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PAULO MENDES DA ROCHA

  • 3 de set. de 2020
  • 18 min de leitura

Atualizado: 11 de set. de 2020

Arquiteto Capixaba residente em São Paulo, nascido em 1928.


Paulo Archias Mendes da Rocha, filho de Paulo Menezes Mendes da Rocha e Angelina Derenzi Mendes da Rocha, nasceu em 25 de outubro de 1928, em Vitória no Espírito Santo. Por ser filho de um engenheiro de portos e vias navegáveis, teve uma base familiar bastante ligada à reflexão sobre a relação entre engenharia e natureza, chegando a acompanhar seu pai em visitas técnicas de fiscalização à grandes obras de engenharia quando novo.

Mudou-se, com a família, de sua cidade natal para São Paulo em 1937, para acompanhar o pai que passa a fazer parte do corpo docente da Escola Politécnica. Entre 1950 e 1954 cursou arquitetura na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. Em 1958 vence o concurso para o Ginásio do Clube Atlético Paulistano, aos 29 anos, projeto em parceria com João de Gennaro. Em 1961 essa obra lhe concede o Grande Prêmio da Presidência da República na 6ª Bienal Internacional de São Paulo. A partir daí, com essas conquistas, o arquiteto ganhou muito destaque na área realizando grandes feitos em sua carreira.

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Após sua integração à FAU/USP, como professor-assistente de João Batista Vilanova Artigas, passou a fazer parte da então intitulada Escola Paulista. Um grupo de arquitetos e urbanistas, encabeçados por Vilanova, que tinham como proposta uma arquitetura crua, limpa, clara e socialmente responsável. De certa forma, influenciados pelo Brutalismo europeu, buscavam soluções estruturais de grande porte, que chamavam atenção na cidade ou que deixassem um projeto utópico na realidade interna do edifício, e utilizavam em grande quantidade o concreto armado.

Mesmo sendo considerado discípulo de Artigas, uma vez que esse tinha uma maior experiência profissional e pedagógica, além da ascendência ideológica, foi Paulo Mendes da Rocha o primeiro a executar um projeto com as características fundamentais da “escola”, o Ginásio do Clube Atlético Paulistano em 1958.

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O crítico italiano Francesco Dal Co caracteriza a produção de Mendes da Rocha pela combinação ímpar dos seguintes atributos: a “segura racionalidade”, a “essencialidade das soluções construtivas”, a “intransigência no emprego dos materiais” e o “desprezo pelo supérfluo”.

DAL CO, Francesco. Paulo Mendes da Rocha – Pritzker Prize 2006.

Casabella 744, maio de 2006.

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Autor de vários projetos realizados e não realizados, Paulo Mendes da Rocha divide a crítica especializada. O Museu Brasileiro da Escultura (1988) e o pórtico monumental de cobertura metálica para a entrada da galeria Prestes Maia (1992), na Praça do Patriarca, ambos em São Paulo, são exemplos de projetos muito criticados.

Outra obra polêmica foi o Cais das Artes (2008), construído nas margens da Baía de Vitória, no Espírito Santo, para ser um conglomerado cultural. O projeto, que tem a essência do estilo de Paulo Mendes, é comparado a uma “caixa de concreto aparente” com mais de 30 metros de altura. As críticas se valem pelo não aproveitamento da belíssima vista do oceano, baía, morros e monumentos históricos que circundam o edifício. Além disso a estrutura também impediu que todo o bairro da Enseada do Suá vissem o Convento da Penha, um dos cartões postais do Espírito Santo.

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Assim como é criticado, o arquiteto, dono de uma personalidade forte, também critica o trabalho de alguns colegas e não tem medo de expor sua opinião.

"Não faz nenhum sentido. É um tropeço histórico. Não tem nada que ver com a obra do Niemeyer, que é altamente criativa. É a decisão política que, na minha opinião, é errada, dizer ao Rio de Janeiro que "aqui não é mais a capital". Eu não teria feito Brasília, se pudesse teria evitado sua construção."

