top of page

Ângelo Murgel

  • Foto do escritor: ACR 113
    ACR 113
  • 4 de fev.
  • 12 min de leitura

Atualizado: 8 de mar.

Biografia

Ângelo Alberto Murgel nasceu em 8 de Agosto de 1907, em Cataguases, Minas Gerais. O futuro arquiteto se mudou para Belo Horizonte bem pequeno, e viveu sua infância e adolescência na capital mineira. Vale destacar que, nesta época, Belo Horizonte tinha acabado de ser construída (1891-1897), e como cidade planejada, tinha vários aspectos modernos integrados, inspirados nas cidades europeias do século XIX, como amplas avenidas e quadras de formato quadrado/retangular. Como dito por Bernard Cunha Rodrigues, em sua dissertação de mestrado; "A modernidade não estava na arquitetura, mas na cidade propriamente dita".

Em 1926, Murgel entrou para a Faculdade Nacional de Belas Artes (ENBA), na qual se graduou em 1931, e se mudou para o Rio de Janeiro, que estava em um período de grandes reformas, que puderam ser entendidas e analisadas por Murgel, enquanto estudante de arquitetura. Durante seu crescimento e sua graduação, Ângelo Alberto Murgel estava envolto da modernização e dos ideais positivistas. Como dito também por Bernard: "Modernização era a palavra de ordem nas cidades onde Murgel viveu", tendo isso, de forma consciente ou não, influenciado em suas escolhas arquitetônicas nas próximas décadas, principalmente no que diz respeito ao Art Déco, que se mostrava uma alternativa possível de modernização.

Na graduação, Murgel se deparou com influências neocoloniais, de dentro e fora da faculdade, tendo-se inclusive leis que obrigavam que projetos nacionais construídos em outros países seguissem a arquitetura colonial. Nessa época, o curso de Arquitetura continha duas etapas; o curso geral, em que habilidades teóricas e artísticas eram desenvolvidas, e o curso mais direcionado a projetos de edificações. Este último, ao terminar um dos anos, eram realizados concursos de grau médio e máximo que atribuíam títulos de "construtor civil" e "engenheiro-arquiteto", caso o aluno fosse aprovado. Murgel recebeu a medalha de ouro em seu trabalho de grau máximo, que concorreu ao concurso de 1932, cujo tema era "Um edifício para Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro". Através desse projeto, Murgel define seus 3 princípios; "A verdade (...), a beleza (...) e identidade (...)".

Em seu último ano de graduação, Ângelo Alberto Murgel viveu a reforma modernista do ensino de arquitetura realizada por Lúcio Costa, em 1930, que criou um outro ateliê na escola, anteriormente tendo-se somente o ateliê do professor Archimedes Memória. Quando Murgel foi seu aluno, o ateliê seguia o sistema Beaux-Arts de ensino e, apartir de 1930, o Professor já tinha elaborado projetos com a linguagem Art-Déco, o que pode ter influenciado a escolha de projetos de Grau máximo elaborado por Murgel.

Em resumo, durante sua graduação, inúmeros estilos e linguagens estavam vigentes, sendo uma preocupação do próprio Ângelo Alberto Murgel, em ter uma expressão própria, diante de tantos estilos vigentes.

Logo depois de formado, Murgel projetou dois edifícios, considerados os dois primeiros arranha-céus de Belo Horizonte, o Cine Brasil, de 1932, e o Ibaté, de 1935, ambos no estilo Art Déco. O arquiteto volta para Belo Horizonte, a convite de Luiz Signorelli, para lecionar na Escola de Arquitetura da UFMG, recém criada, e em julho de 1932, já tem o seu primeiro projeto de pé, o Cine Theatro Brasil, que foi tombado em 1999. Além disso, em 1934, Murgel participou da Comissão Técnica Construtiva da cidade de Belo Horizonte, que buscava um plano regulador para o crescimento exagerado da capital mineira.

