Román Fresnedo Siri
- ACR 113
- 8 de jul.
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Atualizado: 9 de jul.
Um dos mais notáveis arquitetos uruguaios do século XX, cuja obra marcou profundamente o desenvolvimento da arquitetura moderna na América Latina.

Román Fresnedo Siri Nasceu em 4 de fevereiro de 1903, na cidade de Salto, Uruguai, Siri desenvolveu sua formação acadêmica na Faculdade de Arquitetura da Universidad de la República, em Montevidéu, concluindo o curso em 1928. Desde o início de sua carreira, demonstrou grande interesse por integrar as dimensões social, técnica e estética da arquitetura, o que o colocou entre os principais representantes do modernismo regional no continente.
Sua atuação profissional esteve fortemente ancorada em uma visão sistêmica e humanista do projeto arquitetônico. Seu estilo apresenta influências do funcionalismo europeu — em especial da escola racionalista —, mas incorpora uma leitura sensível do contexto latino-americano, adaptando os princípios do modernismo às especificidades culturais, climáticas e urbanas da região.
Entre os principais marcos de sua produção, destacam-se obras institucionais e hospitalares que demonstram sua capacidade de combinar eficiência funcional com qualidade espacial. Siri compreendia o edifício como parte de um sistema urbano mais amplo e propunha intervenções que se articulavam com o entorno. Um dos exemplos emblemáticos de sua obra é o Hospital de Punta del Este, ou Sanatorio Americano, cuja concepção reflete uma clara preocupação com a ventilação natural, a iluminação adequada e a circulação funcional — elementos essenciais para o conforto ambiental e para o bom funcionamento de unidades de saúde. Além disso, a monumentalidade do projeto evidencia sua aposta em uma arquitetura pública que afirma a presença do Estado e valoriza os espaços coletivos.
O arquiteto também foi responsável por projetos habitacionais e urbanos de grande impacto, defendendo o papel da arquitetura na transformação social. Sua atuação em concursos internacionais e sua constante atualização frente aos debates arquitetônicos internacionais fizeram dele uma referência na consolidação de uma arquitetura moderna com identidade própria na América Latina. Notadamente, Fresnedo Siri foi também um educador influente, formando diversas gerações de arquitetos.
Román Fresnedo Siri faleceu em 26 de junho de 1975, em Montevidéu. Seu legado permanece vivo não apenas nas edificações que projetou, mas também na formação do pensamento arquitetônico latino-americano, ao pensar numa arquitetura funcional e ambientalmente consciente.
Ao longo de sua trajetória, participou de concursos internacionais, lecionou e colaborou com diversos profissionais de prestígio, consolidando uma carreira que combinou o compromisso social da arquitetura com a busca por uma linguagem moderna própria. Seu trabalho revela um equilíbrio notável entre inovação construtiva, clareza formal e preocupação com o bem-estar dos usuários, tornando-o uma figura de referência na história da arquitetura moderna latino-americana.
Manteve intercâmbio e diálogo com arquitetos latino-americanos e europeus modernos, sobretudo no meio acadêmico e em concursos, destacando a atuação próxima de nomes como Mauricio Cravotto e Leopoldo Artucio no Uruguai, além do contato institucional com equipes técnicas internacionais.
Lista com todas Obras Registradas/Encontradas:
1938 - Tribuna Folle Ylla, Hipódromo de Maroñas, Montevidéu
1943 - Palacio de la Luz, Sede da UTE, Montevidéu

1945 - Local Tribuna, Hipódromo De Maroñas, Montevidéu
1946 - Sanatorio Americano, Parque Batlle, Montevidéu

1946 - Casas Gemelas, Avenida Ing. Luis Ponce, Montevidéu
1947 - Faculdade de Arquitetura da Universidad de la República, Montevidéu
1950 - Conjunto Habitacional Cerro Sur, Montevidéu
1952 - Urbanização do Balneário Lagomar, Canelones
1952 - Edifício Esplanada, Porto Alegre, RS
1959 - Hipódromo do Cristal, Porto Alegre, RS
1965 - Sede da Organização Pan-Americana da Saúde, Washington, DC