«"Brasília foi um tropeço histórico", diz Paulo Mendes da Rocha». Deutsche Welle Brasil.

2 de junho de 2016. Consultado em 2 de Janeiro de 2017

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Atualmente, aos 91 anos, Paulo Mendes da Rocha é casado com Helene Afanasieff, e tem dois filhos, Pedro Mendes da Rocha e Joana Mendes da Rocha. O arquiteto continua na ativa e colhendo os frutos de sua carreira. Um dos mais renomados arquitetos brasileiros ainda vivos, Paulo, já conquistou o Prêmio pela Trajetória Profissional na I Bienal Ibero-Americana de Arquitetura (1998), dois Prêmio Mies Van der Rohe de Arquitetura Latino-Americana (1999 e 2000), o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza (2016) e o “Nobel da Arquitetura”, o Prêmio Pritzker (2006), tornando-se assim o segundo brasileiro a ganhar o prêmio, antes dele somente Oscar Niemeyer tinha conquistado tal feito.

Ao ser anunciado como ganhador pelo juri, o presidente da Fundação Hyatt, Thomas J. Pritzker disse:

“Mendes da Rocha demonstrou um profundo entendimento de espaço e escala através da grande variedade de edifícios que desenhou, desde residências privadas, complexos habitacionais, uma igreja, museus e estádios esportivos e planos urbanos para o espaço público. Embora apenas alguns de seus edifícios tenham sido realizados fora do Brasil, as lições a serem aprendidas com o seu trabalho, tanto como arquiteto praticante e professor, são universais “
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Além de todos esses prêmios e homenagens que o arquiteto já conquistou, em 2017, Paulo Mendes recebeu a Medalha de Ouro Real do Royal Institute of British Architects (RIBA), em reconhecimento ao trabalho de uma vida. O prêmio que é aprovado pela própria Majestade a Rainha, tem como objetivo premiar um indivíduo ou um grupo de pessoas que tiveram uma influência no avanço da Arquitetura mundial, direta ou indiretamente.



Casa Butantã


Paulo Mendes da Rocha projetou em torno de 30 residências unifamiliares ao longo dos anos 60 e 80 (apenas 23 foram construídas), quando teve seus direitos cassados pelo Estado durante a ditadura militar, ficando assim fora da área de projetos públicos restando-lhe os projetos residenciais que ocuparam grande espaço em sua trajetória. É nesse período que Paulo projeta a Casa Butantã.



Paulo Mendes da Rocha em frente à Casa Butantã

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A Casa Butantã foi projetada, em parceria, pelos arquitetos Paulo Mendes da Rocha e João de Gennaro para a vivência da família Mendes da Rocha, que residiu na casa entre os anos 70 e 90 - Lito Mendes da Rocha, filho de Paulo é o atual residente da casa. Localizada no bairro Butantã, São Paulo, o projeto se caracteriza por inverter as partes sociais e íntimas da casa se manifestando como uma nova maneira de morar. Além disso, traz o brutalismo da escola paulista em sua essência, com a redução da distinção entre espaços públicos e privados, uma homogeneidade do espaço contínuo e aberto, o uso de concreto armado protendido puro - sem nenhum acabamento - e a disposição de blocos únicos, pela busca da horizontalidade.


Fachada

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Planta

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Foram projetadas e construídas duas casas vizinhas, estruturalmente idênticas, porém os ambientes internos possuem variações. Ambas foram implementadas no terreno conjuntamente e a separação entre elas é feita por um talude ajardinado. Há também um túnel que conecta ambas, já que a casa vizinha era moradia da irmã de Paulo Mendes.


Planta das casas gêmeas

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A edificação foi tombada, em 2018, pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp), sendo uma obra que transpassa a experiência espacial pelo olhar.


A residência foi construída na margem do Rio Pinheiros, em uma área de várzea que sofre com o processo de alagamentos em determinados períodos do ano. Desse modo, como estratégia para a resolução desse problema, Paulo Mendes optou por criar um talude para que esse evitasse que a água penetrasse a casa . Assim, ele elevou-a, deixando a parte alagadiça destinada aos dormitórios dos empregados, garagem e entrada.


