COLETIVO LEVANTE
- ACR 113
- 12 de mai. de 2023
- 14 min de leitura
Atualizado: 8 de jul. de 2023

APRESENTAÇÃO
A desigualdade social é um tema central na discussão sobre as cidades brasileiras. Embora o país tenha passado por um período de desenvolvimento econômico nas últimas décadas, a população mais periférica ainda enfrenta condições precárias de moradia, como a ausência de água encanada e saneamento básico, consequente de uma forte segregação sócio espacial. Nesse contexto, o Coletivo Levante se destaca como uma iniciativa que busca promover a arquitetura e a cidadania nas favelas e periferias brasileiras.
O Coletivo Levante reúne arquitetos e profissionais de topografia, engenharia, design e paisagismo em um laboratório de ideias no Aglomerado da Serra, onde vivem quase 100 mil pessoas, como seu principal território de atuação. Desde 2017, em parceria contínua com o Centro Cultural Lá da Favelinha, o coletivo tem se consolidado como um modelo possível para a realização de projetos e obras pela formação de redes e relações afetivas, ativando culturas e potências das comunidades através da arquitetura.
TRAJETÓRIA
O Coletivo Levante foi fundado em 2017 na ocasião de criação da marca de moda upcycling Remexe Favelinha. O encontro do artista e gestor comunitário Kdu dos Anjos, e do arquiteto Fernando Maculan, no Centro Cultural Lá da Favelinha deu origem a novos caminhos para a conclusão da obra daquele edifício, até então inacabada. Hoje o projeto conta com um amplo grupo de arquitetos, urbanistas, topógrafos, paisagistas e designers que decidiram unir forças para atuar nas favelas e periferias. De acordo com o próprio Coletivo, o que motivou sua criação foi a ideia de que o papel dos profissionais de arquitetura e urbanismo deve ser também de agentes de transformação social. Os profissionais envolvidos afirmam que a arquitetura não é apenas uma questão de design e estética, mas também deve levar em consideração as necessidades das pessoas e das comunidades, enfatizando a importância de uma abordagem ética e responsável na arquitetura e no urbanismo.
Ao longo dos anos, o projeto tem se destacado por sua atuação no Aglomerado da Serra, maior aglomerado de favelas do estado de Minas Gerais localizado na capital Belo Horizonte, contudo também têm propostas em andamento nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Durante a concepção dos projetos, apesar de valorizarem também a questão estética, a coloca em segundo plano, pois para eles a sustentabilidade, funcionalidade e acessibilidade são mais importantes para a realização do projeto. Além disso, a logística é um critério importante, uma vez que as condições de acesso e transporte nas favelas e periferias muitas vezes são limitadas. O processo criativo do Coletivo envolve a participação de diversos membros, que trabalham em equipe na elaboração dos projetos. A troca de ideias e a colaboração são valorizadas, e a decisão final é tomada de forma coletiva, considerando as opiniões e perspectivas de todos os membros envolvidos, que afirmam se inspirar constantemente no modelo de gestão do Centro Cultural Lá da Favelinha.
