Ruy Ohtake
- ACR 113
- 16 de dez. de 2021
- 14 min de leitura
Atualizado: 27 de dez. de 2021
“A Arquitetura, eu coloco como uma das manifestações, uma das artes, em que o impossível se torna possível.” - Ruy Ohtake.

Imagem 1: Fotografia do arquiteto Ruy Ohtake
Ruy Ohtake, (São Paulo, 27 de janeiro de 1938 – São Paulo, 27 de novembro de 2021), foi um renomado arquiteto brasileiro, filho de imigrantes japoneses, Tomie Ohtake e Ushio Ohtake. Sua mãe, Tomie Ohtake, foi uma artista plástica muito conhecida, principalmente a partir da década de 1960, como uma figura do abstracionismo nacional, sua carreira e profissão de certo modo influenciou na escolha profissional de seus filhos, tanto de Ruy Ohtake, como de Ricardo Ohtake, pois ambos perseguiram em caminhos artísticos, sendo Ruy Ohtake arquiteto e Ricardo Ohtake designer gráfico. Ohtake, casou-se com a atriz Célia Helena (1997) com qual teve sua primeira filha Elisa Ohtake, também atriz. Seu segundo filho Rodrigo, que segue os passos do pai, foi fruto de um segundo casamento com a arquiteta Sílvia Vaz.
O arquiteto formou-se na FAUUSP, no começo da década de 1960, também ano inaugural de Brasília. Logo após sair da faculdade, Ruy Ohtake se inclinou para o ramo de pesquisas, do qual atuou por meio período, no Centro de Pesquisas de Estudos de Urbanismo da FAUUSP. Durante sua formação, o arquiteto foi contemplado com diversas premiações, tanto entre bienais como em concursos. Umas das premiações que marcaram sua carreira profissional foi a EXPO-70 do Pavilhão do Brasil, ainda que o Ohtake fosse membro da equipe liderada por Paulo Mendes da Rocha, a premiação não deixou de situar sua carreira devido a importância que os arquitetos premiados em concursos recebiam naquela época, uma vez que seus trabalhos eram reconhecidos.
Desde o início, a produção do arquiteto foi marcada por projetos residenciais, em cerca de 35% deles. Em 1965, Ohtake foi premiado no setor de Arquitetura do Salão Paulista de Arte Moderna, com a residência Rosa Okubo, na exposição internacional de Arquitetura da Bienal de São Paulo. No ano de 1969, recebeu mais dois prêmios pela residência Chiyo Hama, na X Mostra Internacional de Arquitetura da Bienal de São Paulo. Em 1971, recebeu pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil, o prêmio Carlos Millan, por um conjunto de projetos, tais quais contavam com a residência José Roberto Filipelli, Júlio Menoncello, Tomie Ohtake e Nadir Zacarias. Ademais, Ohtake recebeu outras premiações, cujo são:
1973: prêmio na I Bienal Internacional de Arquitetura, realizado pela I.A.B., São Paulo, pelo projeto Laboratórios Farmacêuticos da Aché;
1974: Prêmio Anual concedido pela I.A.B, prêmio de Planejamento Regional, projeto “SABESP”;
1975: 1º Lugar – Concurso Nacional realizado por I.A.B, pelo projeto da sede do Governo da cidade de Osasco;
1976: prêmio no 9º Congresso Brasileiro de Arquitetos, realizado por I.A.B, para o projeto do Parque Ecológico Tietê;
1997: 1º Lugar – Concurso realizado pela Prefeitura de São Paulo, Expresso Tiradentes – Rodovia elevada que liga o centro com o bairro do Sacomã;
1998: representou o Brasil na Feira de Design Fiera di Milano e na Saint-Etiènne Design Bienalle;
2001: recebe o prêmio, na 9ª Bienal Internacional de Arquitetura de Buenos Aires, com o Desenho do Instituto Cultural Tomie Ohtake;
2004: design selecionado pelo crítico Paul Goldberger como “uma das sete maravilhas do mundo no início deste século” (para a revista Condè Nast Traveler, abril / 2004), Londres;
2006: comenda “Colar de Ouro”, conferida por I.A.B., durante o 28º Congresso Brasileiro de Arquitetos, Goiânia;
2007: recebe o título do Professor Emérito da Faculdade de Arquitetura de Santos;
2009: recebe o título de Professor Honoris Causa da FMU;
