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MMM Roberto

  • Foto do escritor: ACR 113
    ACR 113
  • há 3 dias
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biografia


MMM Roberto foi um prestigiado escritório precursor da Arquitetura Moderna Brasileira, sediado no Rio de Janeiro. Ele atuou durante décadas, sendo fundado e dirigido pelos irmãos Marcelo (1908 - 1964), Mílton (1914 - 1953) e Maurício Roberto (1921 - 1996) - listados por ordem de idade, também conhecidos como “Irmãos Roberto”.



Figura 2: Marcelo Roberto. Disponível em: https://arquivo.arq.br/profissionais/marcelo-roberto
Figura 2: Marcelo Roberto. Disponível em: https://arquivo.arq.br/profissionais/marcelo-roberto

Figura 3: Mílton Roberto. Disponível em: https://arquivo.arq.br/profissionais/milton-roberto
Figura 3: Mílton Roberto. Disponível em: https://arquivo.arq.br/profissionais/milton-roberto

Figura 4: Maurício Roberto. Disponível em: https://arquivo.arq.br/profissionais/mauricio-roberto
Figura 4: Maurício Roberto. Disponível em: https://arquivo.arq.br/profissionais/mauricio-roberto

O escritório foi fundado em 1930 por Marcelo Roberto sob o nome de “M Roberto”. Ele permaneceu desta forma até 1934, quando o segundo irmão, Mílton, passou a integrar a empresa que foi renomeada como “MM Roberto”. O terceiro irmão, Maurício, participava das atividades do escritório já enquanto estudante de Arquitetura, mas apenas em 1941, após se formar, passou a assinar projetos - assim surgiu a “MMM Roberto”.


A organização foi responsável pela criação de 187 projetos ao longo de 61 anos, segundo o arquiteto e pesquisador Luiz Felipe Machado Coelho de Souza. Grande parte dessas obras foram destinadas à cidade natal dos arquitetos (o Rio de Janeiro) e impactaram profundamente o fazer arquitetônico e a concepção urbana da cidade - sendo, muitas delas, tombadas.


Os Roberto atuavam tanto na arquitetura, quanto no urbanismo. Marcelo Roberto, primogênito cujas ideias exerciam grande influência sobre os demais, foi o responsável por escrever os poucos trabalhos teóricos publicados pelos arquitetos. Nestes, ele defendeu que “a arquitetura destina-se ao urbanismo”, uma vez que ela se associa e interfere em diversas esferas da realidade. Esse princípio foi adotado também pelos outros dois irmãos e, por isso, os projetos realizados eram elaborados por meio do que chamavam de “soluções grandes”. “Grandes”, pois seriam dadas pelo estudo minucioso da obra e pela associação de análises e do trabalho de profissionais de múltiplas áreas. Os três acreditavam que se uma edificação afeta o espaço em várias esferas, ela deve ser elaborada pela colaboração de arquitetos, engenheiros, industriais, cientistas, agrônomos, sociólogos e demais especialistas que possam colaborar para a eficiência do empreendimento. Por isso, os arquitetos sempre trabalhavam com a colaboração de profissionais autônomos e outras empresas - Alguns casos, se estendiam à longa data, a exemplo da parceria que tinham com o paisagista Roberto Burle Marx.


Mediante a essa abordagem arquitetônica, os irmãos prezavam pelo total controle sobre a construção para garantir que seus projetos fossem cumpridos à risca. Eles preferiam que a obra fosse realizada em empreitadas parciais e com compras diretas de equipamentos, a fim de que fossem utilizados os métodos designados originalmente (muitos dos quais eram novidades trazidas pelo movimento moderno e poderiam ser preteridos por engenheiros tradicionais). Vale ressaltar que essa forma de conduzir seu trabalho foi um grande propulsor para a luta pela valorização dos arquitetos enquanto profissionais uma vez que, neste tempo, eles ainda eram considerados como figuras não-técnicas e secundárias aos engenheiros.


