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Raul Pereira

  • Foto do escritor: ACR 113
    ACR 113
  • há 2 dias
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biografia


   Raul Isidoro Pereira nasceu no ano de 1947, em Presidente Venceslau, uma cidade do interior de São Paulo, da região do Pontal do Paranapanema, extremo oeste do estado, perto de um rio muito importante para a sua infância, uma vez que remete aos momentos de pesca com seus familiares.


Aos 17 anos, formou-se no Ensino Médio e ingressou em um curso pré-vestibular, com a intenção inicial de ingressar na graduação superior de Engenharia. Contudo, durante esse percurso, ele não se identifica com a ciência exata e opta pelo curso de Arquitetura. Dessa forma, Raul Pereira entra em 1969 na Faculdade de Arquitetura na Universidade de São Paulo, formando-se no ano de 1975.


Durante sua graduação, Raul Pereira teve um escasso contato com a área de paisagismo e se atraía mais pela associação entre arquitetura e comunicação visual. Nesse sentido, seu interesse pelo paisagismo surgiu após a sua formação, mesmo tendo o viés de que sua graduação foi extremamente importante para a sua mudança de perspectiva e comportamento. O arquiteto se interessa pela questão da arte, do espaço e da cultura, dado a forte influência das figuras de Sérgio Ferro e Flávio Império durante a sua jornada. Ele inicia sua caminhada com o paisagismo ao executar um jardim de um edifício em Moema (SP) com um grupo e, a partir de então, seu interesse pela área aumenta, desenvolvendo um gosto especial pela vegetação. Com o passar do tempo, no ano de 1982, uma virada de chave muito importante em sua vida acontece: Raul Pereira abre mão dos projetos executivos, se muda para Osasco (SP) e passa a ser diretor do departamento de áreas verdes da região. Então, após esse momento, marca-se a saída de sua área de plantio para uma área mais integral, com foco para o paisagismo.


Figura 1: Raul Pereira
Figura 1: Raul Pereira

O seu escritório foi fundado em 1990, com o nome de Raul Pereira Arquitetos Associados (RPAA), e é voltado para questões de planejamento ambiental e arborização urbana. Seu grupo trabalha mais com áreas públicas e projetos de praças, parques e com educação ambiental em diversas partes, sem deixa de atuar em formas privadas, fazendo projetos paisagísticos também de bancos, como o Itaú. Com mais de 1000 projetos, sua equipe é composta por Leandro Fontana, Paula Martins Vicente, Cláudia Kawakami, Alexandre Freitas dos Santos, todos também arquitetos, e Edemilson dos Anjos, como gerente Administrativo. 

Figura 2: Raul Pereira (terceiro, da esquerda para a direita) e sua equipe de arquitetos (RPAA)
Figura 2: Raul Pereira (terceiro, da esquerda para a direita) e sua equipe de arquitetos (RPAA)

Durante 7 anos, a partir dos anos 2000, Raul Pereira retorna aos estudos acadêmicos por meio da sua pesquisa de mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo (USP). Dessa forma, o paisagista aplica seus conhecimentos e busca desenvolver projetos com o intuito de agregar e potencializar o caráter construtivo e valorizar a vegetação por meio de zoneamentos e análise do espaço como um todo, demonstrando uma ampla formação complementar.

 

O seu primeiro curso complementar foi realizado em 1985, com a temática de Reciclagem em Paisagismo; em 1988 estudou sobre Vegetação e Planejamento Ambiental e também fez um curso em Manejo de Viveiros, Arborização e Jardinagem; em 1996, complementa-se em Desenho da Luz para áreas externas e Vegetação aplicada ao paisagismo; em 2000 estuda, também, sobre novas visões sobre a paisagem de Roberto Burle Marx e, finalmente, em 2008 estuda sobre gerenciamento de Obras.

 

Atualmente, Raul Pereira é membro da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas - ABAP e constitui-se em uma figura de extrema relevância para a arquitetura contemporânea brasileira.

