Carmen Portinho
- ACR 113
- 3 de jun. de 2022
- 16 min de leitura
Engenheira civil e primeira mulher urbanista do Brasil

Figura 1: Carmen Portinho
Fonte: Arquivo Arq
Carmen Velasco Portinho foi uma engenheira civil e urbanista brasileira. Nasceu no dia 26 de Janeiro de 1903 em Corumbá, Mato Grosso do Sul e faleceu em 25 de julho de 2001, aos 98 anos de idade. A mais velha de nove irmãos, ela era filha de Francisco Sertório Portinho e Maria Velasco Blanco, seu pai era brasileiro, gaúcho, e sua mãe era boliviana.
Portinho se casou duas vezes. O primeiro casamento foi com o médico Gualter Adolpho Lutz, irmão de Bertha Lutz; e o segundo foi com o arquiteto Affonso Eduardo Reidy. Trabalhou em parceria com Reidy em projetos de grande importância para a arquitetura brasileira e permaneceu casada com o arquiteto até o falecimento dele em 1964. Ela não teve filhos, mas adotou informalmente a filha de 6 anos de sua irmã Maria de Lourdes Portinho Magalhães. O nome da menina era Maria Helena Portinho de Magalhães, artisticamente conhecida como Maria Helena Velasco.
Carreira
Carmen Portinho ingressou na Escola Politécnica da Universidade do Brasil em 1920. Em 1924 se formou como engenheira geógrafa e em 1926 como engenheira civil. Ela foi a responsável pela leitura do compromisso solene na cerimônia de colação de grau.
Assim que se formou seu professor Maurício Joppert a convidou para trabalhar em uma obra federal com duração de dois anos na ilha das cobras. Portinho recusou o convite pois foi nomeada engenheira-auxiliar na Diretoria de Obras e Viação da Prefeitura do Distrito Federal.
Na Prefeitura a engenheira sofria machismo constantemente. Sua primeira tarefa foi vistoriar um pára-raios instalado no alto do antigo edifício da prefeitura. Para a surpresa dos seus colegas, ela conseguiu cumprir a tarefa pois praticava alpinismo nos morros do Rio de Janeiro. As promoções dentro do departamento não eram por merecimento. Indignada com a situação, Carmen Portinho foi diretamente ao presidente Washington Luiz em uma audiência pública e reivindicou a sua promoção.
Portinho fundou a PDF, Revista da Diretoria de Engenharia da Prefeitura do Distrito Federal, em 1932.

Figura 2: Revista Municipal de Engenharia
Fonte: Alberto Lopes Leiloeiro
Em 1936, Carmen Portinho ingressou no primeiro curso de pós-graduação em urbanismo do país. Ela foi a primeira mulher a conseguir o título de urbanista promulgado no Brasil pela Universidade do Distrito Federal e era a única engenheira da turma. Obteve o título ao defender a tese: “A Construção da Nova Capital do Brasil no Planalto Central” no ano de 1939. Portinho conhecia o artigo 3° da Constituição que deliberava que a Capital fosse transferida para o Planalto Central.
Portinho recebeu uma bolsa e viajou para Londres em 1945 com o objetivo de estagiar nas comissões de reconstrução e remodelação das cidades afetadas pela guerra. Durante o tempo na Europa, Carmen Portinho visitou Paris e se encontrou com Le Corbusier. Nessa ocasião ela mostrou a ele a concretização do prédio do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, o que deixou Corbusier impressionado.
Ao retornar ao Brasil, influenciada pelas experiências da Europa, a engenheira trouxe o conceito de habitação popular. Sugeriu ao então prefeito do Rio de Janeiro a criação de um Departamento de Habitação Popular para criar moradias populares que não existiam no Brasil. Em 1947 se tornou diretora do Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do Distrito Federal. Foram construídos o conjunto de Pedregulho (1948) e o conjunto da Gávea (1952) baseados no conceito de habitação popular. Ambos foram pensados como uma fita ondulante que se moldava à topografia dos terrenos, relacionando-se com a proposta da faixa urbana contínua de Le Corbusier.