2010: recebe o título de Professor Honoris Causa da Universidade Braz Cubas.
Além de trabalhar com projetos, Ohtake ministrava aulas em algumas instituições de ensino para os cursos de arquitetura, das quais vale destacar a Mackenzie, FAU-Santos, FAAP (Fundação Álvares Penteado) e na IAD (Instituto de Artes e Decoração), das disciplinas que Ruy Ohtake ministrava pode-se ressalvar a de Projeto na FAU-Santos. Também dava aulas de Composição. Ruy Ohtake também projetava mobiliário, em que transcendia seu talento em móveis curvos, vivos e inovadores.
Ohtake presenciou e viveu a nova fase da arquitetura, tendo em vista que a arquitetura brasileira já estava conhecida internacionalmente, tanto que a nova capital, Brasília, aumentava toda essa fama do Brasil. Contudo, o golpe militar de 1964, impediu esse clima de excitação. Durante sua formação acadêmica, o arquiteto foi muito influenciado por seus docentes, haja vista que alguns de fato foram importantes para sua formação e preocupações como cidadão, como é o caso de seu professor Vilanova Artigas, que influenciou e mostrou a Ruy Ohtake a estreita ligação que a arquitetura possui com a cultura e a política, o que levou o futuro arquiteto Ruy Ohtake a se integrar para UJC (União da Juventude Comunista). Além de seu professor Artigas, alguns outros foram importantes para a sua formação, tais como Lourival Gomes Machado e Flávio Motta, e seus colegas Júlio Katinsky e Abrahão Sinovics que também contribuíram para sua qualificação profissional. Ruy Ohtake, concilia influências do novo momento da arquitetura, como o já mencionado Vilanova Artigas, da Escola Brutalista Paulista, e Oscar Niemeyer, integrante da chamada Escola Carioca, como o mesmo relata: “Sempre achei que era preciso acrescentar certos lirismos, um pouco de gesto à chamada arquitetura paulista. Então, desde o início, introduzi em minhas obras esse prazer pelas curvas, essa relação um pouco aberta entre a forma e a estrutura, tanto que já fui chamado de ‘o mais carioca dos arquitetos paulistas’” (Revista Percurso, 2021).
Ruy Ohtake, é conhecido por abusar das formas e curvas em seus projetos, tais características se devem, segundo ele, à inspiração em dois grandes arquitetos: Aleijadinho e Oscar Niemeyer. Ohtake conheceu Niemeyer no Rio de Janeiro, onde se tornaram amigos. Tal amizade se desdobrou em trabalhos profissionais, nos quais um arquiteto indicou o outro para obras na gestão de Jânio Quadros quando de sua administração frente à prefeitura de São Paulo. Essas oportunidades levadas para Ohtake ajudaram o arquiteto a aprender sobre os métodos de trabalho de Niemeyer. Vale ressaltar a segunda oportunidade de trabalho na qual ele foi indicado por Niemeyer na execução de projetos projetos de estádios para a candidatura - não vencida - de Brasília aos jogos olímpicos de 1992. Assim, Niemeyer e Artigas modificaram e influenciaram Ruy Ohtake, tanto na arquitetura como em sua própria vida.
O primeiro projeto que Ohtake realizou foi a garagem para a residência de um dos seus tios, na Aclimação. O arquiteto sempre foi muito envolvido com suas obras, materiais, técnicas, cores, o que gerou nele a necessidade de dominar e executar tais métodos. As materialidades que marcaram a maioria dos projetos do arquiteto são a empena de concreto, a madeira maçaranduba e o cobre. Ruy Ohtake, vive duas fases do movimento arquitetônico.
A primeira delas se caracteriza como uma fusão de suas influências paulistas e cariocas, que ele concretizava em uma arquitetura consistente, com uma estética mais brutalista em junção com a suavidade carioca. Alguns projetos que compreendem esse período são:
Residência Rosa Ohkubo (1964);

Imagem 2: Residência Rosa Ohkubo.
Residência Tomie Ohtake (1970);

