José de Magalhães
- ACR 113
- 8 de jul.
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Atualizado: 9 de jul.

Figura 1 – José de Almeida Magalhães
Fonte: Acervo da CCNC de Minas [online].
Biografia
José de Almeida Magalhães, nasceu em 1851 e foi um arquiteto pernambucano de grande importância na história de Belo Horizonte. Formado na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, onde se graduou em Ciências Físicas e Matemáticas e Engenharia Geográfica, Magalhães aperfeiçoou seus conhecimentos em Paris, frequentando a École des Beaux-Arts, o que influenciou seu estilo arquitetônico.
Magalhães integrou a Comissão Construtora da Nova Capital (CCNC) de Minas Gerais, criada em 1894 para planejar e edificar Belo Horizonte. Como chefe da Arquitetura, foi responsável por projetar edifícios públicos entre 1895 e 1897, muitos que se tornaram marcos históricos do município. Suas obras refletem o Ecletismo de influência francesa, caracterizado pela combinação de elementos clássicos e modernos para a época.
O arquiteto faleceu aos 48 anos em Campos do Jordão, no dia 28 de dezembro de 1899, vítima de assassinato em decorrência de desavenças numa demarcação de terreno, porém, seu legado permanece na paisagem urbana de Belo Horizonte.
Principais obras reconhecidas
Em 1887 projetou o Palacete do Barão do Amparo em Vassouras - Rio de Janeiro. E na cidade do Rio de Janeiro, há algumas residências projetadas por Magalhães. No ano de 1890, o Palacete Abílio Vianna / Palácio do Trocadero, São Paulo - São Paulo foi concebido pelo arquiteto. Em Belo Horizonte, as principais obras arquitetônicas de José de Magalhães são: o Palácio Presidencial (atual Palácio da Liberdade); a Secretaria de Estado da Fazenda (atual Memorial Minas Gerais Vale); a Secretaria de Obras Públicas (antiga Secretaria da Agricultura e atual sede do IEPHA-MG); a Secretaria da Educação (antiga Secretaria do Interior e atual Museu das Minas e do Metal) todas elas construídas entre 1895 e 1897, que diferente das citadas fora de Minas Gerais, ainda estão em pleno funcionamento.
Palácio da liberdade

Figura 2 - Vista da Fachada do Palácio da Liberdade
Fonte: IEPHA
Ficha técnica:
Arquiteto: José de Magalhães
Cliente: Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
Uso: Institucional
Ano: 1895/1897
Estilo: Eclético com influência Neoclássica
Endereço: Praça da Liberdade s/n, Funcionários
Tombamento: Integral em 1975 (Conjunto Urbano Praça da Liberdade Av. João Pinheiro e Adjacências)
Análise da obra
Projetado inicialmente para abrigar a residência oficial do governo mineiro, o Palácio da Liberdade foi implantado em posição de destaque na Praça da Liberdade, ocupando uma elevação suave que favorecia sua visibilidade e reforçava seu caráter simbólico. A escolha do terreno, situado no ponto mais alto da cidade planejada por Aarão Reis, contribuiu para a monumentalidade da edificação. O edifício foi envolto por secretarias dispostas simetricamente, formando um conjunto coerente e esteticamente articulado. O traçado dos jardins, com alamedas retilíneas e vegetação controlada, colaborava com o efeito cenográfico da sede do governo.
Ao assumir o projeto, José de Magalhães manteve o partido geral concebido por Aarão Reis, mas promoveu alterações significativas, sobretudo na fachada, que foi enriquecida com ornamentos de inspiração francesa (ligados ao classicismo romântico) e italiana (com referências ao neobarroco e ao renascimento). A composição volumétrica foi reformulada, resultando em uma edificação de dois pavimentos principais, acrescida posteriormente por um nível intermediário nos fundos. A claraboia central, posicionada sobre a escadaria, se destaca na leitura do volume. A planta simétrica reforça o caráter institucional do edifício, enquanto a cobertura apresenta uma articulação de telhados independentes com telhas francesas, além de cúpulas e lanternins metálicos decorativos.

Figura 3 - Planta do Térreo
Fonte: IDENE

Figura 4 - Corte AB
Fonte: Arquivo Público Mineiro
A fachada principal, executada em pedra lavrada, organiza-se a partir de um volume central proeminente, no qual o pavimento térreo abriga arcadas e o superior apresenta loggias com aberturas tripartidas em arco, em composição inspirada na serliana. Nas extremidades, surgem torreões encimados por cúpulas ricamente detalhadas. A robustez da estrutura se revela pela textura saliente da pedra no embasamento, pelas cornijas que marcam a separação entre os níveis e pelo entablamento que coroa o conjunto. Elementos como pilastras coríntias no pavimento superior, colunas jônicas e mísulas no térreo, além de cartelas com estrelas de cinco pontas — símbolo da República — reforçam o programa decorativo. Os balaústres em pedra, presentes nas rampas de acesso e no ático, também contribuem para a sofisticação do conjunto, cujo centro é marcado por um frontão com busto representando a Liberdade.