1967 - Monumento a Luis Batlle Berres, Montevidéu
1971 - Sede da Organização Pan-Americana da Saúde, Brasília, DF
Lista dos prêmios de Roman
Prêmio MOMA de Design Orgânico (1941)
Medalha de Ouro no VI Congresso Pan-Americano de Arquitetura, Lima (1948)
Primeiro lugar no concurso para a sede da PAHO, Washington, D.C. (1961)
Design de mobiliário premiado no MoMA (1941)
Esses prêmios representam os reconhecimentos mais documentados e significativos de sua carreira. Embora possam existir outros prêmios e distinções menos divulgados, esses são os principais que evidenciam sua atuação no campo da arquitetura.
Obras Escolhidas para Análise Detalhada
1. Hipódromo do Cristal
Localização: Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Ano do Projeto: 1951
Ano de Inauguração: 1959
Encomenda: Jockey Club do Rio Grande do Sul
Tipologia: Equipamento esportivo / Hipódromo
Estilo Arquitetônico: Modernismo latino-americano
Área construída: Aproximadamente 18.000 m²
Materiais predominantes: Concreto armado, vidro e aço
Suas construções foram tombadas como patrimônio histórico.
Projetado por Román Fresnedo Siri após vencer um concurso em 1951, o Hipódromo do Cristal, localizado em Porto Alegre. A proposta de Siri se destacou pela articulação entre funcionalidade, racionalidade estrutural e expressão formal, características centrais da arquitetura moderna latino-americana.
A proposta de Siri se destacou também por buscar a harmonia entre forma arquitetônica e paisagem natural. A implantação do conjunto valoriza o entorno natural, integrando a edificação à paisagem através do uso da topografia local e do alinhamento solar. Essa abordagem confere ao projeto uma dimensão paisagística essencial para a experiência dos usuários e o uso coletivo.
O Hipódromo do Cristal foi concebido para ser um equipamento urbano de grande porte em uma área estratégica da cidade de Porto Alegre, próxima ao Lago Guaíba e com fácil acesso por vias expressas. À época de sua construção, a zona sul da cidade passava por um processo de expansão urbana, e o hipódromo foi visto como um marco de modernidade e dinamismo para a região. Hoje, o complexo encontra-se parcialmente preservado, tendo sofrido diversas intervenções ao longo das décadas. Seu uso principal permanece ligado às corridas de cavalos, mas parte das estruturas encontra-se desativada ou descaracterizada. Em 2012, foi tombado como patrimônio histórico e cultural do município de Porto Alegre, reconhecendo seu valor arquitetônico e técnico.

Projetado como uma "obra total", no sentido em que Siri imaginava não apenas um local para as corridas de cavalo, mas um complexo urbano completo, com equipamentos sociais e infraestrutura permanente. Essa concepção abrange desde os pavilhões esportivos até a vila hípica, com o objetivo de organizar, em um mesmo espaço, diferentes funções urbanas como esporte, serviços e habitação vinculada à atividade do hipódromo. O conjunto arquitetônico foi projetado em faixas longitudinais, com destaque para as arquibancadas cobertas por marquises em balanço de até 26 metros, sustentadas por uma única linha de pilares centrais e tirantes metálicos. Essa solução estrutural inovadora confere leveza visual e cria uma notável fluidez espacial. A fachada envidraçada reforça a transparência e estabelece uma relação direta com a paisagem, especialmente com o Rio Guaíba.
Além das tribunas, o complexo é composto por seis pavilhões, bilheterias, padoque, cavalariças, serviços veterinários e áreas de estacionamento. A vila hípica projetada por Siri previa espaço para 1.500 cavalos e incluía infraestrutura completa para os profissionais envolvidos, como escola, mercado e clube social.
Embora nem todos os setores tenham sido executados conforme o plano original, o hipódromo permanece como um marco do modernismo no sul do Brasil, sintetizando com elegância os princípios da arquitetura moderna e sua adaptação à realidade latino-americana.