A interação e o relacionamento dos profissionais com a comunidade é fundamental para o sucesso dos projetos. O Coletivo busca vivenciar, conversar, escutar os moradores e envolvê-los no processo de concepção e execução para que suas demandas e necessidades sejam atendidas, pensando a ideia de dentro para fora. A participação da comunidade é vista como um elemento essencial para a construção de soluções mais justas e sustentáveis. Assim, o coletivo busca esclarecer as etapas do projeto, envolvendo os moradores desde o início do processo, e garantir que as soluções propostas estejam de acordo com as necessidades e desejos da comunidade, podendo também influenciar outras práticas arquitetônicas.
Para o Levante, as soluções e alternativas construtivas das habitações populares podem contribuir para a arquitetura brasileira de diversas formas. Uma vez que, elas mostram que é possível criar espaços funcionais mesmo em condições adversas, o que pode inspirar novas soluções em outras áreas da arquitetura. Em resumo, é uma iniciativa que mostra que é possível criar soluções inovadoras e justas para as favelas e periferias brasileiras, destacando a importância da participação da comunidade e da construção coletiva na criação de espaços urbanos mais democráticos e sustentáveis. Com isso, o projeto contribui para a construção de uma arquitetura mais engajada social e politicamente capaz de enfrentar os desafios urbanos mais complexos.
ARQUITETOS PRINCIPAIS:
FERNANDO MACULAN: Nascido em 1974 em Belo Horizonte, Fernando Maculan é um arquiteto e urbanista graduado pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 1997. É um arquiteto que atua em projetos que se aproximam da arte e do design. Assim, suas criações são idealizadas a partir de uma multidisciplinaridade colaborativa que lhe proporciona, dessa forma, um grande aprendizado. Seu trabalho é fundamentado em elaborar conceitos coerentes com a especificidade do lugar e da população, além de também dar o reconhecimento às tradições e projeções futuras que focam em trazer diversidade.
JOANA MAGALHÃES: Arquiteta e urbanista formada pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 1996 com pós graduação na Universidade de Sorbonne na França. Fundadora da Hemisfério Arquitetura e Urbanismo, cuja missão é desenvolver projetos culturalmente relevantes, que envolvam o público, a paisagem, a história e o contexto urbano com a arquitetura.
PROJETOS:
Casa no Pomar do Cafezal (Casa do Kdu), 2020;
Centro Cultural Lá da Favelinha, 2021;
Casa no Beco Dourado, em construção.
PRÊMIOS:
Menção Honrosa na Premiação IAB-MG 2021 – Edição do Centenário - categoria Impacto Social com a Casa no Pomar do Cafezal;
Prêmio IAB-MG 2021 – Edição do Centenário - categoria Impacto Social com o Centro Cultural Lá da Favelinha;
Prêmio Nacional IAB 2021 – Edição do Centenário - categoria edificações com o Centro Cultural Lá da Favelinha;
Prêmio de Arquitetura 8° edição Instituto Tomie Ohtake AkzoNobel - Centro Cultural Lá da Favelinha;
Prêmio ArchDaily Building of the Year 2023.
CASA NO POMAR DO CAFEZAL:
FICHA TÉCNICA
ARQUITETOS: Coletivo Levante;
ÁREA: 66,56m²;
ANO: 2020;
FOTOGRAFIAS: Leonardo Finotti;
FABRICANTES: Cerâmica Braúnas, JL Serralheria e Metalúrgica, Ocri Oficina, Trimble Navigation;
ARQUITETOS RESPONSÁVEIS: Fernando Maculan, Joana Magalhães;
EQUIPE DE PROJETO: Cássio Lopes, Ricardo Lobato;
CLIENTE: Kdu dos Anjos;
SERRALHERIA: JL Serralheria e Metalúrgica;
COLABORADORES: Cerâmica Braúnas;
Localização: Vila Santana do Cafezal - Aglomerado da Serra, Belo Horizonte.
“As pessoas chegam para mim e dizem: ‘Quero uma casa como a sua" - Kdu dos Anjos, 32, morador da residência que ganhou o prêmio internacional Archdaily.

