Freusa Zechmeister
- ACR 113
- há 1 dia
- 8 min de leitura

BIOGRAFIA
Freusa Zechmeister nasceu em Patos de Minas, no dia 25 de maio de 1941 e faleceu no dia 7 de dezembro de 2024, em Belo Horizonte. Estudou Arquitetura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), concluindo sua graduação em 1964. Ao longo de sua carreira, se dedicou a projetos residenciais e comerciais em Belo Horizonte. No entanto, seu reconhecimento nacional e internacional veio principalmente a partir de 1980, quando iniciou sua colaboração como figurinista do Grupo Corpo.
Em 1981, já com alguns anos de experiência profissional como arquiteta, realizou uma viagem pela Europa na qual aprofundou sua sensibilidade para a cenografia e o uso de materiais diversos. Ao retornar ao Brasil, foi convidada por Emílio Kalil, diretor do grupo na época, para desenvolver os figurinos da companhia de dança mineira. Essa parceria se tornou referência no cenário cênico mundial, conseguindo publicações em veículos internacionais como The New York Times e El País.
Obras
Freusa consolidou sua carreira como arquiteta desenvolvendo projetos residenciais e comerciais, nos quais privilegiava a reinterpretação de edifícios históricos e o uso de materiais de reuso. Além disso, realizou várias obras como figurinista. Abaixo estão listados alguns de seus projetos:
1992 - Figurino do espetáculo "21" - Grupo Corpo
1993 - Figurino do espetáculo "Nazareth" - Grupo Corpo
1994 - Figurino do espetáculo "Sete ou oito peças para um balé" - Grupo Corpo
1995 - Casa Bonomi - Av Afonso Pena 2600, Funcionários, Belo Horizonte
1996 - Figurino do espetáculo "Bach" - Grupo Corpo
1997 - Figurino do espetáculo "Parabelo" - Grupo Corpo
1998 - Figurino do espetáculo "O Corpo" - Grupo Corpo
S.d - Casa Cícero - Alto Santa Lúcia, Belo Horizonte
2004 - Figurino do espetáculo "Lecuona" - Grupo Corpo
2006 - Figurino do espetáculo "Missa do Orfanato" - Grupo Corpo
2006 - Figurino do espetáculo "Onqotô" - Grupo Corpo
2009 - Figurino do espetáculo "Ímã" - Grupo Corpo
2011 - Figurino do espetáculo "Sem Mim" - Grupo Corpo
2011 - Projeto original do Hotel Clara Resort - Inhotim
2013 - Figurino do espetáculo "Triz" - Grupo Corpo
2017 - Figurino do espetáculo "Gira" - Grupo Corpo
2017 - Loja Zezé Duarte - Rua Turibaté 111, Sion, Belo Horizonte
Análise de projetos:
Casa Bonomi - 1995

FICHA TÉCNICA:
Arquiteto: Comissão Construtora (original), Freuza Zechmeister e Isaura Kallas (restauro e arquitetura de interiores)
Cliente: Comissão Construtora (original), Casa Bonomi (Restauro)
Uso: Residência (original); Comercial, padaria (atual)
Ano: 1920 (original); 1994 (reforma)
Estilo: Eclético de influência neoclássica
Endereço: Av Afonso Pena 2600, Funcionários
Acesso: livre
Tombamento: fachadas e volume

A Casa Bonomi está localizada no centro de Belo Horizonte, no encontro das avenidas Afonso Pena e Getúlio Vargas. Inserida em um quarteirão triangular, a edificação convive com a verticalização intensa da região, marcada por prédios altos e especulação imobiliária. Apesar disso, mantém sua escala original eclética e térrea. A transformação da casa em uso comercial respeitou sua arquitetura, integrando-a ao contexto urbano de forma discreta, mas significativa.

No projeto de conversão, iniciado em 1995 e concluído em 1996, Freusa demoliu alguns elementos da residência, acrescentou um trecho à construção que deu sequência aparentemente natural em seu formato original e, através de um rigoroso levantamento em 1995 da concepção primária da edificação, ela restaurou elementos históricos do que se tornaria a padaria.
Em relação à fachada, Freusa manteve o alinhamento do corpo principal em relação ao lote, preservando beirais modestos e a cobertura em duas águas. Recomposições pontuais em pedra de canto restauraram as ombreiras das portas e janelas, contrastando com o reboco branco que cobriu parte das paredes externas.


