ÂNGELO BUCCI
- 3 de set. de 2020
- 21 min de leitura
Atualizado: 11 de set. de 2020
Arquiteto contemporâneo de São Paulo

1. HISTÓRIA
Angelo Bucci nasceu em Orlândia, cidade localizada no interior de São Paulo, no ano de 1963. É um arquiteto contemporâneo, autor de projetos como Pavilhão de Sevilha, asa de fim de semana, Casa em Ubatuba II e Casa em Santa Teresa, e importante no cenário arquitetônico e acadêmico mundial.
Em 1983, com apenas 20 anos, mudou-se para a capital do estado para cursar Arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), na qual se formou em 1987. De 1991 a 1998 fez mestrado na mesma instituição, com a seguinte tese: “Anhangabaú, o Chá e a Metrópole”. Nesta tese foi feita a análise de três projetos dos arquitetos Le Corbusier, Prestes Maia e Vilanova Artigas.
Entre 2000 e 2005 realizou doutorado, com a seguinte tese: “São Paulo: quatro imagens para quatro operações”. Em 2010, publicou um livro: “São Paulo, Razões de Arquitetura: da Dissolução dos Edifícios e de Como Atravessar as Paredes”, sendo essa obra um resultado da sua tese de doutorado.
Após graduar-se em Arquitetura, de 1987 a 1989 foi colaborador de diversos escritórios de arquitetura, trabalhando no Escritório Aflalo e Gasperini e, em seguida, com o arquiteto Marcello Fragelli. Em 1989, associado a dois arquitetos Álvaro Puntoni e Álvaro Razuk, fundou o escritório Arquitetura Paulista, nome que fazia alusão a um manifesto, onde exerceram a profissão até 1992.
Paralelo a esse momento, em 1990, torna-se professor da Universidade de Arquitetura de Taubaté, ministrando a disciplina de Projeto de Edificações. Após o fechamento do escritório, colaborou ainda com Puntoni no projeto Pousada no Juquehy, em São Sebastião, São Paulo. Colaborou também, em 1994, com Eduardo de Almeida no Projeto do Novo Teatro de Ópera, em São Paulo. Após esse ano, fez alguns projetos em sua cidade natal, Orlândia.
Em 1996, funda o escritório MMBB em conjunto com os arquitetos Milton Braga, Fernando de Mello Franco e Marta Moreira. Em 2000, ano em que obteve o título de Mestre, inicia sua carreira de docência de projeto de arquitetura na USP. Nesse período teve a oportunidade de colaborar com Paulo Mendes da Rocha em diversos projetos.
Já em 2002, se afasta do MMBB, fundando o escritório SPBR em 2003 ao lado do arquiteto Álvaro Puntoni, escritório esse que dirige até hoje. Além de lecionar na USP, no ano de 2005 passa a atuar como professor visitante em algumas universidades internacionais como Harvard, MIT e Universidade de Veneza e, em 2011, torna-se membro honorário do American Institute of Architects (AIA) em Washington.
1.1 Projetos
Autor de projetos residenciais, de equipamentos culturais ou urbanos, de edifícios residenciais de pequeno e médio portes. Orlândia, sua cidade natal, foi um grande palco para suas obras, mas suas criações não se restringiu a Orlândia, São Paulo e Brasil, mas ao mundo todo. É no primeiro escritório, Arquitetura Paulista, que vence o concurso para o Pavilhão do Brasil na Expo ‘92 de Sevilha.
Pavilhão do Brasil

Fonte: Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/pt/wp-content/uploads/2014/09/SPBR_00_MG_8081.jpg>.
Durante o tempo que passou no escritório MMBB, projetou a casa de Ribeirão Preto, Consultório de Odontologia em Orlândia, a casa em Aldeia da Serra e o projeto da garagem subterrânea Trianon, na Praça Alexandre de Gusmão, que teve como premissa a preservação da configuração prévia da praça, além de colaborar com Paulo Mendes da Rocha em diversos projetos.
Garagem Trianon vista interior

Fonte: Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/pt/wp-content/uploads/2014/09/SPBR_130_e16f.jpg>.
Garagem Trianon vista exterior
Fonte: Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/pt/wp-content/uploads/2014/09/SPBR_130_e17.jpg>.
Em 2003, ao abrir o seu atual escritório, fez dois projetos marcantes: a casa em Carapicuíba e a Escola Ataliba Leonel. Atualmente possui uma lista extensa de projetos assinado pelo SPBR, escritório que soma vários prêmios.
Projeto Casa em Carapicuíba

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <https://www.nelsonkon.com.br/wp-content/uploads/2018/11/CF022829.jpg>.
Escola Ataliba Leonel

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <https://www.nelsonkon.com.br/wp-content/uploads/2018/04/spbr_alvaro_puntoni_escola_fde_jardim_ataliba_leonel_xspbfd_10.jpg>.
1.1.1 Lista de projetos
Concursos
Galeria dos Projetos de Concurso

