Luiz Telles
- ACR 113
- 17 de jul. de 2021
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Atualizado: 24 de dez. de 2021

VIDA E CARREIRA Luiz Benedito de Castro Telles nasceu em 1943, em Garça, interior de São Paulo. Ele foi um arquiteto contemporâneo, conhecido pelas obras em conjunto com Eurico Prado Lopes, e por sua atuação como professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Filho de uma dona de casa e um fazendeiro de café, com apenas 14 anos, em 1957, Telles se mudou para São Paulo, capital, para terminar os estudos e, posteriormente, entrou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie, em São Paulo, em 1962, graduando em 1966. Ele tinha o hábito de fazer trabalhos à mão, como cerâmica, pinturas a óleo e guache. Telles trabalhou brevemente (1972 - 1974) na Fundação Armando Álvares Penteado como professor. Depois disso, fez parceria com Eurico Prado Lopes. A parceria ficou conhecida por projetar o Mercado de Pinheiros, inaugurado em 1971 e o Centro Cultural de São Paulo (CCSP), inaugurado em 1982, durante as décadas de 1960 e 1970, diversos movimentos mundiais marcaram uma nova forma de pensar na cultura no Brasil, como exemplo a ditadura militar, essas revoluções influenciaram a visão de Luiz Telles, que utilizou inovações arquitetônicas com influências do brutalismo paulista, sobretudo no projeto do CCSP.
Após a morte do seu sócio, em 1985, Luiz Telles abriu seu próprio escritório de arquitetura, LT Arquitetura SC Ltda, onde realizou diversos projetos. Em 1992, Telles recebeu o prêmio IAB/SP-92, IAB - Instituto dos Arquitetos do Brasil, juntamente com sua sócia em vários projetos, Miriam Macul, além de Paulo Gambini, Silviana Simões e Renato Riani, pela reformulação e implantação do Centro Cultural do Banco do Brasil, em São Paulo.
No ano de 2002 tornou-se mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade presbiteriana Mackenzie e teve como tema do seu estudo a reabilitação da obra do CCSP. No mesmo ano, começou a lecionar na mesma faculdade, onde tinha destaque na atuação como docente, tendo ocupado a coordenação do TFG (Trabalho Final de Graduação). Já em 2008, também começou a lecionar no Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Em 2011 concluiu seu doutorado em Arquitetura e Urbanismo, também pela Faculdade presbiteriana Mackenzie e teve como sua tese “Grafite como expressão de arte na paisagem urbana contemporânea: manifestações na cidade de São Paulo”. Luiz Telles morreu dia 23 de fevereiro de 2014, aos 70 anos. PROJETOS EXECUTADOS
Dentre os diversos projetos feitos por Luiz Telles, pode-se evidenciar os seguintes: Caixa econômica Federal - Agência Pereira Barreto - projeto completo de Arquitetura - Rua Cyro Maia, Pereira Barreto - SP - 800m -1987; CPTN - Companhia Paulista de Trens Metropolitanos - centro de controle operacional unificado - Rua Visconde de Parnaíba com rua Doutor Almeida Lima, Brás, SP - 2001; SESC - Serviço Social do Comércio - Unidade Piracicaba - área de manutenção - Rua Ipiranga, 155, Piracicaba - SP - 540m - 2003; Recepção - 440m - 2002; SKF do Brasil Ltda - projeto de Arquitetura para ampliação e de Reforma do Bloco Central Edifício Administrativo - Rod. Presidente Dutra, km 223, Guarulhos, SP - 450m - 1986; ABERC - Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas - projeto para módulo básico de distribuição-refeitório Fome Zero - 400m - 2003; ALBARUS S.A. Indústria e Comércio - projeto completo de Arquitetura para restaurante (cozinha e refeitórios) e coordenação dos projetos complementares - Avenida de Penedo, 414, Socorro, SP - 950m - 1987; Mini Shopping - Campos do Jordão - projeto para mini shopping, com Bar e Centro de Convivência, Campos do Jordão - SP - 1400m - 2004 OBRA 2 PROJETOS Luiz Telles construiu uma extensa lista de projetos arquitetônicos ao longo da sua carreira, que foram de extrema importância cultural e social. Dentre esses, destaca-se o Centro Cultural de São Paulo e o Mercado de Pinheiros.
MERCADO DE PINHEIROS