Durante os anos de 1932 a 1939, Murgel produziu projetos referentes ao estilo Art Déco - período em que trabalhou no Ministério da Agricultura - e posteriormente, ao estilo Neocolonial, tendo-se como exemplo os Parques Nacionais. Segundo ele, “(...) predomina o estilo colonial que é o que mais se adapta aos imperativos do nosso clima e permite o aproveitamento econômico do material disponível no próprio setor do trabalho”. Inclusive, durante a década de 1940, Murgel trabalhou exclusivamente nos projetos e na construção dos Parques Nacionais, que representou uma oportunidade de estudo e experimentação para o Arquiteto, considerando a novidade da proteção às unidades de conservação no Brasil. Os parques ofereciam serviços e moradias, mas também hospedagem, centros de lazer e estudos, tendo como principal estilo arquitetônico o Neocolonial, conciliando materiais tradicionais, em que “Apenas o essencial, em termos de materiais, deveria ser trazido de fora, tendo em vista que os principais componentes para as construções eram obtidos ‘in loco, lançando mão dos recursos regionais e aplicando-os de modo a obter o máximo efeito, consoante uma técnica adequada ‘ “, e a inovação de novas tecnologias, por meio de novos sistemas construtivos. Também, houve a implementação de um aspecto rústico nas edificações, por meio de pedras brutas e madeiras acabadas ou não, destacando o vínculo das edificações com o parque. O uso da linguagem Neocolonial, juntamente aos aspectos rústicos, foram responsáveis por garantir “ (...) uma identidade aos conjuntos projetados, esta espelhada numa expressão nacional “.

Murgel continuou usando a linguagem Neocolonial, durante a década de 1940, enquanto continuou trabalhando no Ministério da Agricultura. Já nos anos 1950, aprofundou seus estudos em Arquitetura Rural, o que, em 1962, resultou na tese “Análise do Belo”.

Não foram encontradas datas específicas, mas Murgel foi Professor catedrático e Vice-diretor da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (FAU/UFRJ).

Ângelo Alberto Murgel faleceu em 20 de agosto de 1978, no Rio de Janeiro.


Lista de projetos

Ângelo Murgel possui autoria em muitos projetos por todo o território brasileiro, abaixo estão citados alguns deles.

  • Cine Theatro Brasil – Belo Horizonte, MG - 1932

  • Edifício de Escritório Ibaté – Belo Horizonte, MG - 1935

  • Escola de Ciências Agrônomas de Botucatu – Botocatu, SP - 1936

  • Centro dos Chauffers – Belo Horizonte, MG – 1937

  • Casa de Saúde São Lucas – Tupaririguara, MG - 1937

  • Penitenciária Agrícola do Estado de Minas Gerais – Ribeirão das Neves, MG – 1938 Centro Nacional de Ensino e Pesquisas Agronômicas – Itaguaí, RJ - 1938

  • Brasil Palace Hotel – Belo Horizonte, MG - 1939

  • Aeroporto Nacional do Iguaçu – Foz do Iguaçu, PR – 1941

  • Residência José Ferolla – Belo Horizonte, MG - 1942

  • Hospital Imaculada Conceição – Patos de Minas, MG – 1945

  • Centro de Visitante do Parque Nacional de Itatiaia – Itatiaia, RJ – 1950

  • Hotel das Cataratas – Foz do Iguaçu, PR – 1958

  • Casa de Administrador do Parque Nacional da Serra dos órgãos – Teresópolis, RJ

* Cidade-Operária de Monlevade – João Monlevade, MG - 1938

* Núcleo Agro-Industrial – Itaparica, BA – 1942

* Campus da Universidade Rural – Itaguaí, RJ - 1943

Figura 3: Cine Theatro Brasil e Brasil Pallace Hotel na Praça Sete. Disponível em: https://www.tendenciasmag.com.br/aniversario-iconico/
Figura 3: Cine Theatro Brasil e Brasil Pallace Hotel na Praça Sete. Disponível em: https://www.tendenciasmag.com.br/aniversario-iconico/
Figura 4:  Projeto para Casa de Administrador (Chefe do Parque) no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/320570939_Urbanismo_em_Minas_Gerais_idearios_urbanisticos_aplicados_aos_parques_nacionais_por_Angelo_A_Murgel_1932-1942
Figura 4:  Projeto para Casa de Administrador (Chefe do Parque) no Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/320570939_Urbanismo_em_Minas_Gerais_idearios_urbanisticos_aplicados_aos_parques_nacionais_por_Angelo_A_Murgel_1932-1942

Análise de projetos

Cine Theatro Brasil

FICHA TÉCNICA
  • Nome da obra: Cine Theatro Brasil

  • Localização: Rua dos Carijós, 258 , Centro, 30120-060, Belo Horizonte, MG

  • Ano de construção: 1932

  • Área construída: 8.300 m²

  • Tipologia do edifício: Uso misto - Entretenimento, comercial e empresarial

  • Estilo: Art Déco

Figura 5: Cine Theatro Brasil. Fotografia: Marcelo Palhares Santiago. Disponível em: https://www.arqbh.com.br/2007/06/cine-brasil.html
Figura 5: Cine Theatro Brasil. Fotografia: Marcelo Palhares Santiago. Disponível em: https://www.arqbh.com.br/2007/06/cine-brasil.html

O Cine Theatro Brasil, prédio localizado em Belo Horizonte, na esquina da Avenida Amazonas com a Rua dos Carijós, foi inaugurado em 1932, encomendado pela empresa Cine Teatral LTDA, que era considerada a maior empresa de cinema do país. O edifício foi projetado por Ângelo Alberto Murguel, associado aos seus então colegas professores na Escola de Arquitetura Rafaello Betti e Luiz Signorelli, com a importante consultoria do engenheiro e especialista em concreto armado Emílio Baumgart – que antes projetou o icônico Viaduto Santa Tereza. 