Ademais, os Roberto pertenciam a uma família da alta sociedade carioca - seu sobrenome, na verdade, era “Baptista”, mas os irmãos o trocaram como homenagem ao falecido pai. Em virtude dessa posição social, os arquitetos tinham vínculos com um núcleo interessado em investir na construção de novos espaços modernos que transmitissem toda a novidade que o século XX trazia.

Dessa forma, os irmãos que foram protagonistas no desenvolvimento do modernismo brasileiro começaram seus trabalhos com forte influência estrangeira e, mais especificamente, corbusiana. Os cinco pontos de Le Corbusier são muito empregados nas obras da MMM Roberto - o que será exemplificado mais adiante neste artigo.


Entretanto, em virtude da sua concepção de arquitetura como elemento que deve ser elaborado em minúcias, variando com cada empreitada e cada realidade, os Roberto compreendiam que o modernismo brasileiro não poderia ser apenas uma replicação do que se produz na Europa e EUA. O edifício e a arquitetura feitos deveriam ser feitos de acordo com as características nacionais e locais. Por isso, adaptavam suas obras ao ambiente e com o passar do tempo incorporaram, cada vez mais, traços brasileiros ao seu trabalho.


Tal compreensão da arquitetura enquanto elemento a ser usado em serviço e de acordo com uma localidade específica também foi apropriada no planejamento urbano dos Roberto. O primeiro projeto urbano dos arquitetos foi o Plano Urbano Cabo-Frio - Búzios (1955). Neste e em todos os futuros projetos, os Roberto partem do princípio de unidade urbana (uma expansão das "unidades de vizinhança", teorias comuns na época). Seus planos urbanos defendiam a existência das cidades enquanto produtos culturais e pretendiam minimizar os impactos modo de vida urbana causava às pessoas e ao meio ambiente sem, contudo, impedir seu crescimento. Suas maiores influências no urbanismo eram Frank Lloyd Wright e Ebenezer Howard e, para os irmãos, as cidades conseguiriam o crescimento econômico e de qualidade de vida a partir da exploração dos recursos naturais locais de forma consciente (respeitando os limites da natureza e do homem).


Em suma, para melhor compreender o trabalho destes arquitetos, é possível dividir sua trajetória nas seguintes fases:


  • 1ª Fase (1935 - 1953): 1ª Fase (1935 - 1953): Percorre desde a criação do escritório até o período em que os três irmãos eram associados. Em um contexto geral, essa fase que começa na Era Vargas foi profundamente determinada pelo imaginário progressista e positivista da época. Este período proporcionou o florescimento e impulso da Arquitetura Moderna mas foi, de forma retroativa, também influenciado pela arquitetura dos Irmãos Roberto.

    Mais especificamente, entre 1935 e 1940, período em que apenas Marcelo e Mílton Roberto eram associados, o escritório apresentou 6 realizações. A primeira delas foi o projeto da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que será descrito mais adiante neste artigo. Das encomendas recebidas pelos irmãos, metade eram de sedes do poder público e apenas uma era um projeto urbano (o plano urbanístico de Niterói).

    Já entre 1941 e 1953, os três irmãos trabalhavam juntos. Este foi o período que consolidou a fama do escritório. Não só ganharam notoriedade, mas também lucro e uma grande rede de contatos com profissionais de diversas áreas - sobretudo de engenheiros, após uma tentativa fracassada de consolidar uma divisão interna de engenharia no escritório.  

    Próximo à década de 1950, os Roberto passaram a ser reconhecidos internacionalmente e, inclusive, eram procurados por estagiários de arquitetura e engenharia civil vindos de diversas partes do mundo.

    Foi a etapa em que o escritório mais se focou no campo da arquitetura e a maior parte de suas obras ícones foram construídas então. Por conta disso e do enorme número de pedidos, o escritório teve tempo de estabelecer um estilo próprio e amadurecê-lo.