Fonte: Captura de tela do Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/portfolio-gallery/concursos/>.
Midiateca PUC - Rio de Janeiro, 2016 - SPBR Arquitetos
Instituto Moreira Salles - São Paulo, 2011 - SPBR Arquitetos
Futura Universidade do IMPA - Rio de Janeiro, 2015 - SPBR Arquitetos
Igreja Natividade - Culiacan, México, 2009 - SPBR Arquitetos
Museu Bauhaus Dessau - Dessau, Alemanha, 2015 - SPBR Arquitetos
Residência de estudantes no Ourcq-Jaurès - Paris, França, 2015 - SPBR Arquitetos e ARQ LAB
Garagem em Murten - Murten, Suíça, 2013 - SPBR Arquitetos
Concurso Open House - Salvador, Bahia, 2015 - SPBR Arquitetos
Museu de Arte de Lima - Lima, Peru, 2016 - SPBR Arquitetos + Barclay & Crousse
Nova Sede da CAF - Caracas, Venezuela, 2008 - SPBR Arquitetos
Elemental Chile - Chile, 2003 - SPBR Arquitetos
Memorial à República - Piracicaba, São Paulo, 2002 - SPBR Arquitetos
Pavilhão do Brasil na Expo 92 - Sevilha, Espanha, 1992 - Angelo Bucci, Alvaro Puntoni e José Oswaldo Villela.
Infraestrutura
Galeria dos Projetos de Infraestrutura
Fonte: Captura de tela do Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/portfolio-gallery/infra-estrutura/>.
Passarela de pedestres em Olten - Olten, Suíça, 2006 - SPBR Arquitetos
Garagem Trianon - São Paulo, 1996 - MMBB Arquitetos
Quartel do Glicério - São Paulo, 2008 - SPBR Arquitetos
Institucional
Galeria dos Projetos Institucionais
Fonte: Captura de tela do Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/portfolio-gallery/institucional/>.
Arena Cultural do Hospital de Câncer de Barretos - Barretos, São Paulo, 2014 - SPBR Arquitetos
Hospital de Urgência em São Bernardo do Campo - São Bernardo do Campo, São Paulo, 2015 - SPBR Arquitetos
Um novo MAM para São Paulo e o Parque do Ibirapuera no V Centenário - São Paulo, 2013 - SPBR Arquitetos
Escola FDE Jardim Ataliba Leonel - São Paulo, 2004 - SPBR Arquitetos
Colégio Marista - Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, 2005 - SPBR Arquitetos
Pavilhão administrativo em Santo Antônio dos Lopes - Santo Antônio dos Lopes, Maranhão, 2012 - SPBR Arquitetos
Sede da Orquestra Filarmônica Afro-Brasileira - São Paulo, 2004 - SPBR Arquitetos
Centro Cultural - São Lourenço da Serra, São Paulo, 2003 - SPBR Arquitetos
Biblioteca - Santana do Parnaíba, São Paulo, 2003 - SPBR Arquitetos, Álvaro Razuk e Alvaro Puntoni
Clínica Odontológica - Orlândia, São Paulo, 1998 - MMBB Arquitetos
Reforma da Oca - São Paulo, São Paulo, 1999 - MMBB Arquitetos e Paulo Mendes da Rocha; [Projeto Original de Oscar Niemeyer, 1954]
Residencial
Galeria dos Projetos Residenciais