 

O paisagista tem como identidade em seus projetos o uso de espécies de plantas correspondentes ao bioma de cada espaço que trabalha. Ele privilegia a incorporação de uma vegetação que se integra na paisagem já vista, visto que em seus ideais não é proveitoso maior uso de espécies invasoras no Brasil, que já possui muitas delas. Ele faz uma disposição mais fluida, não seguindo uma padronização, nem sequência, rígida em seus trabalhos, e trabalha com a mescla de vegetações de alto porte para conversar com ambientes elevados e gerar sombreamento, e de menor porte para compor um espaço de maior convivência.


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Principais Obras


●      Parque Central - Santo André, SP - 1992 - 340.000m²

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●      Jardim da Residência MC - Itu, SP - 1999 - 1.800m²

●      Jardim da Residência CL Praia - Guarujá, SP - 2001 - 770m²

●      Jardim da Residência LR - São Paulo, SP - 2002 - 138m²

●      Jardim do Bank Boston / Itaú Personnalité - São Paulo, SP - 2002 - 600m²

●      Jardim do Apartamento TJ - São Paulo, SP - 2003 - 25m²

●      Jardim da Casa Vermelha - Bragança Paulista, SP - 2003 - 4.600m²

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●      Parque do Gato - São Paulo, SP - 2004 - 60.450m²

●      Praça Barry Parker - São Paulo, SP - 2004 - 2.100m²

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●      Jardim do Sesc Pinheiros - São Paulo, SP - 2004/2006/2010 - 325m²

●      Jardim do Sesc Pinheiros / Estudo Foyer - São Paulo, SP - 2005

●      Jardim da Fábrica - São Paulo, SP - 2005

●      Jardim da Residência PC - Bragança Paulista, SP - 2005 - 3.500m²

●      Jardim do Museu Rodin - Salvador, BA - 2005 - 3.000m²

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●      Jardim da Residência RD - Itu, SP - 2006 - 4.700m²

●      Jardim do Shopping Centro Cultural Bela Vista - São Paulo, SP - 2006 - 5.885m²

●      Jardim da Cinemateca Brasileira - São Paulo, SP - 2005 a 2006/2010 - 3.600m²

●      Jardim da Medley Indústria Farmacêutica - Campinas, SP - 2007 - 390m²

●      Jardim da Residência RO - Ubatuba, SP - 2008 - 1.040m²

●      Jardim da Residência DA - São Paulo, SP - 2008 - 150m²

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●      Jardim da Residência CL Cidade - São Paulo, SP - 2008 - 215m²

●      Praça Senac Águas de São Pedro - Águas de São Pedro, SP - 2008 - 235m²

●      Jardim do Apartamento DJ - São Paulo, SP - 2009

●      Jardim da Residência IL - Orlândia, SP - 2009 - 200m²

●      Jardim do Consultório Orlândia - Orlândia, SP - 2009 - 235m²

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●      Jardim do Museu da História do Estado de São Paulo - São Paulo, SP - 2009 - 3.780m²

●      Parque Belém - São Paulo, SP - 2009/2010 - 242.000m²

●      Praça Brasil Zanella - São Paulo, SP - 2010 - 4.800m²

●      Jardim do Sesc Pompéia - São Paulo, SP - 2010 - 600m²

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●      Jardim da Marcenaria Baraúna - São Paulo, SP - 2010 - 30m²

●      Jardim da Residência EF - Araraquara, SP - 2010 - 1.300m²

●      Jardim da Residência MD - Indaiatuba, SP - 2010 - 1.000m²

●      Jardim da Rodovia Imigrante KM 13,5 a 20 - Diadema, SP - 2010 - 430.000m²

●      Jardim do Edifício Maxhauss Praia Brava I - Itajaí, SC - 2011 - 3,750m²

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●      Jardim do Edifício Maxhauss Alphaville - Barueri, SP - 2011 - 9.720m²