  • 2ª Fase (1953 - 1964): Em 1953, morre precocemente Mílton Roberto. Marcelo e Maurício decidem continuar com as atividades do escritório e, no fim da década de 1950, participam do concurso para a construção de Brasília (construída durante o governo JK, em um período de estímulo à modernização do país e ampliação da disciplina do Urbanismo enquanto prática) - vale acrescentar que seu projeto alcançou o terceiro lugar. Em 1970, se juntou ao escritório Márcio, filho de Maurício, também enquanto ainda era estudante. Da mesma forma que o pai, ele passou a integrar a equipe de forma permanente depois de formado.

    Este foi o período em que foram feitos mais projetos, porém com uma taxa de realização menor. A morte de Milton Roberto parece ter afetado a produção do escritório - uma vez que era conhecido pela “afinidade com a prancheta” e pela resolução de problemas arquitetônicos. É nesta fase que os Roberto começam a se dirigir mais ao urbanismo.


  • 3ª Fase (1964 - 1996): Em 1964, morre Marcelo Roberto e, a partir de então, o escritório - renomeado como “M Roberto e Associados” - passa a se focar em projetos de planejamento urbano e de habitação social, apesar de ainda realizarem projetos arquitetônicos, os quais eram, muitas vezes, preteridos.

    Para Luiz Felipe Machado Coelho de Souza, esse período foi marcado pelo declínio do escritório, uma vez que, não só teve o menor índice de projetos levados a cabo, como teve que expandir seu mercado consumidor. A partir de uma análise dos projetos feitos, o estudioso observa que houve um aumento intenso dos projetos de planejamento urbano, dos projetos encomendados por poderes estaduais e municipais e dos projetos realizados fora do Rio de Janeiro. Ele credita essa mudança, entre outros motivos, à crise que se instalou no país a partir da década de 70.

    A empresa permaneceu assim até 1996, quando morreu Maurício Roberto, deixando a empresa sob a administração de seu filho.


Lista de projetos


Os projetos e obras da MMM Roberto foram organizados em 3 períodos distintos, de 1935 até 1996, que dividem os padrões arquitetônicos implementados pelos arquitetos do escritório durante os anos em vigência.


1ª Fase (1935 - 1953):


  1. Sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), 1936, Rio de Janeiro - RJ;

  2. Edifício Mesbla (Loja de Departamentos), 1937-39, Rio de Janeiro – RJ;

  3. Aeroporto Santos Dumont (Terminal de Passageiros), 1937-44, Rio de Janeiro – RJ;

  4. Casa de Veraneio (Residência M. Roberto)c., 1940, Petrópolis - RJ;

  5. Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), 1941-44, Rio de Janeiro – RJ;

  6. Edifício Anchieta, 1941, São Paulo – SP;

  7. Edifício da Financiadora (Atual sede da Finep), 1941, Rio de Janeiro – RJ;

  8. Residência Eurico Cruz, 1941, Rio de Janeiro – RJ;

  9. Plano da Cidade Universitária (PUC - Rio), 1942, Rio de Janeiro – RJ;

  10. Escola Técnica Nacional (Atual CEFET/RJ - Blocos Iniciais), 1943, Rio de Janeiro – RJ;

  11. Colônia de Férias do IRBc., 1943-48, Nova Friburgo – RJ;

  12. Edifício MMM Roberto, 1944, Rio de Janeiro – RJ;

  13. Sede do Clube de Regatas Botafogo (Sede de General Severiano), 1944, Rio de Janeiro – RJ;

  14. Complexo Industrial da Companhia Cigarros Souza Cruz, 1948, Rio de Janeiro – RJ;

  15. Edifício Seguradoras, 1949, Rio de Janeiro – RJ;

  16. Edifício Marquês do Herval, 1952, Rio de Janeiro – RJ;

  17. Aeroporto de Congonhas (Projeto de Ampliação - Não executado integralmente), 1952, São Paulo – SP;

  18. Edifício Santa Cruz, 1953, Recife – PE.


2ª Fase (1953 - 1964):