Figura 1: Fachada da casa de Kdu dos Anjos.
Fonte: Archdaily.
A casa no pomar do cafezal, carinhosamente chamada de “meu barraco” por Kdu dos Anjos, está localizada na vila Santana do Cafezal, Aglomerado da Serra, na cidade de Belo Horizonte. O terreno em que foi implantada era anguloso e de aproximadamente 70m². Para encaixar dois módulos estruturais de 3x3m, em dois níveis, foi mantida uma lógica construtiva bem conhecida e normalmente aplicada nos mutirões, especialmente em relação à estrutura e aos fechamentos de tijolos aparentes. Além disso, houve uma preocupação em observar com cuidado o fluxo das águas de chuva e sua absorção no terreno, minimizando a intervenção no solo. A casa foi projetada para promover conforto ambiental, com ventilação, iluminação natural e controle de temperatura, utilizando elementos leves, como roliças de eucalipto e vegetação. Também foi pensado em aproveitar ao máximo a vista, através de janelas amplas que garantem uma vista mais livre.

Figura 2: Implantação metropolitana.
Fonte: Archdaily.

Figura 3: Implantação metropolitana.
Fonte: Archdaily.
A volumetria da casa foi pensada de forma a integrá-la à paisagem e criar uma relação harmônica com o entorno, ao mesmo tempo que proporciona conforto e privacidade aos moradores. Sendo composta por uma estrutura dividida em módulos prismáticos que ocupam de meio a um módulo completo - como pode ser visto na figura 3 - os quais abrigam as áreas sociais, de serviço, os dormitórios e as áreas íntimas da residência. Além disso, a casa possui uma forte relação com o entorno, com grandes aberturas envidraçadas que permitem a entrada de luz natural e a integração visual com o jardim.

Figura 4: Fachada principal da casa.
Fonte: Archdaily.

Figura 5: Croqui do projeto.
Fonte: Archdaily.

Figura 6: Isométrico explodido.
Fonte: Archdaily.
Ao analisar com mais profundidade o projeto, nota-se que no pavimento térreo, através da vista frontal, as três principais janelas possuem aberturas que favorecem muito a ventilação, garantindo o conforto térmico necessário nos períodos mais quentes. O acesso ao edifício se dá pelo fundo do terreno, através de um pequeno corredor. Para acessar o térreo é necessário descer uma escada a frente desse corredor. A partir dela, à direita se encontra a entrada para a área comum, onde se localiza a sala e a cozinha integradas. Logo à frente, pode se ver duas portas, a primeira que dá acesso a um banheiro com ducha e a segunda dá para a área de serviços, cuja volumetria aproveita o ângulo do terreno. Além disso, ao descer a escada também se tem acesso a uma área de lazer, um deck que garante maior conforto para receber visitas e também um espaço com vegetação.

Figura 7: Planta do primeiro pavimento.
Fonte: Archdaily.

Figura 8: Interior do 1º pavimento.
Fonte: Tenho mais Discos que Amigos.

Figura 9: Entrada principal e deck.
Fonte: Archdaily.
Para adentrar o segundo pavimento, utiliza-se uma escada externa que situa-se no fundo do terreno chegando a uma varanda ampla e coberta com telhas transparentes sobre ripas de madeira, que ajudam a diminuir a insolação, garantindo um espaço de descanso mais íntimo e agradável ao morador. Passando por esse ambiente, encontra-se a suíte, cujo conforto ambiental é garantido pela janela ampla que aproveita a vista e ventila o ambiente de forma eficiente. No fundo do quarto, por fim, fica localizado o banheiro da suíte, com janelas altas para a ventilação higiênica e com formato que acompanha a angulação do terreno.

Figura 10: Planta do segundo pavimento.
Fonte: Archdaily.

Figura 11: Quarto da residência.
Fonte: Archdaily.
Já o terceiro pavimento traz o terraço, com área de lazer semelhante a um espaço bastante comum em casas de comunidade, a famosa "laje". Para chegar nesse piso é preciso acessar uma escada metálica - que se assemelha às escadas de incêndio. Assim, possui uma boa vista e espaço para socializar e tomar sol, local também onde se localiza a caixa d’água e a antena parabólica.