●      Jardim do Edifício Maxhauss Berrini - São Paulo, SP - 2011 - 1.400m²

●      Jardim do Edifício Maxhauss Miguel Yunes - São Paulo, SP - 2011 - 1.200m²

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●      Jardim do Colégio Santa Cruz - São Paulo, SP - 2011/2012 - 3.500m²

●      Jardim da Casa e Salão de Cabeleireiros em Orlândia - Orlândia, SP - 2012 - 60m²

●      Jardim do Instituto Butantan - São Paulo, SP - 2012 - 500.000m²

●      Jardim do Museu do Trabalho e do Trabalhador - São Bernardo do Campo, SP - 2012 - 7.530m²

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●      Praça das Artes - São Paulo, SP - 2012 - 2.100m²

●      Jardim da Casa de fim de semana em São Paulo - São Paulo, SP - 2012 - 190m²

●      Jardim do Projeto Teia / Sesc Pompéia - São Paulo, SP - 2012

●      Jardim da Comunidade do Bamburral - São Paulo, SP - 2012 - 9.060m²

●      Jardim da Fazenda Dona Carolina - Itatiba, SP - 2012 - 26.840m²

●      Praça Matriz - São Bernardo do Campo, SP - 2012 - 5.700m²

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●      Jardim da Residência MM - São Paulo, SP - 2012 - 190m²

●      Jardim da Residência GF - São Paulo, SP - 2012 - 470m²

●      Jardim da Residência TE - Bragança Paulista, SP - 2013 - 2.206m²

●      Jardim da Residência SF - São Paulo, SP - 2013 - 63m²

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●      Jardim da Residência WA - Ubatuba, SP - 2013 - 635m²

●      Jardim do Senai Santos - Santos, SP - 2013 - 2.930m²

●      Jardim do Hospital do Coração - São Paulo, SP - 2013 - 500m²

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●      Jardim do Complexo Yonhap - São Paulo, SP - 2013 - 775m²

●      Concurso Moradia Estudantil UNIFESP Osasco - Osasco, SP - 2014

●      Concurso Anexo BNDES - Rio de Janeiro, RJ - 2014

●      Jardim do Edifício Brisa - São Paulo, SP - 2014

●      Jardim do Edifício Nomad - São Paulo, SP - 2014 - 255m²

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●      Praça Oliveira Penteado - São Paulo, SP - 2014 - 2.576m²

●      Parque Pinhal / Bairros Cota 95-100 - Cubatão, SP - 2014 - 31.140m²

●      Jardim do Hospital de Urgência de São Bernardo do Campo - São Bernardo do Campo, SP - 2015 - 1.340m²

●      Jardim do Complexo Esportivo de Deodoro Rio 2016 - Rio de Janeiro, RJ - 2015 - 1.919.410m²

●      Jardim das Residências Estudantis- Canuanã, TO - 2015 - 26.272m²

●      Jardim da Residência ML - São Paulo, SP - 2015 - 190m²

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●      Jardim do Território Céu Pinheirinho D’água - São Paulo, SP - 2016 - 32.920m²

●      Jardim da Residência TC - São Paulo, SP - 2016 - 275m²

●      Jardim da Residência JE - Bragança Paulista, SP - 2016 - 6.644m²

●      Jardim da Arena Cultural Dra. Scylla Duarte Prata - Barretos, SP - 2016 - 2.227,75m²

●      Jardim da Cervejaria Colorado - Ribeirão Preto, SP - 2016 - 1.392m²

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●      Jardim do Edifício Lausanne - São Paulo, SP - 2016/2018 - 320m²

●      Praça Milton Santos - Universidade de São Paulo (USP) - 2017 - 1513m²

●      Jardim da Residência MA - Amparo, SP - 2017 - 710m²

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●      Jardim da Residência CP - São Paulo, SP - 2017 - 1.690m²

●      Jardim do Centro de Ensino Infantil Parque do Riacho II - Brasília, DF - 2017 - 1.375m²

●      Jardim do Centro de Ensino Fundamental Parque do Riacho II - Brasília, DF - 2017 - 1.315m²

