LUIZ SIGNORELLI
- ACR 113
- 8 de jul.
- 17 min de leitura

BIOGRAFIA
Em 1896, nasceu em Cristina, Minas Gerais, Luiz Signorelli, que ao longo do tempo se tornou um dos arquitetos mais notáveis com sua atuação em Belo Horizonte, cidade onde trabalhou até sua morte, em 1964, aos 68 anos.
Em 1925, Signorelli forma-se em Arquitetura pela Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) do Rio de Janeiro, onde adquiriu uma base neoclássica e eclética, que marcavam suas primeiras obras. Durante sua formação, teve contato com grandes nomes do ensino acadêmico da época, como Archimedes Memória, e aprofundou seus estudos em composição arquitetônica, desenho ornamental e teoria das proporções, aspectos que mais tarde influenciaram diretamente sua prática profissional.
Em 1928, mudou-se para a cidade de Belo Horizonte, esta com pouco mais de trinta anos de fundação. E em 1930, nos seus primeiros anos de atuação no município, trabalhou em órgãos ligados ao governo do estado. Passando a contribuir ativamente para o crescimento urbano de Belo Horizonte, assumindo projetos que atendiam às necessidades da nova capital em expansão, tanto no setor público quanto no residencial. Sua produção nessa época ainda refletia estéticas ecléticas e muitas características neoclássicas.
Porém, com o Movimento Moderno, Signorelli evoluiu seu repertório às particularidades do novo estilo arquitetônico em voga. Ainda que fiel a certos elementos da tradição neoclássica, seus projetos já revelavam funcionalidade, simplicidade, e o uso de materiais como concreto e aço, além da adoção de linhas retas e formas geométricas puras.
Ulisses Morato (2021) destaca que Signorelli “transitava por diferentes estilos arquitetônicos, indicando um grande domínio do ofício, e que suas obras refletem a transição do ecletismo ao Art Déco em Belo Horizonte", conciliando a tradição e modernidade, chegando até o modernismo, para se firmar como referência na arquitetura mineira, mas mantendo-se fiel aos seus ideais.
“Aproveitando o ensejo de vos falar, confesso com sinceridade a reserva com que a princípio recebi os primeiros rebates da nova arquitetura, para com um tempo relativamente curto aceitá-la sem restrições. Diante de tão palpitante assunto devo dizer que manterei sempre como ponto de vista aplicar no moderno a proporção clássica nas suas manifestações, adaptando-as ao nosso meio.” (SIGNORELLI, 1998, s.p)
Atuava em conjunto com Raffaello Berti. Pois, no decorrer da Primeira República, devido à legislação brasileira e ao movimento nacionalista, apenas profissionais com diploma reconhecido no país podiam assinar projetos arquitetônicos. Isso impedia que estrangeiros, como Berti, atuassem formalmente, a menos que estivessem associados a um brasileiro habilitado. Por isso, Signorelli, formado e registrado, assinou diversos projetos elaborados por Berti nesse período. Não apenas assinava projetos, mas por vezes também atuava como parceiro em algumas obras, tendo como destaques a Igreja Matriz de Sant’Ana em Itaúna, e a Feira Permanente de Amostras. Juntos, cofundaram a atual Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, sendo que, de 1937 a 1938, Signorelli atuou como diretor da Escola.
Luiz Signorelli não se limitou a atuar apenas como responsável técnico de seu colega, ele também desenvolveu seus próprios projetos. Os projetos do arquiteto representam uma fase determinante na consolidação da identidade arquitetônica de Belo Horizonte. Suas obras revelam o diálogo entre permanência e transformação, refletindo as transições vividas pela arquitetura brasileira no início do século XX. Por meio de sua atuação, contribuiu diretamente para o desenvolvimento físico e simbólico da capital mineira, construindo um legado que permanece vinculado à memória urbana e ao patrimônio local. Consolidou-se como um dos maiores produtores de art déco em Belo Horizonte.
Nos anos finais de sua vida, Luiz Signorelli continuou ativo, mesmo sem assinar grandes projetos após os anos 1950, atuando como consultor e realizando intervenções pontuais, mantendo sua visão eclética e moderna na arquitetura belo-horizontina. E após sua morte em 1964 ele recebeu homenagem póstuma e seu nome foi dado a uma rua no bairro Nova Suíça como homenagem ao seu legado para a cidade.
LISTA DE PROJETOS
Luiz Signorelli fez muitos projetos pelo Brasil, mas este site tem enfoque, somente aqueles projetados em Belo Horizonte, já que foi a cidade em que mais trabalhou em vida.
1919/1920 - Residência Familiar, Avenida Getúlio Vargas, n° 1238, Savassi.
1920 - Sede do Centro de Referência Audiovisual, Av. Álvares Cabral, n° 560 - Lourdes. Atualmente Museu da Imagem e do Som.
1926 - Residência Borges da Costa, Rua da Bahia, n° 1466 – Centro. A edificação abriga atualmente a Academia Mineira de Letras.

