Triptyque architecture
- ACR 113
- 21 de out. de 2022
- 9 min de leitura
Apresentação

Figura 1: Equipe do escritório Triptyque arquitetura: da esquerda para a direita - Grégory Bousquet, Guillaume Sibaud, Carolina Bueno e Olivier Raffaelli. Fonte: ArchDaily
Triptyque Arquitetura é um escritório franco-brasileiro fundado pelos arquitetos Grégory Bousquet, Carolina Bueno, Guillaume Sibaud e Olivier Raffaelli. Eles se conheceram na Ecole d'Architecture de Paris-La-Seine, na França, escola na qual todos se formaram. O grupo, depois de graduados, criaram juntos o escritório que possui sede em São Paulo, desde o ano de 2000 e em Paris desde 2008, após ganharem o NAYA (New Albums of Young Architects).
O nome do escritório é em homenagem às obras de arte trípticas, que são divididas em três partes que, ainda que independentes, formam um todo. O grupo busca enfrentar os problemas das cidades emergentes e se destaca pela preocupação com a sustentabilidade e a integração do projeto com a natureza, utilizam materiais naturais como pedras e madeira de reflorestamento. Projetos como o Edifício Fidalga, Colômbia 325 e a Casa Pedra no Brasil evidenciam essas tendências. Ainda, suas soluções ousadas e inovadoras, como o planejamento para manejo integrado de água, aproveitamento e manejo de água de chuva, e o reuso de água concretizados no Harmonia 57, os possibilitaram ganhar diversos prêmios e destaques.
Desde o início de sua trajetória, o escritório Triptyque Arquitetura atua a favor da arquitetura contemporânea e sustentável, focada no desenvolvimento de áreas urbanas. Suas primeiras instalações foram no Rio de Janeiro e em 2002 mudaram-se para São Paulo pela maior demanda de projetos. A atuação do escritório abrange desde os prédios comerciais até os edifícios residenciais, propostos para incorporadores privados, mas também para o poder público, sempre dando atenção à sustentabilidade e à tecnologia.
Biografia

Carolina Bueno
Arquiteta brasileira nasceu em 1974, estudou na Suíça e na Itália antes de se formar em Paris e atuou em projetos que marcam paisagens de diversas cidades do Brasil. Como única mulher e representante brasileira no grupo, Carol se junta com mais três colegas de faculdade e abre o Escritório Triptyque Arquitetura no Brasil em 2000. Faleceu em janeiro de 2021 com 46 anos após enfrentar um câncer no cérebro durante o ano anterior. A arquiteta é reconhecida e lembrada por suas obras contemporâneas e experiências na construção sustentável, mantendo um interesse especial na natureza.
No seu último ano, Carol se dedicou mais aos projetos que acreditava que pudessem mudar o mundo, como o edifício co-working e co-living AMATA , uma estrutura multiuso de treze andares em São Paulo feita inteiramente de madeira brasileira de reflorestamento, elogiada por suas capacidades estruturais, acústicas, retenção térmica e resistência ao fogo, que será concluída em breve.

Olivier Raffaelli
Nasceu em 1973, na cidade de Neuilly-sur-Seine, decidiu cursar arquitetura aos 18 anos, ingressou na Ecole d'Architecture de Paris-La-Seine, em 1991, e se mudou para o Brasil com seus seus sócios nos anos 2000. Sua ida para o Brasil foi influenciada, também, pelo seu interesse em cidades emergentes despertado na pós-graduação em Urbanismo. Atuou diretamente com seus sócios entre 2000 e 2008, quando voltou para a França para comandar a sede parisiense junto com Sibaud e uma equipe de aproximadamente 20 pessoas. Possui também DEA em Urbanismo pelo Institut d’Urbanisme de Paris (1999).

Guillaume Sibaud
Nasceu na frança em 1963, em Troyes, também se formou na Ecole d'Architecture de Paris-La-Seine, em 1997 e juntou-se a seus sócios no Brasil, onde ficou até 2008, quando regressou para a França para dirigir a sede parisiense da Triptyque. Atua atualmente em diversas cidades brasileiras e européias.