Perspectiva da garagem

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A sua volumetria é constituída por uma modenatura com seis estruturas justapostas. Essas possuem o mesmo comprimento e largura, o que criou um espaço interior único que possui duas faces opacas e duas transparentes. Além de um teto com claraboias transparentes e espaços internos divididos por portas de correr de madeira veneziana.


Já a sua estrutura é representada por um paralelepípedo regular que se fundamenta por um sistema estrutural rígido e simples. Assim, a casa se apoia em quatro pilares, duas vigas mestras e lajes nervuradas.


Representação da estrutura

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As fachadas se mostram como um sistema homogêneo ao serem dispostas de forma não hierárquica, princípio presente na Villa Savoye de Le Corbusier. Desse modo, elas seguem a seguinte distribuição: as fachadas laterais são praticamente vedadas, tendo apenas algumas aberturas pontuais; a fachada noroeste localiza na área social e as fachadas que recebem painéis de vidros possuem um grande beiral que ajuda no controle dos raios solares.


Cortes fachadas casa Butantã

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No seu terreno, Paulo adotou um recorte plano na colina, o que fez com que a casa mantivesse uma relação direta com a rua. Essa relação direta é acentuada pela elevação do jardim, o que torna a rua um elemento integrante da paisagem.


A vegetação também faz parte desse cenário, ao delimitar e controlar as perspectivas interiores e exteriores.


Já em relação a setorização e divisão interna, ela se organiza em áreas sociais, íntimas e de serviços. As partes íntimas recebem influência das tradições das casas nordestinas do século XVIII por sua apresentação sequencial.


Planta

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A sua planta consiste na seguinte distribuição: a elevação projetada por quatro pilotis abriga os carros, as dependências dos empregados, um terreno aberto e também a escada principal que dá acesso ao primeiro andar. A escada foi projetada com patamar acentuado que funciona como um alpendre para os moradores.


Perspectiva da escada

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Já a sua divisão interna está disposta em três faixas paralelas, sendo que a a área privada se localiza no centro da planta. Nesse centro localizam- se os quartos e neles não há a presença de janelas. Desse modo, a sua iluminação se dá por uma abertura zenital no teto que permite uma variação de coloração conforme o sol se movimenta. A sua ventilação se dá pelas frestas entre o teto e a parede, já que as paredes não alcançam o teto. Vale ressaltar que esses cincos dormitórios são ambientes polivalentes que cabem como dormitório, local de estudo, vestiário e até mesmo como local para a higienização.


Além disso, a ausência de janelas nos dormitórios (inspiração das alcovas oriundas da arquitetura colonial) faz com que a iluminação ocorresse de maneira natural pelas aberturas zenitais e também pela luz da varanda que adentram os quartos. A varanda funciona como extensão dos quartos, de forma que os separam através de portas de correr que não alcançam o teto.


Separação dos quartos

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Vale ressaltar, que a iluminação é um elemento marcante e característico do projeto, presente na luminosidade interna e como um elemento de composição do espaço. Já que essa contribui para a volumetria externa criando a impressão de possuir espaços e superfícies mais profundos, a partir das zonas de luz e sombras formados.


Uma outra área da casa, a social, é representada pela varanda e sala de estar, e juntas com os dormitórios podem se transformar em um único espaço através das portas de correr, que dividem e integram-os. A sala de estar possui a mesma extensão que a varanda. No entanto, ela possui uma profundidade maior. Assim como os dormitórios, em um mesmo ambiente se tem diferentes funções, como ler, escutar música, jantar, estudar, se esquentar na lareira. Sendo que todos os seus mobiliários, como sofá, mesa, são oriundos da plasticidade do concreto, que permite moldar esses elementos no próprio espaço.


Sala de estar

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A área da cozinha segue a mesma lógica do mobiliário feito de concreto, porém eles determinam como serão usados a partir da adoção da disposição linear e da configuração dos armários, que são presentes em ambos os lados formando um corredor nesse ambiente.