Imagem 3: Residência Tomie Ohtake. Fonte: https://arquivo.arq.br/projetos/residencia-tomie-ohtake
Central telefônica de Campos do Jordão (1973);

Imagem 4: Central Telefônica de Campos do Jordão.
Fonte: https://docomomo.org.br/wp-content/uploads/2016/01/MARIA-ALICE-J-BASTOS.pdf
Residência Paulo Chedid (1974);
Agência Butantã (1976);
Paisagismo do Parque Ecológico do Tietê (1976);
Estádio Walmir Campelo Bezerra (1977);
Embaixada do Brasil em Tóquio (1981);
Centro Cultural Antônio Sylvio Cunha Bueno (1982);
Residência Duchamps Villon (1984);
Condomínio portal da cidade (1986),
Hotel Renaissance (1986);
Maison de Mouette (1988).
A segunda se dá pela busca de sua identidade pessoal, tendo em vista que abusa do experimentalismo pós-moderno, de forma que trabalha abertamente entre a forma e a estrutura, alguns projetos estão:
Brasília Shopping (1991);

Imagem 5: Brasília Shopping.
Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/search/bras%C3%ADlia+shopping
Ohtake Cultura (1995);

Imagem 6: Ohtake Cultura.
Fonte: https://catracalivre.com.br/agenda/experiencias-negras-mulheres-debatem-arte-e-cultura-no-tomie-ohtake/
Escritório Berrini (1997);

Imagem 7: Escritório Berrini.
Fonte: https://barzelproperties.com.br/pt/edificio/berrini-500/
Expresso Tiradentes (1997);
Escritório Santa Catarina (1998);
Unique Hotel (1999);
Hotel Alvorada Park (2000);
Royal Tulip Brasília Alvorada (2001);
Joaquim Floriano (2002);
Lagoa 1000 (2003);
FCC (2006);
Edifício Fundação Carlos Chagas (2007);
Conjunto Residencial Heliópolis (2009);
Terminal Sacomã (2010);
Aquário do Pantanal (2015);
Praça das Artes – Antônio Augusto de Moraes Liberato (2017).
HOTEL UNIQUE
Local: Av. Brigadeiro Luís Antônio, 4700 - Jardim Paulista, São Paulo – SP
Início do projeto: 1999
Conclusão da obra: 2002
Área do terreno: 6.454 m²
Área construída: 20.500 m²
Tipologia de uso: Lazer e Turismo
Tipo de obra: Hotel
Projeto de Arquitetura: Ruy Ohtake
Projeto de Interiores: João Armentano
Projeto de Paisagismo: Gilberto Elkis
Projeto Estrutural: Julio Kassoy e Mario Franco – SP
Projeto de Fundação: Portella Alarcon
Localiza-se em uma zona residencial de alto padrão no bairro Jardim Paulista na cidade de São Paulo. A ideia do formato diferenciado do Unique nasceu da proposta de ser um espaço diferente e chamativo em meio a outros prédios da região, possuindo a limitação de construir um hotel com no máximo 25 metros. Assim, o arquiteto precisou imaginar um formato que se destacasse mesmo com uma altura relativamente baixa para um hotel.

Imagem 8: Hotel Unique
Fonte: https://www.telegraph.co.uk/travel/destinations/south-america/brazil/sao-paulo/hotels/hotel-unique/

Imagem 9: Elevação do Hotel Unique
O hotel possui um total de 25m de altura, composto de seis pavimentos além do térreo. A cobertura foi projetada para abrigar um restaurante, o atual Skye Restaurante & Bar, com vista para a cidade de São Paulo. O hotel possui também quatro níveis de subsolo, o primeiro é um centro de eventos e os demais servem de estacionamento e área de infraestrutura.

Imagem 10: Planta do subsolo do Hotel Unique
Fonte: revistaprojeto.com.br
Ao adentrar no edifício no térreo pelo lado direito, com pé direito duplo e curvo, localizam-se a recepção, bar e área de apoio, cercados por uma parede de vidro que permite uma “conversa” entre o lobby e a cidade. Entrando pelo lado esquerdo, se tem acesso ao Centro de Eventos no subsolo e ao Skye Restaurante e Bar na cobertura.

