Reynaldo DIERBERGER

Figura 1: Foto da família Dierberger

Fonte: Acervo particular de Áurea Dierberger

APRESENTAÇÃO e história

REYNALDO DIERBERGER

Reynaldo Dierberger nasceu na Alemanha, em 1899, e apesar de existirem poucos artigos, livros e documentos que contam a sua história, sabe-se que o paisagista é o segundo filho do alemão Johann Dierberger, conhecido como João Dierberger.

Ele e seu irmão mais velho, João Dierberger Jr., iniciaram seus estudos em São Paulo, na Deustschen Schule (Escola Alemã). Ao completarem quinze anos, os irmãos foram encaminhados para estudar na Alemanha; frequentando durante quatro semestres a Höhere Gartenbauanstalt Dresden-Laubegast (Escola Superior de Horticultura em Laubegast, Dresden).

Ao mesmo tempo, atuavam como aprendizes de jardineiro no Palácio de Pillnitz (Dresden). Ambos retornaram em 1919 no primeiro navio italiano após o término da guerra e foram inseridos na firma do pai.

Partindo da pesquisa e produção de espécies, Reynaldo Dierberger passou a elaborar projetos para os mais diversos clientes da alta sociedade paulistana e do poder público. Os projetos dos Dierberger, pai e filho, caracterizam-se por explorar todas as nuances da arquitetura paisagística da época, ora elaborando projetos romântico - paisagísticos, como os da residência de Antônio Prado Júnior, na Avenida Higienópolis dotados de amplos gramados, que emolduravam a fachada principal dos palacetes ou os jardins da família Nagib Salem na Avenida Higienópolis em estilo "romântico".

Figura 2: Lago do Palacete Veridiana da Silva Prado (esposa de Antônio Prado Junior)

Fonte: Acervo do Iate Clube Santos, SP

Figura 3: Jardim da residência de Nagib Salem

Fonte: Acervo do livro "Arte e Jardim”

Figura 4: Planta e imagens do jardim do palacete de Nagib Salem

Fonte: Acervo do livro “Arte e Jardim”

Os Dierberger são os nomes que mais se destacam na cidade e no estado de São Paulo, com um número expressivo de projetos, tendo como clientes as principais famílias da época, que solicitavam os serviços da firma de sua propriedade Dierberger & Cia. João Dierberger recebeu o apoio da mais importante mecenas paulistana do último quartel do século XIX, Veridiana da Silva Prado, que possuía uma chácara na Rua da Consolação, onde posteriormente seria construída a Praça Roosevelt, e passou a dedicar-se à cultura e à venda de plantas ornamentais (a partir de 1893), atividade que expande em 1895, com a compra e formação de uma chácara própria atrás do Parque Trianon na Avenida Paulista.

A partir de 1920, Reynaldo Dierberger projetou e implementou importantes obras públicas, no estado de São Paulo e para além dele, como a do Museu do Ipiranga, Palácio do Guanabara, Parque do Araxá, parque de Poços de Caldas, Praça Tiradentes em Belo Horizonte e os jardins do campus da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), além de jardins residenciais como o do Conde Crespi, Henrique Villares e outros; sendo um dos principais paisagistas do Brasil do século XX. Segundo ele, a firma de sua família executou, de 1922 a 1925 (o Catálogo ao qual se refere é de 1924-25, intitulado “Arte e Jardim”), 220 jardins, dente eles, a Praça Pública de Rio Claro, a praça da Liberdade de Belo Horizonte e os jardins das Termas de Poços de Caldas, em Minas Gerais. É válido mencionar que o que caracterizou os projetos paisagísticos da firma Dierberger & Cia. foram as variações estilísticas desenvolvidas nos projetos, por meio da sua seção de ajardinamentos.