Figura 12: Planta do terceiro pavimento.
Fonte: Archdaily.
A estrutura da casa é definida pelo bloco cerâmico clássico de 8 furos, que é disposto horizontalmente e possui uma superfície frisada. É importante ressaltar que essa escolha de material é incomum na região do morro, onde o posicionamento vertical do bloco é mais frequente, devido à sua instalação mais rápida e maior eficiência no uso do material. Além disso, buscou-se assegurar uma maior inércia térmica para a residência por meio do assentamento dos blocos de forma horizontal, o que resulta em uma parede cuja largura corresponde à maior dimensão do bloco. Adicionalmente, exploraram-se diversas formas de uso desse elemento modular, que pode assumir diferentes configurações, como a de um cobogó ou a de um componente combinado com blocos de concreto, dependendo das necessidades estruturais de cada situação. “Isso se traduz em um ambiente que vai demorar mais a aquecer quando há temperaturas elevadas e a preservar um pouco mais o clima interno quando está frio”, explica o arquiteto Fernando Maculan, que conduziu a obra com Joana Magalhães no Coletivo.
O projeto apresenta um método construtivo que utiliza materiais típicos das áreas periféricas, além de uma disposição bem planejada e consideração em relação à iluminação e ventilação, resultando em um espaço com excelente qualidade ambiental. Foi utilizado ferro para as tubulações de água e ligações elétricas externas, com o objetivo de manter o custo semelhante ao das outras casas na favela. Contudo, o projeto se destaca por empregar técnicas e elementos que visam a sustentabilidade e a eficiência para os moradores.
"Usamos o que é corriqueiro na casa, mas com qualidades extras que possam ser copiadas — sim, copiadas — pelos vizinhos.” - Fernando Maculan, arquiteto do Coletivo Levante.
O interior do projeto preza pela simplicidade e pelo aconchego, as paredes são marcadas principalmente pelos tijolos e estruturas em concreto aparente, o que traz para o ambiente um aspecto geométrico, que é apenas corroborado pela presença de plantas na decoração do espaço e pela grande quantidade de luz natural adentrando os cômodos que a falta de cortinas permite. Ademais, também buscando um estilo moderno, pode-se mencionar o uso de móveis simples e de aparência industrial, o que é presente inclusive nas esquadrias de ferro das portas e janelas e nas ligações elétricas expostas. Já em relação ao chão da casa, foi utilizado um piso de cimento queimado vermelho, especialmente requerido por Kdu, o proprietário da casa,
"O chão é de cimento queimado. Os pedreiros falavam que eu tinha que colocar porcelanato pela estrutura da obra, mas queria cimento queimado, que lembra casa de vó” - Kdu dos Anjos.
Dessa forma, todo interior, assim como os aspectos estruturais que tornaram-se decorativos, foi planejado pensando de modo majoritário na praticidade de ser replicado pela comunidade ao seu redor, o que justifica toda a simplicidade do ambiente.
CENTRO CULTURAL LÁ DA FAVELINHA
FICHA TÉCNICA:
ARQUITETOS: Coletivo Levante
ÁREA: 194 m²
ANO: 2021
FOTOGRAFIAS: Leonardo Finotti, Fernando Maculan, Bruna Brandão, Matheus Angel
FABRICANTES: Construtora UNI, Depósito Areia Branca, Interpam Iluminação, Luxion, O/M Light - Osvaldo Matos, Omega Light, Sherwin-Williams, Solpack, Templuz, Tramatto Elementos Vazados, Trust iluminação
ARQUITETOS RESPONSÁVEIS: Fernando Maculan, Joana Magalhães
EQUIPE DO PROJETO: Ricardo Lobato, Cássio Lopes, Luiza Salomé, Julia Passos, Arthur Souza, Richard Ramos, Marina Vilela, João Pedro Pujon
CLIENTES: Centro Cultural Lá da Favelinha
ILUMINAÇÃO: Mariana Novaes - Atiatîa Design | Equipe: Marina Faria, Pedro Ferreira, Wallace Moreira
PAISAGISMO: Felipe Fontes
COLABORADORES: Bruno Ulhoa, Micropolis, REMEXE Favelinha, Fábrica Jangada, Jacques Simão de Siqueira, Luiz Eduardo Andrade Chiatti e Movimento Gentileza
CONSULTOR DE ENGENHARIA: Marcello Cláudio Teixeira
LOCALIZAÇÃO: São Lucas - Aglomerado da Serra, Belo Horizonte
A segunda edificação analisada, o Centro Cultural Lá da Favelinha está localizado na Vila Novo São Lucas, a aproximadamente 4km de distância do Centro de Belo Horizonte.