Fonte: Captura de tela do Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/portfolio-gallery/residencial/>.
Casa de Fim de Semana - São Paulo, 2011 - SPBR Arquitetos
Edifício de apartamentos em Lugano - Lugano, Suíça, 2010 - SPBR Arquitetos
Edifício de apartamentos em Silves - Silves, Portugal - 2008 - SPBR Arquitetos
Casa em Ubatuba - Ubatuba, São Paulo, 2006 - SPBR Arquitetos
Casa na Serra da Canastra - Passos, Minas Gerais, 2017 - SPBR Arquitetos
Casa em Sagaponack - Nova York, EUA, 2017 - SPBR Arquitetos
Edifício de apartamentos em Moema, retrofit (Nomad) - São Paulo, 2017 - SPBR Arquitetos
Edifício de apartamentos na Vila Olímpia (Float) - São Paulo, 2014 - SPBR Arquitetos
Casa no Jardim Europa - São Paulo, 2017 - Angelo Bucci
Casa e salão de cabeleireiros em Orlândia - Orlândia, São Paulo, 2018 - SPBR Arquitetos
Casa em Santa Teresa - Rio de Janeiro, 2004 - SPBR Arquitetos
Casa em Carapicuíba - Carapicuíba, São Paulo, 2003 - SPBR Arquitetos
Casa em Orlândia – Reforma - Orlândia, São Paulo, 2008 - SPBR Arquitetos
Casa em Ribeirão Preto - Ribeirão Preto, São Paulo, 2000 - MMBB Arquitetos
Casa em Ubatuba II - Ubatuba, São Paulo, 2012 - SPBR Arquitetos
Casa em Aldeia da Serra - Aldeia da Serra, São Paulo, 2001 - MMBB Arquitetos
Casa em Itaipava - Itaipava, Rio de Janeiro, 2012 - SPBR Arquitetos
Jardim América - São Paulo, 2011 - SPBR Arquitetos
Edifício de apartamentos na Pompéia (Brisa) - São Paulo, 2013 - SPBR Arquitetos
Casa em Campinas - Campinas, São Paulo, 2011 - Angelo Bucci
Casa em Orlândia - Orlândia, São Paulo, 2011 - SPBR Arquitetos
Casa em Santana do Parnaíba - Santana do Paraíba, São Paulo, 2014 - SPBR Arquitetos
Casa e estúdio em Portland - Oregon, EUA, 2008 - Angelo Bucci
Casa em Cotia - Cotia, São Paulo, 2008 - SPBR Arquitetos
Casa em East Hampton - Nova York, EUA, 2007 - SPBR Arquitetos
Casa em Phoenix - Phoenix, EUA, 2005 - Angelo Bucci e Mike Braun
Reforma Casa Olga Baeta - São Paulo, 1996 - Angelo Bucci [Projeto Original: João Batista Vilanova Artigas, 1957]
Serviços
Galeria dos Projetos de Serviços
Fonte: Captura de tela do Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/portfolio-gallery/servicos/>.
Vinícula em São José do Rio Preto, São José do Rio Preto, São Paulo, 2013 - SPBR Arquitetos
Clínica de Psicologia, Orlândia, São Paulo, 1995 - Angelo Bucci
Clínica de Odontologia, Orlândia, São Paulo, 1998 - Angelo Bucci
Edifício Sede Treetech Sistemas Digitais, Atibaia, São Paulo, 2010 - SPBR Arquitetos
Adega em Alcantarilha, Alcantarilha-Portugal, 2011 - SPBR Arquitetos
1.1.2 Prêmios
Pelo escritório Arquitetura Paulista, vence o Concurso do Pavilhão do Brasil para a Expo ‘92 projeto que teve a cultura brasileira como orientação, chamando atenção da crítica internacional.
Pelo MMBB o projeto do estacionamento Trianon venceu o prêmio "Grande Prêmio "Ex Aequo" - Arquitetura" da 4ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.
Pelo SPBR, em 2019, o Hospital de Urgências de São Bernardo dos Campos venceu o prémio na categoria Melhor obra de Arquitetura da APCA (Associação Paulista de Críticos da Arte).
Lista de prêmios
Casa de fim de semana, SP - Mies Crown Hall America’s Prize - Finalista 2015-2014, 2016.
Casa de fim de semana, SP - Bienal de Arquitectura de Quito, 2016.
Casa fim de Semana, SP - Revista Arquitetura e Construção - Prêmio O Melhor da Arquitetura (categoria casa urbana - menos de 300 m²), 2014.
Casa fim de Semana, SP - IX BIAU – Bienal Iberoamericana de Arquitectura y Urbanismo, 2014.
Casa em Ubatuba, SP - Revista Arquitetura e Construção: Prêmio O Melhor da Arquitetura (categoria casa na praia), 2010.
International Young Generation, XII Architecture International Biennial of Buenos Air, 2009.
Casa em Santa Teresa, RJ - Revista Arquitetura e Construção: Prêmio O Melhor da Arquitetura (categoria casa urbana), 2008.
Midiateca PUC Rio, RJ - Medalha de Prata na premiação Holcim para Arquitetura Sustentável – América Latina, 2008.
Casa em Santa Teresa, RJ - Menção Honrosa na VII Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, 2007.
Primeiro Prêmio no concurso para a Nova Biblioteca Central da PUC-Rio, 2016.
Residência em Carapicuíba, SP - III Prêmio CAUÊ, 2004.
Residência em Ribeirão Preto, SP - MENÇÃO HONROSA – V Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, 2003.
Memorial à República em Piracicaba, SP - Concurso Nacional, 2002.
Residência em Ribeirão Preto - PRÊMIO IAB MELHOR OBRA CONSTRUÍDA
Concurso Nacional para Projeto da Sede do CREA Ceará, 2001.
MENÇÃO HONROSA – Concurso para o Plano Diretor da Faculdade de Medicina USP, 2000.
Projeto Garagem Trianon - PRÊMIO EX AEQUO: IV Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo
Clínica de Odontologia - OBRA INDICADA ao Prêmio Mies van der Rohe
Pousada em Juqueí - MENÇÃO HONROSA – III Prêmio Jovens Arquitetos, 1996.
Concurso Nacional de Projetos para o Pavilhão Brasileiro EXPO 92, 1991.
2. INFLUÊNCIAS
As atividades exercidas por Angelo Bucci no âmbito acadêmico foram fator importante para que o arquiteto pudesse estudar novas possibilidades e investigá-las através do trabalho prático-profissional. Tendo estudado e posteriormente se tornado professor em uma faculdade (FAU/USP), fundada sobre princípios que emergiam na época de sua inauguração (1948), os trabalhos e estudos de Bucci se pautam muito sobre essas ideias, que evoluíram conforme o andamento dos anos.
Vilanova Artigas (1915-1985), um dos fundadores da FAU/USP e projetista do novo prédio da faculdade concluído em 1969, é um dos arquitetos mais influentes no trabalho de Bucci, sendo um dos principais pilares do movimento existente em São Paulo no mesmo período, a chamada “Escola Paulista”. Em uma breve contextualização, pode-se dizer que a Escola Paulista foi marcada pelos ideais modernistas, aliados à elevação do conceito de projetar aos domínios sociais e políticos, sendo, portanto, uma arquitetura mais humanista.
Novo prédio da FAU/USP

