JÔ VASCONCELLOS
- 3 de set. de 2020
- 17 min de leitura
Atualizado: 11 de set. de 2020
Arquiteta belo-horizontina e profissional ímpar do cenário arquitetônico
1. A arquiteta
Maria Josefina de Vasconcellos, ou Jô Vasconcellos como é popularmente conhecida, é mineira, nascida na capital Belo Horizonte em 1947 e formou-se na Escola de Arquitetura da UFMG em 1971. Em seus primeiros anos de atuação profissional, Jô participou de diversos concursos e premiações, além que iniciar sua longa parceria afetiva e profissional com Éolo Maia, com quem se casou em 1972. Em 1973 a arquiteta especializou-se em Paisagismo e Restauração e Conservação de Monumentos e Conjuntos Históricos, ou “reciclagens”, como Jô apelidou. Além das especializações, se destacou também em projetos de praças, em intervenções em espaços públicos.
Jô Vasconcellos na juventude

Fonte: MAIA, VASCONCELLOS, PODESTÁ. 1982
No final da década de 1970 e início de 1980, Jô Vasconcellos foi co-criadora das revistas Vão Livre (1979) e Pampulha(1982), veículos catalisadores da crítica arquitetônica pós-moderna. Segundo o primeiro editorial da Vão Livre, a revista pretendia comunicar reflexões, trabalhos e dúvidas não só diretamente ligados ao desenho do espaço para as comunidades, instituições ou pessoas, mas também o destino das sociedades e seus assentamentos. Já a Revista Pampulha, caracterizada como livre, irônica e brasileira por Podestá, destacava o “caldeirão cultural” de Belo Horizonte.
Capas das revistas Vão Livre e Pampulha


Fonte: PODESTÁ, 2020
Como produto editorial, Pampulha foi uma revista independente, reunindo interesses e a vontade de arquitetos numa difusa e não direcionada discussão arquitetônica. Era portadora de uma mensagem com linguagem local, bem humorada, otimista e nem um pouco compromissada com discursos fechados e completos – refletindo um coletivo de colaboradores de diversas [sic] matizes. Ainda em pleno período de ditadura militar, a revista publicava artigos de arquitetura, artes plásticas, literatura, ecologia e temas afins com uma serenidade distanciada da engajada retórica política vigente em São Paulo e Rio de Janeiro.(SEGAWA, 2002, p.194).
Em 1981, Jô Vasconcellos e os colegas que escreviam com ela nas revistas, Éolo Maia e Sylvio de Podestá, fundaram o grupo 3 Arquitetos, o qual publicou dois livros intitulados com o mesmo nome do grupo, “3 Arquitetos”, em 1982 e em 1985. Além disso, o escritório também adotou um Jornal Informativo a partir de 1988 que pretendia dizer sobre todos os acontecimentos ligados às atividades do escritório, inclusive extras. As obras deste período procuram combater diretamente as formas e os princípios estruturais da arquitetura moderna em favor da liberdade de criação arquitetônica típicas da arquitetura pós-moderna no Brasil. Com essas publicações, no auge do pós-modernismo, ou pós-mineiridade como descreve o historiador Hugo Segawa, os arquitetos ganharam visibilidade no cenário brasileiro e internacional.
Grupo Três Arquitetos. (Da esquerda para a direita: Éolo Maia, Josefina Vasconcellos, Sylvio de Podestá)