Figura 3: Conjunto Residencial Pedregulho
Fonte: Vitruvius
Em 1951 Carmen Portinho assumiu a diretoria adjunta do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, que na ocasião funcionava no térreo do edifício do MEC. Ela foi uma das responsáveis pela ideologia do museu, como um local artístico e educativo. A partir dessa experiência sua carreira também seguiu para a área das artes.
Carmen Portinho chefiou as obras da construção da sede do MAM no aterro do Flamengo. Ela era a única mulher em um canteiro de obras com mais de 30 mil metros quadrados e comandava mais de 450 operários. O museu, que levou dois anos para sair do papel, em 1954, era de concepção de Afonso Eduardo Reidy, com uma estrutura metálica na Avenida Beira-Mar.

Figura 4: Construção do MAM
Fonte: Archdaily
Em 1962, Carmen Portinho pediu sua aposentadoria da esfera pública por divergências políticas com o então governador Carlos Lacerda, mas continuou trabalhando na iniciativa privada.
Portinho se tornou diretora, em 1967, da Escola Superior de Desenho Industrial, a ESDI. A escola foi criada em 1962 como a primeira escola de desenho industrial da América Latina. Carmen Portinho foi a diretora por 20 anos.
ativismo
Carmen Portinho foi uma importante ativista feminista. Em 1919 participou, junto a Bertha Lutz, da organização do movimento sufragista. No ano seguinte, sobrevoou o Rio de Janeiro junto com outras mulheres, lançando panfletos em defesa do sufrágio feminino. Fundou junto com Bertha Lutz em 1922, a Federação Brasileira pelo progresso feminino. Em 1930 fundou e se tornou a primeira presidente da União Universitária Feminina, que tinha o objetivo de defender os interesses das profissionais liberais. Fundou também a Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas (ABEA) em 1937. Em 1987 Carmen Portinho fez parte da comissão que entregou a Carta das Mulheres ao Deputado Ulisses Guimarães em Brasília. A engenheira não adotou o nome do marido, o arquiteto Affonso Eduardo Reidy e propunha às outras mulheres que não adotassem o nome de seus maridos como forma de independência.
homenagens
Em 1991 Portinho foi homenageada pela Uerj com a instituição do Prêmio Carmen Portinho. Em 1993 foi inaugurada a mostra "Carmen Portinho - uma homenagem" que aconteceu na UERJ e na ESDI. Em 1999 ela recebeu uma homenagem do Conselho Nacional de Mulheres do Brasil pela criação da Revista PDF. Dois livros foram lançados contando um pouco da sua história, um da autora Ana Luiza Nobre, chamado “Carmen Portinho” e o outro “Carmen Portinho – por toda a minha vida”, onde havia um depoimento dela a Geraldo Edson de Andrade e Alfredo Britto. Em 2019 a UERJ declarou o Ano Institucional Carmen Portinho.
principais Obras
Carmen Portinho realizou diversos projetos em colaboração com arquitetos, entre eles o principal foi seu marido Reidy. As principais obras foram:
1947 - Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes (Pedregulho) - Colaboração com Affonso Eduardo Reidy
1952 - Casa Carmen Portinho - Colaboração com Affonso Eduardo Reidy
1958 - Museu de Arte Moderna - Colaboração com Affonso Eduardo Reidy
1960 - Casa Reidy Portinho - Colaboração com Affonso Eduardo Reidy
Dentre essas obras duas edificações serão analisadas: o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e a Casa Carmen Portinho.
Museu de Arte Moderna
Ficha Técnica
Arquiteto: Affonso Eduardo Reidy
Engenheira: Carmen Portinho
Paisagismo: Roberto Burle Marx. Ano: 1958
Tipo de projeto: Social
Status: Construído
Materialidade: Concreto e tijolo
Estrutura: Concreto e Cabos de aço
Localização: Av. Infante Dom Henrique, 85 - Flamengo, Rio de Janeiro - RJ, Brasil
Cliente: Estado do Rio de Janeiro
Edifício Principal: 140 metros de comprimento por 28,3 metros de largura
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) foi criado em 1948, é uma referência em arte e cultura no país inteiro e possui um dos mais relevantes acervos em arte moderna e contemporânea de toda a américa latina.
Fica localizado na Av. Infante Dom Henrique, 85, Parque do Flamengo - Rio de Janeiro, à uma distância de 9 minutos, a pé, da linha 1 do Metrô Rio.