Fonte: OWAR Arquitectos (2011). Disponível em: <https://images.adsttc.com/adbr001cdn.archdaily.net/wp-content/uploads/2011/12/1322858051_owar_arquitectos_13.jpg>.
Na arquitetura de Angelo Bucci é notável a presença de elementos valorizados pela Escola Paulista, como o traço simples e o uso de estruturas aparentes. Entretanto, pode-se perceber que o trabalho do arquiteto é uma nova interpretação dessas ideias, aliadas às suas próprias. Em uma entrevista realizada ao site Entre, Bucci é questionado sobre seu pertencimento à Escola Paulista de arquitetura, ao qual responde:
“Comecei a compreender melhor a obra do Artigas pelos seus textos. O que ele escreveu me marcou antes que os próprios edifícios e transformaram a compreensão que eu tinha dos edifícios dele. Precisei conhecer algumas coisas e me formar um pouco para compreender melhor a obra de Vilanova Artigas. Então, se vocês me perguntam se me sinto pertencente a uma arquitetura que possa ser representada pela obra dele, eu responderia que sinto que devo muito a ele e a muita gente que veio antes de mim. Devo muito aos professores que tive, às gerações precedentes, pois recebi deles um arsenal teórico e prático para começar. No entanto, a classificação ‘Escola Paulista’ me parece extremamente limitadora. Não concordo, porque não creio que isso ajude em algo. Ao contrário, confunde. Não concordo com o termo ‘Escola Paulista’, porque é uma classificação imprecisa, que tende a igualar nessa classificação, junto da melhor produção arquitetônica de um período específico, obras de arquitetura desprovidas de qualidade, obras que carecem de justificativa, de envolvimento com a atividade e inclusive de engajamento político. Assim confunde. Por outro lado, essa classificação exclui sem nenhuma razão grande parte da produção arquitetônica de São Paulo que deveria ser considerada, não fosse por um critério de classificação superficial. Talvez, justamente porque eu preze tanto os dois maiores nomes que, consensualmente, representariam essa ‘escola’ e que, ao mesmo tempo, brilham acima de qualquer rótulo — refiro-me naturalmente a Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha — é que eu a recuso como classificação. Minha geração veio depois de um hiato. Foi uma geração sem nenhum sinal heróico, tampouco com contas a prestar com o que nos precedeu. A minha geração pôde, inclusive, pela lacuna que encontrou, eleger suas precedências; quero dizer, teceu seus vínculos com uma liberdade que faltou à geração anterior. De certo modo, mais livre e mais árduo” (BUCCI, 2009).
Buscando se inspirar mais no estilo de trabalho de Vilanova Artigas do que no termo generalista de “Escola Paulista”, que abrange tipos de arquitetura “desprovidas de qualidade”, Bucci deixa claro a influência desse arquiteto em suas atividades. Referindo-se, em uma conferência online realizada pela faculdade PUC Minas, a uma frase comumente dita por Artigas, Bucci se pauta nela para a execução humanista de seus trabalhos: “Devemos ver a casa como uma cidade e uma cidade como uma casa”.
Casa de Fim de Semana

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <https://www.nelsonkon.com.br/wp-content/uploads/2018/11/IMG_1914-2.jpg>.
Uma das principais diferenças que pode ser observada entre o trabalho de Angelo Bucci e as ideias da Escola Paulista é a falta de identificação do arquiteto com a “caixa de concreto”, preferindo uma arquitetura mais “desmontada”, “fragmentada”. Outra diferença importante é o uso de outros materiais de construção, como o aço, indo além da exclusividade do concreto. Quando questionado sobre o assunto, o arquiteto diz que o uso do concreto na década de 50 se dá muito à facilidade de acesso e produção, tornando mais viável o uso desse material. Nos dias de hoje, a disponibilidade e manuseio de novos materiais não se torna um empecilho como naquele período.
Aproximando-se das ideias humanistas de Vilanova Artigas, Angelo Bucci valoriza muito o modo de executar-se uma obra, evidenciando que a proximidade a ela se torna um fator de extrema importância. Estima o diálogo e a parceria com o engenheiro responsável para que se consiga lidar com possíveis problemas, elaborando-se estratégias para saná-los, assim como admira a interação com os operários da obra (em alguns projetos, diz que muitos deles eram seus amigos), transmitindo a ideia de que uma obra bem feita é composta, imprescindivelmente, desses elementos. Ainda, diz que a maquete física é importante aliada para se aproximar de um projeto, estendendo a percepção desse para as três dimensões e identificando falhas e acertos antes e durante a obra. Entretanto, salienta que o apego excessivo às maquetes físicas não é aconselhável, devendo essas servir apenas de material de apoio, uma vez que não representam totalmente a realidade.
Estendendo suas influências ao urbanismo, Bucci dá depoimentos, em uma entrevista realizada pela Casa de Arquitectura, de seu livro, “São Paulo, razões de arquitetura: Da dissolução dos edifícios e de como atravessar paredes” (2010), resultado de sua tese defendida em 2005. O arquiteto traz suas ideias humanistas ao âmbito urbanístico e, diferentemente do senso comum de violência, evidencia a desigualdade social como a violência fundamental da cidade e traz a discussão de quantas vidas a cidade “sacrifica” para poder sobreviver. Exemplifica São Paulo como uma cidade que desce em direção aos rios, expulsando “ladeira abaixo” os elementos indesejados. O arquiteto defende, portanto, a ideia de que é, sim, possível fazer projetos para reverter os problemas e superar as crises, podendo-se remontar a “psicogeografia” e dissolver as “paredes”, materializadas (em forma de muro de concreto) ou não, da cidade.
3. ANÁLISE DAS OBRAS
3.1 Casa em Ubatuba II
Ficha Técnica
Local: Ubatuba - SP
Projeto: 2011-2012
Obra: 2013-2014
Tipologia de uso: Residencial
Autor: Angelo Bucci
Equipe: Tatiana Ozzetti, Nilton Suenaga, Ciro Miguel, Juliana Braga, Fernanda Cavallaro, Victor Próspero
Estrutura: Inner Engenharia [Marcelo José Bianco, Ricardo Bozza]
Construção: José Bernardino E. de Sousa
Instalações: JPD
Paisagismo: Raul Pereira
Área do terreno: 887,50 m²
Área construída: 350,40 m²
Fotos: Nelson Kon
3.1.1 Análise da planta
O edifício é dividido em três volumes, sendo um principal e dois satélites, construídos sobre um terreno íngreme de 887 m². A implantação foi feita do nível da rua para baixo, de forma que o acesso à casa é feita pelo quarto e último pavimento.
Planta do quarto pavimento