A organização espacial do Hipódromo do Cristal foi estruturada a partir de um sistema linear, no qual os diferentes setores se distribuem em faixas paralelas à pista de corridas. A faixa mais próxima da pista concentra as tribunas e arquibancadas, com acesso facilitado ao público. Atrás dessas estruturas estão dispostos os blocos administrativos, bilheterias e áreas de serviço.
As funções técnicas e operacionais, como padoques, cavalariças e estruturas veterinárias, foram alocadas em setores mais recuados do lote, com acessos próprios. A vila hípica, prevista para alojar até 1.500 cavalos, foi posicionada de forma a garantir autonomia de funcionamento e circulação independente dos profissionais do setor.
A implantação respeita critérios funcionais claros, com zonas separadas por uso e por tipo de público, e conexões internas estabelecidas por vias e áreas de apoio. O posicionamento dos blocos também se adapta ao relevo do terreno, com aproveitamento de desníveis naturais para facilitar a visibilidade e o escoamento dos fluxos.


Ao analisar a forma dos três edifícios principais, é perceptível que o princípio compositivo segue o mesmo nos três pavilhões, como uma formação repetida com pequenas adaptações de função e dimensões dependendo do seu uso. Dessas formas existem quatro elementos básicos, uma sequência vertical central, (na fachada é representada com placas revestidas por pastilhas) as arquibancadas inclinadas, a caixa de vidro e a cobertura.
A cobertura das tribunas apresenta um balanço estrutural expressivo, com grandes vãos livres alcançados por meio de tirantes metálicos e uma linha central de pilares. Essa solução elimina interferências visuais e evidencia o conhecimento técnico da equipe projetista.
As colunas são também o ponto de apoio da cobertura em balanço, essas placas servem também de divisória entre o setor fechado, de vidro, e o setor aberto, arquibancadas.

A fachada do Hipódromo do Cristal é organizada a partir de uma lógica compositiva que expressa os princípios da arquitetura moderna, especialmente no uso da estrutura como elemento definidor da forma. A disposição dos elementos segue uma sequência racional: placas verticais estruturais, arquibancadas inclinadas, caixa envidraçada e cobertura em balanço.
As placas verticais, revestidas com pastilhas cerâmicas, abrigam os pilares que sustentam a cobertura e servem como divisores entre os setores abertos (arquibancadas) e fechados (salas envidraçadas). Essa organização contribui para uma leitura clara da função de cada parte do edifício.
O uso do vidro na fachada frontal permite a comunicação visual entre o interior e a paisagem externa, reforçando a transparência espacial. A cobertura em balanço, que se projeta sem apoios frontais visíveis, é sustentada por tirantes metálicos ligados à estrutura central. Esse recurso evita a interferência na visibilidade do público e atende a exigências funcionais da tipologia.
A repetição desse arranjo em diferentes pavilhões do conjunto demonstra o uso da modularidade como estratégia projetual — uma característica recorrente na arquitetura moderna, voltada à racionalização da construção e à padronização de soluções formais e técnicas.

O pavimento térreo da tribuna especial funciona como área de acesso e distribuição inicial do público. Nele, estão localizados os halls de entrada, as bilheterias e os espaços de circulação que conduzem às arquibancadas e setores superiores. A disposição é linear, acompanhando o partido em faixas longitudinais do conjunto. O acesso se dá através de pilotis, permitindo a entrada livre sob o volume principal. Há também compartimentos técnicos e de apoio situados nas extremidades.


O segundo nível abriga funções operacionais e técnicas do complexo. Nesse andar, são distribuídas salas administrativas, espaços de serviço e os primeiros setores de apoio às atividades do hipódromo. Também estão presentes sanitários e áreas de circulação vertical. Parte do pavimento é recortado para abrigar um mezanino, que complementa o ambiente com vista para os espaços inferiores. Este nível já apresenta as primeiras variações volumétricas internas, articulando áreas de permanência e circulação.

O terceiro pavimento funciona parcialmente como mezanino do segundo andar, reforçando a integração entre os dois níveis. Aqui, encontram-se salas de observação e áreas destinadas a funções administrativas e de imprensa, voltadas para a pista. Esse nível mantém o alinhamento estrutural do eixo central e amplia as vistas por meio de painéis envidraçados. O acesso é feito por escadas internas laterais. Há também sanitários e corredores de ligação entre os ambientes.

O quarto nível abriga setores reservados, com compartimentos internos voltados ao apoio institucional. Este pavimento mantém a lógica de distribuição longitudinal, com ambientes voltados para a pista e circulação lateral. Há espaços fechados que podem ser utilizados por dirigentes, locutores e convidados com acesso restrito. As salas são protegidas por uma caixa de vidro contínua que reforça o controle visual da pista sem comprometer a vedação. Também estão presentes sanitários e áreas técnicas.


