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Rosa Kliass

  • Foto do escritor: ACR 113
    ACR 113
  • 17 de dez. de 2021
  • 8 min de leitura

Atualizado: 27 de dez. de 2021

Rosa Kliass é uma arquiteta formada pela USP em 1955 e considerada dentro da profissão a primeira arquiteta paisagista brasileira (juntamente com Miranda Magnoli, por serem as únicas mulheres a se formarem naquela turma da USP). Ela mesmo disse, em entrevista para o CAU que “Paisagismo no Brasil era somente o [Roberto] Burle Marx (1909-1994), que ficava no Rio”.


Imagem 01: Rosa Kliass


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Nascida em 1932, em São Roque, no interior de São Paulo, ela provavelmente já tinha um contato com a natureza desde pequena, mas foi no último período da faculdade, em 1955, quando ela se matriculou em uma disciplina de paisagismo ministrada por Roberto Coelho Cardoso, junto com a sua amiga Miranda Magnoli, outra referência do paisagismo brasileiro, que se interessou pela paisagem como projeto.

Em 1969 realizou uma viagem para os Estados Unidos, onde entrou em contato com os métodos de planejamento estadunidenses que se destacavam pela apropriação da paisagem local e áreas livres, algo que ela levou para sua defesa de mestrado sobre Evolução dos Parques Urbanos na Cidade de São Paulo em 1989.

Rosa Kliass também ficou conhecida pelos projetos para a Avenida Paulista (1973), a requalificação do Vale do Anhangabaú (1981), ambos em São Paulo, e recentemente, pelas obras do Parque do Forte, no Amapá (2000) e do Mangal das Garças, no Pará (2000).

Em 1976, na criação da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (ABAP), ela se tornou sua primeira presidente. Foi presidente por 05 mandatos entre 1976 e 2002, sendo a última gestão entre 2000 e 2002. Atualmente, a ABAP possui um prêmio dedicado a Arquitetura Paisagística chamado, em sua homenagem, de Prêmio Rosa Kliass. Recebeu em 2018 o prêmio Rino Levi da IABSP pelo conjunto de sua obra em relação ao paisagismo e no ano seguinte, tornou-se a primeira mulher a receber pelo Instituto de Arquitetos do Brasil o Colar de Ouro, o maior prêmio de reconhecimento pela entidade.

Rosa Kliass realizou inúmeros projetos paisagísticos, dos quais podemos destacar os seguintes:



Principais Obras

  • Plano Preliminar Paisagístico de Curitiba – PR (1965)

  • Áreas Verdes Recreação para o Município de São Paulo (1968)

  • Projeto Paisagístico da Avenida Paulista – SP (1973)

  • Estudos de Áreas Verdes e Espaços Abertos da Cidade de Salvador – BA (1976)

  • Parque Halfeld – Juiz de Fora – MG (1979)

  • Parque Mariano Procópio – Juiz de Fora – MG (1979)

  • Reurbanização do Vale do Anhangabaú – SP (1981)

  • Parque do Abaeté – Salvador – BA (1992)

  • Parque de Esculturas – Salvador – BA (1996)

  • Parque da Residência – Belém – PA (1998)

  • Estação das Docas – Belém – PA (1998)

  • Feliz Lusitânia, Forte do Castelo – Belém – PA (1998)

Imagem 02: Feliz Lusitânia

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  • Pátios do Museu de Arte Sacra – Belém – PA (1998)

  • Parque do Forte – Macapá – AP (2000)

  • Parque Mangal das Garças – Belém – PA (2000)

Imagem 03: Parque Mangal das Garças

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  • Plano da Paisagem do Município de São Luís – MA (2003)

  • Parque da Juventude - São Paulo - SP (2003)

Dentre as obras da paisagista, vamos analisar duas de suas principais e mais conhecidas: O Parque da Juventude e o Parque do Anhangabaú, ambas em São Paulo.




Parque da Juventude dom paulo Evaristo Arns


Imagem 04: Projeto do Parque da Juventude

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O Parque da Juventude, em São Paulo, não foi sempre um local que os paulistas gostavam. Antigamente, era onde ficava a Casa de Detenção de São Paulo, popularmente conhecida como Carandiru, marcada por um episódio de extrema violência, o Massacre do Carandiru, que resultou na morte de 111 detentos. Posteriormente, foi realizado em 1999 um concurso pelo Governo de São Paulo para o projeto de um novo parque, o Parque da Juventude Dom Paulo Evaristo Arns, em que Rosa Kliass juntamente ao escritório Aflalo & Gasperini, composto pelos sócios Gian Carlo Gasperini, Luís Felipe Aflalo Herman e Roberto Aflalo Filho participaram e ganharam.