1926 / 1929 - Edifício da Alfândega, Av. Paraná, n° 56 – Centro. Hoje, o edifício abriga a 1ª Região Integrada de Segurança Pública (RISP).

Figura 3 - Edifício da Alfândega. Fonte: Arquitetos de Belo Horizonte 1926 / 1930 - Secretaria de Segurança Pública, Praça da Liberdade, n° 450 – Funcionários. Atualmente, abriga o Centro Cultural Banco do Brasil.

1927 - Residencial unifamiliar, Rua Sergipe, n° 719, Funcionários
1927 / 1929 - Sede do Automóvel Clube, Av. Afonso Pena, n° 1394 – Centro.

1928 - Hotel Sul-Americano, Av. Amazonas, n° 50 – Centro.

Figura 6 - Fachada Hotel Sul-Americano,1928. Fonte: Arquitetos de Belo Horizonte 1929 - Casa Rosada, Rua da Bahia, nº 2.425 – Savassi.
1929 / 1930 - Palacete Falci, Av. Bias Fortes, n° 197 – Lourdes, BH.

Figura 7 - Casa da família Falci. Fonte: Arquitetos de Belo Horizonte 1928 - Centro de Arte Popular CEMIG, Rua Gonçalves Dias, 1608, Lourdes.
1931 - Hospital Elvira Gomes Nogueira, Av. Francisco Sales, n° 1111, Santa Efigênia. Hoje é a Santa Casa de Misericórdia.

Figura 8 - Hospital Elvira Gomes Nogueira. Fonte: Fundação Municipal de Cultura. 1932 - Bolsa De Valores Minas Gerais E Espírito Santo, Av. Afonso Pena, n° 2093, Funcionários.
1932 - Cine Guarani e Clube Belo Horizonte, projetado junto com Raffaello Berti, Rua da Bahia, n° 1201 , Centro. Atualmente Museu Inimá De Paula Casa
1935 - Palacete Pentagna Guimarães, Av. João Pinheiro, n° 602, Lourdes.
1935 - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, projeto realizado em conjunto com Raffaello Berti, Av. Afonso Pena, n° 1534, Centro.

Figura 9 - Prefeitura de Belo Horizonte. Fonte: Belotur/Divulgação 1937/1940 - Minas Tênis Clube, projeto realizado em conjunto com Raffaello Berti, Rua da Bahia, n° 2244, Lourdes.
1938-1944 - Grande Hotel Termas de Araxá, R. Águas do Araxá, s/n - Barreiro, Araxá - MG.

Figura 10 - Vista aérea do Grande Hotel Termas de Araxá. Fonte: Grande Hotel Araxá 1939 - Paróquia Santa Efigênia dos Militares, Rua Álvares Maciel, n° 223, Santa Efigênia.
1939 - Antiga Padaria E Confeitaria Savassi, projeto realizado com Raffaello Berti, Praça Diogo de Vasconcellos, n° 274, Savassi.