Cozinha

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Fonte:https://www.archdaily.com.br/br/01-181073/classicos-da-arquitetura-casa-no-butanta-slash-paulo-mendes-da-rocha-e-joao-de-gennaro


Em relação ao revestimento, constitui em sua maioria pelo concreto aparente, que está presente em toda a sua estrutura, paredes e nos móveis in locus. Não há a presença de revestimentos ou pinturas. É utilizado o mesmo piso em todos os espaços. Eles são elevados e possuem como material a madeira na forma de tábua corrida, o que contribui para um melhor isolamento térmico. Além do uso do vidro nas janelas e aberturas zenitais.


As inovações desse projeto são muito vistas nessa nova forma de morar e compartilhar o espaço. Há uma conexão geral entre os ambientes, visto que, as paredes dos ambientes não alcançam o teto, resultando assim, numa ausência de privacidade entre os moradores e aumento da convivência. As portas estão pouco presentes e as que aparecem se mostram todas iguais, madeira com veneziana, fechando os quartos.


Distribuição dos quartos dos filhos

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O uso de peças pré - fabricadas por toda a casa deu a ela um ar característico e denso, sendo que não possuem nenhum tipo de acabamentos, são apenas peças em sua essência nesse ensaio da pré fabricação.


Estruturas e móveis em concreto aparente

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Estruturas e móveis em concreto aparente

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O projeto possui um sistema de ‘janelas flutuantes’, chamado de caixilharias, onde o vidro é o contrapeso para dar esse efeito. Essas janelas estão presentes em umas das fachadas da casa.


Sistema de janelas flutuantes

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Sistema de janelas flutuantes

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No projeto foi feito uma serpentina por onde a água quente corria e servia como um aquecedor para toalhas. Essa serpentina é vista nos banheiros da casa.


Serpentina

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A ausência de janelas nos dormitórios, uma característica das alcovas na arquitetura colonial, é recuperada e expressa uma reforma nesses ambientes. A alternativa de projeto foi a abertura de janelas zenitais.


Quartos com abertura zenital

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Ficha Técnica:


- Local: Praça Monteiro Lobato - Esquina com Rua Engenheiro João de Ulhoa Cintra - Butantã - São Paulo, Sp - Brasil - Zona Oeste de São Paulo

- Tipologia de uso: Residencial

- Padrão arquitetônico: Brutalismo

- Área do terreno: 760 m²

- Área construída: 573 m²

- Início e conclusão do projeto: 1964 - 1966

- Número de pavimentos: 1 pavimento

- Projeto Estrutural: Singuer Mitsutani


SESC 24 DE MAIO


CONTEXTO


Em parceria com o escritório MMBB Arquitetos, Paulo Mendes da Rocha desenvolveu um projeto de revitalização de um antigo edifício em São Paulo. Localizado na esquina da Rua 24 de Maio com a Rua Dom José de Barros, a construção abrigava uma loja de departamentos - Mesbla - que entrou em falência na década de 90. O SESC (Serviço Social do Comércio) comprou, então, o edifício e um terreno ao lado dele. Em 2002 foi iniciada a elaboração do projeto de reforma do antigo edifício que objetivava retomar o centro cultural da cidade de São Paulo e oferecer mais opções de lazer para a população. A obra teve início em 2012 e foi concluída em 2017.


análise da planta


O edifício do Sesc 24 de maio conta com 13 andares, além do térreo e do subsolo.

Nos 13 andares acima do térreo estão a administração, restaurantes, conveniência, biblioteca, clínicas de odontologia, bloco cultural (com exposições e oficinas), bloco esportivo (com dança e esportes) e o bloco da piscina, a “menina dos olhos” que ocupa o último andar, além de outros dois abaixo, com os vestiários e o jardim da piscina. O térreo é uma extensão da rua, como uma praça, aberto e com um amplo espaço para circulação, sendo a área principal de acesso ao Teatro e à unidade. E, por fim, o subsolo se dá como uma caixa de concreto com entrada pela rua 24 de Maio, onde estão o Teatro e o Café.