Fonte: Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/pt/wp-content/uploads/2014/09/SPBR_1112_DSN_01.jpg>.
No quarto pavimento encontra-se o estacionamento, acima do primeiro volume satélite, e a cobertura, acima do volume principal. Eles são conectados entre si por uma passarela externa. A cobertura serve como um mirante particular, uma área de estar com vista para a praia que conta com infraestrutura básica de cozinha.
Uma escada lateral serve de acesso para os dormitórios, no terceiro pavimento, e para os outros andares.
Planta do terceiro pavimento

Fonte: Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/pt/wp-content/uploads/2014/09/SPBR_1112_DSN_02.jpg>.
No nível do terceiro pavimento, o primeiro volume satélite conta com infraestrutura de cozinha, banheiro e um quarto. No mesmo nível, no volume principal, encontram-se três suítes e um lavabo, e todos os quartos possuem vista desobstruída para a praia. Há uma escada interna que leva ao segundo pavimento, além da escada externa.
Planta do segundo pavimento

Fonte: Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/pt/wp-content/uploads/2014/09/SPBR_1112_DSN_03.jpg>.
O segundo pavimento abriga a cozinha principal, a sala de estar e um lavabo, e também conta com vista de fora-a-fora da praia. O acesso ao pavimento inferior deve ser feito por uma escada externa.
Planta do primeiro pavimento

Fonte: Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/pt/wp-content/uploads/2014/09/SPBR_1112_DSN_04.jpg>.
Por fim, no pavimento térreo, que na verdade é um pilotis, temos uma área de lazer e uma cozinha de apoio. Esse nível se estende para frente e para fora da sombra do volume principal, e se transforma no volume final do projeto, que consiste de um deck, uma piscina e uma sala de manutenção.
3.1.2 Espacialidade
Tratando-se de uma residência, é possível notar a existência de espaços pensados tanto para suprir as necessidades básicas quanto para trazer a noção de conforto e acolhimento. É de suma importância levar em conta ainda que a residência, situada em região litorânea, foi moldada de forma a garantir um intenso aproveitamento da vista para o mar, além de fornecer um íntimo contato com a remanescente Mata Atlântica.
Cobertura de residência

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <http://www.nelsonkon.com.br/wp-content/uploads/2018/11/1MG_1010.jpg>.
Sendo assim, encontra-se na cobertura a possibilidade de um espaço social para a realização de festas, que munida de uma vista esplêndida, surge como um excelente espaço para a recepção de pessoas.
Já no nível abaixo, vê-se no primeiro volume satélite a existência de uma dependência à parte equipada com o essencial - como dito anteriormente, cozinha, banheiro e um quarto - e , sendo assim, aparece como uma extensão do setor íntimo, ideal para a hospedagem de visitas ou funcionários.
Dependência à parte

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <https://www.nelsonkon.com.br/wp-content/uploads/2018/11/1MG_0925.jpg>.
Agora no bloco maior, ainda no terceiro pavimento, encontra-se factualmente o setor íntimo, alocando os banheiros e quartos com vista para o mar. O corredor que conecta as escadas interna e externa aos dormitórios apresenta vista para o espaço entre esse bloco e o volume previamente mencionado.
Escada interna

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <https://www.nelsonkon.com.br/wp-content/uploads/2018/11/1MG_0817_14.jpg>.
Descendo, é possível notar um amplo ambiente social, também voltado para o litoral paulista, dividido entre a sala de estar, a sala de jantar e a cozinha. De forma a trazer mais conforto, a cozinha se estende a uma parte mais reservada, fazendo surgir um espaço de serviços.
Sala de estar com vista para o mar

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <https://www.nelsonkon.com.br/wp-content/uploads/2018/11/1MG_0842.jpg>.
Agora no último pavimento, o pilotis dá a possibilidade da criação de um ambiente aberto que, incorporado à piscina e à pequena cozinha, garante um extenso ambiente social.
Espaço de lazer

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <https://www.nelsonkon.com.br/wp-content/uploads/2018/11/1MG_1038.jpg>.
3.1.3 Volumetria
Como mencionado anteriormente, a casa foi implantada sobre um terreno íngreme, com o topo nivelado à rua. Seu terraço serve como verdadeira extensão da rua, enquanto a implantação do edifício se dá para baixo, acompanhando a declividade do terreno.
O conceito base do projeto foi, desde o início, o de uma casa que não tocasse o chão. Assim, os três volumes que compõem o projeto se elevam acima da superfície do terreno, que não foi alterada pelos arquitetos. Havia um patamar criado para a residência que anteriormente ocupava o lote, que foi aproveitado como patamar de encaixe para o novo projeto.
Todos os volumes são prismas retangulares. O volume principal, em específico, é um prisma quadrado de 10x10 m, elevado a uma distância de seis metros do solo. Seu topo é nivelado ao topo do volume satélite mais próximo à rua, e os dois são conectados entre si por uma passarela e por uma escada lateral. Já o outro volume satélite, na extremidade longitudinal oposta, é anexado ao nível do solo, defronte o pilotis.
Corte longitudinal