Imagem 11: Planta do Térreo do Hotel Unique
Fonte: revistaprojeto.com.br
Nos pavimentos dos apartamentos, o espaço interno acompanha o desenho externo: os corredores são curvos, buscando a luz natural das janelas circulares de 1,80m de diâmetro.

Imagem 12: Planta de um Pavimento dos Apartamentos do Hotel Unique
Fonte: casa.abril.com.br
Os apartamentos se acomodam nas paredes curvas dos corredores e alguns no arredondamento criado pelo formato externo de arco. A maior parte dos quartos fica na parte central dos pavimentos e vão desde 25m² até 35m² de área, todos foram projetados com uma banheira, mesa de trabalho, espaço para uma cama de casal e vista por uma das janelas circulares.

Imagem 13: Planta de dois dos modelos de apartamentos centrais do Hotel Unique
Já as suítes e também, no quarto andar, dois dos quartos, se encontram nas extremidades dos pavimentos e possuem o detalhe do “piso infinito”, em que o piso sobe em curva, resgatando o desenho da fachada, até encostar no forro. Essas unidades vão desde 70m² até 330m² (suíte presidencial). O diferencial das suítes para os quartos é a presença de uma sala de estar, e no caso da suíte presidencial possui também outros ambientes.

Imagem 14: Planta de uma Suíte do Hotel Unique
O volume principal do Hotel Unique é composto por um arco invertido que alcança quase 100 metros de comprimento e é em parte apoiado por duas empenas de concreto que se localizam nas duas laterais do arco. Nesse espaço estão localizados os apartamentos destinados aos hóspedes do hotel. Na parte inferior do arco, está o lobby principal do edifício, que possui uma fachada totalmente envidraçada, onde estão oito pilares que ajudam na sustentação da estrutura principal.
A face inferior do arco possui acabamento em madeira maçaranduba, o que cria um contraste de materiais entre a madeira, o concreto e o cobre azinabreado (pré-oxidado). Para manter a transparência do lobby, foram usadas treliças constituídas por cabos pré-tensionados que se associam a uma grelha vertical onde foram colocados os painéis de vidro que são encapsulados em silicone. O lobby ainda conta com uma parede de concreto retorcida que dá um aspecto de plasticidade ao material.

Imagem 15: Croqui do Hotel Unique
Fonte: https://donaarquiteta.com.br/en/hotel-unique-sao-paulo/

Imagem 16: Desenho em perspectiva do Hotel Unique
Fonte: revistaprojeto.com.br
As janelas, todas circulares, dão uma aparência para a fachada que se assemelha a de uma melancia ou de um barco. Além disso, o revestimento da fachada é composto por placas de cobre pré-oxidadas que dão a tonalidade verde azulada que caracteriza o hotel. Essa tonalidade é valorizada por uma iluminação leve e indireta, que é refletida pelos espelhos d’água por meio de três projetores.
A fachada do hotel é finalizada por uma proteção de vidro na cobertura que se destaca do corpo central da edificação e faz parte de um sistema independente do resto, formado por uma estrutura metálica que está ancorada na estrutura de concreto armado e possui vigas-calhas e pilares tubulares que captam e escoam internamente a água da chuva.
Além da estrutura de arco que forma o principal volume do hotel, as formas curvas também são usadas no interior do edifício, exemplo disso são os seis corredores do ambiente compostos por blocos curvos que contam com quatro apartamentos cada.

Imagem 17: Vista do acesso ao local de eventos
Fonte: Hotel Unique – Hotel de Luxo em São Paulo, Jardins
O espaço criado por Ruy Ohtake no Hotel Unique é complementado com o projeto de interiores de João Armentano.
O lobby tem sua fachada toda revestida em vidro, o que traz luz e uma sensação de conexão com o exterior da cidade. Já ao chegar aos elevadores, estes foram pensados para trabalhar com luz mínima, que é quebrada cada vez que a porta é aberta.

Imagem 18: Vista do lobby do Hotel Unique
Fonte: https://www.telegraph.co.uk/travel/destinations/south-america/brazil/sao-paulo/hotels/hotel-unique/
O elevador abre-se para um corredor revestido na cor preta, que gradualmente transita para a luz vinda das grandes janelas redondas, para então acessar os quartos.