Figura 13: Mapa de localização do Aglomerado da Serra.
Fonte: Francielen Bispo, 2021.

Figura 14: Implantação metropolitana.
Fonte: ArchDaily.

Figura 15: Croqui de implantação no Aglomerado da Serra.
Fonte: ArchDaily.
O edifício destaca-se visualmente em relação ao seu entorno, sua fachada e parte da cobertura possuem faixas vermelhas de sombrite (também conhecido como tela agrária ou agrícola), e a cor alaranjada em grande parte da fachada acentua a alegria e a potência presente neste local. Seu volume consiste em um bloco monolítico retangular, com vazio parcial apenas em seu último pavimento, correspondente ao terraço.

Figura 16: Vista do Centro Cultural Lá da Favelinha e seu entorno.
Fonte: ArchDaily.
O Centro Lá da Favelinha surgiu em 2015, fundado e coordenado pelo artista Kdu dos Anjos. Inicialmente, o Centro Cultural era uma oficina de rap e biblioteca comunitária, com livros arrecadados através de doações. Com o tempo e devido às demandas da comunidade, se tornou uma organização artístico-cultural, formando um espaço cultural e de formação profissional que busca promover educação, cultura e desenvolvimento humano, principalmente, das crianças e jovens do Aglomerado da Serra. Assim, o projeto do Coletivo Levante corresponde a uma reforma do antigo edifício do Centro. Pensando numa forma de organizar melhor os espaços vazios existentes antes da reforma, o novo projeto trouxe algumas correções espaciais, tendo áreas abertas à livre apropriação como o pavimento térreo e o terraço, e o segundo piso com os usos mais definidos e compartimentados.

Figura 17: Centro Lá da Favelinha antes da reforma.
Fonte: Sou BH - Uai.


Figura 18: Comparativo entre antes e depois da reforma.
Fonte: Lá da Favelinha.
Foi pensado um ambiente que reorganizasse os antigos usos no espaço, além de criar usos, a fim de ampliar a capacidade do centro cultural em atender os moradores e visitantes do Aglomerado. Anteriormente à reforma, apenas dois pavimentos estavam sendo utilizados, com o terraço, até então, inacabado.

Figura 19: Isométrica explodida.
Fonte: ArchDaily.
Com a reforma, o primeiro pavimento passou a abrigar uma loja, junto com a biblioteca comunitária que já existia no local. A loja foi inserida nesse pavimento devido à proximidade e relação direta com a rua, impulsionando o interesse dos transeuntes de modo a favorecer as vendas e o envolvimento com a própria comunidade, visto que a “lojinha” funcionaria como uma cooperativa. O espaço do primeiro andar não possui divisões, sendo uma espécie de grande salão, que aos fundos possui um lavabo. Quanto ao acesso para o segundo pavimento, esse se faz por uma escada, a qual possui formato e degraus irregulares, de forma independente, não sendo necessário acessar o primeiro pavimento para chegar ao segundo.

Figura 20: Planta primeiro pavimento.
Fonte: ArchDaily.
Ao subir a escada, localizada à direita do edifício, chega-se a uma sala central espaçosa. À esquerda dessa sala, encontram-se mais duas salas, menores do que a central, as quais estão interligadas por aberturas sem portas. Já à direita da sala central, há uma corredor que dá acesso aos vestiários, os quais só possuem portas nas cabines privativas. De um modo geral, esse segundo pavimento conta com ambientes mais amplos e espaçados, com a iluminação e ventilação propícia para o ateliê de costura e estações de trabalho que estão instaladas no espaço. Nele, são ministradas aulas de línguas, música, escrita, costura, além da área de administração do Centro.

Figura 21: Planta segundo pavimento.
Fonte: ArchDaily.

Figura 22: Visão da escada no segundo pavimento.
Fonte: ARQBH.