Figura 5: Museu de Arte Moderna
Fonte: Google Earth
Relação com o entorno

Figura 6: Visão do entorno do mam
Fonte: Google Earth
A: Mam
B: Teatro
C: Monumento aos mortos 2ª guerra
D: Entrada da Baía de Guanabara
Avenida em frente: Avenida Infante Dom Henrique
A topografia do terreno é plana, o que auxiliou na implantação do projeto que, por suas características peculiares, não poderia ser implantado, ao menos da forma como foi pensado, em um terreno acidentado.
Volumetria
O museu é separado em três grandes blocos. Em lilás está o teatro/cinemateca. Nele ocorrem exposições audiovisuais e é a segunda cinemateca mais antiga que está em atividade no Brasil. Em verde está o prédio principal do museu. É nele que ocorrem as mostras e exposições propriamente ditas. Em laranja está o bloco administrativo, ali também ficam os restaurantes.

Figura 7: Fotografia aérea do mam
Fonte: MAM Rio
A interação dos blocos se dá tanto em nível do solo, como por passarelas no segundo pavimento, isso contribui para que haja uma cobertura nas passagens entre os volumes no primeiro pavimento. Assim, em dias de chuva, por exemplo, os visitantes não ficam expostos, caso queiram transitar entre os blocos.


Figuras 8 e 9: Representação da ligação entre os blocos
Fonte: Google Earth
Análise externa
Os três blocos do museu apesar de volumetricamente diferentes possuem uma relação de proporção.

Figura 10: Fachada oeste mam proporção
Fonte: Archdaily
A fachada do bloco de exposições é monumental, sem perder, contudo, a relação harmônica e de valorização da paisagem circundante. A permeabilidade e a horizontalidade do edifício permitem a continuidade do olhar e a apreciação dos jardins de Burle Marx e da Baía de Guanabara.
A estrutura é a parte principal da fachada, o desenho dos pilares em V atribuem ao MAM uma forma única. O fechamento em pano de vidro também é essencial externamente e possibilita a transparência que integra o museu ao exterior. Os materiais da fachada do bloco são o concreto aparente, marcado por texturas calculadas em réguas de madeira e janelas feitas de vidros com thermolux e protegidas com persianas de alumínio.

Figura 11: Fachada mam
Fonte: Archdaily
O MAM foi um dos primeiros edifícios do país a usar o próprio concreto como acabamento e pode ser classificado como brutalista por causa dessa característica, porém também possui elementos modernistas como o uso de vãos livres e terraço jardim. A construção foi importante para o reconhecimento da arquitetura do Brasil.
O bloco escola foi o primeiro a ser inaugurado em 1958, e representa o desejo do museu de ser um espaço educativo. A fachada norte é voltada para o centro do Rio de Janeiro e possui um reduzido número de janelas, a fachada voltada para o jardim de Burle Marx é composta por cobogós cerâmicos. Ao leste os elementos da fachada ou não possuem aberturas ou são cobertos por marquises e ao sul as fachadas são compostas por esquadrias que possibilitam ventilação cruzada.
Esse bloco é feito de materiais simples como muros de tijolos, bordas de concreto, piso em cerâmica e janelas de alumínio.
O último bloco, do teatro, só foi construído em 2005 e apresenta alterações de usos e materiais em relação ao projeto original. O objetivo de sua concepção era um teatro que iria servir de apoio às atividades do museu, mas quando construído recebeu o uso de casa de shows.
A fachada do teatro é feita de concreto e possui formato irregular com duas paredes curvas com um telhado inclinado e um volume cilíndrico em cima, que no desenho original abrigaria a caixa do cenário do teatro.
As técnicas construtivas usadas para a construção desse bloco diferem das que foram aplicadas no bloco de exposições, a cobertura é feita por treliças metálicas e não o concreto armado, as fôrmas usadas para aplicação do concreto são diferentes e o volume oval foi feito utilizando placas de cimento.

Figura 12: Fachada dos três blocos do MAM
Fonte: Archdaily
Análise do percurso

Figura 13: divisão em blocos
Fonte: Archdaily
O museu não possui um percurso rígido pois cada ambiente possui mais de uma entrada. O bloco escola e o teatro estão em extremidades opostas ao pavilhão de exposições e no espaço entre um bloco e outro existem dois jardins de burle marx.