Imagem 19: Corredor dos apartamentos do Hotel Unique
Na cobertura, onde encontra-se o Skye Restaurante e Bar, acontece processo semelhante. O cliente ao sair da penumbra do elevador se depara com um corredor revestido de ônix, por onde a luz começa a surgir, e logo avista a paisagem do Ibirapuera por uma das janelas.

Imagem 20: Corredor revestido de ônix para o Skye Restaurante e Bar
“Do saguão em formato de catedral, os hóspedes sobem na escuridão nos elevadores para corredores silenciosos e escuros - em seguida, abrem a porta de qualquer um dos 94 quartos para encontrar a luz natural inundando pelas grandes janelas redondas.” (ROSENFELD, 2018, tradução livre).
Um outro aspecto também principal na experiência do hóspede é a sensação criada pelas grandes janelas redondas presente em todos os quartos e suítes. Para Rosenfeld (2018), era como ser um astronauta olhando para São Paulo a partir da sua nave espacial.

Imagem 21: Vista de um dos quartos do Hotel Unique
“Janelas gigantes em estilo de vigia interferem em qualquer sentido de escala e lançam sombras artísticas no chão e nas paredes.” (GRIMOND, tradução livre).
O principal aspecto inovador do Hotel Unique é o seu formato de um grande arco invertido, solução diferente para a volumetria de uma edificação que permitiu que o pavimento superior tenha mais espaço para quartos que os pavimentos inferiores.
A iluminação também é bem diferenciada, usando soluções diversas em todo o projeto. Exemplo disso são os corredores de entrada que foram revestidos com placas de pedra ônix translúcida, de forma que o próprio material ilumina o ambiente.
Outra proposta inovadora do arquiteto foi a integração entre os quartos e banheiros dos apartamentos feitos por meio de uma janela de vidro, o que não cria uma separação completa entre os dois ambientes.
Nos apartamentos localizados nas pontas do edifício, o desenho da curva exterior foi transposto para o interior, o que fez com que o piso e a parede- que possuem o mesmo revestimento- criem uma continuidade, sugerindo um fundo com aspecto infinito.
Por fim, o uso de revestimento de cobre pré-oxidado cobrindo quase toda a fachada do hotel, foi um aspecto inovador no projeto e criou uma tonalidade esverdeada que tornou o projeto diferenciado.
CONDOMÍNIO RESIDENCIAL HELIÓPOLIS
Local: R. Anísio Spínola Teixeira - Cidade Nova Heliópolis, São Paulo – SP
Início do projeto: 2008
Conclusão da obra: 2011
Área do terreno: 40,472,01 m²
Área construída: 48,209,87 m²
Tipologia de uso: residencial
Tipo de obra: Conjunto habitacional
Projeto de Arquitetura: Ruy Ohtake e Daniella Della Volpe
Heliópolis se formou na dácada de 1970. Atualmente, sua extensão é de aproximadamente 1 milhão de metros quadrados, abrigando cerca de 100 mil habitantes. O bairro encontra-se a 25km do centro da capital e não conta com transporte público que atenda todas as suas regiões. Tal realidade é comumente encontrada no Brasil, pois, ¼ dos 213 milhões de habitantes mora em residências precárias.