O quinto pavimento da tribuna especial abriga o belvedere, localizado no ponto mais alto do bloco principal. Trata-se de um espaço fechado por vidro contínuo, com pé-direito elevado e ampla abertura visual voltada para a pista de corridas e para a paisagem natural do entorno, em especial o Rio Guaíba. A configuração do espaço busca integrar visualmente o interior do edifício com a paisagem, oferecendo transparência e continuidade espacial.
Esse pavimento era destinado a autoridades e convidados especiais durante os eventos, funcionando como área de recepção restrita e mirante elevado. O ambiente interno é organizado com salas de estar, recepção e sanitários, distribuídos ao redor de um hall central. A concepção do belvedere prioriza a visibilidade desobstruída e o fechamento leve, reforçando a relação entre o espaço construído e o contexto natural. Sua função e forma expressam a lógica compositiva do projeto, que articula hierarquia de usos, racionalidade estrutural e abertura visual.

O corte transversal da Tribuna Especial revela a estrutura em faixas horizontais do edifício, destacando a relação entre os setores fechados (caixa de vidro) e abertos (arquibancadas), além da disposição vertical dos cinco pavimentos. É possível observar com clareza a cobertura em balanço de até 26 metros, sustentada por uma única linha de pilares centrais, tensionada por tirantes metálicos. Essa solução estrutural elimina a necessidade de apoios frontais, liberando o campo visual do público.
O corte mostra a inclinação das arquibancadas voltadas para a pista, o recuo dos ambientes envidraçados em relação à linha de apoio, e a setorização funcional por pavimentos — com áreas técnicas e administrativas nos níveis intermediários e o belvedere no último andar. O conjunto evidencia a lógica estrutural modular e a racionalidade espacial do projeto.
O Hipódromo do Cristal, ao longo das décadas, tornou-se não apenas um espaço de eventos esportivos, mas também um símbolo da arquitetura moderna no Brasil. Sua construção coincidiu com a fase de abertura da cidade de Porto Alegre à urbanização moderna, sendo um marco de inovação técnica e cultural. A preservação parcial do conjunto, mesmo diante das alterações sofridas, ressalta sua importância como patrimônio urbano e arquitetônico.
2. Edifício Esplanada
Local: Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Ano do Projeto:1952
Ano de Inauguração: 1957
Encomenda: Irmãos Lochpe
Tipologia: Edifício Residencial Multifamiliar Vertical com Uso Misto
Estilo Arquitetônico: Modernismo latino-americano
Área construída: Entre 22.000 e 25.000m²
Projetado por Román Fresnedo Siri em 1952, o Edifício Esplanada constitui uma das principais referências da arquitetura residencial moderna no sul do Brasil. O Edifício Esplanada está situado em uma região próxima ao centro de Porto Alegre, em um bairro predominantemente residencial de classe média alta, o bairro Independência. Seu entorno é caracterizado por ruas arborizadas e conta com praças e áreas verdes.
Nas proximidades, estão importantes instituições como o Hospital Moinhos de Vento e a UFRGS, reforçando o caráter misto da região, que combina funções residenciais, educacionais e culturais, mantendo sua relevância na paisagem de Porto Alegre.

A composição é marcada por quatro blocos residenciais de 15 andares, cada um com dois apartamentos por pavimento, totalizando 126 unidades. A proposta enfatiza a racionalidade funcional e a valorização do espaço coletivo — característica expressa na presença de salões de festas nas coberturas, áreas de lazer e comércio no térreo, além da integração entre pilotis e passeio público. Essa relação espacial entre base, corpo e coroamento denota uma clara leitura moderna do edifício como organismo urbano.

Entre os principais elementos compositivos, destacam-se a colunata revestida com pastilhas verdes, que contorna a base do edifício, e as grelhas de sacadas sobrepostas às fachadas — responsáveis por proporcionar controle solar, ritmo visual e leveza volumétrica. A linguagem plástica é complementada por jogos de volumes e transparências, empregando recursos como fachadas envidraçadas e planos recuados, que remetem ao vocabulário do modernismo europeu.
A combinação entre soluções técnicas e sensibilidade estética faz do Edifício Esplanada não apenas um marco construtivo, mas também uma obra paradigmática na modernização do habitat urbano.