Figura 5: Projeto dos Jardins do Parque José Affonso Junqueira junto ao Grande Hotel, Thermas e Cassino de Poços de Caldas

Fonte: Acervo de Rubens Caruso Jr., “Memória de Poços de Caldas”

Figura 6: Praça central José Affonso Junqueira

Fonte: Acervo do site “Guia Turístico Poços de Caldas

Figura 7: Jardim do Instituto de Agronomia da UFRRJ

Fonte: Institucional UFRRJ

Figura 8: Jardim do Prédio Principal da UFRRJ

Fonte: Institucional UFRRJ

Reynaldo Dierberger, em 1940, criou uma firma especializada em Arquitetura Paisagística: a “Dierberger Arquitectura Paisagística Ltda”, na cidade de São Paulo, em sociedade com A. Cabral e Tolstoi Torrano, para o qual cedeu quotas de capital. Tendo como escopo o ajardinamento em geral e produção de plantas ornamentais”.

Figura 9: Capa e contracapa do Catálogo Geral da firma Dierberger Arquitectura Paisagística Ltda

Fonte: Arquivo da família Dierberger

A Dierberger Arquitectura Paisagística Ltda. foi fechada em 1947. O único catálogo encontrado no arquivo da família referente à firma de Reynaldo Dierberger tem o mesmo nome da empresa, Dierberger Arquitectura Paisagística (figura 9), que se localizava na rua Iguatemi, nº 1655. O catálogo não contém o ano de publicação e apresenta alguns projetos que já constavam no livro “Arte e Jardim”, de autoria do próprio paisagista, e outros não divulgados, como o projeto para a Universidade Nacional de Agronomia (atual Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), e fotos dos jardins implantados na Ilha de Brocoió (Rio de Janeiro).

Segundo a filha de Reynaldo Dierberger, Áurea Dierberger, a partir da década de 1950 seu pai passou a desenvolver projetos “apenas para conhecidos que lhe solicitavam projetos”. Após o encerramento de sua empresa, tudo indica que o paisagista cessou a elaboração de projetos, pois as demais firmas fundadas por seu irmão mais velho, João Dierberger Jr., tinham como escopo a produção de plantas frutíferas e industriais, produção de sementes e artigos para a lavoura. O arquiteto paisagista faleceu em 1977, não se sabe a causa, mas suas obras serão lembradas como verdadeiros exemplares de arte e arquitetura.

PROJETOS

1885

Jardim Residencial de Veridiana da Silva Prado, São Paulo – SP

1920

Palácio do Guanabara, Rio de Janeiro – RJ

1920

Praça da Liberdade, Belo Horizonte – MG

1920

Praça Tiradentes, Belo Horizonte – MG

1922

Praça Pública de Rio Claro, Rio Claro – SP

1922

Jardim do Museu do Ipiranga, São Paulo – SP

1923

Jardins das Termas, Poços de Caldas – MG

1923

Jardim Residencial de Nagib Salem, São Paulo – SP

1924

Praça Getúlio Vargas, Poços de Caldas – MG

1927

Parque do Araxá, Araxá - MG

1929

Parque da Fonte dos Amores, Poços de Caldas – MG

1929

Parque de Poços de Caldas, Poços de Caldas – MG

1929

Jardim Residencial do Conde Crespi, São Paulo – SP

1939

Jardim Residencial de Henrique Villares, São Paulo – SP

1939

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Seropédica - RJ

PRÊMIOS

1908

Grande Medalha de Ouro - Exposição Nacional

1922

Grande 1º Premio e Medalha de Ouro na Exposição do Centenário

Análise das obras

JARDIM PALÁCIO DO IPIRANGA

Figura 10: Reforma do Museu do Ipiranga

Fonte: Site Visual Hunt

Ficha técnica:

Endereço: Avenida Nazaré, Ipiranga, SP - São Paulo, Brasil

Proprietário: Governo do Estado de São Paulo

Área: 161.300 m²

Período de construção (jardim): 1989 - 1995

Paisagismo: Arsenio Puttmans, Reynaldo Dierberger

Construído em 1909, o Parque da Independência é um espaço coletivo que integra as três principais estruturas do complexo, o Museu do Ipiranga, a Casa do Grito e o Monumento. O primeiro com o objetivo de reunir e preservar diversas obras que constituem a História e Arte Brasileira e os demais responsáveis pela afirmação do evento patriótico que compõe a cultura material brasileira, expressa através do famoso quadro de Pedro Américo.

