SÉRGIO BERNARDES

BIOGRAFIA

Sérgio Bernardes foi um arquiteto, urbanista e pesquisador brasileiro, nascido em 1919, no Rio de Janeiro. Formado pela Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro), em 1948, e teve seu projeto para o Country Club de Petrópolis, no Rio de Janeiro, publicado na revista francesa L’Architecture d’Aujourd’hui, um ano antes de concluir o curso, em uma edição dedicada à nova arquitetura brasileira. Destacou-se pela integração entre tecnologia e natureza, o uso de estruturas metálicas leves e propostas urbanas novas para a época.

Ao longo de sua carreira, projetou casas, edifícios institucionais e pavilhões internacionais — entre eles o premiado Pavilhão do Brasil na Expo 58 em Bruxelas. Seus projetos combinam precisão técnica e liberdade formal, com soluções voltadas à pré-fabricação e novos modos de habitar. Além disso, o arquiteto teve projetos de mobiliário, como a cadeira Rampa, e chegou a ser candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, como é contado em seu documentário biográfico. Em 1974, fundou o Laboratório de Investigações Conceituais (L.I.C.), espaço de experimentação interdisciplinar onde aprofundou suas pesquisas sobre ecologia, cidade, design e infraestrutura para além da arquitetura.

Figura 1: Sérgio Bernardes [Bernardes Arquitetura]

Atualmente, o legado de Sérgio Bernardes é seguido pela sua família, a partir do escritório Bernardes Arquitetura, que conta com a direção de Thiago Bernardes, neto do arquiteto. O escritório hoje é referência em projetos que evocam a arquitetura brasileira, com destaque para seus projetos de hoteis - como os do grupo Fasano. Além disso, o escritório coleciona prêmios de arquitetura ao longo de seus 13 anos no mercado.

De acordo com o Projeto Memória, disponível no site da Bernardes Arquitetura, o  acervo documental do arquiteto Sérgio Bernardes se encontra, desde 2011, em comodato no Núcleo de Pesquisa e  documentação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro – NPD/FAU/UFRJ, através de um Convênio de Cooperação Técnica para tratamento, restauração, catalogação e digitalização da obra completa do arquiteto com o propósito de permitir, no futuro, acesso à pesquisa.”

OBRAS E PREMIAÇÕES

A seguir, uma lista com alguns dos projetos e premiações que Sérgio Bernardes realizou ao longo dos anos.

1934 - Residência Eduardo Bahout1947 - Country Club de Petrópolis (RJ)

1949 - Conjunto Sanatorial de Curicica (RJ)

1951 - Residência Lota Macedo (RJ) - a primeira residência construída com estrutura metálica do Brasil Residência Hélio Cabral (RJ)

1952 - Residência Cincinato Cajado Braga (SP) Igreja de São Domingos (SP)

1954 - 1º Prêmio de Habitação pela Residência Hélio Cabal na Trienal de Veneza (ITA)

Residência Paulo Sampaio (RJ)

Pavilhão da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN)

1955 - Prêmio Jovem Arquiteto Brasileiro na 2ª Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo MAM/SP pela Residência de Lota Macedo Soares

1955 - Residência do Arquiteto

Imagem 2: Residência do arquiteto [Bernardes Arquitetura]

1956 - Residência Gávea Parque (RJ)

1957 - Pavilhão para Feira Internacional da Indústria e Comércio no Rio de Janeiro - Pavilhão de São Cristóvão (RJ)

1958 - Pavilhão do Brasil na Exposição Universal em Bruxelas (BEL)

1959 - Edifício Casa Alta (RJ)

1960 - Atua como professor de “Composição na Arquitetura” na Faculdade Nacional de Arquitetura (FNA) no Rio de Janeiro. Projeto das galerias Petite Galerie do Rio e de São Paulo Galeria Bonino (RJ)

1961 - Palácio da Abolição, Fortaleza (CE)

1962 - Hotel Tropical Tambaú, João Pessoa (PB)

Residência Magalhães Lins (RJ)

1963 - Hotel Tropical de Manaus (AM) (não executado)

Sala Hors Concours na 6ª Bienal de São Paulo

Figura 3: Hotel Tropical de Manaus - Primeira versão [Bernardes Arquitetura]

Figura 4: Estudo para Hotel Tropical de Manaus [Bernardes Arquitetura]

1964 - Parque Maria Cândida Pareto (RJ)

Conjunto de casas no Humaitá (RJ)