Diagrama dos andares do edifício

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Junto com os parceiros da MMBB Arquitetos, Paulo Mendes da Rocha mudou a lógica do antigo edifício do Mesbla. O projeto objetivava aproveitar e adaptar as instalações originais do antigo prédio, como também realizar transformações que atribuiriam a ele sua nova espacialidade. Ele buscou construir a “Praça do Sesc” ligada e integrada com a rua, transformar o subsolo de garagem em Café e Teatro, criar um sistema de circulação vertical por meio de rampas, construir uma piscina na cobertura, concentrar as instalações técnicas de apoio em um anexo à propriedade, entre outras mudanças que demandavam uma série de adaptações. O prédio do Mesbla possuía uma planta em U, sendo o vão central do edifício deixado livre para garantir maior iluminação. O projeto de Paulo Mendes preenche esse vão com a estrutura principal.


Antiga loja Mesbla na rua 24 de Maio

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O edifício tinha, inicialmente, o atributo de um vazio interno de 14 m x 14 m, chamado de poço de ventilação ou de iluminação. Foram erguidos quatro pilares de concreto em cada vértice do quadrado, percorrendo por todo o prédio até a cobertura, onde está a piscina. Considerada a “menina dos olhos” do projeto do Sesc 24 de Maio, a piscina tem 500 m² e capacidade para atender 400 pessoas simultaneamente. Assim, os pilares fornecem a sustentação dessa grande carga, além de criarem amplos espaços vazios nos outros andares que garantem iluminação e ventilação.


Corte

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Imagem: Destaque para os pilares percorrendo todo o edifício.


Planta do primeiro subsolo

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Imagem: Destaque para os 4 pilares centrais.


Planta do décimo primeiro pavimento

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Imagem: Destaque para os quatro pilares centrais.



No prédio anexo estão todas as instalações auxiliares de serviço e máquinas, depósitos, banheiros, instalações para os funcionários e outros.


Edifício principal e torre de serviços

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Atendendo às exigências de segurança previstas no Código de Obras, todos esses andares são interligados por um conjunto de rampas. Tal sistema de circulação vertical surgiu da intenção do arquiteto de fazer com que os visitantes tivessem a sensação de caminhar pelas ruas de São Paulo. Elas interligam desde o térreo até a piscina, na cobertura.

A cortina de vidro desenhada nas fachadas garante essa sensação à medida que o movimento da cidade pode ser visto enquanto o visitante se desloca pelos andares.


Conjunto de rampas

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Fonte: http://www.nelsonkon.com.br/sesc-24-de-maio/


Corte

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Imagem: Destaque para o conjunto de rampas.



ESPACIALIDADE

A espacialidade abrange o movimento e o conceito de espaço, incorporando a dinâmica de interação do deslocamento dos corpos e pela sua acomodação no espaço que estão ocupando.

Nesse contexto, o projeto de Paulo Mendes conta com um conjunto de rampas que percorre, sucessivamente, o prédio inteiro. Dessa forma, ao se deslocar pelo local, tem-se a sensação de estar andando por uma rua. “É como se você descesse a rua Augusta.” comenta o arquiteto. É feito um circuito claro, fluído e constante, transformando o espaço público em instigante e lúdico, gerando a sensação de um passeio/caminhar descontraído.

"Descer da piscina até o térreo é como descer a rua Augusta." - Paulo Mendes da Rocha

«Um presente para a cidade. Galeria da Arquitetura. Entrevista com Paul.».


Deslocamento pelo conjunto de rampas

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Além disso, o térreo do prédio é aberto, como uma extensão da rua, o que o confere a característica de uma ampla “praça” interligada com o seu entorno que permite a movimentação e a convivência constantes de pessoas. A área aberta para a via pública lembra as várias galerias existentes nas vizinhanças, ruas internas, repletas de estabelecimentos comerciais.