Figura 11 - Padaria e Confeitaria Savassi. Fonte: ARQBH 1940/1963 - Paróquia de Nossa Senhora do Carmo, R. Grão Mogol, n° 502, Carmo.
1940 - Residência Ceará, Rua Ceará, n° 1851, Funcionários.
1947–1950 - Teatro de Emergência, Parque Municipal - BH. Atualmente, é conhecido como Teatro Francisco Nunes.
PRÊMIOS
1923 – Prêmio no Salão Nacional de Belas Artes (RJ)Participou e foi premiado por projetos ainda como estudante na Escola Nacional de Belas Artes.
1925 – Formatura e Prêmio na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA)Concluiu o curso de Arquitetura e recebeu distinções por seus trabalhos acadêmicos de destaque.
1926 – Novo Prêmio no Salão Nacional de Belas Artes (RJ) Recebeu mais um reconhecimento nacional pela qualidade artística e técnica de seus projetos.
Exploraremos duas obras arquitetônicas de Signorelli: a Secretaria de Segurança Pública (atual CCBB-BH) e a Residência Borges da Costa (atual Academia Mineira de Letras). Este estudo de caso visa entender como as escolhas de projeto são influenciadas pelo contexto urbano da época. Elementos como o estilo arquitetônico, a linguagem construtiva e a interação das edificações com o seu entorno imediato serão consideradas, juntamente com a avaliação das plantas arquitetônicas originais e das alterações feitas após as reformas.
Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais
Atual Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-BH)

Ficha técnica:
Local: Praça da Liberdade, nº 450 – Bairro Funcionários, BH
Ano de início das obras: 1926
Ano de conclusão: 1930
Tipologia de uso: Edifício administrativo governamental / Equipamento cultural
Área construída: 12.000m²
Padrão arquitetônico: Eclético com base neoclássica
Número de pavimentos: 6
Contexto Histórico

Em 1926, iniciou-se a construção do edifício que hoje representa o Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte, projetado pelo arquiteto Luiz Signorelli. A princípio, a obra integrava o conjunto das secretarias estaduais e compunha a ambiência institucional da Praça da Liberdade. Sua presença robusta e ornamentação expressiva refletem a autoridade do poder estadual e sua importância histórica.
A conclusão da obra se deu durante a Revolução de 1930, e, sendo assim, o edifício que inicialmente foi pensado para sediar a Secretaria de Segurança e Assistência Pública, passou a representar o Comando Geral das Forças Revolucionárias provisoriamente após sua inauguração, datada no aniversário da independência do Brasil (7 de setembro, do mesmo ano).
Após o período revolucionário e a posse de Getúlio Vargas à presidência, houve uma reorganização administrativa que resultou na fusão das secretarias estaduais em Minas Gerais, atribuindo ao edifício a nova função de sediar a Secretaria do Interior.
Ao longo das décadas seguintes, sobretudo entre o final da década de 1940 e início da de 1950, as políticas de segurança pública passaram por um processo de consolidação e fortalecimento institucional, o que proporcionou ao edifício uma nova função, dessa vez como sede da Secretaria de Segurança Pública de Minas Gerais.
Considerando o seu valor histórico, arquitetônico e cultural, o prédio foi reconhecido e protegido por 3 instituições diferentes: municipal (pela prefeitura de Belo Horizonte), estadual (tombado pelo IEPHA) e federal (protegido pelo IPHAN).
Na década de 1990, o governo de Minas Gerais iniciou um processo de descentralização administrativa e de requalificação da Praça da Liberdade, com a justificativa de realocar as secretarias estaduais para edifícios mais modernos. Além disso, o governo demandava abrir espaço para usos culturais e proteger o patrimônio dos edifícios da Praça. Desse modo, juntou-se o útil ao agradável e o edifício foi cedido para o Banco do Brasil. Como ele passaria a ter uma função cultural, foi necessário fazer uma reforma no edifício, iniciada em 2009 e concluída em 2013.
Diante dessa reforma, observa-se que a estrutura externa do prédio foi respeitada, se mantendo igual à original, enquanto a estrutura interna foi alterada drasticamente - o que será debatido a seguir.
Análise Projetual
A obra foi projetada para ter seis pavimentos - contando com a cobertura, e um subsolo, sendo erguida em alvenaria com estrutura de concreto armado. O edifício apresenta volumetria retangular, organizado em volta de um pátio central, que proporciona iluminação e ventilação naturais. Não há indícios das plantas dos outros pavimentos do projeto original de Luiz Signorelli, com exceção do 1° pavimento, mostrado na figura 13. Apesar disso, sabendo-se que se trata de um projeto com características principalmente neoclássicas, e baseando-se em outros projetos do setor público da década de 1930, subentende-se que a forma de distribuição se apresenta de maneira similar em todos os pavimentos - setorizados em uma divisão clara entre público e privado, evidenciando o poder estatal e seguindo uma organização funcional.