●      Jardim da Unidade Básica de Saúde Parque do Riacho II - Brasília, DF - 2017 - 5.745m²

●      Jardim do Edifício Moou - São Paulo, SP - 2017 - 1.050m²

●      Jardim da Residência VC - São Paulo, SP - 2017/2018 - 638m²

●      Jardim da Residência BM - Indaiatuba, SP - 2018 - 472m²

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●      Jardim da Residência EP - São Paulo, SP - 2018 - 192m²

●      Jardim da Residência FF - Porto Feliz, SP - 2018 - 2663m²

●      Jardim da Residência HA - Bragança Paulista, SP - 2018 - 2.305m²

●      Jardim da Residência PL - São Paulo, SP - 2018 - 1440m²

●      Jardim da Residências de Estudantes em Bodoquena - Bodoquena, MS - 2018 - 6,5ha

●      Jardim da Fazenda Nossa Senhora do Carmo - Guararema, SP - 2018 - 11.811m²

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●      Jardim do Sítio Itajobi - Sapucaí Mirim, MG - 2018 - 3ha

●      Jardim do Ateliê Kimi Nii - São Paulo, SP - 2018 - 30m²

●      Jardim do Edifício Nobel - São Paulo, SP - 2018 - 244m²

●      Jardim do Edifício Float - São Paulo, SP - 2019 - 355m²

●      Jardim do Edifício Skypark - São Paulo, SP - 2019 - 5.083m²

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●      Jardim do Edifício Momento - São Paulo, SP - 2019 - 2.629m²

●      Jardim da Residência RA - São Paulo, SP - 2019 - 70m²

●      Jardim da Casa Juquiá - São Paulo, SP - 2020 - 195m²

●      Jardim do Campus Integrado de Serra Grande - Serra Grande, BA - 2020/2021 - 8.800m²

●      Jardim da Residência CA - São Paulo, SP - 2020/2021 - 360m²

●      Jardim do Sesc Campo Limpo - São Paulo, SP - 2021 - 15.000m²

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●      Jardim da Residência DL - Cunha, SP - 2021 - 1.750m²

●      Jardim da Residência VP - São Paulo, SP - 2021 - 100m²

●      Jardim da Residência AR - São Paulo, SP - 2021 - 13.000m²

●      Jardim do Clube Nautilus - Praia da Baleia, São Sebastião, SP - 2022 - 3.200m²

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●      Jardim do WPP Campus - São Paulo, SP - 2022/2023 - 12.000m²

●      Jardim do TUJU - São Paulo, SP - 2023 - 90m²

●      Jardim do Edifício Oliie - São Paulo, SP - 2024 - 1.915m²

 

Prêmios e títulos

 

●     2000: Menção Honrosa no Concurso Público Nacional de Projetos para Monumento em Homenagem aos Imigrantes e Migrantes do Estado de São Paulo, Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB/SP;

●     2007: 1º prêmio. Projeto Paisagístico, Residência Guarujá, SP, Revista Paisagismo e Jardinagem;

●  2007: 1º prêmio. Projeto Executado, Museu Rodim Bahia (equipe), 7ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo;

●     2008: 1º prêmio. Projeto Paisagístico, Categoria Casa de Campo, Revista Paisagismo e Jardinagem;

●     2017: 1º prêmio. Prêmio de Arquitetura Instituto Tomie Ohtake Akzonobel - Projeto Moradas Infantis (equipe), Instituto Tomie Ohtake Akzonobel.


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Obras escolhidas


Entre suas obras mais conhecidas estão os Jardins das Residências Estudantis, em Canuanã (TO) e o Jardim da Residência RO, em Ubatuba (SP), dois projetos que mostram diferentes maneiras de pensar o espaço e sua relação com as pessoas. Neste trabalho, vamos conhecer um pouco mais sobre essas obras e, posteriormente, abordar com mais detalhes as principais características de cada uma, analisando como elas refletem a visão e o estilo do arquiteto.