Interação com a rua pelo térreo

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A estrutura nova do prédio, apoiada em 4 pilares, cria uma planta livre que proporciona a fácil variação de programas e libera a circulação do usuário. Amplos espaços vazios, somados aos mobiliários de ferro - cadeiras, bancos, mesas triangulares que se associam em diferentes formas e tamanhos - permitem que o movimento dos corpos aconteça, permitem que as pessoas usem o espaço e o interpretem de diferentes maneiras.

Mobiliários e polivalência

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Mobiliários e polivalência

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Diferentes interações com o espaço

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A ilustração demonstra os diferentes tipos de interação que as pessoas podem desenvolver com o espaço do Sesc 24 de maio. Os pedestres na rua mostram-se convidados a conhecer o interior do prédio, as pessoas dançam, conversam, nadam na piscina, estudam… ou seja, criam diversas relações e acomodações e interagem de diferentes maneiras com o espaço.


VOLUMETRIA


Em relação a volumetria, percebe-se que o Sesc 24 de Maio é composto por dois volumes simples conjugados, o principal: um grande paralelepípedo irregular - composto de adições e subtrações próximas a área de escada a partir do sexto andar, dando destaque à uma subtração no décimo primeiro andar devido a área do Jardim da Piscina - e um paralelepípedo regular mais esguio logo ao lado.


Planta quinto pavimento

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Imagem: planta do quinto pavimento com destaque para o volume do paralelepípedo principal ainda completo, composto de 2 volumes simples conjugados: o paralelepípedo maior e o paralelepípedo regular ao lado.


Planta sexto pavimento

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Imagem: planta do sexto pavimento com destaque para a subtração no volume principal próximo a caixa de escada.


Planta décimo primeiro pavimento

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Imagem: planta do décimo primeiro pavimento com destaque para a subtração do volume para o jardim da piscina, além de mais uma subtração ao lado da caixa de escada, comparada com a do sexto pavimento.


Subtração no volume

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Imagem: subtração no volume principal no décimo primeiro andar - Jardim da piscina.


Não sendo um formato incomum ao olhar dos pedestres durante o caminhar na cidade, é perceptível que o volume do Sesc 24 de Maio se insere no contexto das edificações vizinhas. No entanto, ele não deixa de ter seus diferenciais que lhe dão destaque das demais construções existentes ao redor, atraindo a atenção de quem passa devido a outros fatores que o diferenciam do seu contexto, como, por exemplo, a extensa fachada de vidro e além disso, a piscina, que atrai a atenção nas fotos vistas de cima.


Contexto

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Imagem: inserção do volume do Sesc 24 de Maio no contexto, destaque aos 2 volumes associados que compõe a volumetria.

Maquete do Sesc 24 de Maio por Fernando Banz.


Contexto

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Contexto

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Imagens: destacam o contexto do volume do Sesc 24 de Maio, mostrando sua inserção volumétrica harmônica no espaço urbano e ao mesmo tempo seus diferenciais dos edifícios vizinhos, como a divergência no padrão arquitetônico.


RITMO DOS ELEMENTOS


Sendo o ritmo aplicado em módulos que se repetem na construção, é possível observar no Sesc a disposição de janelas de vidro na fachada, sustentadas por uma estrutura de ferro. Esses elementos se repetem por toda a extensão da parte externa do prédio, de modo a atribuir ritmo e permitir o diálogo com o entorno e a entrada de luz em todos os andares.


Fachada

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Imagem: Ritmo das janelas na fachada.


Corte

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Imagem: Ritmo das janelas na fachada.


Fachada

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Imagem: Ritmo das janelas na fachada.


Outro ponto em que pode-se destacar é a disposição das colunas no prédio. Além dos quatro pilares de concreto que atravessam o vazio interno do térreo até a cobertura, outras colunas também são dispostas pelos andares e podem ser observados pela permeabilidade da fachada. A repetição desses elementos construtivos cria um certo ritmo no objeto em análise, além de efeitos estéticos causados pelo movimento e pela relação entre os cheios e vazios.