O edifício é constituído por quatro blocos independentes, erguidos em etapas sucessivas. Mesmo com essa construção faseada, o conjunto se destaca pela unidade formal e funcional. No total, os blocos ocupam uma área de 20 mil metros quadrados e reúnem 126 apartamentos distribuídos ao longo de 15 andares. A cobertura e o subsolo cumprem o papel de interligar os blocos entre si. Cada pavimento possui, em média, 1.500 metros quadrados de área.

A fachada principal do Edifício Esplanada é marcada pela repetição de elementos salientes que configuram uma identidade visual própria. As projeções dos balcões, com formas retilíneas organizadas em padrões regulares, compõem uma fachada ritmada que contribui para a leitura vertical da construção. O uso de cores em faixas verticais, como o verde nas colunas revestidas, reforça essa composição e colabora para a unidade visual dos quatro blocos. A solução demonstra o equilíbrio entre expressividade plástica e racionalidade formal.
O volume do edifício é caracterizado por uma grande massa prismática vertical, de proporções esguias e monumentais, que se impõe no contexto urbano de Porto Alegre. Apesar de ser composto por quatro blocos independentes, o conjunto adquire uma aparência unificada, na qual as subdivisões se tornam quase imperceptíveis à distância.
O resultado dessa composição — que associa o grande porte da construção ao ritmo repetitivo das projeções — é uma imagem de escala monumental, mas que, ainda assim, mantém certa delicadeza e harmonia com o entorno imediato, como se observa na fotografia que evidencia sua inserção na quadra. Por fim, a construção se eleva sobre pilotis, solução típica da arquitetura moderna, que libera o térreo e reforça a ideia de leveza do volume principal.

A grelha estrutural do Edifício Esplanada, projetado em 1952 em Porto Alegre, é um elemento bem marcante do estilo moderno. A estrutura é composta por pilares, com espaçamentos entre eles que variam de 3,50 metros a 3,85 metros. Essas distâncias definem também a grelha presente na fachada externa do edifício. Na direção horizontal, a grelha é formada por três linhas de pilares, cujos espaçamentos são de 5,35 metros e 6,85 metros. Essa organização modular foi essencial para conferir regularidade e racionalidade ao projeto estrutural e à linguagem arquitetônica adotada.

O pavimento térreo do Edifício Esplanada, possui uma base comercial composta por lojas que contam com acessos independentes. O bloco A possui uma loja, que possui um mezanino por estar na parte mais baixa do terreno, é possível o uso duplo desse espaço. O bloco B igualmente possui uma loja, já os blocos C e D têm uma loja cada um. O bloco A diferente dos outros tem a entrada para o subsolo.
O subsolo aproveita o desnível do terreno e tem acesso pela Rua André Puente. Nesse nível, encontra-se o estacionamento do edifício, que também abriga parte estrutural e áreas de apoio do prédio, embora não exista uma vaga por apartamento.
As entradas para os apartamentos estão localizadas entre as lojas no pavimento térreo. Nesses acessos, encontram-se os núcleos verticais compostos por dois elevadores, escada e áreas técnicas como depósitos e sanitários. A presença de elevadores residenciais era ainda uma inovação para o contexto da época, refletindo uma proposta de modernidade no uso habitacional coletivo.

O detalhamento interno se destaca pelo piso em mosaico, por alguns detalhes em mármore e por revestimentos e portas em madeira nobre.
Na planta do térreo, é possível observar a organização dos blocos (A, B, C e D), assim como as circulações e os acessos previstos no projeto executivo original.