Fonte: Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/portfolio-items/casa-em-ubatuba-ii-2/>.
Quanto ao fechamento da casa, o volume principal possui em suas laterais duas paredes estruturais de concreto - material de maior predominância no projeto - com quase nenhuma abertura exceto portas de acesso das escadas laterais. Já no sentido longitudinal, a casa se abre quase totalmente, com janelas de piso a teto e portas de vidro que revelam, de um lado, a paisagem da praia em panorama, e do outro, a vegetação que abraça a casa, além de garantirem iluminação natural e ventilação cruzada.
3.2 Casa em Santa Teresa
Ficha Técnica
Local: Rio de Janeiro - RJ
Projeto: 2004
Obra: 2008
Tipologia de uso: Residencial
Arquitetura: Angelo Bucci
Equipe: Tatiana Ozzetti, Nilton Suenaga, Ciro Miguel, Juliana Braga, Fernanda Cavallaro, Victor Próspero
Estrutura: Kurkdjian Fruchtengarten Engenheiros Associados [Jorge Zaven Kurkdjian]
Instalações: Alberto Chagas Barreto
Paisagismo: CAP - Consultoria Ambiental Paisagística [Fernando M. Chacel, Sidney Linhares]
Iluminação: Ricardo Heder Reka
Área do terreno: 4.488,65 m²
Área construída: 481,44 m²
Fotos: Nelson Kon
3.2.1 Volumetria
A localização da casa influi em diversos aspectos na forma como o arquiteto a projeta. O terreno no alto do morro de Santa Teresa, região central do Rio de Janeiro, tem 4811,44 m², dimensão incomum para os terrenos nesta região. A preexistência de dois platôs foi definidora para a proposição volumétrica da residência.
Localização do Projeto

Fonte: Google Earth Pro, alterada pelo autor.
Angelo Bucci toma como partido os platôs preexistentes para projetar a residência. Devido à topografia a casa é separada em dois blocos retangulares: o bloco íntimo, correspondente ao volume onde se encontram os quartos, é um retângulo de maior comprimento e com uma deformação linear na parte central, causada pelo desvio da topografia; já o bloco social, onde estão se encontram sala de estar e cozinha, é um elemento perpendicular em “L”.
Corte volumétrico perspectivado

Fonte: Elaborado pelo autor.
Com apoios nos platôs em cotas de nível diferentes, a estrutura da casa em Santa Teresa formada por pilares, vigas invertidas e empenas cria um sistema de pórtico, gerando um vazio em seu interior por concentrar os elementos estruturais em suas laterais e na coberta.
Exterior Casa em Santa Teresa

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <https://www.nelsonkon.com.br/wp-content/uploads/2018/11/MG_3329.jpg>.
3.2.2 Análise da planta
Um dos possíveis acessos à residência é localizado no platô mais baixo do terreno. A circulação vertical da residência é feita através de escadas que ficam “escondidas” entre as empenas e pilares nas laterais da casa. A projeção do volume onde estão os quartos pode ser usada como garagem.
Pavimento Térreo

Fonte: Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/pt/wp-content/uploads/2014/09/SPBR_0402_DSN_02.jpg>.
O pavimento mais íntimo da casa é onde estão localizados os quartos, escritório e uma área de serviço próxima às escadas. Há uma continuidade linear em planta do bloco onde estão os quartos com o escritório. O bloco da área de serviço tem sua forma mais estreita, quase como uma deformação gerada pela topografia existente; a forma com que o arquiteto se apropria das características do terreno no ato de projetar se torna visível neste ambiente.
Planta Primeiro Pavimento

Fonte: Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/pt/wp-content/uploads/2014/09/SPBR_0402_DSN_03.jpg>.
O platô de cota mais alta do terreno abriga os equipamentos de lazer e uso comum, como a piscina. A área coberta pelo pavimento da sala de estar pode ser usado tanto como área de suporte da piscina quanto para garagem, além da cozinha, que é ligada ao platô por uma passarela de concreto.
Planta Segundo Pavimento

Fonte: Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/pt/wp-content/uploads/2014/09/SPBR_0402_DSN_04.jpg>.
A sala de estar é localizada na cota mais alta do terreno. Seu piso é disforme, com um vão próximo à empena que se apoia no platô mais alto do terreno. Possivelmente esse vão existe para diminuir as cargas nos pilares e tirantes que sustentam a sala de estar, valorizando a vista. O fechamento da sala nos sentidos norte e sul é feito em vidro. Além da sala de estar existe um lavabo próximo à escada que dá acesso à cozinha.
Planta Terceiro Pavimento