O Cine Theatro Brasil carrega alguns títulos importantes no território da capital mineira, sendo considerado o primeiro arranha-céu de Belo Horizonte, com 8 pavimentos -perdendo este cargo em 1935 para o Edifício Ibaté, também projetado por Murgel – o primeiro construído em concreto armado, e considerado o precursor do movimento Art Déco na arquitetura belo-horizontina.

O contexto de construção do prédio se dá na época de verticalização e modernização de Belo Horizonte, em que, para a instalação de construções maiores, ocorreu uma leva de demolições de prédios ecléticos construídos no início da urbanização da capital, que tinham a altura máxima de 5 pavimentos, já que eram estruturadas totalmente por tijolos. O Cine Theatro não foge desta realidade, sendo construído em cima da demolição de um prédio assinado por Luiz Ollvieri, em 1898.

A empresa contratante instituiu um programa de necessidades extenso: espaço para teatro, cinema, bar, galeria, escritórios e lojas, tudo em um só prédio. Além do tamanho do projeto, as condições do sítio eram complicadas: uma esquina com espaço triangular e reduzido, em uma região de grande circulação, com uma topografia complicada. A solução para os obstáculos de acessos, inclinação e lotação para cada programa foi dividido em três estratégias que iriam reger todo o projeto, a fim de racionalizar o espaço: a máxima ocupação, a verticalização, e a elaboração de um térreo semienterrado. 

Figura 6: Vista aérea da Praça Sete. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 6: Vista aérea da Praça Sete. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 7: Localização do Cine Theatro Brasil. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/784060/arqueologia-estrutural-vazio-s-a
Figura 7: Localização do Cine Theatro Brasil. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/784060/arqueologia-estrutural-vazio-s-a
Figura 8: Cine Theatro antes da restauração. Disponível em: http://www.cinemasdesp.com.br/2015/07/exemplos-de-preservacao-dos-cinemas-de.html
Figura 8: Cine Theatro antes da restauração. Disponível em: http://www.cinemasdesp.com.br/2015/07/exemplos-de-preservacao-dos-cinemas-de.html

A fachada do prédio possui volumes geométricos bem definidos, pouca ornamentação, vitrais de ferro e vidro martelado e revestimento das fachadas em pó de pedra. As esquadrias são estendidas verticalmente, o que segue ideias do Art déco na tentativa de dar a impressão de altura ao prédio. Localizado entre duas vias, a fachada ressalta e valoriza a esquina, arredondando sua forma e concentrando suas ornamentações nesta centralização. A simetria da fachada e de suas plantas é outra característica marcante do Art Déco, sendo o princípio da lógica estrutural e organizacional do prédio.

Figura 9: Vista da esquina. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 9: Vista da esquina. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 10: Vista das vias. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade"
Figura 10: Vista das vias. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade"
Figura 11: Planta de implantação. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade"
Figura 11: Planta de implantação. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade"
Figura 12: Corte longitudinal. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 12: Corte longitudinal. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 13: Corte transversal. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 13: Corte transversal. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 14: Pavimento térreo. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 14: Pavimento térreo. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”

O pavimento térreo possui um bar que se estende por todo o andar, 10 lojas distribuídas igualmente com entradas voltadas para os passeios públicos, e uma galeria localizada na menor cota de nível do terreno, no lado oposto à esquina. Pela galeria, se tem acesso à 6 lojas internas, a dois banheiros e ao Bar Brasil. A parte semienterrada é a que está na esquina, permitindo o acesso aos teatros pela Praça Sete, pelo segundo pavimento. Os acessos para este andar encontram-se nas duas aberturas voltadas para as vias.