A entrada principal é marcante por apresentar um portão de ferro trabalhado que conduz ao vestíbulo, bem amplo e com centro recuado, que vai em direção a uma ampla escada nobre/monumental - que combina elementos do ecletismo com referências neoclássicas e se configura como elemento central de circulação vertical, conectando os pavimentos principais (térreo, 1° e 2° pavimentos, anteriormente destinados aos setores públicos/administrativos). Há também uma escada secundária menor (para circulação de apoio/serviço), localizada ao lado da escada nobre central, e duas escadas de serviço/evacuação localizadas nos blocos laterais do edifício (esquerdo e direito) - estas dão acesso a todos os pavimentos, incluindo o subsolo.

Observando o “CORTE AA” acima (único disponível para visualização), nota-se a maneira que o edifício distribui portas e janelas, com um harmonia eclética e neoclássica, de modo que todos os lados das fachadas seguem esses mesmo padrão, mostrando simetria e proporção.
Pós-reforma
A reforma foi assinada pelo arquiteto Flávio Grillo em 2005. Estão disponíveis para visualização apenas as plantas do térreo, 1° e 2° pavimentos, destinadas às áreas expositivas - os pavimentos restantes são destinados às áreas administrativas. A cobertura e o subsolo serão descritos posteriormente.
A imagem abaixo apresenta as plantas do térreo e dos dois primeiros pavimentos, o que possibilita observar de forma detalhada as alterações realizadas na adaptação do antigo edifício público para uso como centro cultural. As modificações foram destacadas em vermelho, verde e azul, facilitando a identificação das mudanças em relação ao projeto original, indicado pelas linhas pretas.

As convenções utilizadas pelo arquiteto Flávio Grillo, foram:
vermelho: estruturas demolidas segundo o projeto de adaptação ao novo uso;
verde: estruturas construídas para a adaptação ao novo uso;
azul: estruturas reformadas e/ou restauradas após a adaptação ao novo uso;
preto: estruturas existentes que foram mantidas após a adaptação ao novo uso.
As partes em vermelho se destacam por apresentar um vislumbre da obra de Luiz Signorelli.
Nas plantas do térreo e do primeiro pavimento, observam-se também as novas funções inseridas, como áreas multiuso, cafés, banheiros adaptados e setores técnicos, além de percursos modificados para acomodar maior circulação de visitantes. As áreas sinalizadas em azul e verde mostram setores que mantiveram elementos históricos preservados, incluindo o vestíbulo principal e partes das circulações originais.



Nota-se que as intervenções mais significativas ocorreram principalmente no térreo e no 1° pavimento, onde foram demolidas grandes áreas de divisórias internas, criando ambientes mais amplos para exposições, circulação e a implantação de um teatro italiano (destacado em verde), que possui plateia em 3 lados do palco e conta com 264 lugares.