Fonte: Site SPBR. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/pt/wp-content/uploads/2014/09/SPBR_0402_DSN_05.jpg>.
3.2.3 Espacialidade
A residência em Santa Teresa tem aspectos exteriores que influenciam diretamente na forma como sua espacialidade é construída, sendo o terreno, a vista e a vegetação existente os mais importantes.
A sala de estar é colocada no nível mais alto do terreno, para que esse ambiente comum seja o ponto nodal da casa. A vista proporcionada por esse ambiente elevado é quase única; de um lado pode se ver o Pão de Açúcar, ponto turístico mais característico do Rio de Janeiro, e do outro lado o centro da cidade. A forma como Bucci pensa a estrutura permite que a sala tenha uma grande permeabilidade visual, os quatro tirantes permitem que não hajam colunas no ambiente e as vigas invertidas permitem maior amplitude visual.
Vista do Pão de Açúcar da sala de estar

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/portfolio-items/casa-em-santa-teresa-2/>.
A forma como o arquiteto proporciona a intimidade para o bloco dos quartos é feita a partir de diversos fatores. A implantação desse bloco no platô de nível mais baixo do terreno e o uso de vidro serigrafado na vedação externa, além das placas deslizantes de madeira, permitem uma maior intimidade por diminuir a visibilidade do bloco, seja pela localização ou pela opacidade dos materiais utilizados.
Empena lateral e bloco de quartos da Casa em Santa Teresa

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <https://www.nelsonkon.com.br/wp-content/uploads/2018/11/MG_3174_79.jpg>.
3.2.4 Modenatura/Ritmo dos elementos
Estruturalmente, a edificação no pavimento social possui cinco estruturas de apoio: em cada ponta existem dois que se encontram encobertos pelas empenas laterais, formando pórticos de 15m de comprimento, e um no centro, que suporta a carga do piso da sala. No nível íntimo onde estão localizados os dormitórios existem apenas três apoios, acomodados ao longo do comprimento; dois sustentam os dormitórios e um o escritório. As coberturas são sustentadas por vigas invertidas, três no pavimento social ,duas nos dormitórios e outra no escritório.
Malha estrutural

Fonte: Elaborado pelo autor.
Corte Longitudinal Casa em Santa Teresa

Fonte: Site SPBR. DisponÍvel em: <http://www.spbr.arq.br/pt/wp-content/uploads/2014/09/SPBR_0402_DSN_06.jpg>.
Duas estruturas de concreto dispostas como placas, que abrigam as escadas que realizam o tráfego interno, fazem o fechamento das laterais do pavimento superior e parte do inferior.
Casa em Santa Teresa

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/portfolio-items/casa-em-santa-teresa-2/>.
Já na sala, situada na parte superior do terreno, tem o vidro como elemento principal. O uso do material, apresenta vistas panorâmicas do Rio de Janeiro.
Casa Santa Teresa

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/pt/wp-content/uploads/2014/09/SPBR_0402_nelson-kon-41.jpg>.
No pavimento inferior, os brises em madeira chamam a atenção. No intuito de proteger as fachadas dos dormitórios, o Bucci projetou os brises corrediços, comandados por controle remoto, iguais aos que utilizamos em portões de garagem. Todos os quartos são fechados por uma única folha de vidro e protegidos pelos painéis de brise. Com isso, é possível deixar cada quarto totalmente aberto, transformando-os em varandas em ambos os lados.
Brises casa Santa Teresa

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <https://www.nelsonkon.com.br/wp-content/uploads/2018/11/CF026247.jpg>.
Brises casa Santa Teresa