Figura 5 - Fachada Principal
Fonte: Palácio da Liberdade
Internamente, o edifício preserva o mesmo nível de refinamento, com pisos em parquet e mármore, forros trabalhados em tela e estuque, vitrais coloridos e pinturas decorativas. A escadaria metálica importada da Bélgica, assim como as estruturas metálicas internas, reflete a influência europeia no projeto.

Figura 6 - Escada
Fonte: IDENE
A ambientação dos interiores ficou a cargo de Frederico Antônio Steckel e sua equipe, enquanto o paisagismo foi elaborado pelo arquiteto Paul Villon, que concebeu um jardim de estilo inglês, com composições orgânicas e elementos decorativos distribuídos pelo terreno. Esculturas em mármore, luminárias ornamentais e, na parte posterior, uma estufa para cultivo de plantas, um lago e um pequeno quiosque sobre uma gruta compõem o cenário externo. Em décadas posteriores, o conjunto paisagístico foi ampliado com novas construções de linguagem modernista, como a Capela de Santana (1958), projetada por Gilson de Paula, e o Palácio dos Despachos (1967), de autoria de Luciano Amédée Péret.

Figura 7 - Vista da cúpula com claraboia sob hall da escada
Fonte: IDENE

Figura 8 - Sala de Honra
Fonte: IDENE
Secretária da fazenda (memorial minas gerais vale)

Figura 9 - Vista da Secretaria da Fazenda
fonte: Portal Belo Horizonte
Ficha técnica:
Arquiteto: José de Magalhães (original). Flávio Grillo (restauro)
Cliente: Comissão Construtora
Uso: Institucional- Secretaria de Estado da Fazenda (original)
Ano: 1895/1897
Estilo: Eclético com influência Neoclássica
Endereço: Praça da Liberdade s/n, Funcionários
Acesso: livre
Tombamento: Integral
(Conjunto Urbano Praça da Liberdade - Av. João Pinheiro e Adjacências)
Análise da obra
O prédio da Secretaria da Fazenda, inaugurado em 1897 em Belo Horizonte – MG, foi uma das primeiras construções oficiais da cidade. Arquitetonicamente, o edifício representa bem o ecletismo, comum às obras projetadas pela Comissão Construtora da Nova Capital, responsável pelo planejamento e construção da cidade de Belo Horizonte ao final do século XIX. Nota-se, principalmente na fachada, a influência neoclássica francesa, característica marcante da arquitetura pública da época. "Elementos decorativos, como molduras, frontões e simetria, reforçam esse vínculo com os modelos europeus" (RESTAURARE ENGENHARIA. Projeto de Restauração do Memorial Minas Gerais Vale. [S.l.]: Restaurare Engenharia, 2022.).

Figura 10: Vista Circuito Liberdade
Fonte: Conheça Minas
Com três pavimentos sobre um porão alto, o edifício segue uma planta retangular simétrica e uma disposição funcional dos espaços, refletindo os padrões adotados em construções públicas do final do século XIX. A utilização do porão foi destinada apenas para a manutenção da construção, alocando em fácil acesso uma sala de painéis, hall técnico e depósito, permitindo que os pavimentos superiores estivessem livres para outros fins. As projeções dos pavimentos se seguem de forma hierárquica e refletem isso na disposição dos espaços e na composição dos ornamentos, sendo o terceiro andar a parte mais nobre da edificação, com gabinetes e salas de reuniões em cômodos maiores e com mais adornos. O segundo andar ocupa a área de serviços, salas administrativas e gabinetes menores. E o térreo possui uma ocupação mais funcional, sendo utilizado para recepção e serviços de registros. A circulação vertical pelos andares é feita por meio de uma escada simétrica estruturada no tipo “Jolly”, cuja estrutura consiste em um núcleo central de sustentação, solução importada da Bélgica. A dinâmica de circulação geral parte de um vestíbulo central, que funciona como ponto de articulação entre os diferentes ambientes. A partir dele, distribuem-se salões e salas simetricamente posicionadas em relação a um eixo longitudinal. Essa disposição era comumente usada para concretizar a ideia de hierarquia, que caracterizavam o modelo republicano em formação no Brasil do final do século XIX.
Uma característica do edifício são os materiais utilizados na construção, onde muitos deles foram importados. Um exemplo de material é o ferro fundido, que foi utilizado na escada fabricado pela Société des Aciéries de Bruges, uma empresa belga. Essa escadaria pode ser vista da rua e permanece como um testemunho da qualidade e do requinte da construção (BELGIAN CLUB. Escadaria Memorial Minas Gerais Vale – Belo Horizonte).
Com o passar dos anos e após diversas transformações, o edifício foi oficialmente tombado como patrimônio cultural pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA-MG) em 2 de junho de 1977. Esse reconhecimento reforça a importância histórica, cultural e arquitetônica do prédio não só para Belo Horizonte, mas para Minas Gerais como um todo (IEPHA-MG, 1977). Atualmente, o edifício funciona como o Memorial Minas Gerais Vale, um espaço dedicado à preservação e divulgação da história e cultura do estado.