Figura 15: Segundo pavimento. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 15: Segundo pavimento. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”

O segundo ao quinto pavimento são reservados para os espaços de entretenimento. O segundo pavimento possui acesso único pela Praça Sete, entrando no vestíbulo (sala de entrada de teatros, um hall de entrada que possibilita a privacidade entre palco e acesso, distribuindo o público para entrar na sala e se instalar em seus assentos), dividindo a circulação em dois corredores afluentes, que em seu final possuem escadas para acesso aos teatros superiores. Esses dois corredores possuem aberturas para o público entrar nos corredores de seus respectivos assentos na plateia. O palco expõe uma distribuição incomum na conformação dos espaços em um cineteatro, já que, habitualmente, o acesso principal do teatro é oposto ao palco, o que não acontece no Cine Theatro Brasil, dando preferência ao espaço destinado a plateia para comportar a maior quantidade de público possível.

Figura 16: Terceiro pavimento. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 16: Terceiro pavimento. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 17: Quarto pavimento. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 17: Quarto pavimento. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”

Esta lógica é aplicada nos pavimentos seguintes, com algumas adições pontuais. No terceiro pavimento, há duas salas de espera no final das escadas de acesso, balcões (assentos no fundo da sala que estão em um nível de altura maior que o da plateia geral), e 12 frisas (camarotes que ficam nas paredes laterais de uma sala, quase ao nível da plateia ou palco). O quarto pavimento possui as mesmas características supracitadas, com a adição de dois espaços para coristas, cada uma extremidade do palco, voltado para as paredes laterais. O quinto pavimento possui uma cabine controle de imagens e iluminação para projeção, nove camarins, e área técnica.

Figura 18: Quinto pavimento. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”
Figura 18: Quinto pavimento. Disponível em: Livro “Cine Theatro Brasil Vallourec na Cultura e na Memória da Cidade”

Do sexto ao oitavo andar, havia um espaço vazio central, já que o pé-direito do palco se estendia até o topo do edifício, e a cobertura da plateia ficava no sexto nível. Nesses andares superiores, que são pavimentos tipo, estavam distribuídas 36 salas de escritório, organizadas de forma equilibrada em pavimentos padrão, cada um contendo dois sanitários e 12 salas simetricamente posicionadas em ambos os lados do prédio.


casa de saúde São Lucas

FICHA TÉCNICA
  • Nome da obra: Casa de Saúde São Lucas

  • Localização: Avenida Francisco Sales, 1186, Santa Efigênia, 30150-221, Belo Horizonte, MG

  • Ano de construção: 1937

  • Área construída: 4.010 m²

  • Tipologia do edifício: Hospital

  • Estilo: Art Déco

Figura 19: Hospital São Lucas em construção. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf
Figura 19: Hospital São Lucas em construção. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf

O Hospital São Lucas está localizado na esquina da Rua Ceará com a Avenida Francisco Sales. Seu primeiro pavilhão foi construído em 1924 para funcionar como necrotério da Santa Casa de Belo Horizonte e para tratar casos de tuberculose, em 1937, foi inaugurada sua obra com projeto de Ângelo Murgel devido à necessidade de ampliação. Ele surgiu em um momento de modernização da cidade, principalmente nas áreas de saúde e educação.

Figura 20: Localização do hospital. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf
Figura 20: Localização do hospital. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf

Assim como o Cine Theatro Brasil e o Brasil Palace Hotel, outros projetos do arquiteto, o terreno localizado na esquina tem formato praticamente triangular e a implantação segue o alinhamento das vias. Outro aspecto semelhante entre eles é o estilo Art Déco.

Entre as características do movimento arquitetônico presentes no edifício estão o uso de volumes geométricos simplificados, a simetria (tanto em fachada, quanto em planta), as linhas retas, a racionalidade, as cores acinzentadas, a pouca ornamentação e, também, o jogo de volumes/ritmo nas fachadas, criado pelos quadros centrais de maior extensão e pelos quadros laterais mais avançados nas fachadas laterais, além do volume proeminente na esquina que une essas duas fachadas.

Figura 23: Fachada para a Rua Ceará. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf
Figura 23: Fachada para a Rua Ceará. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf
Figura 24: Fachada para a Avenida Francisco Sales. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf
Figura 24: Fachada para a Avenida Francisco Sales. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf

O volume do hospital é dividido em três partes: base, corpo e coroamento. A primeira é composta pelo primeiro pavimento, com pé direito mais alto que dos outros andares e acabamento parcialmente em mármore. As duas outras têm acabamento em pó-de-pedra, assim como no Cine Theatro Brasil, e são separadas pela marquise onde inicia o peitoril do terraço e pelo escalonamento.