JARDINS DAS RESIDÊNCIAS ESTUDANTIS


Ficha técnica:


  • Localização: Formoso do Araguaia – TO

  • Projeto: 2015

  • Área construída: 26.272 m²


   O projeto arquitetônico da Escola Canuanã é uma unidade de ensino rural localizada em Formoso do Araguaia, no estado do Tocantins. O projeto de arquitetura foi desenvolvido pelos escritórios Aleph Zero e Rosenbaum, e o paisagismo, assinado por Raul Pereira, desempenha um papel crucial na integração de 3 biomas – Cerrado, Pantanal e Floresta Amazônica, reconectando os moradores com a biodiversidade do local.

 

A implantação do paisagismo está intrinsecamente ligada à arquitetura, marcada pela criação de pátios internos e pela elevação do edifício sobre pilotis. O paisagismo preenche os vazios, transformando os pátios internos em jardins de convivência e espaços de contemplação. A vegetação atua como um filtro entre o interior e o exterior que suaviza a transição entre a área construída e o Cerrado. A elevação do edifício permite que o térreo seja liberado para a livre circulação e para a paisagem. Dessa maneira, reforça a ideia de que o paisagismo é um elemento contínuo e fundamental do projeto.

 

O zoneamento do paisagismo é uma resposta direta ao zoneamento arquitetônico, que organiza as moradias em duas grandes "vilas" (masculina e feminina), e se concentra em três eixos principais de análise espacial. O elemento organizador do espaço é a estrutura modular e elevada, que não apenas define a setorização das moradias, mas também estabelece um grande plano de sombra que rege a vida social e a circulação no térreo.


Figura 3: Planta de implantação geral - Jardins das Moradias Infantis
Figura 3: Planta de implantação geral - Jardins das Moradias Infantis

 

 A circulação e o convívio são intencionalmente deslocados para o nível do solo, sob a proteção da arquitetura. A circulação é marcada pela fluidez e pela ventilação cruzada que ocorre sob a estrutura elevada. Os caminhos principais são definidos pela própria extensão linear dos edifícios, que se abrem para o entorno e conectam as unidades habitacionais aos três grandes pátios centrais de cada vila. Estes pátios atuam como eixos de circulação e transição, recriando a ideia de um quintal coletivo e permeável.

 

O principal espaço de estar é o vasto e sombreado pilotis que se torna o grande espaço de convívio informal e de proteção climática, essencial para o clima quente da região.

 

A estrutura é notável por sua verticalização em pilotis, que permite a elevação dos dormitórios. Esta elevação é crucial para criar uma grande sombra sobre o térreo, protegendo-o da insolação direta. O beiral de quatro metros de extensão, sustentado pela estrutura de madeira laminada colada, projeta uma sombra contínua e profunda, garantindo um microclima mais ameno e ventilado no nível do solo, onde a vida comunitária acontece. O paisagismo, que atua em conjunto com a arquitetura, utiliza a vegetação mais baixa nos pátios e sob a edificação para permear os espaços e reforçar o conforto ambiental. Essa vegetação, composta por espécies nativas e adaptadas, é mantida em um porte que não compete com a sombra da edificação, mas que, ao contrário, integra o interior e o exterior de forma sutil. O uso de biovaletas e a terra para confecção de elementos de drenagem e paisagismo demonstram a preocupação em manter a permeabilidade do solo e a integração com o bioma local, o Cerrado.

 

Essa combinação de arquitetura elevada e paisagismo de baixo porte cria um ambiente onde a sombra é o principal recurso de conforto, e a vegetação atua como um elemento de transição e permeabilidade visual e climática.