  1. Plano Diretor de Túnis (Tunísia), 1957, Túnis - Tunísia, África;

  2. Edifício da Alfândega (Sede da Receita Federal), 1958, Rio de Janeiro – RJ;

  3. Sede Administrativa da Souza Cruz, 1958, Rio de Janeiro – RJ;

  4. Edifício Garagem Menezes Côrtes, 1963, Rio de Janeiro – RJ.


3ª Fase (1964 - 1996)


  1. Sede III do Banco do Brasil (Edifício Sedan), 1968, Rio de Janeiro – RJ;

  2. Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL), 1973, Rio de Janeiro – RJ;

  3. Plano de Urbanização de Alagados, 1973, Salvador – BA;

  4. Hotel do Mar (Atual Hotel Caribe), 1976, Cabo Frio – RJ;

  5. Centro de Pesquisas da Petrobras (CENPES) - Ampliação, 1977, Rio de Janeiro – RJ;

  6. Restauro e Intervenção no Píer Mauá, 1986, Rio de Janeiro – RJ;

  7. Projeto do Centro Empresarial Rio (Participação), 1980, Rio de Janeiro – RJ.


Lista de PRÊMIOS


Em relação aos prêmios adquiridos por suas produções, o escritório MMM Roberto não obteve reconhecimentos na forma de prêmios tradicionais de carreira, mas sim pela vitória em concursos públicos e licitações que resultaram em seus edifícios mais icônicos. Muitas das premiações foram estabelecidas após o auge das produções do escritório, sendo um deles o prêmio Roberto Cláudio dos Santos Aflalo em 2004, que é um reconhecimento póstumo concedido pela Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (AsBEA).


  1.  Concurso para a Sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) (1935-36)

Este foi o projeto que lançou o escritório à fama nacional e internacional. A vitória no concurso permitiu que os irmãos estabelecessem sua independência econômica e se dedicassem integralmente ao projeto, que se tornou um marco do modernismo no Rio de Janeiro


  1. Concurso para o Aeroporto Santos Dumont (1937)

Outro projeto fundamental vencido por concurso, o Aeroporto Santos Dumont é celebrado por sua inovação estrutural e uso de brises-soleil, consolidando a reputação do escritório.


  1. Concurso do Plano Piloto de Brasília (1956)

Após a morte de Mílton, o escritório (liderado por Marcelo e Maurício) participou do concurso para a nova capital. O projeto recebeu uma menção, dividindo o 3º e 4º lugares com a equipe de Rino Levi.


  1. Prêmio Roberto Cláudio dos Santos Aflalo (2004)

Um reconhecimento póstumo concedido pela Asbea (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) no primeiro ano da premiação, destacando o legado do escritório.


Sede da Associação Brasileira de Imprensa - Edifício Herbet Moses


Figura 5: Visão geral do edifício
Figura 5: Visão geral do edifício

fICHA TÉCNica:


Arquitetos: Marcelo e Mílton Roberto

Ano: 1936

Tipo de projeto: Institucional

Contratante: Associação Brasileira de Imprensa

Status: Construído

Área de construção: 13.000 m²

Estilo: Modernismo

Materialidade: Concreto

Estrutura: Concreto

Localização: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil

Implantação no terreno: Adossado às 2 divisas


O edifício da Associação Brasileira de Imprensa é um exemplo de funcionalidade e referência para a arquitetura moderna brasileira que foi projetado pelos irmãos Marcelo e Mílton Roberto. Inaugurado em 1939, a construção do edifício se deu no momento em que Herbert Moses se tornava presidente da ABI, no ano de 1936. Herbert Moses, estava, segundo Cláudio Pereira (2002), sincronizado com as correntes vanguardistas internacionais, tendo sido intérprete de Frank Lloyd Wright na ocasião de suas conferências no Rio de Janeiro em 1931. Ele quem escolheu os integrantes do júri, o qual era composto por associados à A.B.I., arquitetos e membros de órgãos especializados. A execução da obra se deu a partir de um concurso instituído pelo presidente da ABI, e foi avaliada em 13 mil contos de réis, dinheiro conseguido pelo mesmo através de uma solicitação à Getúlio Vargas.