Imagem: Mercado de Pinheiros Fonte: https://www.mercadomunicipaldepinheiros.com/ FICHA TÉCNICA: Local: Rua Pedro Cristi n° 31-Pinheiros- São Paulo Período de Construcao:1971
Tipologia de uso: Institucional Padrão Arquitetônico: Contemporâneo Área Construída: 4.000m² Números de Pavimentos:2 HISTÓRIA O mercado municipal engenheiro João Pedro de Carvalho Neto, foi inaugurado em 1910, na atual avenida Brigadeiro Faria Lima. Com as ampliações urbanísticas e a construção da nova avenida, o prédio foi demolido, seu novo projeto foi designado aos arquitetos Eurico Prado e Luiz Telles, com 4000m² e dois andares denominado Mercado de Pinheiros. Tem a função de atender os moradores dos arredores como um espaço de comércio, atualmente o mercado passou por revitalizações e conta com uma área de 4196 m², com novos boxes que divide as vendas por produtos típicos das regiões, que torna o mercado uma junção da culinária brasileira.
MATERIALIDADE E VOLUMETRIA A estrutura do mercado é composta de pilares de concreto armado com cantoneiras de metal, tais pilares proporcionam sustentação para cobertura de concreto aparente, que possui claraboias de ventilação compostas de vidro triplo. Esse sistema é um exemplo de projeto de construção sólida, equilibrada, e equacionada com as possibilidades do concreto no conjunto da estrutura, construída em um bairro de ruas estreitas com aglomerado de casas. A cobertura do mercado é uma estrutura de concreto nervurada, no qual é estruturada por vigas que aparecem nos níveis da construção. Essa cobertura e totalmente moldada de concreto com nervuras interligadas entre si com seu formato meio arredondado, esse tipo de projeto é feita para espaços com grandes vãos. Outro fator, é a grande abertura zenital ao longo do centro da cobertura, que permite grande entrada de luz. Tal projeto teve a intenção de ser um espaço de gabarito mais baixo e recuado com várias ligações ao ambiente interno e externo. O que chama atenção é seu formato quase elíptico, circular em duas laterais e retilíneo nas outras duas, com pé direito elevado, sua cobertura distribui-se como uma grande aba circular de concreto, e é dentro dessa estrutura, no térreo e no subsolo, que estão distribuídos os boxes e a praça de alimentação.

Imagem: Cobertura Fonte: : https://arquivo.arq.br/projetos/mercado-de-pinheiros#&gid=1&pid=12 ANÁLISE DE PLANTA

Imagem: Planta Inferior
Fonte: https://arquivo.arq.br/projetos/mercado-de-pinheiros#&gid=1&pid=12
O mercado possui dois pavimentos, o pavimento inferior, no qual, na parte de fora é possível perceber um grande pátio principalmente ao entorno da ala norte da planta, que serve como área de carga e descarga de mercadoria que se liga as feiras, ao entorno da construção há várias áreas de acesso, e rampas na ala oeste que se unem a calçada
Ao entrar na construção, na ala central, localiza-se o hortifruti, e em seu perímetro as lojas que possuem pé direito duplo. O mercado também possui largas aberturas laterais, que permitem a circulação de ar e entrada de luz, e conta com duas rampas circulares nas laterais que dão acesso ao segundo pavimento

Imagem: rampas
Fonte: https://vejasp.abril.com.br/blog/sao-paulo-nas-alturas/mercado-pinheiros-horario-arquitetura/

Imagem 13: planta superior
Fonte: https://arquivo.arq.br/projetos/mercado-de-pinheiros#&gid=1&pid=12
No nível superior, as lojas ficam nas laterais do segundo andar, isso porque o espaço central e totalmente aberto com vista para o primeiro pavimento, as saídas dão para um espaço exterior na parte sul da planta, que por causa do declive do terreno, garante acesso a rua pelas escadas, tal espaço possui mesas e cadeiras, uma área de refeição e lazer para quem frequenta o mercado.