Imagem 22: Heliópolis vista aérea.
No ano de 2003, uma revista publicou uma citação de Ruy na qual, ao ser questionado o que o arquiteto achava mais feio em São Paulo, ele teria respondido que era o Bairro de Heliópolis. Após a publicação, Ruy Ohtake esclareceu que desigualdade entre bairros ricos e bairros pobres (representados por Heliópolis), seria o fator que considerava mais feio na cidade. Poucos dias depois, João Miranda, líder comunitário do Bairro de Heliópolis, entrou em contato com o arquiteto, afim de pedir ajuda em planejar melhorias para a favela. E assim, se iniciou um extenso projeto junto à comunidade. Projeto, esse, que Ruy referiu-se certa vez como um desafio inédito, pois tratava-se de uma “arquitetura real”. Assim, com o apoio da prefeitura, do estado, da associação de moradores do bairro e da arquiteta Daniella Della Volpe, Ohtake projetou e coordenou o trabalho de concepção e construção do Conjunto Habitacional de Heliópolis, popularmente conhecido como “Redondinhos”.
O conjunto dos redondinhos foi o maior entre os diversos projetos feitos por Ruy Ohtake na comunidade. Iniciado em 2008, a área construída chega aos 40 mil m². Dessa forma, o condomínio popular conta com áreas externas comuns, com quadras, área de ginástica, salão multiuso e áreas de lazer infantil nos entremeios das 19 torres de formato cilíndrico. As fachadas são coloridas e cada edifício tem uma paleta de cores única, facilitando a diferenciação de cada prédio. As janelas são dispostas de forma variável em cada andar, assim o arquiteto quebra a monotonia de ritmo. Cada edifício possui 7 andares com 2 apartamentos no térreo, para pessoas com mobilidade reduzida, e 4 apartamentos de 50m² cada, nos andares superiores, totalizando 342 unidades.

Imagem 23: Fotografia conjunto redondinhas com vista para área de lazer
Fonte:https://www.cdhu.sp.gov.br/documents/20143/37201/Heliopolis+Capa.jpg/4b8135cd-6062-b9f0-23ae-7883ed76042f?t=1565635831949
Afim de atender às necessidades da comunidade, Ruy Ohtake destacou a utilização de corredores como ponto de comércio de drogas e prostituição, em projetos habitacionais populares anteriores. Dessa maneira, os espaços de circulação no interior dos redondinhos é reduzido, ao não contar com corredores, os halls no centro da edificação limitam-se a mobilidade de moradores de entrar e sair de suas residências.

Imagem 24: Esquema de circulação vertical e horizontal dos edifícios
Fonte: https://issuu com/priscilla697/docs/his__heli__polis_-_priscilla_vital_

Imagem 25: Esquema de circulação. Em verde circulação horizontal, em roxo a vertical e em azul circulação técnica
Fonte: https://issuu com/priscilla697/docs/his__heli__polis_-_priscilla_vital_
As áreas internas dos edifícios são todas padronizadas, sendo que somente o andar térreo difere dos demais possuindo uma área de convívio e duas unidades habitacionais adaptadas.

Imagem 26: Planta andar térreo de um dos edifícios
Fonte: https://issuu com/priscilla697/docs/his__heli__polis_-_priscilla_vital_
Os demais andares possuem 4 apartamentos-tipo. Com uma entrada para um hall interno que leva até a sala de jantar, ao lado da sala está a cozinha e ao fundo área de serviço. De frente para a sala de jantar encontra-se a sala de estar e, nas laterais da sala, dois dormitórios, um deles ao lado do banheiro, totalizando 50m². O formato cilíndrico permite que todos os apartamentos possuam boa ventilação e iluminação natural.

Imagem 27: planta baixa do apartamento com esquema de cores
Fonte:https://i.pinimg.com/originals/68/1e/14/681e144ad8522cb031b93cbecdfdc903.png

Imagem 28: planta baixa andar completo
O condomínio é composto por 19 torres cilíndricas e outras 2 em formato de lâmina. As fachadas de cada edificação são coloridas e exclusivas. Há quebra de ritmo na instalação das janelas, e portanto, na monotonia visual. As técnicas construtivas são básicas e de fácil reprodução, facilitando e barateando a construção de habitações populares. A inovação apresenta-se na forma cilíndrica dos edifícios, quebrando com o padrão quadrado das moradias sociais até então construídas.