Figura 23: Visão dos vestiários.
Fonte: ARQBH.
Por fim, seguindo a escada, essa também dá acesso independente ao terraço. Nele há dois ambientes: aos fundos, do lado da escada, uma cozinha experimental e o restante é destinado à realização de oficinas, cursos, refeições coletivas e outros pequenos eventos. Aulas de dança, capoeira, yoga e gravações de vídeos e clipes de música são exemplos de utilização deste local.

Figura 24: Planta terraço.
Fonte: ArchDaily.

Figura 25: Aula de dança no terraço.
Fonte: Evoé.

Figura 26: Corte A - Representação dos pavimentos.
Fonte: ArchDaily.

Figura 27: Corte B - Representação dos pavimentos.
Fonte: ArchDaily.
No que diz respeito ao conforto ambiental, o projeto buscou fazer o possível a partir do orçamento e da estrutura e implantação pré-existentes. Visando um conforto melhor do que na situação anterior à reforma, houve o aproveitamento dos elementos vazados e aberturas da fachada principal, que possibilitam a circulação do ar e iluminação natural no primeiro pavimento e nos ambientes posteriores do segundo pavimento. Além disso, foram feitas, no segundo pavimento, aberturas voltadas para o fenda entre duas paredes aos fundos, que permitem uma luz natural indireta e leve circulação de ar nos vestiários. Ainda, a escada, conjuntamente com as aberturas interiores do segundo andar, são um meio de garantir um maior fluxo de ar para os pavimentos superiores. Já as faixas vermelhas na fachada amenizam a insolação direta dentro da edificação e no terraço. Esses artifícios de controle de insolação e ventilação se tornam essenciais ao passo que o espaço contava, antes da reforma, com uma circulação de ar ainda mais precária. Quanto à circulação, como dito anteriormente, para transitar entre pavimentos faz-se necessário o uso de escadas, enquanto internamente há um espaço confortável para circular principalmente no primeiro e terceiro pavimentos, os quais não possuem divisões. Já no segundo andar, embora haja ambientes segmentados, esses ainda sim são bem integrados, permitindo livre circulação.

Figura 28: Visão do terraço das faixas de sombrite.
Fonte: ARQBH

Figura 29: Visão do terraço das faixas de sombrite.
Fonte: ARQBH.

Figura 30: Visão das aberturas nas paredes ao fundo.
Fonte: ArchDaily.
Analisando as aberturas do edifício é possível identificar apenas três janelas articuladas com acesso ao lado externo, localizadas na fachada frontal do Centro Cultural. Além dessas janelas, há duas aberturas, sem esquadrias, voltadas para o vão entre as paredes do fundo, e um terraço parcialmente aberto em direção à rua. Quanto às aberturas de portas são no total três portas, também na fachada principal, sendo duas articuladas e uma de giro. Já dentro do edifício há diversas aberturas sem esquadrias e portais permitindo maior integração dos ambientes e melhor circulação de ar, visto que são poucas as aberturas para o exterior.

Figura 31: Elevação Frontal.
Fonte: ArchDaily.

Figura 32: Fachada frontal. Foto de Leonardo Finotti.
Fonte: ArchDaily.

Figura 33: Aberturas internas. Foto de Matheus Angel.
Fonte: ArchDaily.

Figura 34: Aberturas internas. Foto de Matheus Angel.
Fonte: ArchDaily.
A escolha dos materiais voltados para a estrutura visava uma obra leve, seca e racional, portanto deram preferência para estrutura, cobertura e vedações metálicas, além de elementos industrializados que poderiam ser montados e instalados. Ademais, aproveitaram a estrutura existente de alvenaria e concreto armado. Quanto ao revestimento foi utilizado reboco e pintura, tanto externa quanto internamente. Ademais, utilizaram cobogós, permitindo maior circulação de ar e entrada de luz, e faixas de sombrite na fachada frontal e cobertura, para amenizar a insolação direta, as quais estão presas em uma estrutura nas duas extremidades. No lado externo, a frente do edifício foi construído um parklet azul, elaborado pelo coletivo Micrópolis, com estrutura formada principalmente através da reutilização e adaptação de carteiras escolares de madeira, e superfícies de apoio, assentos e degraus feitos a partir de prateleiras de estantes. Esse parklet foi uma escolha interessante para garantir maior segurança, pois permite um afastamento maior da entrada do edifício da rua, permitindo também um espaço de transição de espaços e integração social entre os frequentadores do Centro Cultural, sendo uma espécie de expansão do corpo do edifício.