Fonte: MAIA; PODESTÁ; VASCONCELOS, 1988, p.02
Em 1989, com o afastamento de Sylvio de Podestá, Jô Vasconcellos e o companheiro Éolo Maia, continuaram trabalhando juntos no escritório Maia Arquitetos Associados, o qual, ao longo dos anos, foi responsável pela inserção de diversos edifícios verticais de grande porte em Belo Horizonte. Vale ressaltar que, principalmente Éolo, possuía uma predisposição para o hibridismo em suas obras, utilizando diferentes materias e referências para usufruir de uma liberdade plástica eminentemente volumétrica. Além disso os projetos dessa década também foram marcados por uma constante experimentação e busca de novos repertórios formais valendo-se, em muitos casos, do repertório pós-moderno experimentado na década anterior.
Na década de 1990, Jô Vasconcellos participou do processo de revitalização e restauração da Praça da Liberdade em BH, o qual buscou voltar com alma da antiga praça dos anos 1920, projetada por Reynaldo Dierberger, através do rebaixamento do piso e do reconhecimento e apropriação do patrimônio material, imaterial e ambiental presentes no local, nascendo assim o embrião do Circuito Cultural conhecido hoje. Em projetos como esse, Jô nos lembra da “sensibilidade” como palavra chave para lidarmos com as “reciclagens” de imóveis tombados, área de atuação na qual ela se especializou. Entretanto, ela também lembra-nos que “[...] um prédio tombado não é um prédio morto” o que demanda também ousadia do arquiteto que trabalha nessa área.
Em 2002, com a morte do marido e colega de trabalho Éolo Maia, Jô Vasconcellos continuou dirigindo o escritório, nomeado agora de Jô Vasconcellos & Arquitetos Associados. Ademais, em 2005 e 2006 organizou uma exposição em homenagem ao antigo companheiro: “Éolo Maia: O vento sobre a Cidade”, exibida na capital mineira e na capital paulista.
Além dos projetos realizados pela arquiteta, Jô também proferiu várias palestras em seminários, congressos e eventos de arquitetura, como por exemplo a Bienal Internacional de Arquitetura de Olinda e o programa Língua Afiada no Museu das Minas e do Metal. Em 2019, Jô vasconcellos palestrou também no TEDxPUCMinas, evento que reune palestrantes de impacto nacional e local que leva o debate de questões sociais, econômicas e culturais, primordiais no século XXI, ao ambiente universitário. O tema de 2019 foi “Vivendo o futuro”
Jô palestrando noTEDxPucMinas2019