Corte

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Imagem: disposição dos 4 pilares por todo o edifício e das demais colunas.


Planta

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Imagens: disposição dos 4 pilares por todo o edifício e das demais colunas.



Fachada

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Imagem: repetição de colunas vista pela fachada.


Conectado ao volume principal pelas rampas, o segundo edifício possui um modelo de fachada “interna” transparente. Composta por uma estrutura modular de aço soldado, esse elemento, além de oferecer a sustentação para os vidros da fachada, fornece um ritmo com tal componente estrutural, criando um belo desenho/estampa ao andar pelas rampas do edifício.


RAMPANTE, "dispositivo climático" criado no âmbito da 12ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo especialmente para ser percorrido nas rampas do SESC 24 de Maio.

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Imagem: Ritmo gerado pela estrutura de aço moldado.


Ritmo na vista interna

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Ritmo na vista interna

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CURIOSIDADES


Além de todo o projeto de reforma do edifício, o mobiliário do Sesc 24 de maio foi todo desenhado por Paulo Mendes. Utilizando chapas metálicas curvadas, ele desenvolveu bancos, cadeiras, mesas e poltronas que, pintados com cores vivas, tornaram o local mais agradável visualmente à medida que contrastam com o concreto aparente utilizado na construção.


Mobiliário

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Imagem: contraste das cores vivas do mobiliário com o concreto.


Mobiliário

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Mobiliário

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Imagens: projetos dos mobiliários desenhados por Paulo Mendes.


ficha técnica

  • Nome da obra: SESC 24 de Maio

  • Localização: Esquina da Rua 24 de Maio com Rua Dom José de Barros – Centro – São Paulo

  • Projeto: 2002-2008

  • Obra: 2012-2017

  • Área do terreno: 2.203 m²

  • Área construída total: 29.516 m²

  • Características: Composto por 2 subsolos, térreo e 13 pavimentos no volume principal. 17 pavimentos considerando o edifício da rua Dom José de Barros, anexo ao volume principal.

  • Arquitetura: Paulo Mendes da Rocha + MMBB Arquitetos

  • Padrão arquitetônico: Contemporâneo com algumas características do brutalismo, como o grande uso de concreto aparente.

  • Tipologia: Cultural/Lazer/Esportivo

  • Materiais predominantes: Aço/ Concreto/ Vidro

  • Diferenciais técnicos: Eficiência energética/ Eficiência Térmica/ Acessibilidade

  • Ambientes e Aplicações: Auditórios, escadas externas e rampas, fontes e espelhos d'água, piscinas.

  • Cenotecnia: JC SERRONI - Espaço Cenográfico de São Paulo

  • Construção: Mendes Júnior - SP

  • Consultoria em Conforto Ambiental e Sustentabilidade: Daltrini Granado Arquitetura e Conforto Ambiental

  • Engenharia Estrutural - Estrutura de Concreto: Kurkdjian & Fruchtengarten Engenharia

  • Engenharia Estrutural - Estrutura de Concreto: Sesc - SP - Amilcar João Gay Filho, Humberto Bigaton e Alberto Costa Souza Neto (equipe de engenharia do Sesc)

  • Projeto de Climatização e Ar-condicionado: JMT Projetos

  • Projeto de Controle e Automação: SI2 Soluções Inteligentes Integradas - Supervisão Predial

  • Projeto de Fundação: MAG - SP

  • Projeto de Iluminação: Espaço da Luz - Rosane Haron e Altimar Cypriano

  • Projeto e/ou Consultoria de Acústica: Acústica & Sônica

  • Projeto e/ou Consultoria de Esquadrias: AEC Consultores

  • Projeto e/ou Consultoria de Pisos e Pavimentação: LPE Engenharia e Consultoria

  • Projeto e/ou Consultoria em Impermeabilização: Proassp Assessoria e Projeto

  • Projetos de Instalações Hidráulicas/Elétricas: PHE




Bianca Naimeg, Clara Valadares, Gabriella Sevilha, Júlia Galindo, Manuela Moss



REFERÊNCIAS


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