O subsolo que antes abrigava um porão com almoxarifados, áreas de serviços gerais, entrada de abastecimento e instalações técnicas, atualmente representa uma área de suporte cultural e convivência, com acesso a livraria, cafeteria, bilheteria, banheiros acessíveis e áreas administrativas e técnicas.
Na cobertura, houve a instalação de equipamentos técnicos e sistemas de climatização, indispensáveis para o controle ambiental e a conservação do acervo, mas que implicaram outras intervenções na estrutura.


Figuras 20 e 21 - Hall do CCBB (visão frontal e posterior). Fonte: Google Arts & Culture
A circulação é contínua nos corredores que contornam o pátio e conecta três núcleos verticais com escadas – um deles, no lado direito, tem acesso diretamente à Rua Cláudio Manoel. Os elevadores, inseridos entre as escadas laterais, são característicos do conceito de contemporaneidade, tendo como objetivo trazer acessibilidade ao edifício.

Internamente, o prédio evidencia o requinte dos detalhes construtivos, com forros decorados, pisos em mármore, luminárias originais e esquadrias trabalhadas, características que marcam os grandes edifícios institucionais construídos nas primeiras décadas do século XX no Brasil. Por outro lado, ainda que alguns elementos decorativos tenham sido restaurados - como forros, portas metálicas e revestimentos -, a reforma propôs uma nova organização interna, alinhada ao conceito contemporâneo de museus com grandes áreas neutras, e, portanto, distanciando-se da identidade eclética e neoclássica que marcava o edifício original e da lógica construtiva modular que definia o projeto de Signorelli.


Figuras 23 e 24 - Pátio e fachada do CCBB. Fonte: Google Arts & Culture
Após a requalificação, o edifício passou a contar com 1.200 m² de área expositiva. São 8.000 m² abertos ao público, tornando-o um dos maiores centros culturais do país. Desde a abertura do CCBB-BH, em agosto de 2013, mais de 2,5 milhões de visitantes passaram pelo prédio, atraídos por uma programação que inclui mostras de arte, espetáculos, cursos e laboratórios que difundem a história da cidade e do Brasil.
Palacete Borges da Costa
SEDE DA Academia Mineira de Letras

Ficha técnica:
Local: Rua da Bahia, nº 1466 – Lourdes, Belo Horizonte, MG
Ano de início das obras: 1915
Ano de conclusão: 1926
Tipologia de uso: Equipamento de Saúde / Habitação Unifamiliar / Equipamento Cultural
Área construída: 1.200 m²
Padrão arquitetônico: Eclético tardio com predominância neoclássica
Número de pavimentos: 2, com um subsolo.

O Palacete Borges da Costa situado na Rua da Bahia, nº 1466, no Bairro de Lourdes, foi inicialmente projetado em 1915, por Antônio da Costa Christino, para comportar a clínica do médico-cirurgião Eduardo Borges Ribeiro da Costa, que já residia nas imediações do terreno.
A edificação original, apelidada de “Pavilhão” pela família do proprietário, consistia em dois pavimentos, térreo e subterrâneo. O primeiro andar dotava-se de três grandes salas, com funções de consultório, sala de espera e secretaria. O porão continha uma biblioteca, um banheiro, um pequeno laboratório e dois quartos úteis para internações.
Percebe-se que a fachada anterior era consideravelmente ornamentada, característica das fases iniciais do ecleticismo.