O projeto foi dividido em 3 etapas, a sendo primeira implantada um espaço dedicado ao esporte, a segunda, central voltada à contemplação e usos diversos, e a terceira, institucional, com setor administrativo e biblioteca, voltada a exposições e eventos. Estas áreas foram pensadas a se integrar com o entorno urbano, transitando da área institucional (entorno comercial), para área esportiva (entorno residencial), ligadas por um grande eixo, a Alameda Principal (em formato semelhante a letra Y), que liga as principais entradas do parque e tem papel estruturador no projeto. Este eixo é cortado pelo córrego Carandiru (também conhecido como Carajás).

A primeira etapa foi inaugurada em 2003. Com área de 35 mil m², a área esportiva conta com quadras poliesportivas, pista de skate, com uma área destinada a prática de caminhada e áreas de recreação ao ar livre, tendo seu o bem-estar garantido pelo paisagismo. Somam-se a isso 55 mil m² de área verde, com diversas espécies da flora do brasileira, destaque no projeto da paisagista.

Imagem 05: Parque da Juventude - área esportiva

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A área central, inaugurada em 2004, conta com uma área de mais de 90 mil m² e funciona como uma área de integração entre o indivíduo e o meio ambiente. É cercado por bancos para o descanso dos seus usuários e uma combinação das antigas estruturas dos antigos pavilhões com novos equipamentos.

Imagem 06: Parque da Juventude - área central

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Por fim, a área institucional, inaugurada em 2007, conta com 120 mil m² e representa o conjunto de obras propostos pelo escritório Aflalo & Gasperini. Com fácil acesso pela linha de metrô, está área abrigam duas ETEC (Escola Técnica Estadual). O planejamento previa o reaproveitamento de quatro edifícios, porém apenas dois foram mantidos, os pavilhões quatro (onde se encontram o Centro de Inclusão Digital e o Centro Paula Souza) e sete (onde se encontra o Centro de Cultura). Um novo edifício foi construído para abrigar a Biblioteca de São Paulo.

Imagem 07: Parque da Juventude - área institucional

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Conforme o artigo 6 da Revista LABVERDE, de junho de 2014, a área do parque está inserida na Bacia Hidrográfica do Córrego Carandiru, com área aproximada de 8,14km² de extensão. Seu principal contribuinte é o Córrego Carajás, que atravessa parte do bairro de Santana e corta a área do parque antes de desaguar no rio Tietê. O leito do córrego Carajás encontra-se em grande parte de sua extensão canalizado, correndo a céu aberto, sobre calha de concreto, por aproximadamente 1,5km, no percurso que vai do parque até o rio Tietê. Nesse trecho suas margens contam com uma estreita área ajardinada que faz limite com a via pública onde existem árvores de pequeno e médio porte. O projeto de despoluição “Córrego Limpo” (2007), fruto da parceria entre a Prefeitura Municipal de São Paulo e da Sabesp, atuou na região com bons resultados.

Imagem 08: Parque da Juventude - representação do Córrego Carandiru

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Parque do Anhangabaú

Imagem 09: Projeto Vale do Anhangabaú

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Um dos pontos mais conhecidos de São Paulo é o Vale do Anhangabaú, localizado entre o Viaduto do Santa Ifigênia e o Viaduto do Chá. Separa o chamado Centro Velho do Centro Novo (quando a cidade começou a crescer para o outro lado do Rio Anhangabaú), conecta o centro da cidade com as zonas norte e sul. Seu nome, de origem indígena, significa água do mau espírito, pois segundo os indígenas se tratava de um rio amaldiçoado.

Imagem 10: Congestionamento caótico no Vale do Anhangabaú em 1969/1970.

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Nos anos 1980, a prefeitura realizou um concurso público juntamente com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) para requalificação da área. O propósito era alterar o trânsito de veículos e evitar o grande número de acidentes entre eles e os pedestres no local. O projeto vencedor foi de Jorge Wilhein, arquiteto urbanista, e Rosa Kliass, arquiteta paisagista.

Neste projeto, a solução proposta para reduzir os atropelamentos foi a criação de diferentes níveis para veículos e pedestres. Para implantação do mesmo, realizou-se o afundamento do fluxo de trânsito, empregando uma cobertura sobre as avenidas do local, com os automóveis ficando abaixo e criando na parte superior um grande boulevard verde, com êxito na resolução do problema apontado. Além dos seus canteiros arborizados, destaca-se um eixo central sinuoso que se relacionava com as curvas da Praça Ramos de Azevedo e era calçado por um mosaico português de pedras brancas e vermelhas dispostas de forma geométrica e abstrata.

Imagem 11: Vale do Anhangabaú

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Apesar de sugerir uma área de circulação democrática, na prática, houve muita contestação do projeto no sentido de mobilidade. Os canteiros eram obstáculos para o fluxo das pessoas e davam pouca acessibilidade para quem transitava a pé no local. Devido ao aumento na distância percorrida para realizar o trajeto, os próprios pedestres criaram desvios na praça, o que mais tarde foram calçados pela prefeitura para evitar acidentes. Outro fator negativo era a iluminação, pois as altas árvores do local impediam a passagem de luz e produziam áreas escuras, mesmo com a utilização de iluminação artificial.