Imagem: área externa nível superior
Fonte: : https://arquivo.arq.br/projetos/mercado-de-pinheiros#&gid=1&pid=12

Imagem: corte longitudinal e transversal Fonte: https://arquivo.arq.br/projetos/mercado-de-pinheiros#&gid=1&pid=12 Com as imagens do corte, longitudinal e transversal, é possível perceber que o mercado se liga ao exterior através de cinco entradas que fazem prolongamento com a calçada, é uma forma de garantir uma maior ventilação para o ambiente, a circulação de usuários é feita por meio de rampas de acesso, que também fazem ligação com o pátio de carga e descarga. Outro fator, é que o mercado possui um subsolo, onde se localiza o estacionamento
CENTRO CULTURAL DE SÃO PAULO

Imagem: Centro Cultural de São Paulo
Fonte: CCSP Centro Cultural São Paulo São PauloSPhttps://br.pinterest.com/pin/607211962242959084/
FICHA TÉCNICA: Local: Rua Vergueira,1000, Paraiso, São Paulo Período de Construcao:1978-1982 Tipologia de uso: Institucional Padrão Arquitetônico: Contemporâneo Área Construída: 46.500 m² Números de Pavimentos: 4 HISTÓRIA A idealização da obra deu-se início nos anos 70, após a prefeitura de São Paulo ceder o terreno da rua vergueiro, resultado das desapropriações ocasionadas pela construção do metrô. O projeto inicial foi feito pelo arquiteto Miguel Colasuonno, que tinha o objetivo de impulsionar a urbanização do local, assim o projeto contaria com um complexo de escritórios, hotéis, shopping e uma grande biblioteca pública em uma área de 300 mil metros quadrados denominado Projeto Vergueiro. No entanto, a obra foi cancelada pela administração de Olavo Setúbal. Desse modo, houve uma nova idealização para o planejamento do local, na qual a biblioteca se manteve. Os arquitetos Eurico Prado e Luiz Telles assumiram o projeto em 1978, com adaptações do atual prefeito Reynaldo de Barros. A obra foi ajustada a um centro cultural multidisciplinar e uso para ampliação da biblioteca central que se encontrava em super lotação, o projeto foi pensado em uma inserção da população aos meios de cultura, projetado para facilitar o acesso do usuário ao centro com as variadas entradas. A construção ocorreu no período final da ditadura militar, momento no qual, a vida política brasileira sofria repressão, censura e restrição da liberdade civil. Desse modo, tal obra foi duramente criticada pela comunidade por apresentar uma inovação arquitetônica que buscava valorizar os espaços multidisciplinares. ANÁLISE DA PLANTA

O Corte da planta longitudinal, é percorrido por uma “rua interna”, com 300 metros de comprimento que distribui todos os fluxos e as circulações. Todas as divisórias transversais são transparentes, proporcionando uma visão total e integração entre todos os programas e o jardim interno.

Neste nível 801, apresenta o pavimento do CCSP que se conecta com a estação de Metro Vergueiro, com saída direta para o centro (ao lado esquerdo), acrescentando no fluxo maior de pessoas no edifício. Abrigando também um grande acervo que é distribuído por todo nível, possuindo conjuntos de bibliotecas acessíveis. Na área amarela, constitui áreas de atividades livres como, cinema, auditório, teatro e salas de exposições, como a de Tarsila do Amaral com suas obras. E também com circulações verticais permitindo maior integralidade dos espaços e melhor entrada de luz. A rampa em Y liga aos outros níveis. E a vegetação que é presente em todos os níveis, que se manteve conservada, proporcionando um aconchego ao espaço urbano.