Em 1926, o doutor Borges da Costa contratou o arquiteto Luiz Signorelli, com a necessidade de reformar o Pavilhão para acomodar a família do médico, ampliando suas funções para uma residência. Ampliação que já era concebida pelo planejamento estrutural, que foi construído na capacidade de suportar um segundo andar. E em sua forma final, o palacete possui três pavimentos e 44 cômodos, incluindo os pertencentes a clínica, ocupando uma área de 1.200 m². Verifica-se que o mestre de obras responsável pela construção foi Antônio Mias, com a participação dos artistas italianos Muchiutti e Mário Bina, responsáveis pelo trabalho das marcenarias, e dos marmoristas irmãos Natali.
Seu sistema construtivo foi baseado no concreto armado com baldrames de pedra. As vedações são em alvenaria de tijolos de barra com argamassa e o revestimento interno é composto por argamassa com pó de pedra, cal e pigmento, simulando a cor da rocha. Por fim, no exterior da residência o acabamento resulta em um desenho reticulado e liso, com alguns trechos de pedra chapiscada.
Afastando-se no terreno pelo jardim e entrada da garagem, a residência tem seu alçado principal apresentando um jogo de volumetria irregular, com a organização espacial movimentando-se a partir do recuo progressivo dos volumes do palacete, além da assimetria entre os planos dos andares.
A fachada frontal possui varanda de base retangular chanfrada, sustentada por colunas com fuste estriado e capitéis coríntios, e delimitada por guarda-corpo em balaústres de cimento, com acesso por meio de uma escada monumental. As aberturas variam entre arcos plenos e vergas retas, com esquadrias de madeira e ferro, venezianas e bandeiras fixas, sempre acompanhadas de sobrevergas decoradas. No andar superior, há terraço com guarda-corpo misto, em alvenaria e gradis de madeira e ferro trabalhado. O coroamento do edifício é feito com beiral ornamentado por modilhões e parapeitos em alvenaria cheia. A esquerda, um vitral com verga em arco pleno atravessando dois andares conferindo verticalidade.
O exterior da edificação possui um jogo sofisticado de formas e profundidades, que unidos aos ornamentos típicos do neoclássico, trabalham de forma harmônica em detrimento da ausência de simetria, que torna o palacete um exemplo do estilo eclético.
O nível de detalhamento da edificação, apesar de alto em comparação com construções modernas, é simplificado em relação ao seus antecessores, o que corresponde com um ecletismo tardio e uma mudança no 'pensar' da arquitetura.



Através das ilustrações dos projetos, é possível averiguar que a reforma propunha certas mudanças que não aparecem na forma final do palacete. O desaparecimento do telhado em mansarda está em maior evidência, e nota-se também que a escada da entrada principal é redesenhada com uma bifurcação, mas sua configuração original foi mantida.



Signorelli projeta o desenho da habitação partindo da estrutura prévia do Pavilhão, com a sala de espera se convertendo em um acesso tanto para a clínica quanto para as áreas privadas da família, se ligando ao espaço denominado de “grande hall” que assenta a mudança de função principalmente ao desenvolver um lance de escadas ao segundo pavimento e ala íntima da casa.
O primeiro pavimento o palacete passa ser composto pela clínica, mas se estendendo do grande hall para trás em uma sala de estar, sala de jantar, copa, lavabo, quartos de hóspedes e cozinha, se orientando para a vida doméstica, mas também preparando para a circulação social que ao longo dos anos o casarão de Borges da Costa viria ser, com alto influxo da elite e intelectualidade belo-horizontina.
Por sua vez, no segundo pavimento, ao ascender pelas escadas, possui um hall que distribui os quartos dos filhos, lavabo, banheiro, toilette, quarto do casal, biblioteca, sala de estudo e dois terraços, um frontal e outro posterior.

Após a Academia Mineira de Letras ter transferido sua sede para o casarão em 1987, ele foi tombado pelo IPHAN no ano seguinte e passou por um processo de restaurações. Um edifício anexo chamado Auditório Vivaldi Moreira, projetado por Gustavo Penna, foi construído pela Academia em 1990. Atualmente, é aberta ao público para eventos e visitas guiadas.

Texto redigido por Caroline Stephany, Sabrina Azevedo e Sofia Bethonico.
REFERÊNCIAS
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