Fonte: TEDx Talks, 20 de ago. de 2019.
Jô Vasconcellos, hoje aos 73 anos, carrega uma experiência singular e diversos projetos relevantes, entre eles o Museu da Cachaça (2005-2012), em Salinas, MG; o Espaço do Conhecimentos UFMG (2010-2014), em Belo Horizonte e a Estação da Cultura Presidente Itamar Franco (2011-2015), também em Belo Horizonte, os quais serão analisados em detalhe posteriormente nesse texto. Além disso, a profissional acredita no poder da Arquitetura e Urbanismo para restabelecer a relação de pertencimento das pessoas nas cidades, como ela mesma explica: “Devemos tratar o patrimônio e o meio ambiente como se fossem nossa própria casa, e o caminho para isso é a educação. Trabalhar o conhecimento sobre o morar, o viver e a mobilidade transforma a vida das pessoas”.
Lista de projetos
Projeto de urbanismo, paisagismo e arquitetura do Quartier de Hamma – Argel/ Argélia – Concurso Internacional - 1984/85 (em equipe)
Concurso para escola rural, vilas e periferias para a CARPE. 1º na categoria escola rural, em equipe
Concurso para escola de cidades de grande e médio porte, para a CARPE. Projeto em perfis metálicos com crescimento verti cal. Primeiro prêmio 1981, em equipe
Concurso para a casa do jornalista. Menção honrosa, 1982
Restauração da Fazenda do Pé do Morro para a AÇOMINAS, S/A, Ouro Branco, Minas Gerais, 1982
Concurso Internacional para o Projeto da arquitetura para a igreja “Notre Dame de La Sourse” Paris, França, 2º lugar 1991
Residência Maurício Bedran - Belo Horizonte , MG (1971)- Éolo Maia e Jô Vasconcellos
Residência Domingos Gandra - Belo Horizonte, MG (1973) - Éolo Maia e Jô Vasconcellos
Residência E. T - Belo Horizonte, MG (1983) - Éolo Maia e Jô Vasconcellos
Parque de Lazer da Gameleira - Belo Horizonte, MG (1981, 5° lugar em concurso)- Éolo Maia, Jô de Vasconcellos e Sylvio de Podestá
Reforma do Teatro Francisco Nunes - Belo Horizonte, MG (1981,menção h onrosa em concurso)- Éolo Maia, Jô de Vasconcellos e Sylvio de Podestá
Sindicato dos Jornalistas - Belo Horizonte, MG (1982, menção honrosa em concurso) - Éolo Maia, Jô de Vasconcellos e Sylvio de Podestá
Grupo Escolar Cachoeira do Vale - Timóteo, MG ( 1983-1985) - Éolo Maia, Jô de Vasconcellos e Sylvio de Podestá
Fazenda Pé do Morro - Ouro Branco, MG (19 77-1980) -Éolo Maia e Jô de Vasconcellos
Fazenda das Carreiras - Ouro Branco, MG (1979) - Éolo Maia e Jô de Vasconcellos
Residência do Arcebispo de Mariana - M ariana, MG (1982-1987 ) - Éolo Maia, Jô de Vasconcellos e Sylvio de Podestá
Centro Empresarial Raja Gabaglia - Belo Horiz onte, MG (1989 -1993) - Éolo Maia e Jô de Vasconcellos
Condomínio Officenter - Belo Horizonte, MG (1989) - Éolo Maia e Jô de Vasconcellos
Edifício Corbusier - Belo Horizonte, MG (1991-1996) - Éolo Maia e Jô de Vasconcellos
Edifício Fashion Center - Belo Horizonte, MG (1991-1995) - Éolo Maia e Jô de Vasconcellos
Porto dos Canais - Recife, PE (1999)- Éolo Maia, Jô de Vasconcellos, Risali Neves e Susie Cisneiros
Quarteirão Fechado na Praça 7 de setemb ro - Belo Horizonte, MG (1991-2003) -Éolo Maia, Jô de Vasconcellos e Flávio Grillo
Academia Wanda Bambirra - Belo Horizonte, MG (1997-1998) - Éolo Maia e Jô de Vasconcellos
Colégio N.D.A - Brasília, DF (1999) - Éolo Maia e Jô de Vasconcellos - (Projeto não executado)
Capela de Sant’Ana, Mariana, Morro do Gogo (2009)- Jô Vasconcellos e Altino Caldeira.
Museu da Cachaça (2005-2012), em Salinas, MG.
Espaço do Conhecimentos UFMG (2010-2014), em Belo Horizonte.
Estação da Cultura Presidente Itamar Franco (2011-2015), Belo Horizonte.
2. Museu da Cachaça
Ficha técnica:
Local: Salinas, MG
Ano: 2005-2012
Área construída: 2.200 m²
Projeto de arquitetura: Jô Vasconcellos
Cálculo estrutural: José Maria Carreira
Projeto hidráulico: Magna Engenharia
Execução da obra: Construtora Cherem
Museologia: Silvania Nascimento
Museografia e Luminotécnica: Estúdio Ronaldo Barbosa
Tipologia de uso:
Salinas, cidade situada ao norte do estado de Minas Gerais, é mundialmente conhecida pela produção e exportação de cachaças famosas, como a cachaça que leva o próprio nome da cidade e a Havana.
Por essa razão, o governo estadual escolheu esse município para receber o Museu da Cachaça e contou com o projeto arquitetônico de Jô Vasconcellos para reunir a história da bebida e a sua importância econômica para a região em um espaço público. A proposta da arquiteta, concretizada em 2012, é composta por uma edificação que abriga o museu e uma praça convidativa aberta à comunidade que é parte integrante do projeto, cumprindo, assim, o caráter social, cultural e turístico que essa instituição deve conter. O museu, que dispõe de um acervo predominantemente digital, pode ser acessado pela web ou visitado fisicamente, posto que é aberto ao público das terças-feiras aos sábados e sua entrada é franca.
Padrão arquitetônico:
Jô Vasconcellos, ao idealizar a obra, perceptivelmente prezou pela identificação do objeto arquitetônico com a paisagem local, já que a rigorosa limitação dos materiais utilizados, a construção simples - paredes de alvenaria cerâmica com acabamento irregular e rugoso -, porém longilínea e em escala monumental, a caracterizam como parte das construções populares do entorno, e, ao mesmo tempo, como objeto de destaque. A arquiteta enquadra-se nos movimentos pós-moderno e contemporâneo e tais influências são evidenciadas na obra do Museu da Cachaça.
Planta:
A planta do Museu da Cachaça, pensada sob o terreno longo e estreito, reflete a continuidade linear - a distância entre as duas extremidades da edificação é de quase 200 metros - de retângulos distintos em aspectos dimensionais e visuais, como as frestas e as aberturas, que objetivam complementar a proposta do museu de promover um intercâmbio entre o visitante e a obra.