Figura 11 - Escadaria Memorial Vale
Fonte: Belgian Club

Figura 12: Escadaria Memorial Vale
Fonte: Belgian Club
Plantas dos pavimentos

Figura 13 – Planta do subsolo da Secretaria da Fazenda
Fonte: LONGO, Viviane. A escada como objeto de estudo: o caso do edifício da antiga Secretaria da Fazenda de Minas Gerais. 2017. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo

Figura 14 – Planta do primeiro pavimento da Secretaria da Fazenda
Fonte: LONGO, Viviane. A escada como objeto de estudo: o caso do edifício da antiga Secretaria da Fazenda de Minas Gerais. 2017. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo.

Figura 15 – Planta do segundo pavimento da Secretaria da Fazenda
Fonte: LONGO, Viviane. A escada como objeto de estudo: o caso do edifício da antiga Secretaria da Fazenda de Minas Gerais. 2017. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo

Figura 16 – Planta do terceiro pavimento da Secretaria da Fazenda
Fonte: LONGO, Viviane. A escada como objeto de estudo: o caso do edifício da antiga Secretaria da Fazenda de Minas Gerais. 2017. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo
Autores:
Ana Flávia Abreu Romão
Milton Cezario da Silva
Thais Amaral de Oliveira
Vitória Barboza de Miranda
REFERÊNCIAS
ARQBH. Palácio da Liberdade. [S. l.], 2011. Disponível em: https://www.arqbh.com.br/2011/02/palacio-da-liberdade.html.
IEPHA-MG. Guia dos Bens Tombados: volume 1. Belo Horizonte: Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, 1977. Disponível em: https://www.iepha.mg.gov.br/index.php/publicacoes/guia-dos-bens-tombados/Publication/4-Guia-dos-Bens-Tombados-Volume-1.
IDENE - Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais. Palácio da Liberdade. Disponível em: http://www.idene.mg.gov.br/site/palacio-da-liberdade/.
PALÁCIO DA LIBERDADE - Acesso Virtual ao Palácio da Liberdade. Belo Horizonte: Governo do Estado de Minas Gerais, 2020. Vídeo institucional. Disponível em: https://youtu.be/b1vC-EXesFA.
LUZ E COMUNICAÇÃO - Memorial Vale restaura escadaria interna. Disponível em: https://www.luzcomunicacao.com.br/memorial-vale-restauracao-escada.
INTERAÇÃO, SOBREPOSIÇÃO E RUPTURA - Os Edifícios Niemeyer e Rainha da Sucata e a Praça da Liberdade, em Belo Horizonte. Disponível em: https://vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/17.195/6172.
BELGIAN CLUB. (s.d.). Aços belgas no Brasil: um legado na arquitetura. Disponível em: https://belgianclub.com.br.
LONGO, Viviane. A escada como objeto de estudo: o caso do edifício da antiga Secretaria da Fazenda de Minas Gerais. 2017. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo.
ROLNIK, Raquel. Arquitetura e patrimônio: novas questões, velhas práticas. Vitruvius, São Paulo, ano 17, n. 195.01, nov. 2016.
RESTAURARE ENGENHARIA. Projeto de Restauração do Memorial Minas Gerais Vale. [S.l.]: Restaurare Engenharia, 2022. Disponível em: https://restaurare.eng.br.
MEMORIAL MINAS GERAIS VALE. História do prédio. [S.l.]: Memorial Minas Gerais Vale, [s.d.]. Disponível em: https://memorialvale.com.br.
PALÁCIO DA LIBERDADE. História e jardins do Palácio da Liberdade. Belo Horizonte: Governo do Estado de Minas Gerais, 2023. Vídeo institucional. Disponível em: https://www.palaciodaliberdade.mg.gov.br/.
IEPHA-MG. Processo de tombamento do edifício da antiga Secretaria da Fazenda. Belo Horizonte: Arquivo do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, 1977.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Biblioteca Digital do IBGE. [S.l.]: IBGE, [s.d.].
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