A intenção arquitetônica dos autores era criar uma sede que representasse os valores de modernidade, funcionalidade e transparência da nova imprensa brasileira, com o uso de técnicas inovadoras para a época.  A estrutura foi idealizada de forma independente das vedações, “dentro dos princípios da técnica construtiva moderna” (Ibidem, p. 263). O edifício sede da ABI foi tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual em 1965 e pelo IPHAN em 1984. É considerado um dos primeiros edifícios modernistas do país e um ícone da arquitetura moderna, aplicando de forma pioneira no Brasil os princípios de Le Corbusier, como o brise-soleil, a planta livre e a estrutura independente e suas soluções continuam sendo adaptadas por outros projetos.


O prédio mereceu reportagens, nas grandes revistas da arquitetura do mundo na época, tais como a architectural Record, Werker, l'Architecture d'Aujourd ' Hui, architectural Forum.


Figura 6: Maquete - Vista frontal do edifício. Disponível em: https://npd.fau.ufrj.br/index.php?cPath=100_12000_12002_12015
Figura 6: Maquete - Vista frontal do edifício. Disponível em: https://npd.fau.ufrj.br/index.php?cPath=100_12000_12002_12015

Figura 7: Maquete - Vista posterior do edifício. Disponível em: https://npd.fau.ufrj.br/index.php?cPath=100_12000_12002_12015 
Figura 7: Maquete - Vista posterior do edifício. Disponível em: https://npd.fau.ufrj.br/index.php?cPath=100_12000_12002_12015 

Figura 8: Colagem da fachada da ABI (Archdaily)
Figura 8: Colagem da fachada da ABI (Archdaily)

O projeto foi desenvolvido em um terreno estreito e vertical, sendo a organização do espaço estruturada pela circulação vertical com escadas e elevadores distribuídos eficientemente. O local de implantação do projeto se deu em um terreno cedido pelo prefeito Pedro Ernesto em dezembro de 1935 (Cláudio Pereira). A orientação do terreno era desfavorável ao conforto ambiental, com as duas faces voltadas para norte e oeste, além da localização na esquina de duas ruas centrais, tiveram como solução as duas fachadas protegidas por brises verticais em placas de concreto, que, utilizadas de forma inédita, deram plasticidade ao prédio que se constituiu um dos marcos da arquitetura mundial.


Os brises não atuam diretamente nas salas de trabalho, eles protegem as galerias que percorrem o perímetro das fachadas norte e oeste, que funcionam como antecâmaras de atenuação do calor para o interior do edifício. A volumetria do prédio é rigorosamente geométrica, composta por um bloco retangular e pela alternância de cheios e vazios dada pelo uso de brises.  A distinção da edificação se dá no tratamento plástico de seus elementos.


Apesar de ser modernista, várias de suas características são resultantes dos moldes determinados pelo Plano Agache, (galeria térrea, corpo principal e terraço escalonado),  a ABI cingiu-se à tais normas de implantação, que determinavam a integração do edifício alinhada nos limites do passeio e do lote, com previsão de recuo nos fundos, formando, conjuntamente com os prédios da quadra, um pátio central, destinado ao estacionamento. A multiplicação do plano intermediário confere proporção dominante ao corpo, transformando os extremos em versões modernas do embasamento e coroamento clássicos (Cláudio Pereira).


Destaca-se inclusive que foi nele utilizado pela primeira vez o brise-soleil, a solução apresentada por Le Corbusier para o problema do excesso de luz, que deu plasticidade e garantiu o controle solar. Da rua, o pedestre quase não percebe as janelas, pois o uso dos brises confere um ritmo mais rápido de leitura das aberturas. Essa escolha não contrasta com vizinhos, pois a linha dos brises continua a sequência horizontal das janelas adjacentes. Há um rompimento nessa cadência dada por uma janela correspondente ao salão de eventos do oitavo pavimento que se estende até o nono.


Figura 9: Desenho dos brises da ABI (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 9: Desenho dos brises da ABI (NPD - FAU/UFRJ)

A planta do edifício segue uma uniformidade e uma lógica racionalista. Graças ao concreto armado, as áreas de trabalho, que ficam nos andares superiores, apresentam plantas livres, sem paredes portantes internas.