Antes da reforma, o imóvel apresentava compartimentação típica de uma residência eclética: cômodos frontais destinados a salas sociais seguidos de uma área de serviço posterior, delimitada por um pequeno pátio interno que funcionava como apoio a tarefas domésticas. Os pisos de madeira originais encontravam-se deteriorados, com trechos substituídos de forma improvisada, e parte do madeiramento do telhado estava comprometida por infiltrações. As esquadrias também já haviam sido trocadas em reformas anteriores, descaracterizando parte da face histórica do edifício.

Na reforma, ela concentrou o espaço frontal do térreo em um grande salão destinado ao atendimento e ao convívio de clientes. Essa sala principal é marcada pela presença de uma longa mesa comunitária em madeira de demolição, capaz de acomodar cerca de quatorze pessoas, evocando o costume mineiro de reunir-se em torno de uma única mesa. Acima dela, um conjunto suspenso de ripas de madeira faz a vez de forro cenográfico, permitindo a fixação de luminárias pendentes e criando um jogo de luz e sombra que reforça a atmosfera acolhedora [7].

O pavimento inferior, que antes abrigava a copa e dependências de serviço, foi reorganizado para abrigar área de apoio e depósitos, deslocando-os discretamente para o fundo do lote, com uma entrada privativa aos fundos. Com isso, a parte frontal da casa permaneceu livre e totalmente aberta, proporcionando visibilidade direta entre o balcão de atendimento e a calçada. A parte da cozinha voltada para o preparo de pratos ficou embaixo do recente acréscimo e panificadora em si tomou o espaço do que antes era um quintal.

Para o piso principal, Freusa substituiu as tábuas originais por ripas de madeira de demolição, lixadas e enceradas, garantindo uniformidade tátil e cromática. As paredes de alvenaria foram apenas limpas, e os trechos em tijolo aparente foram preservados em pontos estrategicamente escolhidos, de modo a expor a “pele” histórica do edifício. Os caixilhos de madeira originais, onde ainda existentes, foram restaurados; aqueles totalmente perdidos deram lugar a novas esquadrias em madeira branca, respeitando as proporções tradicionais, mas sem recorrer a detalhes historicistas excessivos .

A recomposição dos ornamentos metálicos originais, como grades e guarda-corpos, reforçou o diálogo com o projeto original de caráter eclético. No recuo posterior, onde existia um pequeno pátio, a arquiteta introduziu vasos com mudas de espécies nativas do cerrado, o que garante ventilação natural ao conjunto.
Um dos aspectos mais inovadores da Casa Bonomi reside na forma como o retrofit convive com o elemento cenográfico. O gradeado suspenso de ripas de madeira, aliado à iluminação amarelada envolvida por malhas translúcidas, remete à experiência que Freusa adquirira como figurinista — ela buscou criar um ambiente que pudesse receber tanto a clientela tradicional de padaria quanto pequenas exposições ou eventos culturais intimistas. Dessa maneira, o projeto não restabeleceu apenas um edifício; ele reinventou a função original, preservando sua alma histórica e agregando nova vida aos espaços.

Casa CÍCERO - S.D

A Casa Cícero, assinada pela arquiteta Freusa Zechmeister, encontra-se no bairro Alto Santa Lúcia, em Belo Horizonte. Desenvolvida para ser o lar do designer e fotógrafo Cícero Mafra, a residência se destaca como um dos projetos mais marcantes da arquiteta. A amizade de mais de 30 anos do fotógrafo e arquiteta resultou na criação de um espaço singular, concebido sob um traçado contemporâneo, mas profundamente enraizado em elementos naturais e afetivos.
Impulsionado por memórias afetivas, Cícero trouxe à tona referências marcantes, como a fachada de um antigo café feito por Freusa que ele apreciava, a qual inspirou o tom marcante rosa-choque na fachada de sua residência. O tom foi alcançado graças a pigmentos cedidos por uma fábrica em Ouro Preto, encontrados após uma minuciosa e demorada busca conduzida pela arquiteta.