1966 - Centro Industrial de Aratu (BA)

Mausoléu do Marechal Humberto Castelo Branco, Fortaleza (CE)

1968 - Fundação do Sergio Bernardes Associados Planejamento - Urbanismo - Arquitetura LTDA

Projeto para Instituto Brasileiro do Café (DF)(não executado)​

Projeto para o Estádio Sport Club Corinthians Paulista (SP) (Não executado)

Projeto do Hotel Tropical de Recife, Pernambuco (Não executado)

1969 - Monumento ao Pavilhão Nacional (DF)

Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes), na Cidade Universitária – UFRJ, Ilha do Fundão

​1970 - Planetário de Brasília (DF)

1971 - Escola Superior de Guerra (DF)

1972 - Projeto do Ministério da Marinha - Comando Naval de Brasília (DF) (Não executado)

​ Indústria Schering S/A (RJ)

1974 - Projeto do Hotel Turístico de Paquetá (RJ)

Projeto Célula de Informação Submarina

1975 - Criação dos mobiliários Poltronas Berço, Poltrona Rampa e Cadeira Rede

Figura 5: cadeira rampa [DPOT]

1976 - Postos de Salvamento da Orla do Rio de Janeiro (RJ)

​Conjunto de edifício e espaços públicos em Caracaraí, Roraima (RR)

1980 - Projeto de Visarga - Uma cidade sobre gelos eternos, Alaska (EUA)

Espaço Cultural da Paraíba (PB)

Residência William Khoury (RJ)

Figura 6: Espaço Cultura da Paraíba [Bernardes Arquitetura]

1993 - Projeto For you, Paraty. Cidade suspensa por cabos sobre a Mata Atlântica na cidade de Paraty (RJ) (Não executado)

1994 - Reforma da Residência Cincinato Cajado Braga (1952) para Mansur Kathuian - Espaço dos Sete Mundos (SP)

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PAVILHÃO DE SÃO CRISTÓVÃO

Figura 7: Pavilhão de São Cristóvão [ArchDaily]

Ficha técnica:  

Projeto: Pavilhão de São Cristóvão

Localidade: São Cristóvão, Rio de Janeiro - RJ

Ano: 1957

O Pavilhão de São Cristóvão, projetado entre 1957 e 1960 pelo arquiteto Sérgio Bernardes, está localizado no bairro de São Cristóvão, na zona norte do Rio de Janeiro. Implantado no antigo Campo de São Cristóvão, o edifício foi concebido para abrigar grandes exposições, funcionando originalmente como sede da Exposição Nacional Permanente da Indústria e Comércio.

Do ponto de vista construtivo, o pavilhão adota uma estrutura composta por um anel elíptico de concreto armado que serve de apoio para uma cobertura tensionada por cabos de aço. Essa cobertura, com forma de paraboloide hiperbólica, permitiu a criação de um grande vão livre de aproximadamente 30 mil metros quadrados, sem a necessidade de apoios intermediários. Os pilares de concreto armado variam de 2 a 28 metros de altura, conforme a posição no perímetro elíptico. O fechamento lateral entre os pilares é feito com alvenaria cerâmica vazada - cobogós-, permitindo ventilação cruzada.

Figura 8: Corte e fachada do Pavilhão. [Bernardes Arquitetura]

Figura 9: Planta e elevação do Pavilhão. [Fausto Sombra]

A cobertura, originalmente em telhas metálicas, foi perdida em um incêndio que acometeu o pavilhão. Nele havia ainda um sistema de resfriamento passivo: a água era conduzida por sobre a cobertura e escorria por suas bordas em direção a espelhos d’água, que era então bombeada de volta para a cobertura, contribuindo para o conforto térmico interno. 

Figura 10: Pavilhão de São Cristóvão. [ArchDaily]

A modulação estrutural do edifício é rigorosa, com espaçamento regular entre pilares e repetição de elementos que facilitam a montagem. A forma elíptica e a variação de altura da cobertura resultam em uma volumetria marcante, que se destaca no entorno, mas que também impôs dificuldades de manutenção e adaptação ao longo das décadas.

Hoje, o edifício abriga o Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, mas sofreu diversas modificações ao longo do tempo que descaracterizaram em parte o projeto original. Ainda assim, o Pavilhão de São Cristóvão permanece como um exemplo relevante de experimentação estrutural na arquitetura brasileira do século XX, com soluções que articulam engenharia, forma e ambiente de maneira integrada ao seu tempo.