Fonte: PROJETO, 2014

Fonte: PROJETO, 2014
Espacialidade:
O objeto dispõe de treze ambientes que são variados entre salas de exposição (itens de 2 a 9 na planta), setor administrativo (item 12), restaurante (item 10), loja de lembranças do museu (item 11) e o espaço multiuso (item 13), destinado a palestras e aulas.
Além das áreas fechadas, há também a presença de um estacionamento e de dois espaços abertos que funcionam como áreas de socialização, com projeto paisagístico, sendo o corredor de parede curva de tijolos de cobogó o elemento de conexão entre as salas do museu e a lojinha, o restaurante e o setor administrativo.
É válido ressaltar que toda a rota externa e interna é acessível aos portadores de deficiência física, bem como a presença de corrimão nas escadas, rampa de acesso a cadeirantes no estacionamento e barra de apoios, pia rebaixada e espaço suficiente para a entrada e a circulação de cadeirantes dentro dos sanitários, assim como é exigido nas normas de acessibilidade da NBR9050.
Volumetria:
O projeto de Jô Vasconcellos consiste em um volume geométrico não regular (carinhosamente apelidado de “trem” devido ao seu comprimento horizontal), já que o objeto é composto por retângulos distintos que visa obedecer a demanda museológica, estabelecendo, assim, uma conexão evidente entre o volume e o conteúdo. Tal escolha é justificada pela ideia da criação de diferentes atmosferas entre as salas e um percurso cheio de surpresas, os quais são os artifícios utilizadas pela arquiteta para promover, também, a interação dinâmica do visitante com os recursos espaciais, técnicos e museográficos do ambiente.

Fonte: Portal Minas Gerais, 2012.
Ritmo dos elementos:
No Museu da Cachaça de Salinas não há um ritmo dos elementos arquitetônicos e estruturais tão bem definidos, já que o museu dispõe de salas com espaços que não são tão amplos e sem janelas. Entretanto, a ideia geral da obra é conter linhas retas, superfícies planas e blocos sólidos. A exemplo disso, há a regularidade de ritmo das colunas no corredor de paredes curvas de tijolos de cobogó.

Fonte: Arch Daily, 22 de set. de 2014.
Conforto térmico:
A principal preocupação de Jô Vasconcellos identificada no projeto do Museu da Cachaça é o cuidado ambiental, já que o clima da região de Salinas é bastante quente no ano e poderia gerar transtornos ao conforto da obra. Uma vez que que se optou pelo uso de lajes planas, que compõem a volumetria do edifício, para contornar essa situação, a arquiteta prezou pela construção de paredes espessas de alvenaria cerâmica e lajes duplas que criam colchões de ar para que a irradiação no interior do edifício seja atenuada. Além disso, a zona multifuncional, área de transição entre o interior e o exterior muito utilizada em regiões de clima quente, faz-se presente na edificação, assumindo, ainda, um ambiente semitransparente e com bastante ventilação.