Entretanto, o local foi um grande avanço na modernização e no paisagismo da cidade, sendo também um espaço cultural para diversos eventos e apresentações artísticas, como sendo palco da Virada Cultural. Também foi o local onde aconteceu uma das maiores manifestações brasileiras, a Diretas Já, em 1984, com cerca de 1,5 milhões de pessoas.

Está localizado em uma região onde estão situados alguns dos mais importantes edifícios da cidade, como o Edifício Matarazzo, também conhecido como Palácio do Anhagabaú, prédio da prefeitura de São Paulo, o Teatro Municipal, a Escola de Dança de São Paulo e o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo.

Imagem 12: Vale do Anhangabaú 2018

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Com suas obras artísticas, era considerado um cartão postal de São Paulo.

Novo Projeto

Um novo projeto, que eliminou os canteiros foi implantado pela prefeitura recentemente. Proposta pelo escritório Biselli Katchborian Arquitetos, em 2015, as alterações pretendem facilitar a vida dos pedestres em seus deslocamentos. Durante sua trajetória, pequenas aberturas no solo serão capazes de lançar jatos de água. Além das questões estéticas, o alto valor investido (R$ 105,6 milhões, 32% superior ao previsto) e o contrato de concessão receberam críticas pela sociedade. A obra foi entregue em 2021.

Imagem 13: Simulação do Vale do Anhangabaú após a reforma

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Autores


Enzo Daniel

Gabriel Figueiredo

Luiza Gainelli

Matheus de Souza

Paulo Maulais




Referências

Wikipedia. Rosa Grena Kliass. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Rosa_Grena_Kliass> Acesso em 09 de dezembro de 2021.

ArchDaily. Inventando uma profissão: a obra da paisagista Rosa Kliass. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/tag/rosa-kliass> Acesso em 09 de dezembro de 2021.

CAU/BR. São Paulo homenageia Rosa Kliass. Disponível em: < https://www.caubr.gov.br/rosakliass/> Acesso em 09 de dezembro de 2021.

CAU/BR. Rosa Kliass: Pioneira da Arquitetura paisagística no Brasil. Disponível em: < https://www.caubr.gov.br/rosa-kliass-pioneira-da-arquitetura-paisagistica-no-brasil/> Acesso em 09 de dezembro de 2021.

NEVES, Thainá. Rosa Kliass – Biografia e obras. Disponível em: <https://live.apto.vc/rosa-kliass-biografia-e-obras/ > Acesso em 09 de dezembro de 2021.

CALLIARI, Mauro. O Parque da Juventude. Disponível em: < https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/14.162/5213?page=1> Acesso em 09 de dezembro de 2021.

PEREIRA, Matheus. Parque da Juventude: Paisagismo como ressignificador espacial. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/880975/parque-da-juventude-paisagismo-como-ressignificador-espacial > Acesso em 09 de dezembro de 2021.

CABRAL, Marina. Parque da Juventude - Carandiru. Disponível em: < https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/aflalo-gasperini-arquitetos_/parque-da-juventude-carandiru/353 > Acesso em 09 de dezembro de 2021.

COSTA, Giovana. Parque da Juventude: novos recomeços em meio à história e à natureza. Disponível em: < https://live.apto.vc/parque-da-juventude-novos-recomecos-em-meio-a-historia-e-a-natureza/> Acesso em 09 de dezembro de 2021.

HANNES, Evy - Revista LABVERDE n°8 – Artigo n°06. O Parque da Juventude: Inserção Ambiental e Sustentabilidade. Disponível em: < https://live.apto.vc/parque-da-juventude-novos-recomecos-em-meio-a-historia-e-a-natureza/> Acesso em 09 de dezembro de 2021.

Wikipedia. Vale do Anhangabaú. Disponível em: < https://pt.wikipedia.org/wiki/Vale_do_Anhangabaú> Acesso em 09 de dezembro de 2021.

FABRO, Nathalia. 7 curiosidades sobre o Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. Disponível em: < https://revistacasaejardim.globo.com/Curiosidades/noticia/2020/08/7-curiosidades-sobre-o-vale-do-anhangabau-no-centro-de-sao-paulo.html> Acesso em 09 de dezembro de 2021.

ArchDaily. Caminhar pelo Anhangabaú: uma breve história do Vale a partir de quem anda a pé. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/946770/caminhar-pelo-anhangabau-uma-breve-historia-do-vale-a-partir-de-quem-anda-a-pe > Acesso em 09 de dezembro de 2021.

SESCTV (São Paulo). Arquiteturas:Anhangabaú. São Paulo, 3 maio 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xyEu7FKqIoA. Acesso em: 9 dez. 2021.

KLIASS, Rosa. Rosa Kliass: Desenhando paisagens, moldando uma profissão. São Paulo: SENAC, 2006.

 
 
 

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