Figura 35: Terraço. Foto de Leonardo Finotti.
Fonte: ArchDaily.

Figura 36: Vista aérea. Foto de Leonardo Finotti.
Fonte: ArchDaily.
O interior do Centro Cultural consiste no uso abundante de cores vibrantes, reafirmando a energia e alegria das pessoas que utilizam o local, e os espaços são pensados e divididos como corpos de cor, fazendo referência a Hélio Oiticica, trazendo uma arquitetura cênica ideal para os artistas, bailarinos e modelos do Lá da Favelinha. A respeito do mobiliário utilizado, este foi feito de madeira compensada resinada, com corte CNC, o qual foi concebido e executado por moradores do Aglomerado e frequentadores do Centro Cultural, sob orientação dos arquitetos do Coletivo Levante.

Figura 37: Terraço sendo usado para gravação de clipe. Foto de Bruna Brandão.
Fonte: ArchDaily.
BIBLIOGRAFIA
LUCO, A. Casa no Pomar do Cafezal / Coletivo LEVANTE. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/978222/casa-no-pomar-do-cafezal-coletivo-levante>. Acesso em: 12 maio. 2023.
MACULAN, F. 2020_Casa no Pomar do Cafezal —. Disponível em: <http://fernandomaculan.com/arquitetura/2022/8/16/2020casa-no-pomar-do-cafezal>. Acesso em: 12 maio. 2023.
REIS, L. É de BH! Casa do Kdu dos Anjos, na Serra, vence concurso internacional de arquitetura. BHAZ, 23 fev. 2023. Disponível em: <https://bhaz.com.br/noticias/bh/casa-do-kdu-dos-anjos-vence-concurso-arquitetura/>. Acesso em: 12 maio. 2023
Saiba quem é Kdu dos Anjos, proprietário da casa na favela de BH que venceu concurso internacional de arquitetura. Disponível em: <https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2023/02/23/saiba-quem-e-kdu-dos-anjos-proprietario-da-casa-na-favela-de-bh-que-venceu-concurso-internacional-de-arquitetura.ghtml>. Acesso em: 12 maio. 2023.
TEIXEIRA, L. Kdu dos Anjos: conheça o MC e multiartista que ganhou prêmio internacional de arquitetura por sua casa na favela. Disponível em: <https://www.tenhomaisdiscosqueamigos.com/2023/02/24/kdu-dos-anjos-casa-bh-premio-arquitetura/>. Acesso em: 12 maio. 2023.
ARCHDAILY. Centro Cultural Lá da Favelinha / Coletivo LEVANTE. [S. l.], 9 abr. 2023. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/976529/centro-cultural-la-da-favelinha-coletivo-levante. Acesso em: 12 maio 2023.
DA FAVELINHA, Lá. Centro Cultural Lá da Favelinha. [S. l.], 2021. Disponível em: https://ladafavelinha.com.br/. Acesso em: 12 maio 2023.
ARCHELLO. Centro Cultural Lá da Favelinha. [S. l.], 2021. Disponível em: https://archello.com/pt/project/la-da-favelinha-cultural-center. Acesso em: 12 maio 2023.
VILELA, Marina; ALVES, Anna Gabriela. Centro Cultural Lá da Favelinha: uma ponte morro-asfalto-morro. [S. l.], 22 maio de 2022. Disponível em: https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/22.254/8543. Acesso em: 12 maio 2023.
ANJOS, Kdu dos. Lá da Favelinha. 1. ed. Belo Horizonte: Crivo Editorial, 2020.




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