Fonte: Arch Daily, 22 de set. de 2014.
3. ESTAÇÃO DA CULTURA PRESIDENTE ITAMAR FRANCO
Ficha Técnica
Local: Belo Horizonte, MG
Data do início do projeto: 2011
Data da conclusão da obra: 2015
Área do terreno: 14.400 m2
Áreas construída: Orquestra (11.162 m2); TV (4.240 m2); Rádio (1.639m2); Estacionamento (14.067 m2); Sede do Programa Mais Gastronomia(1.420 m2); Praças (7.000 m2), Total (39.528 m2)
Coordenação geral e realização Codemig
Arquitetura: Jô Vasconcellos e Rafael Yanni (projeto e coordenação técnica geral); Escritório de Prioridades Estratégicas do Governo do Estado de Minas Gerais; Joana Magalhães (assistente de arquitetura)
Consultoria técnica, programa e arquitetura acústica: Acústica & Sônica - José Augusto Nepomuceno
Projetos executivos e complementares: SPM
Projetos executivos de arquitetura: Fernando Brentano
Estrutura: Charles Simon
Luminotécnica: Sônia Mendes
Paisagismo: Jô Vasconcellos, Rafael Yanni e SPM
Construção: OAS
Tipologia:
O terreno é localizado no Barro Preto e os edifícios trazem a proposta de abrigar a sede da Rede Minas de Televisão, da Rádio Inconfidência e da Orquestra Filarmônica. Um dos principais motivos da escolha desse local foi a necessidade que a região trazia de um novo espaço de socialização, que havia sido perdido com o fim do Mercado Barroca em 2001, terreno, que hoje, abriga o Hospital Materdei.
O conjunto se compõe de três edificações, que se posicionam de forma recuada na quadra: os blocos novos, compostos da sede da Orquestra Filarmônica, da Rede Minas de Televisão e da Rádio Inconfidência , e o edifício pré-existente do Programa Mais Gastronomia. O terreno ainda abriga uma construção tombada, que sedia a Mineiraria, do programa Mais Gastronomia, que além de atender ao público e aos profissionais da Estação da Cultura Presidente Itamar Franco, é ainda um local para o impulso da culinária local. Essa construção por muito anos foi usada como escritórios ligados à fiscalização de trânsito de Belo Horizonte. Há um espaço entre os dois edifícios novos criando uma praça coberta de 2.700 m², oferecendo assim uma área propicia a convivência e atividades ao ar livre.
Padrão arquitetônico:
Os edifícios seguem tendências mais contemporâneas, com o uso de vidro e da estrutura metálica aparente. Em comparação aos trabalhos mais antigos da arquiteta, foram utiliza menos tipos de materiais e cores na fachada, o que faz com que a fachada fique mais limpa, com menos texturas, uniforme e minimalista. Uma das inspirações mais importantes para a concepção do edifício foi a Sala São Paulo, as soluções utilizadas na sala de concertos paulista serviram de inspiração para garantir os padrões sonoros requeridos, uso de materiais e técnicas de construção foram usados como elementos norteadores na construção da Sala Minas Gerais.
Plantas e espacialidade
O edifício destinado aos veículos midiáticos (Rede Minas de Televisão e a Rádio Inconfidência) divide-se em duas partes: os andares abaixo da entrada principal são atribuídos ao canal de televisão e os acima dela, à rádio. O projeto é pensado entorno da Sala Minas Gerais, os padrões acústicos que queriam atingir ditaram sua forma e localização no terreno. Dessa forma, os demais blocos do conjunto se organizam a partir dela.
Planta do terceiro subsolo

Fonte: Arch Daily, 10 de maio de 2017.
O terceiro subsolo apresenta um espaço reduzido, composto somente das instalações, das docas, de dois estúdios e de espaços de escritórios.
Planta do segundo subsolo

Fonte: Arch Daily, 10 de maio de 2017.
O segundo subsolo tem a maior área ocupada pelo estacionamento, que estabelece a conexão entre os dois edifícios.Existe a repetição do elementos do nível anterior e também apresenta um café, o foyer, o sistema de ar-condicionado e a central de controles da rede de televisão. A orquestra tem o nível, majoritariamente, ocupado por um espaço vazio, que auxilia na qualidade sonora do espaço acima.
Planta do primeiro subsolo

Fonte: Arch Daily, 10 de maio de 2017.
O terceiro subsolo apresenta o maior espaço de produção e controle da Rede Minas de Televisão. Há também elevadores de palco da orquestra, salas de ensaio para os músicos, um restaurante, a saída de carros do restaurante, além de elementos de subsolos supracitados.
Planta do primeiro pavimento