Fonte: Nelson Kon (2018). Disponível em: <https://www.nelsonkon.com.br/wp-content/uploads/2018/11/MG_3411.jpg>.
3.2.5 Aspectos inovadores
Em “A negação da terra”, texto publicado na revista eletrônica Vitruvius, Ana Elisia da Costa propõe uma série de correlações entre as cidades invisíveis de Ítalo Calvino e o conjunto das casas projetadas pelo escritório SPBR Arquitetos por conta dos arranjos tipológicos não convencionais e das soluções formais e estéticas de caráter inovador que permeiam suas obras.
Ela destaca, em especial, um elo entre as residências e as cidades caracterizadas por “desafiarem a gravidade”. Isso se dá pela frequência com que o escritório utiliza da estratégia de elevar as casas do chão, escorando-as em poucos apoios que geram largos vãos, tática essa que confere leveza e estabelece uma relação inédita, respeitosa para com o terreno natural, que permanece quase intocado.
Ambos os projetos analisados – a Casa em Santa Teresa e a Casa em Ubatuba II – utilizam do artifício de se elevarem acima do solo, além de serem volumes explodidos e “esparramados” por terrenos íngremes.
No caso da Casa em Santa Tereza, destaca-se a criação de espacialidades a partir da elevação da casa. Por se sustentar sobre uma estrutura arrojada, a casa vence grandes vãos e determina grandes áreas de pilotis sob os volumes principais que servem como complementos diversos ao programa da residência.
Além disso, um importante elemento da Casa em Santa Teresa é sua fisionomia, definida a partir da relação com o entorno e com o conforto e privacidade dos residentes. O arquiteto alterna com maestria entre fechamentos maciços (de concreto) e leves (esquadrias de vidro e brises) para criar diferentes graus de abertura. As fachadas norte e sul, quase inteiramente abertas, definem um panorama do Rio e um grande corredor de ventilação, enquanto as paredes de concreto nas fachadas leste e oeste (combinadas às esquadrias de vidro serigrafado e aos brises) criam intimidade. Santa Teresa se mostra, assim, um grande exemplo da combinação entre soluções estruturais intricadas e espacialidades complexas.
A Casa em Ubatuba II, por sua vez, muito similar em diversos aspectos à Casa em Ubatuba – divisão do programa entre volumes diferentes, topo nivelado à rua, implantação sobre terrenos íngremes e estreitos, declive no sentido frente-fundos – se encontra “dependurada”, a partir do nível da rua, acompanhando a declividade do terreno. Essa estratégia não só configura uma forma criativa de ocupação de terrenos íngremes como exprime o apreço pela vista do mar que, tendo em vista que a construção se desenvolve em níveis, aparece sempre desobstruída.
Em relação à sua rede circulatória, pode-se inferir que a disposição dos acessos de rampas, escadas e passarelas remete à intencionalidade na criação de uma experiência sensorial exteriorizada em detrimento do estabelecimento de uma setorização racional.
“Nas casas, a ‘forma’ desenhada pelos percursos parece se subordinar mais à intenção de promover espacialidades surpreendentes e exteriorizadas do que à promoção de uma eficiência funcional.” constata Costa em seu texto.
João Arthur Barcelos Abdo
Laura Vilela Campos
Letícia Moraes
Matheus Henrique Lopes
Matheus Lukashevich Santos
Tainá Bandeira
4. REFERÊNCIAS
ARQUITETURA E URBANISMO PUC MINAS. Ângelo Bucci - Arquitetura e estrutura. 2020. (02h02m20s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Rl1NSEM1GvA&ab_channel=ARQUITETURAEURBANISMOPUCMINAS>. Acesso em: 04 set. 2020
BUCCI, Ângelo; MEIRELLES, João Paulo. SPBR. Entrevista realizada por Francesco Perrota-Bosch, Gabriel Kozlowski, Mariana Meneguetti, Valmir Azevedo. Entre-entre, 2009. Disponível em: <http://entre-entre.com/Content/entrevistas/pdf/entre-spbr-20160330175954.pdf>. Acesso em 31 set. 2020.
CABRAL, Marina. Coração do morro. Galeria da Arquitetura. Disponível em: <https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/spbr-arquitetos_/casa-em-santa-teresa/2502>. Acesso em: 31 ago. 2020.
CASA DA ARQUITECTURA. Studio Casa #10: Entrevista a Angelo Bucci. 2020. (29m37s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=8OC2cGgmWzo&ab_channel=CasadaArquitectura>. Acesso em: 02 set. 2020.
COSTA, Ana Elisia da. A negação da terra. Vitruvius, 2017. Disponível em: <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/18.207/6667>. Acesso em: 06 set. 2020.
ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL DE ARTE E CULTURA BRASILEIRAS. Angelo Bucci. Itaú Cultural, 2020. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa357165/angelo-bucci>. Acesso em: 30 ago. 2020.
EQUIPE ARCHDAILY BRASIL. Angelo Bucci fala sobre a escola paulista e a mitologia da FAUUSP. ArchDaily, 2020. Disponível em <https://www.archdaily.com.br/br/941376/angelo-bucci-fala-sobre-a-escola-paulista-e-a-mitologia-da-fauusp>. Acesso em: 02 set. 2020.
FARIAS, Nuri. Pouso sobre a paisagem. Galeria da Arquitetura. Disponível em: <https://www.galeriadaarquitetura.com.br/projeto/spbr-arquitetos_/casa-em-ubatuba-ii/3744>. Acesso em: 06 set. 2020.
FERNANDES, Gica. Casa em Santa Teresa / spbr arquitetos. ArchDaily. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-15308/casa-em-santa-teresa-spbr-arquiteto>. Acesso em: 31 ago. 2020.
FRACALOSSI, Igor. Clássicos da Arquitetura: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) / João Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi. ArchDaily, 2011. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/01-12942/classicos-da-arquitetura-faculdade-de-arquitetura-e-urbanismo-da-universidade-de-sao-paulo-fau-usp-joao-vilanova-artigas-e-carlos-cascaldi>. Acesso em: 04 set. 2020.
GALERIA DA ARQUITETURA. Casa em Ubatuba II - spbr arquitetos. 2017. (3m58s). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=N17CNobRYlU&ab_channel=GaleriadaArquitetura>. Acesso em: 06 set. 2020.
LEAL, Ledy. Em blocos perpendiculares, casa tem vista para o Pão de Açúcar e para o centro do Rio. Uol, 2011. Disponível em: <https://www.uol.com.br/universa/projetos/em-blocos-perpendiculares-casa-tem-vista-para-o-pao-de-acucar-e-para-o-centro-do-rio.htm>. Acesso em: 31 ago. 2020.
RIBEIRO, Paulo Victor Borges. Resgate como possibilidade de superação Angelo Bucci e as razões da arquitetura. Vitruvius, 2016. Disponível em: <https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/16.170/5930>. Acesso em: 04 set. 2020.
SEGAWA, Hugo. Arquiteturas no Brasil. A afirmação de uma hegemonia (p. 129-157). Editora da Universidade de São Paulo, 2002.
SPBR ARQUITETOS. Casa em Santa Teresa. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/portfolio-items/casa-em-santa-teresa-2>. Acesso em: 31 ago. 2020.
SPBR ARQUITETOS. Casa em Ubatuba II. Disponível em: <http://www.spbr.arq.br/portfolio-items/casa-em-ubatuba-ii-2/>. Acesso em: 06 set. 2020.












































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