Figura 4: Planta de implantação - Jardins das Moradias Infantis - Unidade masculina
Figura 4: Planta de implantação - Jardins das Moradias Infantis - Unidade masculina

  

Figura 5: Planta de implantação - Jardins das Moradias Infantis - Unidade feminina
Figura 5: Planta de implantação - Jardins das Moradias Infantis - Unidade feminina

O plano de massas no paisagismo de Canuanã é definido pela justaposição de diferentes "regiões" que respondem a necessidades funcionais e climáticas específicas. Pode-se identificar a zona de contemplação e conforto nos pátios internos e áreas adjacentes aos dormitórios, onde o plano de massas é composto por massas baixas e médias com a utilização de forros e arbustos. O objetivo é criar um microclima agradável e visualmente rico, sem obstruir a ventilação. A zona de transição é encontrada no perímetro do edifício e nas áreas de circulação, caracterizada por massas médias e altas, como árvores de porte médio e arbustos mais densos, que proporcionam sombreamento e criam uma barreira visual e térmica entre o edifício e o entorno. Por fim, a zona de integração com o Cerrado abrange as áreas externas e amplas que se conectam ao bioma, onde o plano de massas é amplo e natural, com manutenção e reforço da vegetação nativa. Assim, as fronteiras do projeto na paisagem são diluídas e valorizam a biodiversidade local.

 

O projeto paisagístico adota uma abordagem que valoriza a flora local e a linguagem ornamental dos biomas da região, usando a vegetação como o principal material de construção para o conforto ambiental dos estudantes. Entre os materiais utilizados, destacam-se a vegetação com espécies nativas e adaptadas do Cerrado, cuja função é a criação de sombras, conforto térmico, integração visual com o entorno e valorização da biodiversidade local. Foi identificado que o projeto utilizou um número significativo de espécies, com mais de 700 árvores de aproximadamente 70 espécies, em sua maioria nativas, plantadas, além de arbustos, herbáceas e forrageiras. Os pisos e revestimentos empregam concreto, seixos, pedras e decks de madeira para delimitar caminhos, áreas de estar e transição. Os seixos e pedras, em particular, são usados em canteiros e bordas que auxiliam na drenagem e na composição estética.  O mobiliário, como bancos e redários integrados, cria pontos de convívio e descanso que incentivam a permanência ao ar livre. Nos espaços de convivência (pátios), o paisagismo cria "ilhas" de convívio e descanso.


Figura 6: Vista externa das Moradias Infantis
Figura 6: Vista externa das Moradias Infantis
Figura 7: Vista interna de um dos ambientes das Moradias - 1
Figura 7: Vista interna de um dos ambientes das Moradias - 1

O paisagismo nas Residências Estudantis atua, portanto, como orientador de fluxo e elemento estético ao longo dos percursos e garante que a experiência do usuário seja sempre mediada pela natureza.


Figura 8: Vista interna de um dos ambientes das Moradias - 2
Figura 8: Vista interna de um dos ambientes das Moradias - 2

Jardim da residÊncia ro


Ficha técnica:


  • Localização: Ubatuba - SP

  • Projeto: 2008

  • Área construída: 1040 m²


Situada em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo, a Residência RO encontra-se em meio à Mata Atlântica, em uma encosta voltada para a Praia do Tenório. O projeto arquitetônico foi criado por Ângelo Bucci, do escritório SPBR Arquitetos, e paisagismo foi desenvolvido por Raul Pereira, cuja atuação é determinante para o caráter final da obra.


Figura 9: Projeto paisagístico da Residência RO
Figura 9: Projeto paisagístico da Residência RO

No projeto paisagístico (Figura 9), podem ser observadas as zonas de vegetação em que Raul Pereira divide seu projeto: caminhos de circulação, áreas construídas e uma listagem das espécies usadas em cada espaço. Estando a casa elevada, o paisagista precisa trabalhar com vegetações de grande porte que se integrem com o nível da edificação, paralelas com espaços de fruição abaixo da casa, com esquemas de passagens que integrem a entrada inferior e um jardim adaptável à sombra projetada pela construção, amarrando todos os elementos com uma vista frontal da casa cercada pelas plantas, preservando a integração e privacidade daqueles ambientes ao mesmo tempo que se conecta com a praia.