Imagem 29: Espaço coletivo no Complexo Habitacional dos “Redondinhos”
REFERÊNCIAS
ANUAL DESIGN. Hotel Unique: O Unique, projetado pelo consagrado arquiteto Ruy Ohtake, é considerado um dos mais importantes hotéis design de São Paulo. Disponível em: <https://www.anualdesign.com.br/saopaulo/projetos/1153/hotel-unique/>. Acesso em: 19 nov. 2021.
ARQUIVOARQ. https://arquivo.arq.br/profissionais/ruy-ohtake. Acesso 09 de dez. 2021.
ARCHITECTURAL DESIGNS SCHOOL. Arquitetura social: o mal-entendido que levou Ruy Ohtake a melhorar a segunda maior favela do Brasil <https://por.architecturaldesignschool.com/social-architecture-misunderstanding-that-led-ruy-ohtake-improve-brazil-s-second-largest-favela-79970>. Acesso em 19 nov. 2021.
AVEC. Hotel Unique – São Paulo – SP. Disponível em: <http://www.avec.com.br/hotel-unique-sao-paulo-sp/>. Acesso em: 19 nov. 2021.
BENEDETTI, Caroline. Habitação Coletiva e Econômica: O caso de Heliópolis na cidade de São Paulo https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/212192/001116289.pdf?sequence=1&isAllowed=y Acesso em 19 nov. 2021
MARCONDES, Gustavo. <https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/16/16138/tde-13092018-151643/publico/MEgustavomarcondesmassimino_rev.pdf> Acesso em 19 nov. 2021.
COPPERMAX. Hotel Unique: projetado pelo arquiteto Ruy Ohtake, destaca-se pela forma e o cobre na fachada. Disponível em:
<https://coppermax.com.br/hotel-unique-projetado-pelo-arquiteto-ruy-ohtake-destaca-se-pela-forma-e-o-cobre-na-fachada->. Acesso em: 19 nov. 2021.
DONA ARQUITETA. Hotel Unique - São Paulo – SP. Disponível em: <https://donaarquiteta.com.br/en/hotel-unique-sao-paulo/>. Acesso em: 18 nov. 2021.
GOVERNO DE SÃO PAULO. Condomínio projetado por Ruy Ohtake acolhe famílias de Heliópolis <https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/projetado-por-ruy-ohtake-condominio-acolhe-familias-que-recebiam-auxilio-moradia/> Acesso em 19 nov. 2021.
GRIMOND, Georgia. Hotel Unique: São Paulo, State of São Paulo, Brazil. In: The Telegraph. Disponível em: <https://www.telegraph.co.uk/travel/destinations/south-america/brazil/sao-paulo/hotels/hotel-unique/>. Acesso em: 19 nov. 2021.
HOTEL UNIQUE. Página da Web oficial do hotel. Disponível em: <https://www.hotelunique.com/>. Acesso em: 19 nov. 2021.
MELLO, Tais. Hotel Unique: Design Altivo. In: Galeria da Arquitetura. Disponível em: <https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/ruy-ohtake_/hotel-unique/350>. Acesso em: 19 nov. 2021.
PERCURSO. Ruy Ohtake. https://issuu.com/adrianealves_/docs/revista_percurso. acesso: 09 de dez. 2021.
PORTAL VITRUVIUS. Hotel Unique, São Paulo SP. Projetos, São Paulo, ano 05, n. 053.03, Vitruvius, jun. 2005. Disponível em <https://vitruvius.com.br/revistas/read/projetos/05.053/2487>. Acesso em: 19 nov. 2021.
ROSENFELD, Cynthia. Hotel Unique São Paulo hotel review. In: Condé Nast Traveller. Disponível em: <https://www.cntraveller.com/article/hotel-unique-sao-paulo-hotel-review> Acesso em: 19 nov. 2021.
TAVARES, Maria Cecília. Ruy Ohtake: Arquitetura Residencial dos anos 1960 – 1970.
VITAL, Priscila. <https://issuu.com/priscilla697/docs/his__heli__polis_-_priscilla_vital_> Acesso em 19 nov. 2021.
VERNALI, Clara. <https://casa.abril.com.br/profissionais/ruy-ohtake-e-sua-arquitetura-transformadora-em-heliopolis/> Acesso em 19 nov. 2021
WIKIARQUITECTURA. Hotel Unique. Disponível em: <https://en.wikiarquitectura.com/building/hotel-unique/>. Acesso em: 19 nov. 2021.
https://forbes.com.br/forbeslife/2021/11/relembre-projetos-iconicos-do-arquiteto-ruy-ohtake/ . acesso: 09 de dez. 2021.
https://laart.art.br/blog/ruy-ohtake/. Acesso em 19 nov. 2021.
http://www.iea.usp.br/pessoas/perfil-ricardo-ohtake. Acesso em 18 nov. 2021.




Comentários