Há também técnicas construtivas marcantes no projeto, como o hall de entrada todo revestido em granito. A amplitude da sua entrada surge numa esquina movimentada, que tem caráter de praça. Na época, o teto dos escritórios do segundo, terceiro, quarto e quinto andares foi confeccionado com fibra prensada para obstrução do som. As paredes do sétimo andar até hoje são revestidas com placas de madeira sucupira do Pará. A iluminação uniformizada ressalta a harmonia e a unidade da construção.


O acesso de pedestres se dá pela esquina, através do térreo em pilotis , cuja amplitude confere à entrada um caráter de praça em uma esquina movimentada. A solução de acesso, particular dos Irmãos Roberto, não é de permeabilidade total, mas configura um pórtico (um vazio central) que integra o vestíbulo de entrada com o acesso obrigatório ao pátio de estacionamento/garagem. O uso dos pilotis libera o espaço no térreo, criando uma área semipública de transição entre o urbano e o interior do edifício. Ao nível do pedestre, notam-se a galeria que dá acesso ao interior da quadra e colunas que se destacam das lojas, elementos que remetem à herança das galerias tradicionais. No entanto, os arquitetos optaram por tratar as superfícies revestidas em pedra de maneira curva, em vez das passagens retas convencionais, tornando o espaço mais convidativo.


Figura 10: Foto da esquina do prédio (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 10: Foto da esquina do prédio (NPD - FAU/UFRJ)

O Subsolo, Figura 11 e 12, é uma área estritamente técnica e restrita, composto por reservatórios d’água, poço dos elevadores, medidores e áreas de manutenção.


Figura 11: ABI Subsolo Det-30 (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 11: ABI Subsolo Det-30 (NPD - FAU/UFRJ)


Figura 12: Foto da área técnica da ABI (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 12: Foto da área técnica da ABI (NPD - FAU/UFRJ)

O Térreo, Figura 13 e 14, abriga espaços para lojas e uma portaria que dá acesso aos andares superiores. O percurso principal inicia-se na calçada da Rua Araújo Porto Alegre, entrando pelo hall, que direciona o visitante diretamente aos elevadores, localizados ao centro. À esquerda, há um espaço destinado a lojas, que hoje abriga um café, e uma sala (provavelmente administrativa ou de apoio comercial). Há ao lado da entrada de pedestres um acesso ao estacionamento de veículos


Figura 13: ABI Térreo Det-30 (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 13: ABI Térreo Det-30 (NPD - FAU/UFRJ)

Figura 14: Foto do hall da circulação vertical (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 14: Foto do hall da circulação vertical (NPD - FAU/UFRJ)

A Sobreloja atua como um nível de transição do térreo. O acesso se dá pelas Ruas México e Araújo Porto Alegre.


Figura 15: ABI Sobre-Loja Det-30 (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 15: ABI Sobre-Loja Det-30 (NPD - FAU/UFRJ)

Esta planta representa os pavimentos tipo 1° a 4° destinados a Escritórios de aluguel (renda para a instituição). O percurso sai dos elevadores centrais para um corredor que distribui o fluxo para diversas salas ao longo da fachada, possuindo acesso direto ao corredor. E há banheiros posicionados junto ao núcleo de circulação vertical e escadas.


Figura 16: ABI 1-4 Det-30 (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 16: ABI 1-4 Det-30 (NPD - FAU/UFRJ)

Figura 17: Foto de uma das salas de trabalho (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 17: Foto de uma das salas de trabalho (NPD - FAU/UFRJ)

O 5º Andar possui uma organização espacial muito semelhante aos andares de escritórios, mas é  rotulado como Consultórios. O percurso mantém-se através de um corredor de distribuição central/longitudinal a partir do hall dos elevadores. A diferença sutil está na subdivisão interna das salas.