 

Partindo da extrema esquerda do zoneamento, vê-se uma vegetação sequencial que abraça o paredão de solo abaixo da casa, a malha de caminhos em escada e vegetações de baixo porte. Os caminhos são traçados dessa maneira para vencer o desnível mais facilmente. Na parte superior esquerda está uma sequência de árvores de maior porte, seguindo um pouco abaixo dela, a identificação do acesso à casa nesse nível por uma grande escada espiral. No centro da imagem a vegetação rasteira é justificada pela baixa incidência solar provocada pela sombra da edificação. Já na parte à direita do zoneamento, há maior intensidade e diversidade de plantas que integram a parte frontal da residência, com um deck, área de areia e rochas que dividem o lote e dão acesso à praia.

 

A casa é elevada para se adequar às rígidas legislações ambientais, sendo sustentada por três pilares robustos, e gerando a mínima retirada de vegetação possível. Além disso, a edificação se situa integralmente abaixo do nível da rua. Tal escolha minimiza o impacto visual a partir da via e, de outros ângulos, integra a construção à topografia, como se flutuasse na vegetação, o que reforça a relevância do projeto paisagístico. A construção permeia entre sua cota de cobertura em 31 m e 24 m em seu térreo (valores em relação ao nível do mar). Contando com um terreno de 887,5 m², o início do projeto se dá em 2005 e é concluído em 2008.


Figura 10: Vista externa da Residência e do jardim
Figura 10: Vista externa da Residência e do jardim
Figura 11: Vista da entrada superior da Residência
Figura 11: Vista da entrada superior da Residência
Figura 12: Vista isométrica esquerda da Residência e do jardim
Figura 12: Vista isométrica esquerda da Residência e do jardim
Figura 13: Corte em maquete da Residência
Figura 13: Corte em maquete da Residência
Figura 14: Vista isométrica em maquete da Residência
Figura 14: Vista isométrica em maquete da Residência
Figura 15: Corte longitudinal da Residência e do jardim
Figura 15: Corte longitudinal da Residência e do jardim

Na concepção paisagística da Residência RO, Raul Pereira parte do princípio de que um jardim artificial seria incongruente diante da exuberância da Mata Atlântica. Assim, sua abordagem busca estender a linguagem da paisagem existente, valorizando plantas nativas e mantendo a naturalidade do bioma. Entre as principais plantas utilizadas por ele estão a Costela-de-eva (Monstera Adansonii), Palmeia-rabo-de-peixe (Caryota mitis), Barba-de-serpente (Ophiopogon Jaburan) e Palmeira-pinanga (Pinanga Coronata).


Figura 16: Fachada lateral da Resdência e do jardim
Figura 16: Fachada lateral da Resdência e do jardim

Figura 17: Vista isométrica direita da Residência e do jardim
Figura 17: Vista isométrica direita da Residência e do jardim

Com amplas aberturas e espaços integrados ao exterior, a casa promove uma conexão fluida entre interiores e jardins. O verde permeia a arquitetura, atenuando as formas e diluindo os limites, de modo que a casa se integra completamente à Mata Atlântica. A elevação da estrutura preserva o solo e a vegetação, enquanto a vista filtrada pela vegetação intensifica a imersão no ambiente natural.

 

Figura 18: Fachada frontal da Residência e do jardim
Figura 18: Fachada frontal da Residência e do jardim
Figura 19: Detalhe da vegetação - 1
Figura 19: Detalhe da vegetação - 1
Figura 20 Detalhe da vegetação - 2
Figura 20 Detalhe da vegetação - 2

O projeto alcança um equilíbrio entre arquitetura, relevo e paisagem. Todos os elementos se unem: o concreto, a luz, o terreno e a flora nativa compõem uma unidade. A Residência RO integra a paisagem ao seu conceito, oferecendo um refúgio onde a Mata Atlântica é o destaque, e onde arquitetura e natureza se harmonizam em continuidade.


Figura 21: Planta de implantação da Residência
Figura 21: Planta de implantação da Residência

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Referências


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Autores


Caio Silva

Daniella Santos

Flávia Carvalho

Júlia Teixeira

Tales da Mata

 
 
 

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