Figura 11: Museu do Ipiranga e Jardim

Fonte: Site “Mapa do museu do Ipiranga”

Essa obra começa na verdade no fim dos anos 80, com a construção do Museu do Ipiranga, que contava em sua época com um ajardinamento padronizado pelo Governo Estadual, posteriormente foram adicionados ao complexo do Ipiranga a Casa do Grito e o Monumento da Independência. Neste processo, surgiu a necessidade de se criar um espaço que valorizasse as edificações, e então, em 1907, Carlos Botelho, secretário estadual da Agricultura e Obras Públicas, solicita aos paisagistas Arsênio Puttemans e Reynaldo Dierberger um projeto para o complexo.

Figura 12: Fotografia do Edifício Monumento - 1892

Fonte: Site do Museu do Ipiranga

Dentre as características mais marcantes do projeto original, e o que o diferencia das demais praças é a sua divisão geométrica, inspirado nos jardins neoclássicos franceses como o Palácio de Versalhes. Nessa forma de organização, além do uso expressivo de formas geométricas e simétricas, é possível ver a intenção do projeto em dar destaque ao museu, uma vez que, tanto os exemplares botânicos quanto as vias estão dispostos de maneira linear em direção ao edifício principal, neste caso o Museu do Ipiranga. Nota-se também que as espécies escolhidas para o projeto eram menos chamativas, como forma de exaltar mais o patrimônio. Ainda que monumental na época em que foi inaugurado, o Parque passaria ainda por futuras intervenções que destacassem mais o Museu.

Figura 13: Museu do Ipiranga e Jardim

Fonte: Site do Museu do Ipiranga

Dentre essas mudanças, que são muitas, as principais quanto a organização do espaço foram a divisão do Parque em setores, de acordo com a imagem abaixo, sendo um bosque na esquerda, ligando o Museu de Zoologia (A) com o Museu do Ipiranga (C), porém deixando-os separados o suficiente para distinguir que o primeiro não faz parte do complexo. O Museu do Ipiranga fica na região central junto com o jardim agora rebaixado para destacar a vista e escala do Museu, é nessa área onde se encontram hoje os jatos d’água e fontes. Mais à direita encontramos a Casa do Grito (E) e depois o Monumento e o Riacho do Ipiranga, que compõem a cena da pintura de Américo. Ressalta-se que durante todo esse trajeto são encontrados diversos exemplares de fauna e flora, entre o primeiro grupo, borboletas, preguiças-de-três-dedos e saguis, entre as espécies botânicas há bambus chineses, cedro e perobas.

Figura 14: Mapa do Parque da Independência

Fonte: Site Research Gate

Figura 15: Ampliação do Parque Independência

Fonte: Acervo da Prefeitura de São Paulo

Em relação as intervenções físicas do espaço, o jardim foi rebaixado alguns metros para que a vista do museu por meio das avenidas fosse privilegiada. É neste momento que são instaladas a fonte e os jatos d’água do jardim. Nesse período, outros elementos, como estátuas, foram adicionados ao entorno para fortalecer a imagem do período imperial.

Figura 16: Reforma do Museu do Ipiranga

Fonte: Site Visual Hunt

Figura 17: Reforma do Museu do Ipiranga

Fonte: Site Visual Hunt

JARDIM DA PRAÇA DA LIBERDADE

Figura 18: Vista para o chafariz da praça

Fonte: Site Conheça Minas

Ficha Técnica:

Local: Bairro Funcionários, Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil

Início do projeto: 1920

Entrega da obra: 1920

Tipo de obra: Paisagismo

Área do terreno: 30.000m²

A Praça da Liberdade, inaugurada em 1898, com um projeto inicial do paisagista Paul Villon. Contava com diversos prédios administrativos do estado e do poder público, sendo os principais prédios o Palácio da Liberdade e as secretarias.

Em 1920, houve um evento canônico para a história de Belo Horizonte, a chegada dos reis da Bélgica, que movimentou diversas construções e aprimoramentos de infraestrutura na cidade. Motivado por tal questão, Reynaldo Dierberger ficou encarregado de planejar um projeto paisagístico que durasse apenas 3 meses até que fosse entregue.