Fonte: Arch Daily, 10 de maio de 2017.
O primeiro pavimento é a entrada principal das novas edificações do terreno. Os blocos foram construídos de forma a deixar grandes espaços abertos, sem qualquer tipo de barreira impeditiva, permitindo à população circular livremente nesses espaços. O vazio criado entre as construções apresenta uma escada em sua parte central, que culmina em uma praça coberta por um pergolado, esse espaço é gerado a partir do grande afastamento dos novos edifícios da Rua Tenente Brito de Melo. Na parte superior, ao final da escada, existe uma pequena construção retangular que serve como livraria.
Dentro das edificações há novamente a repetição de espaços, além disso, na Sala Minas Gerais este é o nível em que os espectadores chegam e são distribuídos pelas diversas alturas da plateia. Há, também, um grande foyer, uma antecâmara, a sala de controle do palco, camarins, salas de ensaio, um café, o palco, um armazenamento e logo a frente do edifício temos um pré foyer e o local da venda de ingressos.
No bloco destinado às mídias, temos salas de produção da Rede Minas, salas de reunião e a recepção.
Planta do segundo pavimento

Fonte: Arch Daily, 10 de maio de 2017.
O segundo pavimento no edifício dedicado a rádio e a rede de televisão conta com espaços de produção da Rádio Inconfidência e salas de reunião. Na Sala Minas Gerais temos o segundo foyer, um café, um terraço, uma antecâmara e o coro.
Planta do terceiro pavimento

Fonte: Arch Daily, 10 de maio de 2017.
O terceiro pavimento do prédio dedicado às mídias tem o nivel exclusivo para o rádio, contendo a área de jornalismo e os estúdios da Rádio Inconfidência. A Sala Minas Gerais tem seu terceiro e último foyer, além de um estúdio audiovisual e o mezanino.
Volumetria
Os prédios são compostos por formas geométricas bem definidas. A volumetria é feita a partir de uma série de retângulos e os ângulos retos ajudam marcar de forma definitiva os espaços diferentes. O edifício teve sua estrutura pensada para ter padrão racional e ser modular para maior efetividade na construção e cortes de gasto. Contudo, uma dos fatores que acabava por quebrar a regularidade existente foi o fato de que os empreendimentos necessitam de áreas com tratamento acústico especial. Desta forma, esses locais foram construídos sobre terreno natural. A Sala Minas Gerais teve que seguir rigorosos critérios acústicos de excelência que ditaram a volumetria e a planta desse lugar, assim muito do ritmo dos elementos teve que ser pensado em volta desse fator.
Fachada em direção à Rua Uberaba na maquete

Revista Projeto,10 de nov. 2016
Fachada em direção à Rua Gonçalves Dias na maquete

Revista Projeto,10 de nov. 2016
Inovações
A Sala Minas Gerais foi muito elogiada por sua qualidade acústica, se equiparando a alguma das melhores salas de concerto do mundo. O projeto foi idealizado para atingir referências internacionais de excelência acústica, a geometria do espaço e os materiais utilizados garantiram que o local atingisse os padrões desejados . Colocando Belo Horizonte no cenário internacional de música clássica e quebrando o eixo cultural Rio-São Paulo.
4. ESPAÇO DO CONHECIMENTO UFMG
Ficha técnica
Local: Praça da Liberdade, 700, Belo Horizonte, MG
Projeto de arquitetura da reforma: Jô Vasconcellos
Cálculo estrutural: Bedê Consultoria e Projetos
Projeto instalações: Klecius Rangel
Execução da obra: Networker – Engenharia e Construção
Museologia: Universidade Federal de Minas Gerais
Museografia: Paulo Schmidt
Coordenação: Myssior Gestão de Projetos
Acústica: Marco Antônio Vecci
Esquadrias: BM Consultoria em Esquadrias
Áudio e Vídeo /Automação: Iluminar
Ano: reforma em questão finalizada em 2010
Tipologia de uso
Após a mudança dos prédios administrativos do Governo do Estado da Praça da Liberdade para a Cidade Administrativa, os prédios da praça passaram a abrigar um complexo de cultura e conhecimento, hoje conhecido como Circuito Cultural Praça da Liberdade.
Pioneiro na proposta de um planetário aberto a todos no estado de Minas Gerais, o espaço de conhecimento UFMG foi implantado no prédio da Reitoria da UEMG, com projeto arquitetônico elaborado por Jô Vasconcellos. O espaço conta com cinco andares, o primeiro com hall, café, loja e administração, o segundo, terceiro e quarto e quinto dedicados às exposições. O quinto andar, além de exibir a exposição Aleph e é onde se encontra o planetário e o terraço astronômico, que contam com equipamentos muito modernos, proporcionando uma experiência inovadora aos visitantes.
Fachada do prédio da reitoria da UEMG, antes da reforma de Jô