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HOTEL TAMBAÚ

Figura 11: Hotel Tambaú [Bernardes Arquitetura]

Ficha técnica:  

Projeto: Hotel Tambaú

Localidade: João Pessoa, PB

Ano: 1962

Inaugurado em 1971 em João Pessoa (PB), o Hotel Tambaú foi implantado de forma atípica: diretamente sobre a faixa de areia da orla, entre as praias de Tambaú e Manaíra. Sua volumetria circular e horizontal rompe com o padrão verticalizado comum aos edifícios hoteleiros, propondo uma relação diferente com a paisagem, o clima e o uso.

Imagem 12: Vista aérea Hotel Tambaú [SUPLAN Paraíba]

A planta do hotel é organizada em torno de um anel estrutural de dois pavimentos que abriga os 173 quartos voltados para o mar ou para pátios ajardinados internos. Os núcleos internos concentram os serviços e áreas comuns, como auditório, restaurante e áreas técnicas. As circulações se dão por rampas contínuas que acompanham a geometria curva da edificação, permitindo fluidez entre os pavimentos e reforçando o caráter público de algumas áreas.

Figura 13: Plantas Hotel Tambaú [Aristóteles Cordeiro [LM+P] modificado pela autora]

Um dos elementos mais marcantes do projeto é a cobertura verde que recobre parcialmente a fachada principal, formando um talude gramado que disfarça a altura do edifício a partir da via pública e cria uma transição suave entre cidade e praia. Essa solução paisagística atua não apenas como estratégia estética, mas também como moderadora do microclima e isolante térmico natural.

Figura 14: Seção transversal passando pelo anel externo, semicírculo Oeste: laje dupla e sistema de viga-pilar-laje disposto em posição inclinada. [Aristóteles Cordeiro [LM+P]

A estrutura do edifício é em concreto armado, com pilares regulares ao longo do perímetro e cobertura plana. No interior, partr do design foi concebido por Sérgio Rodrigues, que explorou o uso de materiais brasileiros, formas orgânicas e mobiliário autoral para reforçar a identidade nacional moderna que o projeto arquitetônico já apontava. Madeira aparente, mobiliário de desenho limpo e elementos de artesanato local foram incorporados de forma coerente, criando uma atmosfera acolhedora e alinhada ao espírito modernista da época.

Figura 15: Cadeiras rede [Tambaú Hotels]

Do ponto de vista ambiental, o projeto se destaca por antecipar algumas estratégias de conforto passivo, como ventilação cruzada, sombreamento natural e integração com a paisagem. No entanto, a decisão de construir sobre uma área que hoje é considerada de preservação permanente (APP) levanta questões relevantes sobre os limites entre inovação formal e responsabilidade ambiental — debates que não estavam em evidência à época da construção, mas que se tornaram centrais nas décadas seguintes.

Figura 16: Hotel Tambaú  [Tambaú Hotels]

Autores

Carolina Lemonge Amorim

referências

ARCHDAILY. Clássicos da Arquitetura: Tropical Hotel Tambaú / Sérgio Bernardes. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/01-16031/classicos-da-arquitetura-tropical-hotel-tambau-sergio-bernardes

BERNARDES ARQUITETURA. Projeto memória. Disponível em: https://www.bernardesarq.com.br/projeto-memoria/

BERNARDES ARQUITETURA. Hotel Tambaú. Disponível em: https://www.bernardesarq.com.br/memoria/tambau/

BERNARDES ARQUITETURA. Pavilhão de São Cristóvão. Disponível em: https://www.bernardesarq.com.br/memoria/de-sao-cristovao/

DPOT. Poltrona rampa. Disponível em: https://dpot.com.br/poltrona-rampa-dpot.html

Hotel Tambaú. Tambaú Hotel João Pessoa. Disponível em: https://tambau.hotels-joao-pessoa.com/pt/. Acesso em: 28 jun. 2025.

ROCHA, G. C.; TINEM, N. Nexos tectônicos na arquitetura do Hotel Tambaú. Docomomo Brasil. X Seminário Docomomo Brasil, Curitiba, out., 2013.

SOMBRA JUNIOR, Fausto Barreira. Três Pavilhões de Sérgio Bernardes: Volta Redonda, Bruxelas e São Cristóvão. Contribuição à vanguarda arquitetônica moderna brasileira em meados do século 20. 2020. 340 f. Tese (Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2020. Disponível em: https://dspace.mackenzie.br/handle/10899/27598