O quadro central de cada lateral contém aberturas rítmicas com mesmo alinhamento, elas possuem proteção externa de controle de iluminação por escotilha, uma possível herança do design naval. No volume da esquina, há um vão de janelas ininterrupto na direção horizontal, suas esquadrilhas são de vidro e ferro, materiais do Art Déco. Nos quadros laterais longe da esquina, há aberturas retangulares e circulares, sendo o segundo tipo também influência do design naval.

O sistema construtivo utilizado é a alvenaria convencional com concreto armado. Isso é essencial para facilitar e permitir modificações nos ambientes internos, o que é comum em hospitais. Além disso, esse método possibilitou que Ângelo Murgel criasse um espaço coberto no térreo para embarque e desembarque de pacientes na entrada principal do edifício.

Com relação à decoração no interior, por se tratar de um hospital, é sóbria e sem ornamentos, exceto pelo hall de entrada e recepção. Esses ambientes também seguem a estética Art Déco, inclusive com elementos parecidos ou idênticos aos do Cine Theatro Brasil e do Brasil Palace Hotel.

Figura 25: Hall de entrada e recepção. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf
Figura 25: Hall de entrada e recepção. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf

A edificação possui seis pavimentos. No primeiro ficam os setores de urgência e emergência, o acesso principal na esquina e o acesso pela Rua Ceará, além de áreas de serviço. O segundo ao quinto possuem, em cada um dos pavimentos, dez leitos para internação, duas salas cirúrgicas, uma sala de espera para familiares e áreas técnicas. No sexto pavimento, ficam os setores administrativos, os espaços técnicos de médicos e enfermeiros, depósitos, áreas de serviço e o acesso ao terraço de cobertura do quinto andar.

Figura 26: Planta do Primeiro pavimento. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf
Figura 26: Planta do Primeiro pavimento. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf
Figura 27: Planta do Segundo ao Quinto pavimento. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf
Figura 27: Planta do Segundo ao Quinto pavimento. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf
Figura 28: Planta do Sexto pavimento. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf
Figura 28: Planta do Sexto pavimento. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf

Referências


SOUZA, Juliana. A Arquitetura de Paisagens e os Parques Nacionais no EUA e no Brasil. 2019. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Sustentável) - Universidade de Brasília. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/parnaitatiaia/images/stories/2020/O_que_fazemos/Pesquisa/365-Disserta%C3%A7%C3%A3o_JulianaSouza.pdf


RODRIGUES, Bernard. Ângelo Murgel: trajetória singular (1932-1939). 2016. Dissertação - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/1321742_2016_completo.pdf


LIMA, Fábio. Modernidade e tradição nas propostas elaboradas pelo arquiteto Angelo Murgel para os Parques Nacionais: O Parque Nacional do Iguassú e o seu aeroporto. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/parnaitatiaia/images/stories/2020/O_que_fazemos/Notas_de_Pesquisa/371-.pdf


BLOGUER, Paulo. Modernidade e tradição nas propostas elaboradas pelo arquiteto Angelo Murgel para os Parques Nacionais: o Parque Nacional do Iguassú e o seu aeroporto. H2Foz, 13 dez. 2019. Disponível em: https://www.h2foz.com.br/geral/modernidade-e-tradicao-nas-propostas-elaboradas-pelo-arquiteto-angelo-murgel-para-os-parques-nacionais-o-parque-nacional-do-iguassu-e-o-seu-aeroporto/


LIMA, Fábio. Urbanismo em Minas Gerais: ideários urbanísticos aplicados aos parques nacionais por Angelo A. Murgel (1932-1942). Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/320570939_Urbanismo_em_Minas_Gerais_idearios_urbanisticos_aplicados_aos_parques_nacionais_por_Angelo_A_Murgel_1932-1942


CONRADO, Vanessa. Cine Theatro Brasil Vallourec na cultura e na memória da cidade. Belo Horizonte: Ed. do Autor, 2019.


Arqueologia Estrutural / Vazio S/A. ArchDaily. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/784060/arqueologia-estrutural-vazio-s-a



FREITAS, Daniel. Aproximações entre Arquitetura e Urbanismo nas Intervenções Realizadas no Hipercentro de Belo Horizonte. 2006. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais.




MAYARA, Jéssica. Hospital São Lucas completa 98 anos. Estado de Minas, 16 out. 2020. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/bem-viver/2020/10/16/interna_bem_viver,1195321/hospital-sao-lucas-completa-98-anos.shtml


autores

Júlia Correa

Mariana Melo

Mariana Versiani


 
 
 

Comentários


© 2023 por O Artefato. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Facebook B&W
  • Twitter B&W
  • Branca Ícone Instagram
bottom of page