Figura 18: ABI 5° Andar - Det-30 - Consultórios (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 18: ABI 5° Andar - Det-30 - Consultórios (NPD - FAU/UFRJ)

Este andar abriga a administração da organização. Ao sair dos elevadores, o visitante chega a um hall que distribui para áreas de acesso. Existem áreas abertas para a secretaria e salas de atendimento geral, e áreas restritas, como os gabinetes do presidente, diretoria e uma grande sala de conselho, além de também possuir espaços de segurança.


Figura 19: ABI 6° Andar - Det-30 - Administração (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 19: ABI 6° Andar - Det-30 - Administração (NPD - FAU/UFRJ)

O 7º Andar é dedicado à biblioteca. O percurso a partir dos elevadores leva a um amplo salão aberto, livre de divisórias, destinado ao acervo e às mesas de leitura. No canto superior direito, há pequenos espaços reservados rotulados como "S. de Escrever" (salas de escrever), que oferecem mais privacidade.


Figura 20: ABI 7° Andar - Det-30 - Biblioteca (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 20: ABI 7° Andar - Det-30 - Biblioteca (NPD - FAU/UFRJ)

Figura 21: Foto da área da biblioteca  (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 21: Foto da área da biblioteca (NPD - FAU/UFRJ)

Este é o andar destinado a conferências, que já foi palco de grandes eventos na história. Os elevadores desembarcam em uma área de exposições que contava com um bar e uma chapelaria. Desta área, acessa-se o auditório, que possui um palco ao fundo e anexos.


Figura 22: ABI 8° Andar - Det-30 - Conferências
Figura 22: ABI 8° Andar - Det-30 - Conferências

Figura 23: Foto do auditório da ABI  (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 23: Foto do auditório da ABI (NPD - FAU/UFRJ)

Este andar também é um mezanino com vista para o pavimento abaixo, cujo percurso segue desde acima da área de exposições até o fundo do auditório


Figura 24: ABI 9° Andar - Det-30 - Conferências (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 24: ABI 9° Andar - Det-30 - Conferências (NPD - FAU/UFRJ)

Figura 25: Foto do mezanino  (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 25: Foto do mezanino (NPD - FAU/UFRJ)

O 10º Andar é o coroamento do edifício, dedicado ao convívio e lazer. O layout é marcado por uma parede curva envidraçada definida como sala de estar. O fluxo sai dos elevadores para um hall que distribui para serviços de conveniência como barbeiro e um salão de jog de um lado, e para as amplas áreas de estar, leitura e escrita do outro


Figura 26: ABI 10° Andar - Det-30 - Estados (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 26: ABI 10° Andar - Det-30 - Estados (NPD - FAU/UFRJ)

Figura 27: Foto de um salão de jogos  (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 27: Foto de um salão de jogos (NPD - FAU/UFRJ)

O fluxo do terraço começa em uma parte coberta que dá para um bar que conta com uma despensa anexa e sanitários, sugerindo uma infraestrutura de suporte para eventos ao ar livre ou lazer no topo do prédio. O andar também abriga a infraestrutura crítica no espaço de casa de máquinas.


Figura 28: ABI Terraço - Det-30 (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 28: ABI Terraço - Det-30 (NPD - FAU/UFRJ)

Figura 29: Foto do paisagismo do terraço  (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 29: Foto do paisagismo do terraço (NPD - FAU/UFRJ)

Figura 30: Foto de um bar do prédio  (NPD - FAU/UFRJ)
Figura 30: Foto de um bar do prédio (NPD - FAU/UFRJ)

Aeroporto Santos Dumont



fICHA TÉCNica:


Arquitetos: Marcelo e Mílton Roberto

Ano: 1936

Tipo de projeto: Infraestrutura de transporte

Status: Construído

Materialidade: Concreto armado e vidro

Estrutura: Concreto armado

Localização: Rio de Janeiro, Brasil

Implantação no terreno: Isolado, voltado para a Baía de Guanabara

Tombamento: Edifício principal tombado pelo INEPAC (1998)


A seleção dos arquitetos para o projeto ocorreu por meio de um concurso, no qual Marcelo e Mílton Roberto saíram vencedores. A edificação apresenta um corpo central acompanhado por dois blocos laterais, onde estão organizadas as diferentes funções do programa. As fachadas, em sua maior parte, contam com quebra-sóis que auxiliam no controle da luz e da temperatura. Além disso, é possível identificar diversas características típicas do modernismo, como o uso do concreto armado, a presença de pilotis, bem como a liberdade na planta e nas fachadas. Esses elementos evidenciam uma forte afinidade com os princípios de Le Corbusier e os cinco pontos da arquitetura moderna propostos por ele.