Figura 14: planta do MAM
Fonte: Archdaily
O primeiro bloco a ser analisado é o bloco escola. No térreo estão localizadas as salas para ensino dos cursos disponibilizados pelo museu. No segundo pavimento estão o restaurante e o bar, o restaurante está no retângulo maior e o bar no retângulo menor que juntos formam a forma em L do bloco. Esse pavimento possui também, ao lado do bar, uma rampa que se conecta ao pavilhão de exposições e um terraço jardim. O subsolo possui seis salas que abrigam as áreas de montagem das exposições e manutenção do acervo do museu, servindo como apoio administrativo.
O segundo bloco é o de exposições que possui uma forma que delimita o uso dos espaços. O primeiro pavimento possui um vão livre possibilitado pelo uso dos pilares em V, que permite a permeabilidade do olhar e outras formas de apropriação do museu.

Figura 15: Vão livre térreo mam
Fonte: Archdaily
Em meio ao vão existe uma escada curva de 9 metros e 60 centímetros de diâmetro que leva ao segundo pavimento. Ela gera uma descontinuidade na primeira laje através da forma circular.

Figura 16: Escada curva piloti
Fonte: Archdaily
Ao subir a escada curva encontra-se o segundo pavimento que possui uma área de 130 metros de comprimento por 26 metros de largura e pé direito variável, com 8 metros, 6,40 metros e 3,60 metros de altura, possibilitado pelos mezaninos do terceiro andar. O espaço é completamente livre de colunas e paredes, assim todo o salão pode ser usado para exposições de diferentes formatos. O pano de vidro começa neste pavimento e se estende até o último o que permite a integração da paisagem do Rio de Janeiro ao espaço.

Figura 17: Escada para o terceiro andar
Fonte: Archdaily
Uma outra escada, com formas retas, leva ao terceiro pavimento, também destinado a exposições, mas ideal para exibições mais intimistas. Nesse pavimento há também um auditório de 200 lugares, serviços de administração e depósito de obras.
O bloco de exposições se liga ao terceiro bloco, o teatro, através do foyer que é um espaço de preparação. A partir do foyer na área central é possível acessar os assentos e as laterais dão acesso ao palco. Logo abaixo do palco, no subsolo, estão as salas de ensaio e através delas há o acesso à orquestra.
Como os usos atuais do teatro são diferentes dos propostos originalmente algumas áreas perderam sua função, como o fosso em formato oval, e outras áreas foram criadas como uma cozinha industrial.
CASA CARMEN PORTINHO


Figuras 18 e 19: Imagens externas
Fonte: Revista Bauten und Projekt, 1952


Figuras 20 e 21: Imagens internas
Fonte: Revista Bauten und Projekt, 1952
Ficha Técnica
Localização: Rua Timboaçu, n° 1255, Jacarepaguá – Rio de Janeiro
Tipo de projeto: Moradia
Padrão Arquitetônico: Moderna Racionalista
Ano de início do projeto: 1949
Ano de conclusão: 1952
Área Construída: 273,46 m²
Área do terreno: 9000 m²
Projeto de Arquitetura: Affonso Eduardo Reidy
Engenharia Estrutural: Carmen Valasco Portinho
Engenharia Elétrica e Hidráulica: A. Rocha Lima
Projeto de Interiores: Affonso Eduardo Reidy
Material Predominante: Concreto Armado
Estado de conservação: Parcialmente Preservada
Proprietários originais: Affonso Eduardo Reidy e Carmen Valasco Portinho
Proprietários atuais: Edward Machado Kornis e Mônica Almeida Kornis
Contexto
A Casa Portinho é a residência pessoal de Carmen e seu marido Reidy e leva em sua concepção, os ideais da arquitetura moderna racionalista, contendo alguns dos elementos do repertório deste período, como o uso de materiais contemporâneos, pilotis, a aproximação do interior com o exterior, além do detalhamento do mobiliário da casa. A criação desse projeto é tida na arquitetura moderna brasileira como uma obra de referência do contexto carioca e nacional. Isso porque, consegue de forma bastante efetiva, criar uma relação entre casa e contexto excepcional, o que eleva sua arquitetura a um mérito ambiental, tecnológico e cultural. Por se tratar de um projeto de moradia própria e especifico para seu terreno pode se ver experimentações de técnicas estruturais e de materialidade de maneira a expressar, como interseção, o projeto e a estrutura desenvolvida por Carmen.
O casal, Portinho e Affonso Reidy, formava o par mais influente da arquitetura moderna carioca, compartilhando, como arquiteto e engenheira, o interesse pelas formas modernas e a função espacial da arquitetura. Assim, toda a pluralidade do casal pode ser vista nessa obra.
Em síntese, o projeto da casa Carmen Portinho se baseia na integração com a natureza. Adaptação estrutural ao terreno e um programa que modifica para atender as necessidades do ambiente.
Relação com o entorno
Na concepção do projeto original, Reidy visava criar uma moradia que se comportasse como um refúgio em meio à densa vegetação proveniente da mata atlântica no terreno. Na época, a localização afastada do centro da cidade e pouco ocupada conseguia de forma efetiva criar essa sensação, mesmo assim, mantinha uma proximidade com a Estrada Grajaú-Jacarepaguá que dava um fácil acesso a cidade. Entretanto, a expansão e adensamento da região, levou a uma perda da ambiência de refúgio que envolvia a casa e toda a mata que a cercava, hoje se limita a área que comporta a casa. Como todo o projeto gira em torno da sua ambientação e principalmente a vista da varanda principal a área de mata do lote, juntamente com a declividade do terreno age como remediação do adensamento, preservando a insolação e a ampla vista voltada para a cidade, algo que foi previsto no projeto inicial.
Na década de oitenta, Carmen Portinho doou parte do terreno para alguns dos funcionários que trabalhavam na casa, O lote restante é de aproximadamente 5 mil m2 referente ao entorno da edificação. Com isso, o acesso da parte baixa, voltado para a Estrada do Guanambi, foi perdido.