Os apartamentos do bloco A possuem a maior variação interna entre os 4 blocos, já que essa esquina é menor. Em linhas gerais, as plantas apresentam espaços amplos nas áreas de estar e nos quartos, permitindo boa ventilação e iluminação natural.
O bloco D, localizado na maior esquina do terreno, possui uma configuração interna diferenciada e não sofre restrições de acomodação, o que proporciona plantas mais regulares. Nesse bloco, assim como nos demais, conta com duas salas de estar espaçosas logo na entrada do apartamento, após um vestíbulo, entrando para a área íntima a planta apresenta três dormitórios, com dois voltados para a fachada principal, sendo um uma suíte, e o terceiro quarto fica para os fundos, também uma suíte, além do quarto para os fundos está distribuído a cozinha, área de serviço e mais dois banheiros. Para concluir, a sala principal e os dois quartos da fachada principal possuem balcões característica marcante da fachada.
Nos blocos B e C, os apartamentos seguem a mesma distribuição: logo após o vestíbulo de entrada, há duas salas de estar espaçosas que se integram ao ambiente de recepção. A planta conta com três dormitórios, dois deles voltados para a fachada principal — sendo um em suíte — e um terceiro quarto, também em suíte, posicionado nos fundos. A área de serviço e a cozinha ficam junto à parte posterior do apartamento, acompanhadas por dois banheiros adicionais. Observa-se ainda que a sala principal e os dois quartos voltados para a frente do edifício contam com generosos balcões, que funcionam como espaços de extensão e convivência.


A maior variação de planta do edifício ocorre nos blocos D e B, que, de forma intercalada com a planta original, apresentam um arranjo modificado que inclui um apartamento adicional por andar. Para acomodar essa nova unidade, os apartamentos já existentes perdem um de seus quartos, embora a distribuição dos demais ambientes seja mantida. Nessa nova configuração, a cozinha e a área de serviço do apartamento passam a ficar voltadas para a fachada, o que proporciona uma iluminação diferenciada nesses espaços em comparação ao layout original.

A cobertura do Edifício Esplanada, construído em 1952 em Porto Alegre, é organizada como uma extensão coletiva dos espaços do edifício, reforçando seu caráter funcional e social. O último andar é dividido em salões de festas amplos, halls de acesso, lavanderias, cozinhas e áreas externas abertas, cobertas por pergolados de concreto, que criam espaços sombreados e bem ventilados. Cada bloco, com exceção do bloco A, possui essas áreas de uso comum de forma independente, evidenciando a autonomia entre os blocos.
Na planta, observa-se a distribuição clara entre os espaços internos — como cozinhas e lavanderias — e os externos, permitindo diferentes usos e atividades. A imagem do salão de festas revela um ambiente simples, porém acolhedor, com revestimento em madeira no piso e mobiliário compatível com a época da construção, reforçando a função social desses espaços.
As colunas revestidas com pastilhas verdes presentes na fachada principal continuam até a cobertura, criando uma unidade visual que remete à estrutura do térreo. Esse detalhe contribui para a leitura do edifício segundo uma lógica clássica de composição arquitetônica: base, corpo e coroamento. Assim, a cobertura funciona não apenas como um espaço técnico ou recreativo, mas como o elemento de fechamento e valorização estética do conjunto.


Ambos os projetos analisados demonstram a capacidade de Román Fresnedo Siri de articular funcionalidade, expressão formal e sensibilidade ao contexto. Seja na escala monumental do Hipódromo do Cristal, seja na densidade residencial do Edifício Esplanada, Siri revela uma arquitetura moderna que responde às condições latino-americanas sem abrir mão da clareza estrutural e do compromisso com o espaço coletivo. As obras revelam uma busca por racionalidade espacial e expressividade construtiva, refletindo um pensamento arquitetônico coerente com os princípios do modernismo, mas adaptado à realidade urbana da América do Sul.
Referências Bibliográficas
Román Fresnedo Siri: Hipódromo do Cristal. Porto Alegre: DOCOMOMO Brasil, 2004. Disponível em: https://docomomobrasil.com/wp-content/uploads/2016/01/107.pdf. Acesso em: 3 jun. 2025.
A arquitetura moderna em Porto Alegre: o Edifício Esplanada de Román Fresnedo Siri (1952–1955). 2007. 170 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, Porto Alegre, 2007. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/14980/000675111.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 3 jun. 2025.
Román Fresnedo Siri: Obras. Montevideo: FADU/UDELAR, [s.d.]. Disponível em: https://www.fadu.edu.uy/fresnedo-siri/obras/. Acesso em: 3 jun. 2025.
Román Fresnedo Siri. Montevideo: FADU/UDELAR, [s.d.]. Disponível em: https://www.fadu.edu.uy/fresnedo-siri/. Acesso em: 3 jun. 2025.
Autores:
Helena Peixoto
Isadora Lopes
Naiely Freitas
Yasmin Corrêa




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