Projetado na década de 1930, onde a modernização atingiu o Rio de Janeiro e consequentemente a expansão do transporte aéreo, o local simboliza inovação tecnológica na época e progresso.


Ele consolidou os irmãos Roberto como protagonistas da arquitetura moderna no Brasil, demonstrando que o país poderia produzir obras de alto nível técnico e estético. O projeto destacou-se pela sua forma aerodinâmica, principalmente o bloco curvo da fachada que remete as asas de avião, um corpo alongado com superfícies envidraçadas e marquises curvas, inovando com fluidez, sendo um equilíbrio entre forma e função – cada decisão estética reforça a ideia funcional do edifício.


O local possui área construída total: cerca de 51.000 m² (após ampliação de 2007), possui três níveis principais, embarque, desembarque e mezanino administrativo. A capacidade operacional é de 9 a 10 milhões de passageiros/ano. A construção do projeto foi desenvolvida no terreno do aterro do Flamengo, terreno esse que foi feito a partir do lançamento de 3 milhões de m3 de terra e areia sobre parte da baía de Guanabara. Em ambas as fachadas do edifício está uma barra horizontal, sendo a da superfície voltada para cidade e a que se volta à baía.

 

Na implantação, o edifício segue a geometria estreita do terreno avançado sobre o mar, posicionando-se junto à pista e organizando fluxos de passageiros de maneira eficiente; essa implantação estratégica permite vistas amplas para a paisagem, facilita circulações internas e otimiza a relação entre terminais, pátios de aeronaves e área urbana do centro do Rio de Janeiro



A edificação utiliza alvenaria estrutural e concreto moldado in loco, usando de conceitos modernos na época como estruturas metálicas, e elementos pré-moldados que permitem vãos maiores e execução mais rápida. O uso de grandes painéis de vidro também é uma marca das ampliações recentes.


O vidro temperado foi bastante usado nas fachadas, o aço nas estruturas aparentes e o concreto armado nas áreas externas. Os pisos utilizam granito e porcelanato, enquanto a parte histórica mantém alvenaria e detalhes art déco, contrastando com os volumes modernos em vidro e metal.


O nível de acesso do Aeroporto Santos Dumont acontece pela fachada frontal voltada para a Av. Almirante Sílvio de Noronha, onde se organiza toda a chegada de pedestres e veículos. O acesso de pedestres ocorre por calçadas que conduzem diretamente às entradas principais, com caminhos nivelados, piso tátil e rampas suaves que garantem percurso contínuo até as portas automáticas do terminal. O acesso de veículos se dá por uma via de embarque e desembarque rápido, posicionada paralelamente ao edifício e protegida por marquises. Dessa área, os passageiros seguem poucos metros até o saguão, passando por áreas de parada assistida e sinalização que direciona tanto usuários comuns quanto pessoas com mobilidade reduzida para elevadores e circulações internas, assim  integrando pavimento à rua.


 O pavimento térreo do aeroporto Santos Dumont é onde se localiza sua entrada principal, que fica na fachada do edifício voltada à cidade, dando acesso a seu hall principal. Ele também abriga as salas de espera e as bilheterias, junto à área de controle de passageiros.                                                 


Figura 33:
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Figura 34:
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Referências


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Autores:

Breno Lucas de Oliveira, Clara Thuríbia Pessoa, Laís Ramos, Marcos Henrique de Azevedo e Rafael Lucas Souza.

 
 
 

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