Figura 22: Visão do entorno
Fonte: google Earth

Figura 23: Planta de Situação
Fonte: Casas Brasileiras
Volumetria
A casa tem dois principais blocos que são ligados por espaços de circulação e um terceiro espaço inferior desconexo da casa, com acesso externo e espacialidade completamente diferente, este utilizado como um tipo de laje com guarda corpo.

Figura 24: Corte longitudinal com alteração pelo autor
Fonte: Casas Brasileiras
Fachadas
O projeto conta com fachadas características de obras modernistas. Facilmente Identificável como blocos, seja retangular como a sudoeste, onde fica a varanda principal, que é horizontalizada e principalmente em vidro, ou as laterais - sudeste e noroeste - que mantem a geometrização, mas que acompanham o movimento do telhado borboleta.

Figura 25: Fachada Sudoeste
Fonte: Revista Bauten und Projekt

Figura 26: Fachada sudoeste e nordeste
Fonte: Casas Brasileiras

Figura 27: Cortes transversais
Fonte: Casas brasileiras
A fachada Sudeste, com as janelas do quarto e do escritório, o prisma que faz ligação entre os blocos intimo e de serviço, parede da garagem perfurada e vista lateral da laje inferior.

Figura 28: Fachada Sudeste
Fonte: Casas brasileiras
E a fachada Noroeste, com a entrada superior da garagem, a passarela com faz ligação entre os blocos, parede revestida em pedra e a outra vista lateral da laje inferior.

Figura 28: Fachada Sudeste
Fonte: Casas brasileiras
Análise de estruturas e materiais
A residência, desenvolvida em um pavimento, foi configurada nos dois blocos já previamente citados, um para o casal e outro para empregados e garagem, separados entre si por um prisma interno com jardim, e unidos por passarelas. As esquadrias dos volumes foram pintadas em cores vibrantes, sendo um “bloco” em azul e outro em rosa, assim como a cor amarela aplicada em todas as esquadrias externas.
Tem aproximadamente 22m de comprimento e 13m de largura. Carmen Portinho a estruturou principalmente em concreto armado e partes apoiadas diretamente no solo fundamentadas em Radier como o bloco da garagem. Já o bloco principal sobre pilotis.
Os pilotis foram configurados em uma malha de 2x4 colunas, de aproximadamente 40cm de diâmetro, acompanhadas de um pilar de maior localizado próximo ao centro da casa. As colunas apresentam altura entre 6 e 3 metros, com afastamento entre si de 5,50 m e o maior pilar 1,50m de distância da segunda fileira.