O espaço é, portanto, usado como museu de ciências, aberto gratuitamente ao público, sendo que somente as sessões do Planetário são pagas.
Padrão arquitetônico
A fachada da obra é de forte contraste com os outros prédios ao seu entorno. As demais construções da Praça da Liberdade são do padrão eclético, construídas no final do Século XIX e início do Século XX e tombadas como patrimônio cultural pelo IEPHA. O prédio da reitoria da UEMG, no entanto, nunca foi tombado, o que permitiria maiores modificações. A reforma implementada por Jô transforma a fachada que, com seu aspecto retilíneo, tecnológico e moderno, reflete a proposta inovadora da temática do museu.
Relação do Espaço de Conhecimento da UFMG em relação às construções ao seu entorno.

Fonte: SouBH, 11/09/2020
ANÁLISE DO OBJETO ARQUITETÔNICO
Plantas e espacialidade
Na reforma, Jô Vasconcellos renova a fachada e o interior do prédio, mas aproveita a estrutura original da construção.
Fachada frontal

Fonte: Arch Daily, 11/09/2020
Começando pela fachada frontal da estrutura, o prédio já cria uma interação com o público desde o espaço externo, isto é proporcionado pelas retro-projeções realizadas nos vidros da fachada, que podem mostrar as mais variadas cenas. Tal recurso permite a atração e interação do público, antes mesmo de entrar no edifício. Além disso, a espacialidade do projeto é expandida para o espaço externo.
O primeiro pavimento, onde se encontra a entrada principal, conta com um hall principal, loja, café e sanitários. Após as catracas de entrada, estão a recepção e os acesso aos elevadores e escadas.
Planta 1º pavimento

Fonte: Arch Daily, 11/09/2020
Nos segundo, terceiro e quarto pavimentos a espacialidade é, na maior parte, a mesma, contando com área de copa, depósito e banheiros nos três andares, concentrados junto às escadas e elevadores, de modo a deixar a maior parte dos pavimentos com espaço amplo para a melhor implantação das exposições.
Cada nível, no entanto, conta com uma diferença. No segundo está a administração/ sala de funcionários, no terceiro uma grande área técnica e no quarto duas salas de preparo/ demonstração. A conexão entre estes três andares pode ser feita pelos elevadores ou escadas, e abrigam as principais exposições do museu, divididas entre Tempo Remoto, Tempo Humano e Tempo Presente, criando uma conexão entre os conteúdos dos pavimentos, que se organizam de modo a narrar uma jornada pela história.
Planta 2ª pavimento

Fonte: Arch Daily, 11/09/2020
Planta 3ª pavimento

Fonte: Arch Daily, 11/09/2020
Planta 4ª pavimento

Fonte: Arch Daily, 11/09/2020
O quinto pavimento possui a mesma estrutura de copa, depósito, banheiros escadas e elevadores dos três pisos anteriores e ainda o observatório/ terraço astronômico e o planetário, que conclui a jornada pelo tempo proposta pelo espaço de cultura da UFMG.
O planetário é circular e conta com tecnologias de última geração, com uma tela 360° que ajuda a proporcionar a imersão na apresentação.
Planta 5ª pavimento