Grégory Bousquet
Nasceu em Evry , na França, em 1973. Viu na arquitetura a possibilidade de juntar suas aptidões para as questões científicas e artísticas e ingressou na Ecole d'Architecture de Paris-La-Seine em 1991. Possui também DEA de Filosofia pela Paris-La Sorbonne (1999) e DEA de Teoria em Arquitetura pela Paris-Villemin (1999).
Após a morte da arquiteta Carolina Bueno, os sócios Grégory Bousquet e Olivier Raffaelli assumiram a frente do escritório enquanto, de forma gradativa, Guillaume Sibaud se afastou para seguir com seu escritório, denominado Architects Office, com sede em São Paulo e Lisboa. Esse processo foi feito de forma a garantir a continuidade dos trabalhos em andamento e o pleno atendimento aos clientes.
Influências
O escritório se identifica como Tropicalis Universalis (tropical universal, do latim), um movimento que tem referências tropicalistas, no qual busca a valorização da cultura popular. Não se baseia apenas em uma nova maneira de ver arquitetura, na qual é analisada e entendida nos contextos distintos das metrópoles tropicais, mas também tenta romper com o “canibalismo cultural” que, de acordo com eles, é uma herança colonial de ingestão da cultura do velho mundo. Partindo desse pensamento, eles se questionam; “Nas cidades tropicais, como criar a alma viva das cidades nutridas pelo mundo que as cerca?”
Diante disso, se inspiram na exuberância e na força da fauna e flora brasileira. Para eles, o tropicalismo também é proporcionar experiências humanas individuais a partir da observação, é exaltar a vegetação, o envelhecimento das edificações, o criativo, é construir uma arquitetura viva que vai além dos objetivos do mercado imobiliário. Assim, os arquitetos tentam trazer a natureza para um ambiente urbano não apenas como elemento decorativo mas, também, para impactar positivamente o espaço público.

Figura 2: Vista do edifício comercial Harmonia 57. Fonte: ArchDaily
Projetos
O escritório Triptyque produz vários tipos de edificações no Brasil e no mundo. A seguir uma lista com seus projetos:
Universeine - JO 2024 (Saint-Denis, 2023)
Fasano Residences (São Paulo, 2023)
Grand Hôtel de Cannes (Cannes, 2022)
Pullman Hambourg (Hambourg, 2017)
Lilly of the Valley (Saint-Tropez, 2019)
Farol Santander (São Paulo, 2020)
Pullman São Paulo (São Paulo, 2016)
Villa M ( Paris, 2019)
Age 360 ( Curitiba, Paraná, 2024 )
Les Jetées ( Huningue, 2016 - 2024 )
Harmonia 57 (São Paulo, 2008)
Ecotone, Centro Biomimético. (Arcueil, 2017 - 2026)
RB12 (Rio de Janeiro, 2015)
AMATA (São Paulo, 2017)
Arapiraca (São Paulo, 2017)
RedBull Station (São Paulo, 2013)
Fidalga (São Paulo, 2010)
Groenlândia (São Paulo, 2014)
Tropical Tower (São Paulo, 2016)
RATP Debergue (Paris, 2016)
Nanterre (Nanterre, 2016)
Maison de France (Rio de Janeiro, 2016)
T5B7 | Rive Gauche ( Paris, 2013 )
Largo do Arouche (São Paulo, 2018)
Arco Tietê (São Paulo, 2013)
Base na Antártica (Antártica, 2013)
Inhotim (Inhotim, 2011)
Ouvidor (Fortaleza, 2013)
Pipelight (São Paulo, 2015)
INPI (Courbevoie, 2012)
Leitão (São Paulo, 2012)
Casa Pedra (
D-Edge (São Paulo, 2002)
Osny (Osny, 2015)
La Fraternelle (Montreuil, França, 2018)
Soissons (Soissons, França, 2019-2026)
Harmonia 1250 (São Paulo, 2020)
ESMA (Bordeaux, França, 2019-2023)
Institut Eastman (Paris, 2019)
C40 (Bobigny, França, 2019 - 2024)
L'Archipel (Marne La Vallée, França, 2018)
Colombia (São Paulo, 2005-2007)
Sacré Cœur (São Paulo, 2017-2018)
A seguir, analisaremos dois dos projetos do escritório: Casa Pedra e Edifício Fidalga.
Casa Pedra