Figura 29: Plantas de cobertura e estrutura
Fonte: Casas brasileiras
A laje principal da residência, que consiste em uma laje de piso, vigas, laje de teto foi construída sobre os pilotis com balanço frontal de 2m. O restante da residência se desenvolve sobre laje simples que se apoia sobre o terreno. A laje inferior, por sua vez, foi construída com afastamentos das colunas, destacando a leveza da estrutura, e apoia-se sobre uma alvenaria com revestimento em pedra.
No térreo, todos os elementos estruturais encontram-se incorporados às alvenarias e ao teto. Foram utilizadas vigas invertidas em toda a laje da cobertura o que possibilitou o vão livre de 13m na fachada sudoeste, com vedação inteiramente em esquadria metálica e vidro. A vedação do restante da residência é em tijolo cerâmico vazado revestido em argamassa de cimento, exceto pela parede em pedra que ladeia a rampa de acesso social.
A casa recebeu uma cobertura com um telhado em borboleta, outra referência a elementos modernistas, cada bloco com um telhado de uma água voltado para o centro dos volumes, onde se situa uma calha. Telhas de fibrocimento foram postas sobre madeiramento simples e a laje de concreto armado impermeabilizada, este por sua vez apoiado sobre as vigas invertidas.
Análise de percurso

Figura 30: Planta de setorização
Fonte: caderno-de-analise-carmem-portinho-daniela-marques_compress. pdf
Chega-se à casa pela parte alta do lote, acessado por um portão de ferro. Uma vez atravessado o portão, já se ver a cobertura da casa. Percorre-se então um acesso de veículos até a garagem e partindo dela, solta do terreno, desenvolve-se uma rampa de madeira ao lado de uma parede em pedra, permitindo acesso ao interior da residência.

Figura 31: Planta Térreo
Fonte: Casas brasileiras
A casa foi pensada somente para o uso do casal que não teriam filhos e, portanto, o primeiro bloco conta com uma ampla área de estar, composta por sala e varanda interna, além de banheiro, dois quartos esses sendo um dormitório e um escritório, cozinha e área de serviço. O segundo possuí um quarto com banheiro para funcionários e uma garagem para dois veículos, voltada para o acesso principal da casa e que não se comunica com o interior.
O nível inferior era ocupado somente por uma laje, sem qualquer espécie de fechamento e protegida por um fino guarda-corpo em ferro, utilizado como espaço de lazer.

Figura 32: Planta Pavimento Inferior
Fonte: Casas brasileiras
A varanda era um elemento de destaque no projeto, como também já foi dito previamente, de onde se tinha a sensação de integração com a mata do entorno. Recuados em relação à varanda ficavam o banheiro e o quarto, que possuíam na parte superior de suas alvenarias esquadrias basculantes verticais, que permitiam a iluminação externa através da varanda e eram também importantes para a promoção da ventilação dos ambientes. O dormitório também possuía uma porta que se abria para ela, proporcionando uma circulação fluida entre os ambientes.
No interior, Reidy projetou o mobiliário fixo do dormitório - que consistia em uma parede revestida em "lambri" de madeira, que fazia às vezes de cabeceira da cama e apoio para as mesinhas de canto - e da sala, onde existia uma grande estante ocupando toda a extensão da maior parede do aposento no lado oposto à fachada em vidro. Todos os ambientes sociais e íntimos possuíam piso em taco de madeira, exceto as áreas molhadas, e as esquadrias internas foram executadas em madeira lisa, pintada de branco.

Figura 33: Imagens do acesso a casa
Fonte: Issuu - Casa Carmen Portinho

Figura 34: Diagrama de circulação
Fonte: caderno-de-analise-carmem-portinho-daniela-marques_compress.pdf

Figura 35: Diagrama de mobiliário
Fonte: caderno-de-analise-carmem-portinho-daniela-marques_compress.pdf

Figura 36: Diagrama de áreas
Fonte: caderno-de-analise-carmem-portinho-daniela-marques_compress.pdf
Carmen viveu em nessa casa até sua morte em 2001. Durante esse tempo, a casa se manteve sem grandes alterações. Após seu falecimento, foi possível ver grandes degradações devido a décadas em desuso e a falta de tombamento. Com a aquisição pelo segundo proprietário a residência, devido a intervenções para moradia acabaram por remover em essência as características do projeto de Reidy. As alterações realizadas nas fachadas tiraram de maneira conjunta, aspectos compositivos característicos da arquitetura do período moderno, interferindo na identificação atual da residência.
Carmen Portinho é alguém que deve ser lembrada e valorizada pela sua contribuição para a engenharia, arquitetura e artes brasileiras.
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