Fonte: Arch Daily, 11/09/2020
Volumetria
Após a reforma realizada para transformar a Reitoria da UEMG no espaço de conhecimento da UFMG, a volumetria do edifício foi drasticamente alterada. O prédio adquire um aspecto mais uniforme e retilíneo de um grande sólido geométrico. A mudança mais drástica aconteceu na fachada traseira do último nível, onde foi implementada a cúpula do planetário, criando uma elevação na parte de trás do edifício. Ainda no último nível, na extremidade oposta ao planetário, a cobertura possui uma parte retrátil, feita para atender o terraço astronômico.
Fachada lateral direita

Fonte: Arch Daily, 11/09/2020
Modenatura e ritmo dos elementos
O edifício é fortemente caracterizado pela sua geometria e regularidade. Internamente, toda a estrutura fica aparente, e os elementos estruturais seguem um padrão, os elementos que se repetem ao longo dos andares (banheiro, copa, depósito, escada e elevador) estão todos alinhados no mesmo plano, em um núcleo rígido criado ao longo da fachada lateral direita. As disposições das salas de exposição e o revestimento externo com padrão retangular são outros exemplos da regularidade da construção.
Inovações
O edifício foi projetado para abrigar um espaço de ciência, cultura, tecnologia e conhecimento, deste modo, possui vários aspectos inovadores.
O revestimento do prédio foi feito com um material que, de acordo com Jô: “[...] se assemelha a uma pele de vidro especial, não reflexivo, que garante baixa absorção de calor e nenhum reflexo da paisagem externa.”
Além disso, as retro-projeções realizadas neste vidro na fachada frontal agregam um aspecto intrigante ao edifício.
Por fim, o planetário implantando no quinto a foi o primeiro construído no Estado de Minas Gerais, e foi implantado com tecnologias de última geração, com aparelhagem avançada e o sistema “multimedia digital theater” com tela 360°.
Referências
Arch Daily. Espaço do conhecimento UFMG / Jô Vasconcellos, 2010. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/755327/um-espaco-para-o-conhecimento-jo-vasconcellos?ad_medium=gallery>. Acesso em: 11 de setembro de 2020.
ARCH DAILY. Estação da Cultura Presidente Itamar Franco.Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/870892/estacao-da-cultura-presidente-itamar-franco-jo-vasconcellos-plus-rafael-yanni-acustica-and-sonica-plus-jose-augusto-nepomuceno>. Acesso em 7 de abril de 2020.
Arch Daily. Museu da Cachaça / Jô Vasconcellos, 2014. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/627504/museu-da-cachaca-jo-vasconcelos>. Acesso em: 06 de abril de 2020.
BIBON. Estação da Cultura Itamar Franco. Disponível em: <http://portfolio.bimbon.com.br/arquitetura/estacao_da_cultura_itamar_franco_>. Acessado em: 7 de abril de 2020.
BRENDA, Leticia. Projetar também é reescrever a história, 2020. Disponível em: <http://www.fna.org.br/2020/06/15/projetar-tambem-e-reescrever-a-historia/> Acesso em 10 de setembro de 2020.
CHAGAS, Ana, CASTRO, Camila, MARQUES, Isabela, PACHECO, Lucas, CUPERTINO, Mario, FREITAS, Pedro. Éolo Maia e Jô Vasconcellos, 2018. Disponível em: <https://www.passeidireto.com/arquivo/47272309/eolo-maia-e-jo-vasconcellos-final-1-1>. Acesso em: 10 de setembro de 2020.
CRUZ,Leandro.Eolo Maia, Maria Josefina de Vasconcellos e Sylvio E. de Podestá publicam “3 Arquitetos”, 2017. Disponível em: <http://www.cronologiadourbanismo.ufba.br/biografia.php?idVerbete=1620&idBiografia=169>. Acesso em 08 de abril de 2020.
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ÉOLO Maia. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa245489/eolo-maia>. Acesso em: 07 de Abr. 2020. Verbete da Enciclopédia. ISBN: 978-85-7979-060-7
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Autores:
Anna Clara Dusanek Guedes, Camilla Laureano Marques, Flavia Agnelo Miranda, Samuel Magalhães






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