Figura 19: “Praça da Liberdade”. Catálogo de 1927-28 da firma Dierberger & Cia

Fonte: Acervo particular Família Dierberger

Figura 20: Planta - Praça da Liberdade

Fonte: Inhotim Escola / MACh Arquitetos. Site ArchDaily Brasil

Figura 21: “Vistas parciais da Praça da Liberdade”, Belo Horizonte (MG). Catálogo de 1927-28 da firma Dierberger & Cia

Fonte: Acervo particular Família Dierberger

Figura 22: “Vistas parciais da Praça da Liberdade”, Belo Horizonte (MG). Catálogo de 1927-28 da firma Dierberger & Cia

Fonte: Acervo particular Família Dierberger

Após a reforma de 1920, o jardim da Praça da Liberdade nunca deixou de ser um ponto turístico da cidade e sempre oferece atrações culturais todos os anos. Os edifícios que antes abrigavam sedes administrativas, em 2010 foram destinados a iniciativas de cultura, conhecimento e entretenimento.

As imagens acima demonstram como foram conservadas as alterações paisagísticas de Dierberger e a maneira como dispôs as vegetações e paisagem, impuseram uma identidade visual fortíssima para o contexto da cidade de Belo Horizonte.

Entre as espécies encontradas nos jardins, destacam-se as palmeiras, os flamboyants, as azaleias, as buganvílias e as bromélias. A praça conta com um espaço público amplo e muitas oportunidades de lazer. O seu coreto é palco de diversos eventos e os arredores dele permitem caminhadas, shows, passeios de bicicleta, piqueniques, entre outras atividades.

ESCRITO POR

ANNA GUIMARÃES

ARTHUR MARTINS

MAÍSA IMÁFILOS

YURI TAVARES

REFERÊNCIAS

SUPER USER. História. Circuito Liberdade. Disponível em: <http://www.circuitoliberdade.mg.gov.br/pt-br/circuito-liberdade-br/historia>. Acesso em: 17 Outubro 2023.

PRACADALIBERDADE. Os jardins da Praça da Liberdade: Projeto paisagístico e flora! Praça da Liberdade em Belo Horizonte - Acesse o site da Praça da Liberdade! Disponível em: <https://www.pracadaliberdade.com/os-jardins-da-praca-da-liberdade-projeto-paisagistico-e-flora/>. Acesso em: 17 Outubro 2023.

MÉDIO, Ensino; PROFISSIONAL, Educação; TÉCNICO, Curso; et al. Escola Estadual de Educação Profissional -EEEP História do Paisagismo. [s.l.: s.n., s.d.]. Disponível em: <https://www.seduc.ce.gov.br/wp-content/uploads/sites/37/2011/10/paisagismo_historia_do_paisagismo.pdf>. Acesso em: 17 Outubro 2023.

‌História – Dierberger. Dierberger.com.br. Disponível em: <https://www.dierberger.com.br/historia/>. Acesso em: 17 Outubro 2023.

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Dia da Independência: Veja 7 curiosidades sobre o Museu do Ipiranga. TV Cultura. Disponível em: <https://cultura.uol.com.br/noticias/12564_dia-da-independencia-veja-curiosidades-sobre-o-museu-do-ipiranga.html>. Acesso em: 17 Outubro 2023.

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RUBENS CARUSO JR. Os Jardins de Dierberger. Memoriadepocos.com.br. Disponível em: <http://www.memoriadepocos.com.br/2014/02/os-jardins-de-dierberger.html>. Acesso em: 17 Outubro 2023.

Praça Central - José Affonso Junqueira - Guia Turístico Poços de Caldas, City tour para excursões. Guia Turístico Poços de Caldas, City tour para excursões. Disponível em: <https://pocosdecaldas.oguiaturistico.net/praca-central/>. Acesso em: 17 Outubro 2023.

UFRRJ, COTIC. UFRRJ. Ufrrj.br. Disponível em: <https://institucional.ufrrj.br/parquesejardins/historico/>. Acesso em: 17 Outubro 2023.

Inhotim Escola / MACh Arquitetos. ArchDaily Brasil. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-113988/inhotim-escola-slash-mach-arquitetos>. Acesso em: 17 Outubro 2023.