Figuras 3: Vista posterior da Casa Pedra. Fonte: Lar Construtora
FICHA TÉCNICA
Nome: Casa Pedra
Localização: Fazenda da Grama, Itupeva - SP
Uso: Residencial
Área do terreno/ Área construída: 3.000m²/ 750m²
Arquitetura: Grégory Bousquet/Triptyque
Escritório: Architects Office/Triptyque Architecture
Início de projeto e Conclusão de obra: 2018-2020
Paisagismo: Rodrigo Oliveira
Projeto Luminotécnico: Studio 220V
Realização e Construção: Lar Construtora
A Casa Pedra é um projeto modelo, localizada em um terreno plano de 3000m² em frente ao campo de golfe do condomínio Fazenda da Grama, em Itupeva, SP, e foi pensada para ser uma casa de campo que integrasse na moradia a vegetação e a natureza do local, valorizando tanto o conforto dos moradores, quanto o convívio social.
O arquiteto Grégory Bousquet partiu das referências naturais do terreno para idealizar os aproximadamente 750m² de área construída da edificação. O volume principal foi projetado através da subtração de recortes de um bloco de rocha esculpida, formando as aberturas de portas, janelas e do pátio central. A parte externa da casa é revestida por uma massa que se assemelha visualmente às pedras, dando nome à construção.


Figuras 4 e 5: Idealização e diagrama conceitual. Fonte: Lar Construtora
A planta da casa é constituída em torno do recorte do pátio principal, um jardim com cascata que reaproveita água da chuva, que é responsável por ditar a circulação interna e delimitar as áreas íntimas e sociais, e participa das estratégias que garantem o conforto térmico da habitação, além de trazer a vegetação, elemento fortemente presente nos projetos da Triptyque, para dentro da casa.

Figura 6: Planta da Casa Pedra.
À frente do pátio principal, localizado à direita do hall de entrada, estão todos os quartos da residência, sendo eles duas semi-suítes, duas suítes e uma suíte máster, todos contendo um pequeno deque externo. Ainda na parte frontal da casa, à esquerda da porta de entrada e do pátio, se encontram os aposentos de serviço e a lavanderia, ambos com acesso externo pela lateral da construção.
Já na parte de trás do jardim central, está localizada a área social, composta por cozinha, salas de jantar e estar, lavabo e sala de televisão e a grande varanda gourmet integrada. No fundo da residência se encontra a piscina, que possui exatamente a mesma área do recorte do pátio central, e o acesso ao terraço, o qual, por sua vez, corresponde a uma parcela da laje superior da casa. Ademais, a edificação também conta com cômodos destinados à rouparia, depósito e despensa.

Figura 7: Fachada da Casa Pedra. Fonte: Lar Construtora
Finalmente, destaca-se o fato do projeto ter sido concebido em parceria com uma construtora, com a intenção principal de ser vendido e replicado. Dessa forma, os materiais utilizados para acabamento variam principalmente quanto a cor, mas seguem uma linha mais simples, rústica e natural, estando sempre presentes elementos em madeira, pedra e revestimentos em tons terrosos.

Figura 8: Variação de Acabamentos. Fonte: Lar Construtora
Outro aspecto do projeto original que pode ser alterado nas reproduções é a distribuição dos ambientes internos, sendo os cômodos mais afetados os dormitórios, que passam de 5 para 6, e a varanda gourmet, que sofre redução em prol da instalação de uma sauna. Ambas as mudanças podem ser efetivadas sem alterar a funcionalidade e a hierarquia de área íntima e social idealizadas para a residência.