O projeto equilibrou materiais variados como madeira de demolição, mármore travertino romano bruto, aço corten, concreto e vidro. A casa foi desenvolvida verticalmente ao longo de quatro pavimentos, totalizando 450 m². Os espaços internos incluem uma ampla área integrada que reúne sala de estar, jantar e cozinha; além disso, varandas, uma delas com piscina, complementam a estrutura. Já os andares superiores abrigam a suíte e o escritório, conectados por uma escada-escultura projetada para a casa.

A edificação levou oito anos para ser concluída, um processo pautado por um ritmo atento e criterioso. Essa abordagem permitiu que materiais e peças fossem escolhidos com cuidado, valorizando tanto as demandas estéticas quanto as memórias e emoções do morador. Muitos dos elementos decorativos foram adquiridos em antiquários e marcenarias durante viagens a Tiradentes e outras cidades mineiras, reforçando o apreço do duo criativo pela perenidade e originalidade nos detalhes.

No segundo pavimento, destacam-se as áreas sociais e externas, que se integram visualmente ao piso em mármore travertino romano bruto. O mobiliário inclui peças assinadas por renomados designers de diferentes épocas, da década de 1950 até os dias atuais. Sobre o resultado final, Cícero reflete com simplicidade: o trabalho de Freusa transmite, acima de tudo, autenticidade.

FIGURINOS

Além da arquitetura, Freusa também trabalhou como figurinista. Seus figurinos acompanharam por décadas as coreografias do Grupo Corpo e sua proposta não buscava exatamente criar roupas belas, mas sim peças que servissem à dança. A escolha dos materiais e das modelagens priorizava a liberdade dos movimentos, o contato com a pele e a percepção das linhas do corpo dos bailarinos. Não à toa, os tecidos predominantes eram malhas, tules e materiais flexíveis, que moldam, mas não prendem.
Seu processo de criação não partia apenas de croquis ou referências externas, mas da observação dos próprios bailarinos em ensaio. As peças eram desenhadas a partir do gesto, do peso e da torção dos corpos. Mais do que uma preocupação estética isolada, o figurino fazia parte da construção da cena e do movimento.
Em espetáculos como 21, de 1992, a escolha foi por malhas justas e lisas, que praticamente apagavam o figurino como elemento decorativo e destacavam a coreografia. Já em Parabelo (1997), as roupas ganharam mais volume, cores quentes e sobreposições de tecidos, acompanhando a trilha e a proposta mais carregada de referências culturais brasileiras. No trabalho de Sem Mim (2011), o figurino se tornava quase uma extensão da pele, com estampas digitais que simulavam tatuagens, remetendo à ancestralidade e à memória.



A relação entre arquitetura e figurino não se dava de forma direta, mas é possível perceber certa racionalidade construtiva nas peças. As roupas dialogam com o espaço cênico e são pensadas para sustentar, estruturalmente, os movimentos. Isso não significa que havia uma preocupação em transformar o bailarino numa escultura, mas sim que cada detalhe da roupa cumpria uma função prática no funcionamento da dança.
Apesar do reconhecimento, os figurinos de Freusa não tinham a intenção de roubar a cena. Pelo contrário: funcionavam quase como uma moldura invisível que intensificava o que realmente interessava — o corpo em movimento.
REFERÊNCIAS
FREUSA ZECHMEISTER… Arquitetura. ArchDaily (Português). Acesso em: 01 jun. 2025.
CASA VOGUE. Arquiteta e designer Freusa Zechmeister morre aos 83 anos. Casa Vogue, 08 dez. 2024. Acesso em: 01 jun. 2025.
PONTES, Fernanda. Família de Freusa Zechmeister pede remoção do nome do projeto no Clara Resorts (Inhotim). O Globo, 13 dez. 2024. Acesso em: 01 jun. 2025.
MELO, Fábio Chamon. Casa Bonomi: Atemporalidade arquitetônica. Arquitextos, São Paulo, ano 17, n. 196.02, Vitruvius, set. 2016. Acesso em: 01 jun. 2025.
ARQBH. Casa Bonomi. ArqBH, mai. 2007. Acesso em: 02 jun. 2025.
Projeto de Freusa Zechmeister na Casa Claudia Luxo - Revista Casa Claudia Luxo, número 25, ano 2011. Acesso em: 01 jun. 2025.
Enciclopédia ItaúCultural - Freusa Zechmeister. Acesso em: 24 jun. 2025.
AUTORES
Ana Clara Rezende
Gabriela Bernardes
Karolline Bessa
Laura Galizoni
コメント