IMAGEM: BIBLIOTECA

PLANTA: ÁREA DE EXPOSIÇÃO SALA TARSILA DO AMARAL FONTE: http://www.centrocultural.sp.gov.br/pdfs/rider_pisos_expositivos.pdf

Neste nível 810, observamos um terraço jardim, uma área verde que cobre parte da cobertura que é de livre acesso para descansar e apreciar também uma ampla vista da cidade, incluindo o cultivo de hortas comunitárias. Este nível é mais elevado que os demais, e possui 4 acessos, dois pela Rua Vergueiro e 2 pela área de circulação de veículos. Como em todo o projeto, ele possui aberturas zenitais que interligam os ambientes com uma circulação vertical e permite ver os outros dois pavimentos e as rampas em x e y. Nas áreas roxas escura, localizam-se os espaços sanitários(banheiros). E na área de exposições, é onde temos obras de diferentes artistas, como a do Caio Graco, sala de debates e corredores para demais atividades.

PLANTA: ÁREA DE EXPOSIÇÃO CAIO GRACO FONTE: http://pedrocostaarquiteturaeurbanismo.blogspot.com/2011/04/p

O pavimento 806 possui quatro acessos pela Rua Vergueiro. Pode ser acessado também pelo pavimento 810 por uma das duas rampas. Internamente, é repleto de espaços destinados a exposição, à direita do pavimento, que também conta com salas de apoio, como a sala de direção, coordenação, informações, entre outras. Na parte central, conta com um jardim interno, logo de frente a uma das entradas pela Rua Vergueiro, além de um amplo espaço de foyer, logo à esquerda do jardim. Todos os ambientes são divididos por vidros, o que garante um ambiente visivelmente mais amplo e unificado, além de propiciar a iluminação natural.

Quanto ao pavimento 796, possui uma entrada pela Rua Vergueiro, à esquerda da planta, e uma pela Avenida 23 de maio, na parte inferior. Se trata de um andar não aberto ao público, restrito a áreas de serviço, como escritórios, camarins e áreas de estoque. Pode-se observar que seus pilares são maiores que os dos andares superiores, primeiramente por ser o pavimento q suporta mais peso, mas também como uma estratégia estética, visto que a cada andar, os pilares ficam mais finos, proporcionando mais diferenciação entre os andares.
MATERIALIDADE E VOLUMETRIA
O CCSP é dividido em 4 níveis é um edifício horizontalizado com cerca de 300m, 70m de largura e que apresenta 10m de desnível, sendo a elevação mais alta pela rua vergueiro e o mais baixa pela rua 23 de maio, desse jeito permitindo diferentes acessos distribuídos ao redor do complexo. O projeto foi desenvolvido com uma diversidade de matérias na estrutura, como o concreto armado, vidro, aço e metal configurando em formas sinuosas da estrutura. A arquitetura da estrutura é feita de aço galvanizado que apresentam formas curvas e esbeltas na confecção das vigas e pilares, com dimensões repetidas para facilitar a execução. A cobertura geral também é metálica e apresentam várias aberturas zenitais e domos.
Com amplos espaços internos, e longos janelas de vidros, o espaço se torna mais aconchegante e amplo, apresentando uma integralidade do ambiente. As rampas que ligam os níveis de forma desconectas, permitem uma dinâmica nos ambientes dos centros.
A construção também constitui de conjuntos vegetativos, com jardins distribuídos no interior e superfície do centro, alguns que já faziam parte foram conservados, contribuindo para a iluminação e bem estar dos usuários, que constitui em uma área de 700m².

FONTE: https://www.mascontext.com/tag/centro-cultural-sao


FONTE: http://jornalismojunior.com.br/quem-frequenta-o-ccsp/2016/05/CCSP-Centro-Cultural-Sao-Paulo.pdf
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