Figura 9: Variação de Planta. Fonte: Lar Construtora.
Edifício Fidalga

Figura 10: Edifício fidalga fachada lateral descontínua Fonte: Archdaily
FICHA TÉCNICA
Nome: Edifício Fidalga 727.
Localização: Vila Madalena- São Paulo, Brasil
Uso: Residencial
Área do terreno/área construída: 666m² / 2778m²
Arquitetos responsáveis: Greg Bousquet, Carolina Bueno, Guillaume Sibaud, Bruno Simões e Olivier Raffaelli
Escritório: Triptyque
Início do projeto e conclusão de obra: 2010-2012
O Edifício Fidalga é caracterizado por uma paisagem urbana desordenada e descontínua. Fica localizado na rua Fidalga, no bairro Vila Madalena, de classe média alta. A região é conhecida por ter vários bares e intervenções artísticas como o famoso Beco do Batman e está passando por constantes transformações. Sendo assim, o projeto é precisamente colocado neste contexto e está situado nas margens de uma dessas rupturas permanentes, revelando um horizonte dividido e panorâmico.

Figura 11: Representação 3D do Edifício Fidalga . Fonte: Idea!Zarvos
O terreno da construção possui 2778 metros quadrados, contudo sendo uma área com maior profundidade do que largura. Já o prédio em si, possui 666 metros quadrados de área construída. A fragmentação do corpo do edifício é feita em três partes para uma melhor integração da área de lazer e das circulações verticais e horizontais, e uma pequena praça na área frontal. As unidades habitacionais são empilhadas de acordo com uma variação não-linear e não-modular de tipologias e janelas, dando ao edifício a sua aparência, marcado pela utilização de materiais simples e urbanos, predominantemente asfalto negro usado na fachada. Dessa maneira, a imagem do edifício torna-se diferente dos prédios convencionais.

O edifício é dividido em dois blocos, interligados por um terceiro volume que concentra a torre central de circulação. Também dispõe de um jardim que começa na calçada e passa pelo andar térreo, continuando na torre de circulação central. O residencial contempla apenas um apartamento por andar e cada unidade tem um elemento arquitetônico só dela. Tal detalhe é uma inovação na construção civil, visto que em grande parte dos edifícios residenciais todos os apartamentos seguem um padrão tanto no exterior, como no interior. Além da fachada assimétrica, feita em concreto, tijolo e vidro, outro destaque da estrutura são as colunas de sustentação em formato de “X”, o que difere das colunas retas presentes em outras edificações.
Figura 12: Entrada principal do edifício;
colunas em ‘X” Fonte: Archdaily
Análise da Planta
Térreo: A entrada do prédio se inicia com uma passagem de madeira cercada de plantas ,que segue para o deck e para o hall de entrada.O deck possui uma guarita,banheiro e uma área de lazer,também com a presença da natureza

Figura 13: Planta do térreo - a entrada na direita, seguida do deck, do hall e do primeiro apartamento.
Fonte: Archdaily
Subsolo 1 e 2: Os subsolos comportam as garagens e,junto com elas , depósitos,banheiros e uma lavanderia.

Figura 14: Planta do subsolo. Fonte: Archdaily.
Apartamentos: Os apartamentos são divididos entre loft, apartamento comum e cobertura. As coberturas possuem 2 andares de apartamento e mais um jardim, totalizando três andares, os lofts normalmente são duplex, e os apartamentos comuns são de planta aberta. A torre do meio que interliga essas moradias contém um jardim, juntamente com as escadas e o elevador. Os que são do tipo comum possuem dois quartos, sendo ambos suíte, terraço no mesmo nível do ambiente, cozinha e sala aberta, lavanderia e um lavabo. Já os tipo loft possuem cozinha e sala interligadas, um banheiro, lavanderia e um quarto que fica no andar de cima.

Figura 15:Planta dos pavimentos; apartamento tipo normal e tipo loft(à direita). Fonte: Archdaily.
O design dos apartamento segue os seguintes princípios:
Acesso individual através de passarela externa.
Um apartamento/casa por andar, com 300 graus de vista/ventilação.
Um elemento arquitetônico marcante por apartamento: volume duplo, pátio terraço, duplex/penthouse ou térreo com jardim.
Diferenciação de aberturas em cada unidade.
Planta livre na entrega, permitindo liberdade de divisórias internas: distribuição modular de conectores hidráulicos e elétricos.

Figura 16: Representação da sala do apartamento comum. Fonte: Archdaily

Figura 17: Representação de umas das coberturas. Fonte: Archdaily.

Figura 18: Representação do apartamento tipo loft. Fonte: Archdaily




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