação cruzada. Como dito por ARTIGAS e CASCALDI, 1961 "A sombra, no litoral, é sempre agradável quando combinada com a brisa constante que vem do mar." Com isso, as questões tratadas no projeto puderam ser bem solucionadas para atingir um ideal construtivo para o local.


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Figura 18: Projeção do sombreamento das Empenas e Marquise.


Outro ponto a se levar em consideração é o pé direito da escola que é mais rebaixando que o normal, sob a justificativa de tornar os ambientes mais aconchegantes para os alunos, com a amplitude sendo notada no plano horizontal por meio de uma maior área envidraçada (ibid. p.242)


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Figura 19: Ginásio atualmente.


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Figura 20: Pé Direito Baixo do Pátio com Palco e Jardim ao Fundo.



BIBLIOGRAFIA

MIGLIANI, Audrey. "Clássicos da Arquitetura: Edifício Louveira / João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi" 06 Ago 2014. ArchDaily Brasil. Acessado Nov. 2021. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/625199/classicos-da-arquitetura-edificio-louveira-joao-batista-vilanova-artigas-e-carlos-cascaldi >


ARQUIVOARQ. Disponível em:< https://arquivo.arq.br/profissionais/carlos-cascaldi>. Acesso em: Nov. 2021.


ARTIGAS, J. Vilanova; CASCALDI, Carlos. Ginásio de Itanhaém. Revista Acrópole, São Paulo, n. 271. p. 241, Set. 1961. Disponível em: <http://www.acropole.fau.usp.br/edicao/377/18>. Acesso em: Nov. 2021.


CARLOS Cascaldi, Westwing. Disponível em: <https://www.westwing.com.br/guiar/carlos-cascaldi/>. Acesso em: 18 de nov. de 2021.


CASCALDI, Carlos. Ginásio Itanhaém. Revista Acrópole, São Paulo, n. 377. p. 18, Set. 1970. Disponível em: http://www.acropole.fau.usp.br/edicao/377/18. Acesso em: Nov. 2021.


COTRIM, Marcio. Entre protagonistas e esquecidos:. A arquitetura dos irmãos Cascaldi. Arquitextos, São Paulo, ano 06, n. 063.09, Vitruvius, set. 2005. <https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.063/439>. Acesso em: Nov. 2021.


CAVALCANTI, Lauro Pereira. Quando o Brasil era moderno. Guia de arquitetura 1928-1960. Rio de Janeiro: Gustavo Gilli, 2001.


FIGUEROA ROSALES, Mario Arturo. Habitação Coletiva e Espaço Urbano 1938-1972, Tese (Doutorado). FAUSP, São Paulo, 2002.


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SHUNDI, Cesar. Clássicos da Arquitetura: Escola Estadual de Itanhaém / João Batista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi, 24 Set 2014. ArchDaily BrasilDisponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/627614/classicos-da-arquitetura-ginasio-


XAVIER, Alberto; LEMOS, Carlos A. C; CORONA, Eduardo. Arquitetura moderna paulistana. São Paulo, SP: Pini, 1983. Brasília, 2015.


TURCHI, Thiago Pacheco. Artigas e o Ed. Louveira Edifícios residenciais e a verticalização de São Paulo na obra de Vilanova Artiga.




 
 
 

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